Capítulo 33 - Mistério no Castelo de Shuigang
Os momentos que antecederam os eventos do Castelo foram bem explosivos.
Lilac e Carol precisaram lidar com a ameaça robótica chamada Libélula Metálica, arma secreta do clã ninja Red Scarves.
Após a vitória, a dupla seguiu na direção onde o caminhão jamanta percorreu.
Entretanto, houveram dificuldades: Lilac quase perdeu a linha de raciocínio da missão, se frustrando com os resultados pífios que conseguiram.
Ruby Scarlett tinha um plano, e ele parecia estar dando certo.
Contudo, a dragão púrpura e sua amiga felina tagarela agora tinham um norte: usar a escada Bededst para rastrear o posicionamento preciso de Viktor e Milla, que estavam dentro do Castelo.
Embora o localizador de Carol, cujo uso foi evitado para não trazer problemas no Reino de Shuigang, parou de funcionar, dada a queda da comunicação por toda a cidade.
Enfim, voltamos para a marca temporal que estávamos antes, precisamente onde Milla e Viktor acompanhavam os movimentos dos Red Scarves.
Castelo de Shuigang | Noite
Milla e Viktor estavam se esgueirando pelos corredores escuros e frios do subsolo do castelo.
Caminhavam com muita cautela, tendo em vista que nada conheciam do lugar.
Contrariando a natureza do lugar, uma brisa fria foi sentida pela dupla, trazendo um sentimento de mal agouro, visto no rosto de cada um deles após sua passada repentina.
— Nós precisamos ter muito cuidado, Viktorius.
— Nem precisa dizer duas vezes, Milla.
Cada passo parecia aproximá-los da verdade, mas com um peso sobre as pernas. Isso era um sinal de que o clima pesado deixou os dois mais cautelosos.
Esse cuidado foi usado por Milla a um nível acima, ou dois, após a canina sentir o cheiro de alguém, que se aproximava.
— Venha, Viktorius! — disse a pequena, puxando o jovem humano para trás de uma das pilastras do local.
Segundos depois, alguns membros da The Red Scarves surgiram caminhando, o que fez valer a atenção de Milla.
O grupo de ninjas seguia um outro à frente. O líder falou:
— Agora que Ruby está nas arcadas do Castelo, poderemos planejar melhor nosso último ataque. Os resquícios restantes estão aqui.
Eles, então, continuaram caminhando, enquanto Milla e Viktor trocavam olhares, surpresos com o que descobriram.
— Milla, você ouviu isso?
— Sim, Viktorius. Agora sabemos porque eles estão aqui.
— Nós deveríamos dizer isso a Lilac agora!
— Mas como? Não tem comunicação!
— Droga! O que vamos fazer?
Claro, a comunicação ainda não havia retornado. Era certo de que a missão estava em cheque, como Milla tinha noção.
Foi quando a pequena levantou um assunto após sua fala.
— Se ao menos tivéssemos achado o guardião, nós teríamos mais um pra confiar e ajudar a gente.
O jovem humano recordou o que havia ouvido do panda Ying enquanto estavam conversando na noite passada.
Ele finalmente contou a alguém o que descobriu.
— Milla… Tem uma coisa que preciso te dizer — disse o humano, desta vez com sua face demonstrando seriedade.
— O que foi, Viktorius? — Milla estava curiosa, levantando uma de suas longas orelhas.
— Não existe guardião em Shuigang.
— O que? Como assim? — a canina ficou abismada com o que ouviu.
— Ying me disse que não há guardiões. Todos foram exterminados por esse que vocês chamam de Brevon.
— Ai, Viktorius, Isso é mal! — a pequena demonstrou surpresa em seu tom de voz.
Milla ficou cabisbaixa assim que tal notícia foi passada.
A contraposto, Viktor desconhecia as nuances de Avalice, mas tinha um senso de dever universal.
Por esse motivo, o rapaz se mostrou engajado à causa. Não podia esperar menos do jovem.
— Acho que deveríamos ir até o fundo.
— Como assim? Nós já sabemos o que eles querem aqui — a canina disse, olhando para Viktor.
— Mas não acha muito estranho que não tenha nenhum guarda nos corredores? Até agora tem sido tudo fácil. Até eu sei que em um castelo a segurança deveria ser melhor.
Era uma constatação inicial bem considerável a que Viktor tomou.
Milla deu mais liga a isso.
— Desde que chegamos eu só senti o cheiro dos ninjas e da Ruby… e de ninguém mais.
— Isso está muito estranho — Viktor falou, desta vez mais concentrado. — Vamos investigar, mas com cuidado.
Mesmo depois de terem levantado dúvidas quanto à segurança do lugar, os dois continuaram a caminhar com a mesma atenção de antes.
Como Milla possuía habilidades naturais de uma canina, era um subterfúgio muito útil para rastrear uma possível ameaça.
A investigação continuou ao adentrarem agora um grande salão: era uma área mais iluminada, com luzes fluorescentes.

O lugar se parecia como um armazém, sem móveis no salão.
Paredes pintadas da cor verde e o chão, com piso em mármore estilo asiático, eram mais um componente de destaque.
Um cheiro, que a fraca brisa trouxe, entregou ao faro de Milla um prelúdio, talvez mais terrível do que imaginava.
Algo os pegou de surpresa, assim que adentraram ao recinto.
— Ah, Viktorius! — disse Milla, apontando para frente. — Olha só isso!
Inesperadamente, dezenas de ninjas estavam caídos, desacordados, o que causou ainda mais apreensão por parte de Milla.
— Viktorius, mas o que será que aconteceu aqui? Será que… — ela pausou suas palavras, cobrindo o rosto com suas mãos.
Viktor, então, se aproximou de um dos ninjas caídos, examinando cuidadosamente.
Ele tocou um deles em seu pescoço, dizendo em seguida:
— Milla, eles foram nocauteados. Não estão mortos.
— O que? — sua surpresa foi espontânea, assim como alívio. — Ufa! Mas, mesmo assim, o que aconteceu com eles para estarem assim? Isso é terrível!
— Parece terem sido atingidos uma única vez e desmaiaram — o humano olhou em volta, visualizando o cenário.
— Mas, Viktorius, há pelo menos quinze deles caídos. Como alguém poderia ter feito isso sem que eu pudesse ouvir ou sentir seu cheiro?
— Eu não sei, Milla. Tem algo muito estr… — Viktor não teve tempo de completar o que iria dizer.
Milla se jogou contra Viktor, com os dois indo ao chão em seguida. Seu movimento rápido parecia ter ocorrido por instinto.
A canina salvou a vida do jovem humano, pois um combinado de quatro kunais havia sido arremessado na direção dele.
E não eram simples projéteis: estavam tão bem afiados que fincaram a parede próxima.
No mesmo instante, Milla, ainda sobre Viktor, disse:
— Essas kunais… Viktorius, você está bem?
— Bem… Ai… — ele disse, se levantando. — Estou sim… Mas o que aconteceu?
— Fomos quase atingidos por aquelas coisas! — a pequena falou, apontando para a parede.
— Nossa! Aquilo são kunais!
A identificação do projétil veio segundos antes dos dois ouvirem uma respiração ofegante e intermitente.
Assim que eles olharam para trás, avistaram um ninja Red Scarves de pé sobre uma plataforma acima do salão.
Aparentemente fraco, ainda mantinha suas mãos simulando o arremesso das kunais.
Porém, por seu estado fragilizado, lentamente perdeu as forças de seu corpo e caiu.
Por sorte, Milla conseguiu conjurar seus poderes de feixes verdes e criou um grande cubo, amortecendo a queda de seu agressor, que foi posto ao chão com todo cuidado.
Viktor até se impressionou com o movimento especial da canina, mas sua curiosidade o moveu até o ninja.
Enquanto lutava para se manter acordado, o ninja sequer foi inquirido; ele mesmo se propôs a falar.
— Desgraçados… — sua voz fraca e ofegante o fazia falar pausadamente. — Vocês pensaram em tudo…
— Hã? Do que está falando? — perguntou Viktor, com mais curiosidade agora.
— Estava tudo fácil demais… O Castelo de Shuigang era nosso, mas…
As palavras eram ditas pelo Red Scarves, mas totalmente desconexas.
Tudo isso criava muita tensão e apreensão por parte de Milla e Viktor, que insistiam em perguntar.
— O que está acontecendo? Porque tentou nos acertar com essas kunais?
— Você já deve saber, estrangeiro desgraçado… — sua voz falha dava a entender que iria desmaiar a qualquer momento. — Aquela figura que surgiu… das… sombras…
— O que?! De quem está falando?!
Não houve tempo para colher mais informações. O ninja ganha desmaiado.
A dupla tentava reanimá-lo, porém foram em vão. Seu corpo fraco buscou o descanso, inconsciente.
Definitivamente, os dois agora tinham muito mais dúvidas desde que chegaram ao castelo.
— Viktorius, isso tudo é terrível demais.
— Pode crer, Milla. Se esse ninja estiver falando a verdade, alguém muito perigoso fez isso a eles.
A canina não demorou para expor sua opinião.
— Terá sido o… guardião?!
— Ying me disse que não haviam guardiões, o mesmo que aquela raposa disse aqui no castelo.
— Isso não faz sentido algum! O que vamos fazer?
As dúvidas só aumentaram.
Parecia que a escala de acontecimentos inesperados só iria crescer, assim como o terror de estarem em um local desconhecido e com aqueles ninjas inconscientes tomando o chão.
Mas, tornando o clima soturno mais tenso, eis que Milla conseguiu ouvir gritos e ruídos de luta próximo dalí. Seu dom natural lhe permitiu isso.
Chamando sua atenção, segurou forte em uma das mãos de Viktor, dizendo em seguida:
— Viktorius, temos que correr!
— Hã? Mas porquê?
— Tem algo acontecendo nas outras salas. Eu ouvi e senti o cheiro de muita gente!
— Mas, o que você pensa em fazer?
— Como você mesmo disse, temos que descobrir mais. A gente tem que saber de tudo agora!
Milla correu para um dos corredores segurando a mão de Viktor às pressas.
O jovem humano percebeu em Milla algo diferente, como se estivesse com medo de algo.
— “Milla está estranha… Esse olhar dela. Eu conheço esse sentimento! — Viktor pensava, a olhar para a pequena. — Ela parece saber o que está por vir, mas quer tirar a prova!”
Ao chegarem à próxima sala, perceberam que estavam nas arcadas do Castelo.
Era o lugar de treinamento da guarda do reino.
Porém, perceberam que havia muito mais ninjas caídos que antes.
E para piorar: alguns desta vez estavam gravemente feridos.
Havia sangue pelo chão, proveniente dos ladinos Red Scarves. Alguns até estavam gemendo de dor, deixando claro que a suposta batalha foi recente.
Milla logo cobriu os olhos com suas orelhas, horrorizada pelo o que estava vendo.
— Isso é terrível! O que fizeram com eles?!
— Milla, temos que fazer alguma coisa! — Viktor respirava profundamente enquanto falava.
Era por isso que Milla estava diferente do habitual e foi exatamente isso que o jovem percebeu.
A canina ficou estática frente a tantas pessoas caídas daquela forma e se ajoelhou, pasma.
Ela, com dificuldades de falar, disse:
— Isso… Isso é… ho-horrível…
Viktor rapidamente foi até o grupo caído. Entretanto, sua constatação não foi muito diferente da de mais cedo.
— Milla… Eles não estão mortos. Não fique abalada!
— Viktorius, eles estão sofrendo muito… Quem deve ter feito isso?
— Eu não sei, Milla… — o humano estava perdido, pensando logo a seguir. — “Ying disse que não havia guardiões. O que está acontecendo? Eu sinto que estamos perdendo o controle da situação. Tudo está um caos! O que devo fazer? Para onde ir? Esse mundo é mesmo real?!”
Não era uma situação habitual.
Milla nunca tinha vivenciado um momento como esse.
A canina estava acuada atrás de suas longas orelhas felpudas, como se estivesse sentindo a dor de quem estava no chão se contorcendo.
Viktor, empático, a abraçou, lhe fazendo companhia naquela situação difícil que a dupla estava vivenciando.
Era como o rapaz disse: um caos.
Diante o ambiente desfavorável, parecia que aquela noite não iria acabar de uma forma tradicional e muito menos tranquila.
A frente de Viktor e Milla, vindo de uma das entradas das arcadas do Castelo, Ruby Scarlett adentrou o recinto, sem cerimônias e muito menos tentar se esconder.
Todavia, seu semblante sério e intimidador deu lugar a um olhar aflito e cheio de temor, sentimento que seguiu como uma flecha envenenada até sua alma.
Ela viu seus comandados, todos abatidos, alguns até em estado grave.
O chão, tomado de Red Scarves, foi o estopim para sua fúria vindoura.
— O que vocês fizeram com meus ninjas?! — Ruby gritou, alto o suficiente para que sua voz enraivecida deixasse bem claro sua irritação.
Viktor, embora intimidado, ignorou esse sentimento segundos depois, dando três passos à frente, a fim de proteger Milla.
Ele não ficou calado.
— Nós não fizemos nada. Já estavam aqui assim e… — tentou dizer o humano, sendo interrompido.
— ISSO É MENTIRA! – berrou Ruby, já retirando sua espada da bainha.
Mesmo com a afronta, Viktor se manteve no mesmo ponto que estava.
— Estou dizendo a verdade! — o rapaz devolveu a discussão, gritando também. — Não sabemos o que está acontecendo aqui neste lugar!
Ruby sequer deu tempo para Viktor continuar falando.
Ela correu em sua direção, dominada pelo ódio com sua espada em punho, desejando acertá-lo.
Contudo, Viktor não estava sozinho nessa luta: Milla executou um incrível salto para frente, o protegendo com seu:
— Escudo de Proteção!
O movimento preciso foi um subterfúgio útil, já que a Kunoichi rosa mostrou força e destreza com sua espada. Tanto que faíscas surgiram assim que sua lâmina se chocou contra o escudo.
— Viktorius, você está bem?
— Estou, Milla!
A frustração de Ruby era tremenda.
— Grr… Criança detestável, nem em mil anos você seria capaz de me enfrentar!
— Não quero lutar contra você a menos que você não pare!
— Eu vou acabar com todos vocês! — Ruby começou a emanar uma aura rosada, concentrando energia em seu corpo em seguida. — Técnica suprema da Raposa Kunoichi: velocidade máxima!
A raposa rosa parecia possuída: seus movimentos ficaram muito mais rápidos, tanto quanto pudesse se teletransportar pelo salão mal iluminado.
Com violência, investiu contra Milla, usando sua espada para golpeá-la.
A pequena era ágil também, unido com seus instintos caninos aguçados.
Isso permitiu que conseguisse se defender, e a Viktor, dos ataques raivosos da ninja descontrolada.
— Isso é uma piada? Hahaha! — ela gargalhava alto, dominada pelo ódio. — Tudo isso é uma estratégia para começar minha vingança por tudo que vocês fizeram!
Sim, era um blefe.
Ruby Scarlett usou sua velocidade para se aproximar de Milla e saber de seus padrões de defesa.
Por ser muito mais rápida, Ruby fintou a pequena com facilidade, surgindo à frente de Viktor.
Ela, com sua espada à frente, tomou para si a última palavra.
— Estrangeiro idiota, seu coração é meu! — seu ódio estava visível em seu tom de voz.
Era impossível que Viktor conseguisse esquivar ou defender. A espada de Ruby já tinha seu destino: seu peito.
O jovem, sabendo que não conseguiria evitar de ser acertado, pensou:
— “Ela é estupidamente rápida, talvez como a Lilac. Ela vai me acertar! Não tem como eu evitar! Essa espada… Eu… Eu vou morrer aqui?”
Milionésimos de segundos antecediam o fim trágico do humano, que só teve esse tempo para pensar no pior.
Tão logo a velocidade de Ruby fosse um destoante na batalha, seu plano iria se concretizar caso não houvesse um time determinado a cumprir com sua missão.
Uma voz carregada de vontade e confiança foi ouvida no ambiente, ressonante em todos os graus.
— Impulso do Dragão!
No último instante, antes do momento fatídico se concretizar, a dragão púrpura surgiu como uma flecha e conseguiu interceptar o golpe que seria fatal a Viktor.
Ela, aparando o movimento de Ruby com um forte chute, disse:
— Não deixarei que o mate!
— O que?! Lilac?! — Ruby surtou, saltando para trás.
Aquilo sim foi uma aparição inesperada.
Lilac ficou entre os dois, Milla e Viktor, enquanto Ruby recuou para um dos corners do salão de treinamento do Castelo de Shuigang.
A dragão queria mesmo saber como seus amigos estavam.
— Viktor, Milla… Vocês estão bem?
— Lilac?! — gritou a canina. — Ah, estamos sim! Isso aí!
— Você apareceu na hora certa, sabia? — Viktor ficou aliviado.
Mas esse alívio seria por pouco tempo.
Ruby não aceitaria tal audácia da dragão púrpura e seus aliados.
O que virá a seguir?
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