— “Se a paz existe, eu a amarei, mas não quero desejá-la. Se os destinos justificam os caminhos trilhados, as guerras justificam os sacrifícios desonrados? Eu amo a paz, mas temo o dia em que alguém queira alcançá-la. Eu temo que o preço para um viver seja o outro morrer. Se a paz existe, eu a amarei, mas não quero desejá-la”, escrito por Kang Heus. — Disse um homem.

    Ele caminhava sozinho por uma pequena cidade com um velho livro em mãos. O sobretudo marrom cobria parcialmente o rosto de pele clara, o cabelo azul e olhos vermelhos. Ler era um hábito comum durante seu tempo livre, afinal, seu trabalho exigia muito e ele mal tinha tempo para se distrair.

    Após se sentar em um banco, ele tirou o capuz e folheou outras páginas. Sua leitura, no entanto, logo foi interrompida quando alguém o chamou.

    — Enfim te encontrei, Lobo. Por onde andou? Não me diga que ainda lê os provérbios dos antigos monges. Você é mesmo um “lobo”. Quando fica só, é difícil de achar. — Comentou uma bela mulher, sentando-se ao seu lado.

    Após deixar uma enorme mochila ao lado do seu companheiro, ela tirou o capuz, deixando cair os longos cabelos loiros. Seus olhos eram vermelhos como o céu, o rosto era fino e o busto avantajado.

    — Não pensei que você me encontraria tão cedo, Águia. Se você não tivesse uma visão tão boa, eu conseguiria ler mais algumas páginas. Enfim, o que temos para hoje? Tem a ver com essa mochila que me deu? — Perguntou.

    — Não se faça de bobo, você sabe que hoje é seu dia de levar os suprimentos para as vilas vizinhas. Acha que elas manterão seus acordos passando fome? — Ela disse, levantando-se com pressa. — Agora, vamos. Essa mochila tem o que você precisará durante a viagem. Leve os suprimentos e volte antes de anoitecer. Hoje teremos uma reunião, não se esqueça.

    Com um suspiro, ele se levantou e negou com a cabeça. A leitura ficaria para mais tarde. Ele então colocou a mochila nas costas e caminhou ao lado da Águia até o local onde os suprimentos estavam guardados, localizado em um velho armazém, escondido perto da saída da saída.

    Ao chegarem lá, ambos retiraram pequenos colares e passaram por um pequeno leitor de energia, que lhes permitiu acesso ao local.

    — Por que Falcão convocaria uma reunião logo hoje? Ele sabe que a vila para onde vou fica a quase meio dia de caminhada. Não consegue convencer ele a adiar esse encontro? Eu estarei exausto quando voltar.

    — Eu sei, mas ele foi irredutível. Ele está incomodado, sabe? Disse que a Ordem está sendo muito complacente com seus membros e que deveríamos nos esforçar mais para aumentar nossa influência. — Ela explicou, dando de ombros. — Ele disponibilizou um cavalo para você não se atrasar.

    Após saber o motivo, Lobo se virou para Águia, fitando-a seriamente, e ameaçou dizer algo, mas hesitou e entrou no local. Após deixar a mochila no chão, ele começou a verificar os suprimentos, guardados em grandes caixas de madeira. Águia notou essa hesitação e se aproximou, um pouco curiosa.

    — O que foi? Iria me falar algo? Você sabe que eu não gosto quando esconde seus pensamentos. Diga o que pensou e vamos conversar sobre isso. Não deve haver segredos entre os membros da Ordem, lembra?

    — Eu sei, eu sei. É isso que me incomoda às vezes. Não temos espaço nem para pensar. Falcão é meu amigo, mas nos últimos anos ele passou a ser muito mais um diplomata do que alguém que possamos contar a qualquer momento. Ele sempre coloca seus planos à frente do nosso bem-estar. Ele não percebe que, se não estivermos bem, não haverá Ordem alguma?! — Ele exclamou, socando o suporte de madeira da carroça e assustando o cavalo.

    Após Águia acalmar o animal, ela olhou para Lobo com indignação, mas sem deixar de entender o seu ponto de vista.

    A Ordem dos Cavaleiros Brancos é um grupo que servia inicialmente para lutar pela justiça, pelos mais fracos e oprimidos, e também para manter fortes laços entre comunidades, desde pequenas vilas até grandes cidades. Mas, graças às novas ambições de Falcão, eles passaram a se portar mais como um grupo político do que um grupo beneficente.

    — Eu sei que você está cansado, Lobo. Eu também estou exausta! Mas se não fizermos isso, ninguém mais fará e nós sabemos o que aconteceria se as comunidades se voltassem umas contra as outras. Pense que esse pequeno sacrifício será por um bem maior. — Ela disse, a fim de motivá-lo. – Além disso, Falcão já era o líder da Ordem antes de você ingressar, mas agora ele precisa exercer esse papel mais vezes por termos crescido muito nos últimos tempos.

    Enquanto Lobo terminava de verificar os suprimentos. Já na carroça, ele fitou Águia uma última vez e deu o comando para o cavalo partir. Então, na saída do local, ele parou e encarou o horizonte.

    — Espero que não tenhamos nos esquecido da razão pela qual a Ordem existe. Não somos heróis, somos pessoas que querem fazer o que é certo. Espero que Falcão se lembre disso. Até logo, Águia, e me perdoe pelo transtorno. – Ele disse, com um leve sorriso, e partiu em sua jornada.

    Após Lobo se retirar, um homem de cabelos verdes e olhos azuis surgiu do meio das sombras, se aproximou calmamente de Águia.

    — O Lobo nunca muda, não é? Talvez seja isso que me faz gostar dele. Espero que Falcão o escute essa noite. A Ordem talvez esteja se perdendo e ele tem o que precisamos para nos firmarmos novamente nos trilhos. — Ele comentou, enquanto apoiava o braço direito no ombro esquerdo dela.

    — Você esteve escutando nossa conversa o tempo todo, não é, Lagarto? — Ela suspirou. — Esse péssimo hábito também deveria ser discutido na reunião.

    — Você não deveria se incomodar de eu escutar suas conversas. Não deve haver segredos entre os membros da Ordem, lembra? — Ele provocou.

    Pouco depois, eles deixaram o armazém. Enquanto caminhavam, um homem os observava do topo daquele local com um olhar sério. Águia sentiu a presença de um terceiro elemento e olhou por cima do ombro direito, mas, nesse momento, não havia mais ninguém por lá.

    Ao fim do dia, Lobo retornou de sua viagem e se dirigiu até o quartel da Ordem, um velho prédio construído em um local isolado das outras pessoas. Os outros membros já o esperavam. Falcão, sentado na cadeira da ponta, o encarava seriamente. Ao longo da mesa, havia garrafas e copos com bebidas.

    — Me desculpem pelo atraso. Tive alguns imprevistos.

    — Você deveria ser mais responsável, Lobo. Estamos te esperando há quase uma hora. Sua falta de comprometimento desonra a Ordem, rapaz. No meu tempo, tal indisciplina seria punida com severidade. — Reclamou seu veterano.

    Conhecido como Tartaruga, era o membro mais velho da Ordem, com quase setenta anos. Tinha cabelo branco e olhos verdes. Por causa da idade, era bastante impaciente e queria tudo funcionando com eficiência e qualidade.

    — Não diga isso, Tartaruga. Lobo é um membro importantes para a Ordem, e ele não fica sentado o dia todo como você. Escute o que temos a dizer antes de causar problemas. Essa reunião pode marcar o início de uma nova era para a Ordem dos Cavaleiros Brancos. — Advertiu Tigre

    Tigre era um jovem alto e forte, com pouco mais de vinte anos, de cabelos ruivos e olhos amarelos. Após ele se pronunciar, os demais trocaram olhares curiosos e aguardaram o discurso do Falcão.

    — Obrigado, Tigre. Eu não esperava menos do meu braço direito. Vamos logo começar esta reunião. Peço perdão por tê-los convocado de última hora, mas um novo horizonte está surgindo e não podemos ignorá-lo.

    Falcão, um homem de longos cabelos brancos e olhos cinza, se levantou e começou a caminhar em volta da mesa. Tinha vinte e nove anos, um ano mais velho do que Lobo e dois anos mais velho do que Águia. Seus discursos sempre eram especiais, e a oratória, invejável. Digna de um líder. As razões que o fizeram convocar essa reunião ainda eram nebulosas, mas o semblante estampado em seu rosto deixava claro de que essa não seria uma pauta qualquer. O futuro da Ordem dos Cavaleiros Brancos estava prestes a mudar.

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