Capítulo 24 - Shuigang: o reino dos pandas
Embarcados no veículo coletivo em direção a Shuigang, o time do Lilac aproveitava a viagem.
Viktor pôde ver mais do que Avalice poderia oferecer, observando à janela do ônibus as planícies e planaltos belos e verdes daquela parte do planeta.
Não só isso, uma imensidão de mar aportava ao horizonte, dando a entender a importância litorânea do Reino distante localizado ao extremo sul.
Horas depois, o destino finalmente foi alcançado.
Eles haviam chegado à:
Cidade de Shuigang | Tarde

Shuigang era um reino peculiar: era uns dos poucos lugares onde haviam várias fazendas de hortifrutigranjeiros, contrastando com o crescimento de sua grande área urbana.
Embora com menos prédios que Shang Tu, sua extensão era maior, com vasto comércio em seu centro, dos mais variados tipos.
Mesmo com suas ruas estreitas, era possível ver que a movimentação de automóveis típicos da região ia na direção contrária de seu horizonte, onde se podia ver grandes campos, com fazendas prósperas e plantações diversas.
Porém uma coisa chamou mesmo a atenção de Viktor: a maioria dos habitantes vistos na cidade eram pandas. E isso era um diferencial com relação aos demais povos de Avalice.
Mas havia também ursos pardos, cervos, aves, raposas polares e outras espécies antropomórficas. Era uma população diversa, ainda que os pandas estivessem em maior número.
Viktor parecia extasiado ao ver tantos, inclusive.
Ainda dentro do ônibus, ele logo disse:
— Cara, quanto panda! Então foi nessa cidade que a senhorita Neera Li nasceu.
— É isso mesmo, Viktorius — disse Milla, sentada ao seu lado. — Minha mestra tem muito orgulho dessa cidade. Pena que não vem aqui faz um bom tempo.
— Sério, Milla? Mas por que isso? É a cidade natal dela.
— Desde que Dail passou a governar, minha mestra evitou vir aqui, porque ele estava sendo manipulado pelo Brevon.
— Como é?! Que história é essa?
Lilac tomou a palavra.
— Viktor, história longa. Em breve lhe contarei, tudo bem?
— Combinado, Lilac — ele falou em seguida com a pequena. — Pode continuar, Milla. O que tem o assunto com a senhorita Neera Li?
— Ah, ela não aceitou muito bem a história do Spade ter ficado no comando de tudo enquanto o Dail se recuperava.
— Uh?! Spade? Mas quem seria esse aí?
Desta vez foi Carol a avisar.
— Aí, piá, essa parada faz parte da fanfic que a diva linda vai te contar. Então, nada de spoilers pra tu no momento, tá?
— Hã? Ah, tudo bem…
Logo o ônibus chegou ao terminal de Shuigang, que estava bem movimentado por sinal.
Pelo fato de a cidade agora ser destino de vários comerciantes dos reinos vizinhos, principalmente Shang Tu, era natural imaginar que a procura por grandes negócios era de fato bem explorada pelo reino.
Ao sair do ônibus, Viktor logo se encantou ao ver que haviam lanchonetes ali próximas no terminal. O rapaz correu em disparada para contemplar ao comércio, mas, por consequência disso, teve seu braço puxado por Carol, que explanou:
— Piá, para de chamar atenção! Fica de boa aí, cara!
— Carol, eu queria ver o… — ele foi interrompido.
— Não é hora de bancar o Masterchef, mané! Então sossega a barra aí e vamo seguir a Lilac.
— Tudo bem… — ele aceitou a sugestão da gata. — Estamos em uma missão, não posso me esquecer.
A dragão não gostou muito do comportamento de sua amiga.
— Carol, outra vez com esses seus delírios? — disse a dragão, se incomodando com a felina. — Deixa o Viktor fazer o que quiser, não tem que me seguir o tempo todo!
— Heroína, tamo de boa, tá? Relaxa.
Voltando a normalidade, a interação do grupo convocado por Royal Magister continuou com a missão, rumando para o centro da cidade.
Caminhando pelas ruas que borbulhavam vida, que tempos atrás estavam carregadas de intrigas e ambições de um jovem monarca lobotomizado por um senhor da guerra de outro mundo, o time de Lilac chegou até a avenida principal.
Lá, ao centro, havia uma pequena praça, florida e arborizada. Os bons ventos do local convidaram o grupo a planejar melhor o que deveriam fazer.
Lilac começou a rápida reunião.
— Bem, aqui estamos. Como Royal Magister disse, temos que encontrar o guardião.
— Mas Lilac, será que a gente vai encontrar? — disse Milla, continuando — Não tem nenhuma pista. Nem eu, com meu faro, vou conseguir ajudar nisso. Não seria melhor a gente ir ao Palácio de Shuigang?
A ideia da pequena já continha uma resposta, desde que saíram. Lilac deixou isso claro.
— Milla, Dail impôs outras normas no palácio. Lembra o que Royal Magister disse que devemos encontrar o guardião? Por isso mesmo: só ele permitirá que nós tenhamos acesso ao palácio para falar com Dail.
Carol também reformou isso, a seu modo.
— Pô, ia ser bem legal a gente chegar lá no bangalô do Dail e perguntar pros PM “oi, o guardião se encontra?”. Aí um deles ia dizer “não, mas quer deixar recado, meu amor?”. Dá não, Milla. Pensa melhor.
— Ela tem razão — disse Viktor, dando sua opinião — Precisamos fazer tudo isso sem chamar a atenção, como o monarca de Shang Tu disse.
— Talvez se fôssemos mais para o centro talvez consigamos alguma informação — Lilac falou, já puxando seu time para a direção central da cidade.
Mas, antes que pudessem dar um passo, de forma inesperada alguém se aproximou dos jovens. Prontamente, uma voz aveludada e suave foi ouvida, dificultando até mesmo de saber se quem a proferiu fosse do gênero masculino ou feminino.
— Olá. Gostariam de comprar meus doces?
Todos se viraram ao mesmo tempo, olhando para tal pessoa.
Era um panda, trajando um avental azul e usando uma camisa branca por baixo, com uma calça chinesa. Como calçado, sapatilhas pretas com detalhes lilás nas laterais.
Sua voz suave e jovial logo chamou atenção.

E, além disso, sua aparência impressionou a todos: seu rosto jovem, com traços delicados e cheio de sardas pretas, estampava carisma e uma beleza ímpar. Com olhos violáceos e longos cabelos pretos, com reflexos roxos por dentro, o panda encantou logo na primeira impressão.
— O mercado de doces de nossa cidade é famoso por guloseimas deliciosas. Por isso estou aqui, humildemente, demonstrando meu portfólio e trazendo felicidade para meus clientes. Estariam interessados?
Principalmente a Lilac, que logo se manifestou.
— Nossa, como você é linda! E sua voz é maravilhosa! Com certeza você deve estar fazendo um imenso sucesso.
Acompanhado por uma piscadela amistosa, a resposta veio, junto com outro fato da pessoa.
— Ora, muito obrigado. Mas devo avisar a bela dragão que não sou “uma” mas “um” panda.
Só em ter dito isso, o vendedor de doces deixou a todos sem ação, impressionados com esse fato. Sua aparência singular era um fator determinante para que todos ficassem cativados.
Carol não conseguiria ficar calada depois dessa.
— Moço, tu é moço? Caraca, tô pasma! — disse a felina, rodeando o panda por todos os lados. — Olha o naipe da figura aí! Tu parece mais menina que eu! Opa, tá errado isso aí… Tipo, tu é mais feminino que eu.! Tá errado ainda… É, tipo… Ah, tu é bonito pacas, cara! Mó lindão, fala tu!
Nem Milla ficou calada.
— Você é lindo, sabia? Nunca vi um garoto tão bonito quanto você!
— Nossa, como você se chama? – Lilac estava encantada com o jovem.
O panda, que segurava uma cesta em seu braço direito e uma enorme caixote nas costas com seus produtos, não tardou em se apresentar.
— Me perdoem se não o fiz mais cedo. Me chamo Ying Li. É um imenso prazer em conhecê-los — ele os reverenciou, levantando sua cabeça após. — E vocês, como se chamam?
— Eu me chamo Sash Lilac — a dragão também o reverenciou.
— Ah, eu me chamo Carol Tea, coisa linda de se ver! — a gata tagarela, a exemplo do panda, efetuou uma piscadela.
— Eu me chamo Milla Basset — a pequena não parava de olhar para ele. — Nossa, moço. Sua beleza me encanta demais!
— Me chamo Viktorius Ashem — o humano sorria, olhando. — Mas me chame de Viktor.
Era visível que o panda tinha notado que o humano era um viajante. Tanto que mostrou contentamento com essa reunião.
— Pode ter certeza que o chamarei de Viktor. Seu nome é muito diferente — disse Ying, piscando para o jovem. — Querem comprar meus doces? São uma delícia, eu prometo!
A dragão, com entusiasmo, foi assertiva.
— Pode ter certeza que sim! O que tem aí, hein? — disse Lilac, sorrindo.
— Bem, tenho balas de coco carameladas, alfajores, mini algodão doce e caramelo. E também tenho maria mole e suspiro de limão e baunilha. São deliciosos!
— Ai, não sei… O que acha, Viktor? — a dragão olhou para o humano, estranhando algo. — Ei, Viktor… Você está bem? Oi?
E não era para menos. Viktor estava ali parado, não acreditando no que via. E era para suas coisas.
A primeira, claro, era sobre a aparência do panda. Viktor não estava conseguindo processar sua androginia.
— Cavalheiro Ying, você é um garoto mesmo?
— Oh?! Você me chamou de cavalheiro…? Que polimento nobre! — Ying guardou boas impressões do jovem, respondendo. — Sim, sou. Nunca viu um panda antes?
— Bem, eu conheci dois. Mas só que… Bem… Hehe… — Viktor tentava se explicar, impressionando com o carisma do panda. — Caramba… Você parece mesmo uma garota. “ele é mais feminino que a senhorita Neera Li!”
— Você é uma pessoa muito honesta e espontânea, sabia? — Ying disse, sorrindo. — Hehe, muitos me confundem com uma, mas estou acostumado. Na verdade eu até gosto. Isso causa uma boa impressão, no fim das contas.
Carol, olhando para Viktor, não podia perder a oportunidade de provocar o jovem humano:
— Piá, tu tá xavecando o Ying? Que babado!
— O que? Não… Não, Carol! Que isso?! — o rapaz disse, ficando bastante envergonhado. — Não! Como poderia pensar que eu…?! Não! Você está louca?
— Hahaha! Relaxa, piá! — Carol gargalhava, olhando para o jovem. — Só tô de zoa. Caraca, essa foi boa. Shippei um “Vikying”! Ganhei meu dia!
— Carol, deixa o Viktor em paz! — disse Lilac, quase batendo na felina.
— Tá, parei! Fica tranqs, bonita. Tô de zoa. A onda agora é shippar!
— Você não tem jeito, Carol!
Passado o momento das apresentações, a dragão de fato tinha interesse nos produtos de Ying. Foi o que ela fez a seguir.
— Bem, Ying… Irei querer quatro de cada. Assim a gente experimenta tudo que você tem.
— Ora, é uma boa ideia. Só custará vinte e seis gemas.
— Só isso por tudo? — ela ficou surpresa.
— Sim. Eu gosto de ver meus clientes felizes. Assim eu fidelizo a todos. Um preço justo pela felicidade total de meus clientes — disse, executando uma piscadela.
Era óbvio que um certo alguém, que gostava de cozinhar, queria ter as honras iniciais.
— Lilac, posso provar primeiro? — disse Viktor, pegando uma bala de côco.
— Claro — a dragão Lee entregou uma delas. — Tome, Viktor.
O jovem colocou a bala na boca e, no mesmo instante, parecia demonstrar uma verdadeira apreciação sublime e suprema de uma soma absurda de paladar.
Ele, sem dizer uma palavra sequer e assustando a todos, pensou:
— “Oh por tudo que é mais sagrado nessa terra! Essa sem dúvida nenhuma é a melhor bala de côco que eu pude provar em toda nova vida!”
Carol, que observada Viktor, estava afiada:
— Ih agora o piá ficou doidin. Que tu colocou nessa bala, Ying?
— Como assim? Eu só coloquei açúcar, baunilha, caramelo, leite de côco e côco — respondeu o carismático panda.
Enfim, Viktor deu sua opinião. A mais rápida possível.
— Ficou estupendo, caro Ying! Você é um excelente cozinheiro! Uma explosão de sabor! — disse, com os olhos brilhando.
— Eh… O-obrigado? Hehe… Moço, você está me deixando envergonhado me olhando assim… — se manifestou Ying, desviando o olhar.
E, como sempre, a gata tagarela abriu a boca.
— Ih, o piá cozinheiro surtou agora. Vai, abraça ele! — estava mesmo inquieta. — Agradece bem carinhoso porque o lindão aí merece, nyah!
— Carol, pare de shippar! Deixa os dois! — Lilac já estava perdendo a paciência.
— Hahaha! Nyah!
O tom descontraído do momento contagiou a todos.
Os doces do jovem panda vendedor fizeram muito sucesso no time de Lilac.
Por ter sido tão atencioso, prestando um atendimento exemplar, todos então passaram a caminhar juntos a Ying pelas ruas movimentadas da cidade. Com um simples gesto, autêntico e altruísta, o panda conseguiu a confiança do time.
E, enquanto caminhavam, Lilac deslumbrou o lugar:
— Essa cidade mudou muito. Na última vez que viemos aqui parecia uma cidade desacreditada. Mas agora parece que tudo mudou, e para melhor.
— Dail fez isso por nós. Ele mudou tudo. Como seu pai teria orgulho dele… — disse Ying, com um sorriso.
— Sim, o Rei de Shuigang. Não tive a oportunidade de conhecê-lo, mas Dail tinha um grande apreço por ele.
— A gente não vem até Shuigang desde a luta contra o insetão, né? — disse Carol, olhando para Lilac.
— Verdade. Nós só ficamos nas montanhas geladas. A Batalha Glacial foi terrível.
Esse comentário fez com que Ying parasse de andar. Seu rosto, até então singelo e cheio de ternura, foi substituído por um olhar mais sério.
— As senhoritas estiveram envolvidas no embate contra Lorde Brevon? — disse Ying, curioso.
— Sim. Nós o vencemos com a união de todos. Desde então não há notícias de seu paradeiro — respondeu Lilac.
— Então eu preciso agradecer a vocês por ter salvado a todos nós.
— Hã? Não precisa, Ying. Você já está sendo um perfeito cavalheiro. Não é à toa que o Viktor te designou esse título.
O sorriso voltou ao rosto de Ying. Mas veio acompanhado por uma pergunta.
— Obrigado mais uma vez. Mas o que vocês estão fazendo por aqui?
A dragão tentou desconversar, buscando se esquivar de olhares. Ying era legal demais para que as garotas escondessem algo dele, mas havia uma missão a ser cumprida.
— Ah, bem… Só passeando. Não é, Carol? Milla? Viktor?
A confirmação, em conjunto, para que não levantassem suspeitas, veio de seus aliados.
— Ah, sim! É. Só tamos curtindo — disse Carol, disfarçando.
— Isso! Estamos aqui pra conhecer melhor a cidade — Milla falou, de uma forma bem doce.
— Com certeza. E eu estou conhecendo mais uma cidade aqui em Avalice — Viktor, mais a vontade, também confirmou.
Assim como o humano, que ainda se mostrava encantado pela beleza andrógina do panda, Ying também tinha o mesmo vislumbre.
Não era para menos: Viktor era o único humano que havia pisado no planeta. Por isso o panda vendedor de doces foi mais incisivo na análise dessa vez.
— Viktor é seu nome, não? Nunca vi ninguém de sua espécie antes. Poucos pêlos, pele levemente morena, olhos castanhos. Você é bem exótico — disse Ying, olhando para o rapaz, executando um piscar de olhos de forma amigável em seguida.
— Bem, eu não sou daqui, sabe? Na verdade eu não sei como voltar pra casa.
— Hã? Como assim?! — ele se surpreendeu.
Imediatamente, Lilac logo tratou de cortar o assunto, tendo em vista que Viktor já estava dando muitas informações que poderiam trazer desconfiança por parte de Ying e dos demais transeuntes da cidade.
Mas, como a dragão púrpura era muito educada, fez isso com sutileza e graça.
— Ying, eu agradeço sua gentileza. Não queremos te atrapalhar seu trabalho. Nós adoramos seus doces e vamos comprar sempre que a gente te achar, tudo bem?
— Está certo, bela dragão — ele respondeu , sorrindo. — Bem, preciso ir. Tenho muitos doces para vender e clientes para serem felizes antes de voltar para minha casa. Até a próxima!
Mas, antes que pudessem se despedir de seu mais novo amigo de Shuigang, os jovens ouvem um barulho de explosões e baderna por entre uma esquina próxima de onde estavam.
Uma multidão de gente começou a correr para se protegerem, como se algo estivesse atacando.
Lilac tomou a palavra:
— Nossa, o que está acontecendo?!
Usando sua velocidade, foi até o local, tentando observar o que de fato estava acontecendo.
Havia muita poeira levantada, ocasionada por uma explosão.
Mas, mesmo com essa dificuldade, Carol, que conseguiu ir ao encontro de sua amiga, olhou bem para entre a fumaça.
E foi nesse momento que ela viu uma silhueta de algo familiar.
— O que?! Caraca… Um ninja da The Red Scarves?!
Pelo visto, mais intrigas estavam por vir.
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