Índice de Capítulo

    Ruby não ficaria só olhando a reunião do grupo. Pelo contrário: iria aproveitar para atacá-los a traição, como todo Red Scarves faria.

    Contudo, isso não aconteceu.

    Carol surgiu pelas costas da Kunoichi, lhe aplicando um violento chute e fazendo a raposa rosa ser jogada para longe.

    A felina estava radiante (e tagarela).

    — Ei… não esquece d’euzinha aqui, piá! Kid Carol ao resgate! — disse a gata, olhando em seguida para Ruby. — E aí, rosinha? Gostou da bicuda patenteada?

    — Grr… sua desgraçada traidora! — Ruby estava ainda mais irritada. — Isso não vai ficar assim!

    — Claro que não, ué. — Carol estava indócil, fazendo careta inclusive. — Vai ficar roxo e doer mutcho, nyah!

    Viktor e Milla observaram de longe a performance de Carol, por mais que suas piadas e trejeitos não fossem os adequados.

    A gata, com um salto, se juntou ao grupo.

    — Como vocês conseguiram chegar até aqui? — perguntou Viktor.

    — Longa história, piá. Capítulo de duas mil palavras, tá? — a felina disse, alongando os braços para cima. — Ok, tá na hora de chutar essa chiclete peluda do pedaço do Dail!

    Porém, a reunião não teria o tom despojado que Carol geralmente se comportava, como esperado.

    As duas, ao perceberem como estava ao redor, ficaram impressionadas e até mesmo assustadas.

    Lilac logo se manifestou frente a tantos ninjas feridos.

    — Minha nossa! O que aconteceu aqui?

    — Galera, quem fez essa sujeira toda? – Disse Carol, com um semblante sério. — Tá, sem piada dessa vez. Coisa macabra demais!

    O humano se dirigiu a ela, expressando a mesma dúvida.

    — Nós não sabemos também, Carol. — disse Viktor, também preocupado. — Chegamos aqui para tentarmos rastrear os passos dos ninjas e acabamos dentro do castelo.

    Foi nesse momento que Lilac tomou a frente. A dragão estava um pouco irritada.

    — Vocês não deveriam ter saído da praça! Eu avisei antes da comunicação cair!

    — Desculpe, Lilac… — disse Viktor, mostrando seriedade em seu rosto. — Ir contra o planejamento não era minha intenção. Mas, como não tínhamos como saber onde estavam, não podíamos deixar que os ninjas sumissem.

    — Eu entendo seu ponto, mas… — Lilac tentou ponderar, mas foi interrompida.

    Isso ocorreu porque Ruby não se conteve, irritadíssima pelo o que lhe havia acontecido: correndo em sua direção a toda velocidade, kunoichi rosa, com o pouco que apresentou de habilidades, começou a trocar socos e chutes com Lilac.

    — Grr… Eu vou matar todos vocês, dragão! — a raposa disse, tentando acertar Lilac com uma sequência de golpes.

    — Você é louca, Ruby! — a dragão se esquivava de todos os ataques.

    Era impressionante a rapidez com que as duas se movimentavam, surpreendendo Viktor.

    — “O que está acontecendo aqui?! Eu não consigo vê-las! — analisava o jovem, tentando imaginar a luta. — Essa batalha é surreal. A Ruby atacou Lilac do nada e eu não consigo ver absolutamente nada do que estão fazendo. Essa é uma luta entre pessoas desse mundo? O nível é absurdo demais!”

    Ele estava impressionado.

    E a luta continuava.

    Lilac e Ruby corriam em paralelo uma com a outra, desferindo violentos chutes, sendo defendido por ambas.

    Pareciam lutar da mesma forma, usando os mesmos movimentos. Por serem velocistas, os golpes eram adaptados para serem efetivos a uma gama supersônica. Até mesmo o piso reagiu, sofrendo com a forte fricção que ocorria.

    E, como um raio, ambas se chocam ao irem de encontro entre si. Parecia o encontro de dois Impulso do Dragão, mas ligeira vantagem para Lilac, que se manteve no lugar enquanto a raposa rosa foi arremessada levemente para trás, mas caindo de pé.

    As duas, neste momento, trocavam olhares, com a de Ruby se mantendo raivosa.

    — Ruby, pare o que você está fazendo agora mesmo! — disse Lilac, sem desviar o olhar.

    — NUNCA! — ela gritou ainda mais forte. — Eu vou vingar meus ninjas! Nosso clã nunca irá cair! E você terá seu fim, dragão traidora!

    — Sua tola! Não vê que tem algo muito errado aqui? — Lilac falou, apontando para os Red Scarves no solo. — Olhe a sua volta! Nenhum de nós faria tal coisa! Você sabe disso!

    — CALE-SE! Eu vou acabar com voc… — Ruby engoliu suas palavras, literalmente.

    Numa noite de surpresas, mais uma acabou de ocorrer: enquanto estava travando uma luta de egos contra Lilac, Ruby foi acertada em seu rosto em cheio, com um violento chute.

    Aterrissando categoricamente ao solo, uma figura desconhecida apareceu.

    Com a kunoichi sendo arremessada para longe, e se chocando contra alguns caixotes ali próximos, logo todos conseguiram ver esse alguém.

    A pessoa estava vestindo um traje de batalha como os demais guardas do reino de Shuigang, só que com muito mais estilo e elegância.

    A roupa era da cor verde, assim como placas que remetiam a uma armadura. Possuía, também, algo em especial: ostentava uma capa em seus ombros com um tom de verde mais claro e usava um grande chapéu de palha, que lhe cobria toda a cabeça, impossibilitando ver sua face.

    Mas, Carol (sempre ela, a tagarela) precisou novamente abrir sua boca pra dizer das suas.

    — A temporada de dar bicuda na Ruby tá aberta, nyah!

    A imponência do novo integrante no salão era absurda. Parecia que sua presença possuísse uma carga opressora tão grande que, por alguns segundos, um silêncio ensurdecedor ocorresse.

    Tão logo, veio a pergunta que todos esperavam.

    — Caraca, quem é o chapeludo aí? — Carol foi ligeira.

    Milla deu um passo à frente, respondendo.

    — Ele só pode ser… o guardião do Reino de Shuigang! — ela disse com convicção em suas palavras.

    O olhar incrédulo de todos, inclusive de Ruby, só deixou a situação mais caótica.

    Lilac tinha noção exata do que isso significaria, um fato impossível de ignorar.

    Contudo, a dragão mostrou ceticismo, como defesa.

    — Você está certa disso, Milla? — perguntou Lilac. — Porque, se for verdade, isso muda tudo!

    — Eu senti isso. Pode acreditar em mim!

    Novamente, eventos inesperados.

    Viktor também estava impressionado, principalmente com algo que o abatia em seus pensamentos.

    — “Não pode ser! Mas como ele pode ser o guardião? Olhe esses ninjas no chão… Um guardião deste mundo faria isso mesmo?! O que está acontecendo?”

    Ruby se levantava, bastante ferida. Com um pequeno sangramento em seu nariz, diz:

    — Seu miserável! Então foi você quem fez isso a meus homens… EU NUNCA VOU TE…

    Sem chances para indagações, o guardião foi impecável: com suas mãos cruzadas, o suposto guardião executou um movimento elegante e arrojado, arremessando contra Ruby um par de chakrans1.

    Ruby só teve tempo de retirar duas de suas kunais de seu cinto, a fim de se defender.

    Porém, o guardião estava longe de parecer um amador: por ser uma arma de difícil manuseio, a pessoa que a usa deve estar plenamente treinada e qualificada para ter tanta habilidade.

    Chakram é uma arma de apetrechos e ricochete e, caso utilizada, era necessária a breve resposta e reação do usuário de forma antecipada. Ou seja, seu manipulador deveria saber com antecedência o destino do desvio.

    Com os chakrans prestes a acertar Ruby, ela rapidamente levantou seus kunais, para que pudesse aparar os projéteis arremessados pelo suposto guardião.

    Mas não era um simples movimento: por dois centímetros, os chakrans ricochetearam contra os kunais da kunoichi rosa e se chocaram contra uma parede, retornando novamente contra ela.

    Ruby chegou até mesmo a se assustar com o fato de o mesmo movimento ter continuado ofensivamente.

    — “O que? Mas como? Isso é impossível! Eu as aparei perfeitamente e…”

    Ruby estava confusa.

    Sua situação piorou ao perder de vista o guardião.

    — O que?! Onde ele está? — disse a raposa, olhando para os lados.

    Mas, para sua surpresa, ele estava próximo a ela, abaixado a sua frente. Sua agilidade foi tanta que conseguiu se evadir sem que a Kunoichi pudesse perceber.

    Sem chance alguma de defesa, o guardião executou uma sequência de três socos na barriga de Ruby, causando danos internos consideráveis.

    A dor estava estampada no rosto deformado pela sensação dela.

    Mesmo sofrendo danos, Ruby tentou emendar um chute visando o dorso do guardião, que previu o golpe, aparando o chute com uma das mãos e, com a outra, causou uma torção em sua rótula da perna.

    A agonia de Ruby foi imediata.

    Isso ficou evidenciado em seu grito tortuoso.

    Todavia, mesmo com uma perna só, se manteve em pé, tentando um último golpe.

    Dominada pelo ódio por ter seus capangas derrotados, pegou seu punhal que estava em seu cinto em suas costas, tentando uma última alternativa.

    Sua velocidade foi impressionante, mas nem sempre agilidade era uma vantagem sobre o oponente: antes que pudesse fazer algo, os chakrans haviam retornado, a atingindo nos dois braços, ferindo-a gravemente com cortes.

    Sua adaga foi ao chão, assim como suas esperanças de sucesso.

    Movimentos prévios. Era desta forma que velocistas de Avalice poderiam ser sobrepujados, como ocorreu com Ruby. O guardião calculou friamente.

    Essa estratégia de luta era vista só em lutadores de alto nível, guerreiros fortemente armados e artistas marciais doutrinados.

    A Kunoichi raposa estava quase completamente incapacitada de se defender e, sentindo fortes dores, disse:

    — Você… Você é um demônio… Uma desgraça! — ela gritou, tentando se manter em pé com uma das pernas.

    Logo após atingirem Ruby, os chakrans ricochetearam novamente em pilastras próximas e, levantando suas duas mãos para cada um dos lados, o guardião os segurou, ficando frente a raposa ninja.

    Ele a fitava, mesmo que seus olhos brilhosos fossem vistos por uma pequenina aresta de seu enorme chapéu de palha chinês.

    Foi nesse momento que Ruby encontrou o terror em sua mente. Seu corpo, atlético e curvilíneo, passou a tremer.

    O medo tomou sua alma.

    — “Ele vai me matar?! Eu vou morrer aqui?! Ahh… eu… eu não quero morrer! — ela pensava, ouvindo o grito de sua voz interior expressar sua temeridade. — EU NÃO QUERO MORRER!”

    Todos ficaram incrédulos com a repentina aparição do guardião, era fato.

    Mas, até onde tudo isso chegou, elevou ainda mais o nível.

    — Lilac, esse guardião é badass a torto! Caraca, o cara é sinistro pra dedéu! — Carol falou bem sério dessa vez.

    — Concordo com você, Carol — a dragão disse, olhando para o guardião. — Ainda que ele seja mesmo o guardião, tem coisas que estão muito erradas aqui.

    — Você também percebeu, Lilac? – disse Viktor, assustado com o que via e pensando — “Esse guardião é implacável… Será que Lilac pensou o mesmo?”

    Sim, ela pensou.

    — Viktor, ele vai… matá-la!

    — O que? — Milla gritou, abraçando seu próprio corpo. — Ele não pode fazer isso! Ele tem que ser um guardião, não um assassino!

    Carol tomou a frente de sua amiga dragão, tenho ponderações.

    — Que isso, Lilac? Tá certo que o cara aí tá bem edgy, mas não a ponto de chegar as vias dos fatos fatais, pô!

    Mas:

    — Carol, sai da frente! Eu não vou esperar acontecer o pior!

    — Calma aí, caraca! A gente já tá na casa do marimbondo, tá? Tu sabe o que acontece… — Carol precisou se calar após seus argumentos.

    A dragão praticamente berrou, para que a tagarela pudesse ouvir melhor:

    — ELE VAI MATÁ-LA, CAROL!

    — Ai, caraca… Como tu pode tá certa dessa parada assim?!

    — Lembra o que Royal Magister disse em Shang Tu? O guardião elimina qualquer um que ameace o Reino de Shuigang!

    — Caraca! — Carol arregalou seus olhos, tomada pelo banho da verdade. — Putzgrila, mano!

    E de fato essa era mesmo a sua intenção.

    Com um movimento ágil e plástico, o guardião desferiu um golpe usando seus dois chakrans contra o pescoço de Ruby e…

    O objetivo era decepá-la.

    Mas, como dito antes, era uma noite cheia de surpresas inesperadas.

    Assim que o guardião iria dar fim a vida de Ruby, um vulto vermelho surgiu no salão.

    Era rápido o suficiente para livrar a Kunoichi de seu fim súbito.

    Um movimento ascendente rápido foi visto por todos que seguiram o rastro a fim de saber o que estava acontecendo.

    E, sob o alto das arcadas, com a lua cheia tomando a noite e deixando sua luz tomar parte da pequena abertura, eis que uma silhueta conhecida por Lilac e Carol foi vista.

    Era um panda vestindo uma roupa ninja com tons negros e vermelhos, usando um óculos ray ban rubros. Além disso, ostentava um lenço vermelho em seu pescoço.

    Além disso, ele exibia suas habilidades ao embaralhar incessantemente, com uma das mãos, um baralho de cartas. Aliás, elas eram também sua principal arma.

    Não era ninguém menos que:

    — Grr… Spade! — Lilac gritou, raivosa.

    Era Spade, o irmão mais novo de Dail e líder da divisão Red Scarves de Shuigang.

    Ele salvou Ruby da morte certa, a segurando em um de seus braços.

    Ele era um panda bastante seguro de si e, principalmente, alguém que ia direto ao ponto, como mostrou a seguir.

    — Poucas coisas a se dizer. Primeira: vocês não deveriam estar aqui. Segunda: vocês atrapalharam tudo. Terceira: Ruby confiou demais nas suas ideias infantis e falhou na missão. Quarto: não subestimem os Red Scarves.

    Ele, então, assobiou alto, como se estivesse chamando por alguém.

    Mas ele não parou de falar.

    — Nós, Red Scarves, somos maiores do que vocês imaginam. O que vocês viram aqui foi só uma pedra de tropeço. Podem se orgulhar dessa suposta “vitória”. Mas não se enganem: estamos em todo lugar, o tempo todo.

    Sua presença era motivo de irritação para Carol e Lilac. Milla e Viktor só observavam, calados e confusos, a situação criada.

    Spade não havia terminado. Não ainda.

    Lhe restou uma última informação.

    — Ah, sim. Estou no quinto: bom trabalho em proteger este castelo, guardião. E, já esperando sua timidez, fiz as honras de cortar seu chapéu de palha estiloso.

    Um corte tímido apareceu no meio do chapéu do guardião. O fio de uma das cartas de Spade, que estava ao chão próximo ao guardião, era mesmo afiado tanto quanto uma espada de samurai.

    O líder da divisão Red Scarves de Shuigang foi absurdamente preciso no corte, que até mesmo o guardião não pode evitar.

    Logo as bandas de seu chapéu se soltam e vão ao chão, evidenciando sua face.

    Acompanhando a queda do chapéu de palha, longos cabelos sedosos pretos e com reflexos roxos por dentro dos fios também eram evidenciados, assim como os olhos violáceos brilhantes e penetrantes deixando claro sua autoridade.

    Nem mesmo suas sardas, que mostravam jovialidade, e seus traços delicados, foram capazes de diminuir a surpresa que todos tiveram.

    Viktor expressou bem essa emoção.

    — Minha nossa… Ying? Você é o guardião?!

    Ying era o guardião?

    Todo esse tempo o vendedor de doces era o motivo do time de Lilac ter ido até Shuigang para cumprirem a missão?

    Mas porquê seu anonimato?

    O até então gentil e meigo panda andrógino se mostrou um lutador extremamente hábil e implacável.

    Houveram tantos eventos pela cidade, que abalaram suas estruturas e ameaçaram seu povo.

    Momentos de tensão absoluta dentro do Castelo de Shuigang guardavam, ainda, várias indagações.

    Os mistérios se mantiveram.

    Mas a pergunta ficou se repetindo o tempo todo na mente do grupo:

    Qual o porquê de tudo isso que estava acontecendo?

    O motivo disso tudo veremos no próximo capítulo.

    1. nota: O chakram é uma arma de arremesso, de vôo reto de maneira a ricochetear. Acredita-se que a arma foi desenvolvida há mais de três mil anos, tendo sido largamente encontrada nas regiões em que hoje estão países como Índia, Paquistão e Irã. Ele é de forma circular, com uma aresta exterior aguçada e varia em tamanho de cerca de 12 a 30 centímetros de diâmetro.[]

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