Capítulo 2 – Emergência: de onde ele veio
A fuga do local foi bem sucedida, ainda que coisas deixadas para trás trouxessem dúvidas e questionamentos.

Carol, pilotando sua motocicleta, carregava Milla na garupa, com Lilac usando sua velocidade acompanhando-as ao lado.
A gata selvagem, que a todo instante olhava para trás, se prontificou.
— Beleza, limpou a barra. Tamo seguras agora.
Mas mesmo com a situação mais tranquila, a dragão púrpura desviava o olhar, incomodada com aquela pessoa que estava a fugir agora a pouco antes de estarem em um lugar seguro.
Ela, fitando sua amiga felina, falou:
— Você sabe que isso não é o certo, não?
— O que? Se salvar? — Carol disse, sendo irônica.
— Não, sua boba! Não ajudar quem está com problemas!
— Ah, caraca! Tu tá falando do pessoa lá, né? Mas Lilac, ele nem pediu ajuda nem nada e vá saber quem é.
— Mas é por isso mesmo, Carol.
Lilac então mudou de direção, seguindo para onde aquela pessoa correu enquanto estava fugindo.
Era sabido que tê-lo deixado para trás a incomodava.
Carol, balançando a cabeça, desaprovou a decisão da amiga.
— Porquê, Lilac? Porquê? — Ela ficou à frente da dragão, tentando impedi-la de andar.
— Porque é o certo a se fazer, Carol. E você sabe disso — Lilac continuou seu caminho, desviando da gata.
— Por isso que eu terei de te acompanhar. E mais uma vez vou ter que ir na ideia “amiga é pra essas coisas”.
Milla, quieta ao fundo só observando o diálogo das duas, também opinou. Ela foi racional.
— Lilac, e se ele for um inimigo? Essas criaturas não parecem ter consciência. Ele pode estar atrás dos pedaços da pedra do reino também.
— Tá vendo, Lilac? — disse Carol, olhando para a dragão nos olhos. — Não sou a única que tá com a cachola no lugar.
Lilac estava pensativa, mesmo ouvindo o que Milla tinha acabado de dizer.
De fato, era uma atitude arriscada, já que por ter agido sem pensar, quase comprometeu a batalha contra Brevon no passado.
Mas a dragão se decidiu, embora reconhecesse que sua amiga canina estava certa em desconfiar.
— “Sim, Milla está certa — pensava, a refletir. — Mas eu só estou fazendo o certo. Não posso deixar de ajudar quem precisa, mesmo que seja alguém com atitudes suspeitas. Eu devo dar a chance da dúvida.”
Diante as circunstâncias, voltaram suas atenções novamente à floresta, com o intuito de resgatar a tal pessoa.
A seguir, o caminho que tomaram era ainda mais escuro, com altas árvores onde seus galhos tampavam a luz da lua.
Carol ligou os faróis de sua moto, o que ajudou a iluminar o local escuro para continuar seu caminho.
Milla, estranhando algo, não demorou para se expressar.
— Não deveria ter várias daquelas criaturas aqui? Tinha tanta que já deveríamos ter visto. — a canina olhou ao redor. — Isso é estranho.
— Ah, não fica chamando, não! — Carol logo se manifestou, guiando sua moto mais devagar. — Tá bom assim, Milla. Já tamo no meio da patota toda. Deixa quieto, kawaiizinha.
— Mas isso é muito estranho. E eu não sinto cheio delas também. — Farejava, sem sucesso de encontrar evidências.
— Sério? Tu não tá sentindo nada?
— Não. Nem um pouco.
— Lilac, o que acha disso? — Carol olhou para a dragão novamente.
Lilac estava a procurar pela pessoa mais ao fundo, quase ignorando o que as duas diziam.
A gata selvagem verde, percebendo isso, chamou por sua amiga.
— Aí, a gente tá falando com você, tá? — Carol foi mais incisiva no que disse.
— Lilac, você está ouvindo?! — disse Milla, olhando para Lilac, também insistindo.
— Sim, Milla. — A dragão continuou a caminhar — Eu ouvi. E desculpe por ter demorado, vocês duas.
— E qual sua opinião?
— Devemos encontrá-lo.
— Garota, será que dá pra você dar um tempo? — disse Carol, a conflitar com Lilac. — Porque não analisa a situação melhor? O cara sumiu, a gente não conhece o mané, a Milla não sente cheiro de nada, o time já tá com o pedaço da pedra do reino, quase certeza eu não vou comer sushi hoje e outras paradas.
— Eu sei, Carol. Eu sei. E isso não é hora pra falar de comida!
— A placa do “Mission Completed” surgiu já, pô. Porque tu fica nessa de querer ir além do final da fase? Isso aqui não é jogo bugado não!
— Para com essas maluquices, Carol! Estou falando sério! — Lilac se irritou, olhando para sua amiga.
A insistência de Carol parecia duelar com o senso de responsabilidade de Lilac.
Porém a causa da dragão era nobre, já a de sua amiga de pelugem verde parecia ir para o lado “politicamente incorreto”.
— Carol, vou dizer mais uma vez: é o certo a se fazer.
— Tá, mas pelo menos analise! Tipo, faz o meme criar forma!
— Para com essa suas maluquices, eu já avisei. Você sabe que tem alguém precisando de ajuda.
— Ok… Mas tô dizendo: pensa bem aí no que tu quer fazer. Ficar no mato até tarde não é legal.
Enquanto as duas conversavam, Milla se concentrava, tomando mais a frente do terreno coberto por mato.
Ela estava interessada em ajudar de alguma forma a amiga. Por isso começou a usar de suas habilidades, tentando farejar.
— “Lilac quer mesmo ajudar aquele moço — pensava, olhando ao redor. — Mas ela não sabe pra onde ele foi. Eu preciso achar aquele cheiro”.
Seus sentidos estavam bem apurados. E não precisou caminhar muito para sentir o perigo que estava no local ao breu: bastou analisar o ambiente.
Não demorou para constatar que algo no ambiente estava errado.
— Lilac e Carol, devemos parar — disse, interrompendo as duas.
— O que foi, Milla? — perguntou Lilac.
— Olha em volta! Era por isso que eu não sentia cheiro algum!
Como avisado, a dragão olhou em volta, também percebendo que já não estavam em um ambiente seguro.
Milla deixou isso mais claro.
— Toda essa parte da floresta está emanando energia da pedra do reino. Ou seja, toda a área é como se fossem as criaturas.
Carol, seguindo a sugestão da canina, observou ao seu redor e não gostou do que percebeu. A impressão foi mais rápida que a de sua amiga dragão.
— Aí, Lilac, acho que Milla está bem certinha nisso que ela disse — Carol chamou sua amiga, com uma das mãos sobre o ombro da dragão.
Não demorou muito e Lilac percebeu que tudo em sua volta estava se mexendo.
Na verdade, vinhas se moviam entre as árvores. Toda a área florestal que se encontravam era uma criatura de vinhas, reunidas como um só organismo.
Um monstro orgânico sem saberem de seu núcleo.
Lilac, com um semblante mais sério, colocou-se em base de luta, com Carol torcendo o acelerador de sua motocicleta e Milla concentrando seus poderes.
A dragão, já preparada, fez seu papel de líder no momento.
— Fiquem juntas, não se separem! — ela ficou costa a costa com suas amigas, em uma formação circular.
— Boa hora de eu dizer “eu avisei?”, não é, Lilac?
— Não comece, Carol!
— Não foi por falta de aviso. Tá ligada que tamo no ninho da treta, né?
E surpreendendo a todas, eis que a frente delas o mesmo rapaz de antes surgiu, recebendo algum tipo de golpe, que o levou ao chão.
Se levantando rapidamente, para surpresa dele, avistou as garotas. No mesmo instante ele correu contra Lilac, com seu punho cerrado, querendo golpeá-la.
A dragão, ao perceber a ofensiva, se assustou.
— Espere, eu não… — tentou dizer, ao mesmo tempo que se esquivava do soco.
Assim que o golpe do rapaz iria acertá-la, Lilac executou seu movimento sônico e se esquivou com facilidade.
Ele, impressionado com tamanha velocidade, se assustou ao vê-la ao seu lado quase que instantaneamente após evitar ser acertada.
A dragão, tão preocupada quanto surpresa, tentou apaziguar a situação.
— Espere! Eu não quero te… — ela mesma interrompeu suas palavras.
Ainda assustado, ele então a empurra, fazendo com que Lilac vá ao chão, mas sem gravidade.
O rapaz olhou para a dragão em seguida, talvez em um gesto de averiguação.
Mas sua desatenção teve um preço: uma das vinhas o golpeou, o arremessando para longe entre as árvores.
Não foi um movimento violento a ponto de feri-lo, mas o suficiente para afastá-lo das garotas.
Lilac observava sua ação, preocupada com o ocorrido.
Ela continuou a olhar na direção onde o jovem foi levado com o golpe e, a exemplo dele, ignorou o perigo ao redor: uma das vinhas também foi em sua direção a fim de atingi-la.
Mas, para sua sorte, Milla usou seus poderes de feixes verdes e formou uma barreira, defletindo o ataque.
Em seguida, Carol colocou sua moto no outro lado da barreira, novamente se expressando do seu jeito peculiar.
— Tá vendo, Lilac? — ela expressou sua opinião. — O sobrenome do mané é problema! Vamo meter o pé!
— Não, Carol. Algo está errado! — Lilac manteve suas atenções para o lugar que olhava.
— Claro que tem algo errado. Tamo aqui ainda!
— Não, Carol! Não é isso!
— Como não?! — retrucou Carol. — Tamo no meio do olho do furacão e tu tá esperando a carreta? Dá não, muda de faixa!
— Ele não me atacou de propósito. Você não entende!
— Como não? — ela foi incisiva. — O mané tentou te dar uma bifa no meio da sua cara bonita!
— Ele me atacou pra se defender! Para de tentar criar drama, Carol!
— Se defender? Que isso, caraca! O cara foi pra cima de você dando um socão do Ralf!
— Ele estava assustado, de tudo à sua volta. Ele não nos conhece, não tem noção do que está acontecendo — analisou Lilac, olhando para entre as árvores.
— Na boa, tu quando avalia as coisas me deixa cabrera. O cara é um surtado, Lilac. Desencana!
— Não, Carol. Tente entender, droga! Eu sei quando alguém está lutando pela vida. E esse era o caso dele.
Elas duas, enquanto em combate e crises, sempre discutiam durante a ação.
Entretanto, olhando para um dos lados, Carol logo percebe um fato curioso: faltava alguém da equipe. E esse alguém era:
— Milla?! Caraca, cadê a kawaiizinha?!
— Droga! Cadê ela? — disse Lilac, preocupada.
Milla havia sumido. Essa era a realidade que as duas amigas tinham que lidar agora.
A vegetação ao redor dificultava a observação, frustrando totalmente sua procura visual.
As duas, forçando o rastreamento, se viram em um dilema. Mas parecia que a dragão já tinha uma pequena noção do que ocorrera.
— Ela foi atrás daquela pessoa. Só pode ser isso.
— Ah, que bom — disse Carol, a contragosto. — Agora não tem jeito, né?
— Para de reclamar e vamos!
— Tá bom, tá bom. Vamo atrás da puppy fofa. E tenho quase certeza que o prego vai aparecer. Tomara que a Milla esfole o cara com os poderes dela!
— Carol, cala a boca! — A irritação no rosto de Lilac era bem visível.
— Nyah! — A gata esboçou um sorriso, deixando claro que estava brincando.
— Para de se fazer de fofa! Estamos no meio de um imenso problema!
Rapidamente a dragão adentrou pelo meio das árvores que o rapaz havia sido arremessado, tendo em vista que foi por esse caminho que a canina supostamente seguiu a seu resgate.
Estava ainda mais escuro por lá, com Carol a toda velocidade em sua moto e iluminava o lugar com o farol de sua moto.
A frente, encontraram vestígios de combate e algumas vinhas partidas.
A gata selvagem, percebendo isso junto a Lilac, constatou ao mesmo tempo que sua amiga.
— Isso aí tem mó cara que foi a Milla. Tamo na trilha certa!
— Espero que sim. Vamos!
A procura se intensificou após suas ações.
Enquanto isso, em algum lugar na floresta…
Milla caminhava, já em base de luta, com suas mãos à frente, mantendo atenção a cada passo. Ela, pensativa, analisava o lugar:
— “Essas vinhas estão muito instáveis. Eu sei que a qualquer momento elas irão me atacar.”
Milla tinha um poder único. Ela podia manifestar feixes de luz provenientes de seu corpo.
Diferente dos outros Avaliceanos (gentílico de quem nasceu no planeta Avalice), a canina era da classe alquimista; seus dons não tinham o mesmo entendimento do que os habitantes do planeta chamam de Nirvana. Mas deixemos isso por agora.
Com esses feixes, ela podia transformá-los como quisesse, seja para ataque ou defesa, criando objetos sólidos.
Milla também possuía habilidades singulares: tinha uma audição mais aguçada que as suas amigas, seu olfato era inigualável e, como seu maior poder, tinha o poder de intuição como nenhum ser do planeta.
Ela conseguia prever acontecimentos se estivesse concentrada.
De forma inesperada, vindo entre as árvores, uma vinha tentou lhe golpear, sendo esquivada facilmente por Milla, que já estava a postos e pronta para lutar.
— Eu estou pronta! Podem vir!
Uma luta estava prestes a eclodir.
Milla terá um desafio pela frente.
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