Capítulo 29 - O desafio da Kunoichi: luta em Shuigang (Parte 2)
Os eventos passados mudaram de vez todo o cronograma e estratégia do time.
Ruby Scarlett estava fazendo um ataque à cidade de Shuigang sem um motivo concreto, a não ser dizer que estava atrás dos resquícios da Jóia do Reino.
Após a ofensiva inescrupulosa, a Kunoichi rosa buscou refúgio nas sombras, deixando o time de Lilac desnorteado.
Entretanto, por mais que precisassem fazer um plano de emergência, a determinação do grupo se manteve.
O grupo se dividiu, com Lilac partindo para a área leste da cidade e Carol seguindo para o sul. Ambas foram a toda velocidade, com a felina em sua moto e a dragão usando de sua velocidade super sônica.
Para impedir os avanços dos Red Scarves, Viktor se voluntariou para lutar, mas foi Milla que teve maior destaque.
Mostrando desenvoltura de seu Kung Fu estilo garça, a pequena nocauteou alguns dos ninjas, para surpresa de Viktor.
Não só isso, Milla parecia ter pleno domínio de sua habilidade especial alquimista: podia criar barreiras e feixes para se defender e atacar.
Era certo que isso era um detalhe muito significante para o vislumbre do humano.
— Isso tudo está em um outro patamar de artes marciais. O que as pessoas desse mundo fazem é inacreditável!
Os planos mudaram, inevitavelmente.
Mas nunca o foco do time.
Enquanto isso, em uma outra área da cidade…
Etapa 2 | Ruas do Leste de Shuigang
Lilac, usando de sua velocidade supersônica, cortou as ruas da cidade, onde os habitantes só conseguiam ver um rastro púrpuro que passou feito um raio.
Em poucos minutos, a dragão já estava na origem da primeira explosão: era uma fábrica de utensílios agrícolas.

Como haviam muitos materiais abrasivos, várias labaredas dificultavam a entrada.
Porém era possível ouvir gritos de socorro do interior da construção.
— Essas pessoas estão mesmo precisando de ajuda! — bradou a dragão púrpura, mostrando preocupação e urgência em seu olhar.
Era uma missão de resgate.
Lilac imediatamente usou de seu super pulo para chegar até uma janela, quebrando-a com um chute.
Lá dentro, tudo estava em chamas.
O lugar era grande, o que iria dificultar as coisas para a dragão. O galpão possuía muitos andares, onde a fumaça espessa dificultava a visão.
Lilac adentrou usando de seu salto e realizou um de seus golpes para dissipar as labaredas.
— Ciclone! — gritou a jovem dragão, com bastante força.
Os rodopios no ar usando seus “cabelos” (que na verdade eram suas escamas) fizeram com que a fumaça fosse jogada para fora, mas não o suficiente para livrar do maior problema: as labaredas.
Lilac precisou então usar seu Impulso do Dragão para poder se movimentar e evitar ser atingida pelo fogo.
Passando por entre as chamas, nem mesmo a alta temperatura foi capaz de impedir seu resgate.
— Ruby Scarlett passou mesmo dos limites dessa vez! Mas ainda me pergunto o porquê daquela desgraçada estar fazendo isso.
Entretanto, Lilac pôde ouvir gritos de socorro, que se propagavam mais e mais, deixando claro a sua urgência.
— Eu estou ouvindo! Tem pessoas aqui!
Descer os andares não parecia um grande desafio, mas sim a quantidade de escombros e de vozes pedindo socorro.
Mas, antes que começasse a rastrear, eis que, em um dos galpões ali próximo, Lilac avistou um resquício de jóia do reino.
E, junto a ele, haviam quatro membros da The Red Scarves recolhendo o objeto.
— Vocês fizeram esse ataque para conseguir os resquícios?! Os Red Scarves são tão baixos assim?
Lilac, sem perder tempo, foi ao encontro deles, se colocando à frente dos ninjas.
O fogo dificultava um pouco. Mesmo que fosse uma dragão, a temperatura alta lhe tirava um pouco do vigor, embora sua estamina se mantivesse a mesma.
Mas era fato de que, aos poucos, ela sentia o grande desconforto após ficar exposta ao calor. Já os ninjas, trajados com uniformes térmicos, tinham mais resistência, sendo usados como subterfúgio.
Mesmo assim, sofrendo com a temperatura, a dragão púrpura se colocou em base de luta, dizendo:
— Eu não irei deixar que saiam daqui com o resquício!
Mas os gritos de socorro tiravam-lhe a atenção.
Era mesmo preciso ajudar as pessoas que estavam no lugar. Mas, ao mesmo tempo, um resquício, o menor que disse, poderia trazer maiores problemas no futuro.
Lilac estava em um grande dilema, mas logo teve uma atitude que surpreendeu até mesmo os ninjas.
— Eu entendi o plano de vocês — disse a dragão, irritada. — Estão usando esses ataques coordenados para tirar a atenção das autoridades de Shuigang e roubarem os resquícios.
— Você já foi uma de nós, não poderia esperar menos — disse um dos ninjas, segurando o resquício. — Mas sei que você vai preferir salvar as pessoas. Não é, heroína?
— Gostei da abordagem “heroína” — Lilac voltou a falar, estalando os dedos em seguida. — Por isso mesmo, eu irei salvar as pessoas e lutar contra vocês tudo ao mesmo tempo!
— Hahaha! Acha que consegue, dragão traidora? Isso é imposs… – tentou dizer um dos ninjas, o que segurava o resquício.
Antes que pudesse terminar, Lilac sumiu diante de seus olhos, reaparecendo em seguida, excetuando um violento gancho de direita no queixo do ninja, que voou com a força do golpe. A inércia causada foi forte o suficiente para furar a parede do galpão.
— Impossível é eu permitir que vocês consigam o que querem!
Sem perder tempo, mais uma vez a dragão sumiu, voltando a reaparecer e levando mais um dos membros da The Red Scarves ao chão, com um forte soco em seu dorso.
Os dois restantes não acreditavam no que estavam “tentando ver”.
— Mas como? Ela pode ser rápida, mas não dessa form… — falou um dos dois membros remanescentes.
Lilac estava mesmo cumprindo o que disse que faria: a cada Impulso do Dragão que realizava, conseguia ir até uma das pessoas presas na construção, levando-as em segurança para fora do prédio, voltando em seguida.
A dragão manteve a velocidade constante, criando um ciclo contínuo, que na física é chamado de aceleração centrípeta1
Exatamente: a velocidade supersônica da dragão púrpura era capaz dessa incrível proeza. E esse sem dom natural era a única estratégia eficaz para o momento de crise.
— Usar meu Impulso do Dragão aqui dentro é arriscado. Esse galpão pode desabar se eu exagerar.
Lilac conseguia atingir o Mach 1 sem muitos problemas utilizando desse recurso arrojado. Entretanto, manteve abaixo dessa velocidade, pois colocaria em risco a todos, pelo perigo de causar uma explosão da barreira do som2
Um dos ninjas percebeu o que Lilac estava fazendo, por mais que fosse óbvio. Claro, eles estavam diante de Lilac, então:
— Ela está usando a velocidade dela!
— Então esse é o incrível poder de Lilac que Spade tanto diss… — um estrondo foi ouvido, interrompendo as palavras do ninja.
Isso ocorreu porque ele recebeu um golpe certeiro em seu rosto, desacordado-o assim que foi ao chão.
O poder do Impulso do Dragão era impressionante, tendo em vista o pouco tempo que tinha para pensar em algo.
Em poucos minutos, Lilac já havia salvado mais de sete pessoas, as colocando são e salvas fora do prédio, e derrotando os membros dos Red Scarves em segundos.
Lilac possuía um dos resquícios e resgatado as pessoas que estavam dentro do galpão, mas:
— Os Red Scarves foram muito covardes em fazerem isso contra inocentes. Mas tenho quase certeza de que Ruby Scarlett não fez isso sem algo por trás.
A exemplo das pessoas, Lilac também salvou os Red Scarves nocauteado de dentro do galpão, que ardia em chamas enquanto sirenes dos corpos de bombeiros eram ouvidas.
Mas havia alguma coisa a mais. Lilac sabia disso.
Enquanto isso…
Etapa 3 | Ruas do Oeste de Shuigang
Carol guiava sua moto a toda velocidade pelas ruas tranquilas da cidade dos pandas.

Vários habitantes tentaram se abrigar e se proteger depois de terem visto a explosão.
A felina verde conseguia perceber o medo e aflição em seus rostos enquanto cortava as ruas da cidade.
— Caraca, essa galera tá mesmo grilada com essa parada toda aí. Pior que essa galerinha é mó do bem.
Entretanto, os problemas logo chegaram, e motorizados.
Vários membros do clã Red Scarves logo alcançaram Carol montados em suas motos.
Ao encalço da felina que, confusa, guiava com um semblante fechado, eles até tentaram derrubá-la, dando chutes e solavancos contra sua motocicleta.
— Aí, bica a mãe, tá? Vamo parar de chutar minha moto, pode ser? Obrigada.
— Você não vai nos impedir! — disse um dos ninjas, irritado.
— Vão querer fazer o mesmo que fizeram quando eu invadi a base de vocês? É sério isso? — a felina falou, debochando dele.
— A gente veio se vingar da humilhação que você nos fez passar na frente do nosso mestre!
— Tá de saca, né? Agora vão passar vergonha na frente essa gente boa toda. Vem pra mão, filhote de cruz credo!
E, num fato inédito, a luta começou com todos em suas motos.
É isso mesmo que vocês entenderam: A luta será sobre duas rodas!
Carol, que estava sendo seguida por pelo menos dez ninjas, acelerou, chamando a atenção de seus perseguidores, que não demoraram para fazerem algo: todos começaram a acelerar tudo que tinham, já munidos com espadas, bastões e kunais.
A gata, astuta como sempre foi, percebeu quando um dos ninjas veio a seu encontro tentando lhe acertar com um golpe usando seu bastão.
Mas Carol realizou um salto para trás com sua moto e, ainda em vôo, disse:
— Vocês querem treta, né? Então vamo tretar, seus bundifora!
Carol, rodopiando junto com sua motocicleta, golpeou-os com toda força.
— Giro Motão!
A união com sua moto foi demais para os ninjas, que destruíram suas motos usando a sua, num ataque múltiplo.
— Quem tá lendo essa novel, recadin da kid aqui: sou ruizona pra dar nome de golpes, tá? Acho essas parada muito cafona, nyah!
A força que a felina (tagarela) fez para executar essa manobra com certeza mostrou a todos que ela era extremamente forte.
E quando digo isso, não é brincadeira: Carol conseguiu fazer da sua moto como parte de seu corpo, cujas manobras eram tão naturais e espontâneas que mais parecia que sua motocicleta fosse uma extensão do seu próprio corpo.
Quatro deles já haviam caído, faltando seis, que investiram contra Carol mais uma vez.
A gata verde, parecendo estar sob controle da situação, disse:
— Vocês tão querendo fazer “tibum”, né? Beleza…. Hora do banho, palermas!
Carol freou sua moto, ficando entre os ninjas que estavam lhe seguindo, puxando os dois com suas garras.
Seguindo com os dois sob controle, Carol jogou um contra o outro, atingindo-os em seus rostos por três vezes seguidas, fazendo com que ficassem tontos.
Sabendo que não teria mais no que se preocupar, a felina os arremessou para um lado a margem da via que guiava sua moto, neutralizando mais dois.
Só restaram quatro.
— Tá complex, né moçada? Vai continuar com a bagaça ou vão voltar mais cedo pra casa pra ver desenhin?
— Você não vai vencer! — o Red Scarves estava gritando, com muito ódio no tom da sua voz.
— Oh, você tá chorando, troço? Que pena… Eu vou equalizar a sua cara! E não vai ser a Piti!
A felina acelerou sua moto com tudo dessa vez e, usando novamente suas garras, cortou todos os pneus das motos onde eles estavam montados.
— Isso que dá ser NPC de cutscene. E é aqui que a cena de vocês termina!
Sabendo que não poderiam continuar, logo diminuem a velocidade, com Carol fazendo o mesmo.
E sim, todos desmontaram das motocicletas, fitando Carol, que só admirava a desolação dos ninjas.
Já com todos frente a felina verde, ela ditou as regras.
— Tá… Vamos colocar as coisas assim: vocês me atacam, eu esfolo vocês e depois continuo o caminho. Pode ser? E aí, quem vai ser o primeiro destemido que vai tentar a sorte contra a kid aqui?
Nem demorou muito a reação, mas não sem antes uma cena cômica ocorrer: os quatro ninjas restantes olharam um para o outro, partindo todos em direção a Carol, munidos com espadas.
Mas Carol sequer se abateu: continuou imóvel, em base de luta, com suas garras levantadas.
E, quando estava prestes a ser atingida, uma simples finta para a esquerda foi suficiente para se esquivar e, aproveitando a abertura, atingiu o primeiro com uma sequência incrível de chutes consecutivos, terminando com um soco poderoso.
A força do golpe foi tanta que fez com que o ninja fosse arremessado para longe, atingindo mais um, os jogando contra uma parede próxima, que pertencia a uma moradia.
Os outros não deram trégua: ao mesmo tempo tentaram empalar Carol, que evitou o ataque com um salto para trás e, categórica, a felina voltou a saltar para frente, executando um rolamento preciso que atingiu os dois, os levando para o alto.
Aproveitando a oportunidade, Carol executou um novo salto, este para próximo dos ninjas restantes.
Quando estava entre eles no alto, a gata selvagem executou uma sequência de chutes monstruosa, atingidos-os ao mesmo tempo.
— Chutão Navalha!
Após a incrível sequência de golpes, Carol aterrissou com suas duas mãos fechadas, Isso precedeu aos ninjas desacordados indo ao chão. O movimento foi mesmo devastador.
— De-vas-ta-dor! Aqui na Vulcan é é “oto patamá”!
De fato, Carol era incrível em luta e bastante forte (e tagarela).
— Se o locutor falou, tá falado, nyah!
Ela prosseguiu um pouco mais a frente, sabendo de que estava próximo ao local de onde veio a explosão.
— Tá na hora de ajudar aquela gente boa lá. Vamo nessa!
Mais ao extremo da cidade, que estava com vários guardas do reino de Shuigang ajudando as pessoas, Carol chegou até o lugar.
A área continha casas mais simples, como se fosse um vilarejo costeiro, dado os barcos de pesca presos ao cais da região.
Carol olhou ao redor e, mesmo sabendo de que houvesse uma comoção por parte dos habitantes locais, tudo estava sob controle.
— Ué, como assim?! Não tem nada aqui, caraca.
Era possível ver em seu rosto um sentimento de incredulidade, já que a urgência era real.
— Que parada louca é essa? Tava certa que ia chegar aqui e ver mó fuzuê.
Contudo, olhando mais ao fundo, Carol pôde ver algumas pessoas sendo ajudadas pelas autoridades do Reino de Shuigang.
E uma delas chamou mesmo a atenção de Carol.
— Peraí… Aquele alí é o Ying?!
O panda era acudido por um paramédico enquanto a gata selvagem se aproximava da frente de contenção de crises da cidade.
Mas, o que houve? E porque o suposto cenário estava sob controle na ótica de Carol?
Nada estava lúcido o suficiente.
- nota: aceleração centrípeta é a responsável por alterar a direção da velocidade tangencial, à qual é perpendicular; é uma propriedade presente nos corpos que descrevem um movimento circular. Trata-se de uma grandeza vetorial que aponta para o centro da trajetória, além disso, seu módulo é diretamente proporcional ao quadrado da velocidade do corpo e inversamente proporcional ao raio da curva. “Mesmo nos casos em que um móvel descreve um movimento circular e uniforme, ou seja, com velocidade angular constante, há aceleração centrípeta, portanto, todo movimento que ocorre em trajetórias circulares é acelerado.[↩]
- nota: A barreira do som é quebrada quando um objeto ultrapassa a velocidade do som no ar, que é de aproximadamente 1224 km/h. Ao atingir tamanha rapidez, o objeto atropela as ondas sonoras geradas por ele próprio, o que provoca uma grande onda de choque e um grande estrondo.[↩]
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