Sob um céu nublado se reuniam os quatro membros remanescentes da Ordem dos Cavaleiros Brancos. Três deles em busca de justiça, outro cegado pelas próprias ambições. Ignorando o corpo do seu falecido irmão e a agonia da sua noiva, prestes a morrer, Falcão caminhou lentamente na direção dos últimos traidores. A reação deles, é claro, foi de espanto.

    — Falcão, como pôde…? Por que você está aqui?! — Perguntou Lobo, pasmo.

    — Quanta insolência. Tartaruga me contou tudo, mas eu não quis acreditar. Eu não quis acreditar que minha família estava se destruindo! Nós tínhamos um sonho! Nós tínhamos um futuro! — Ele exclamou, furioso.

    — Não, você tinha um sonho! E ele nos destruiu! Sua ambição destruiu os valores que a Ordem cultivou por décadas! Você é o culpado! — Disse Lobo.

    Falcão sentiu sua ira explodir e partiu para cima de Lobo. Eles eram rivais, mas nunca duelaram verdadeiramente por causa da amizade que tinham. Isso não importava mais. Lobo então gritou para a Raposa.

    — Fujam daqui! Vocês não podem fazer nada contra ele feridos assim! Só me prometam que irão cumprir o que pedi naquela noite!

    Lobo se referia a algo que ele havia dito na noite em que os quatro primeiros membros da Ordem foram mortos. Eles então se retiraram o mais rápido possível. Lobo se virou para Falcão, que estava cada vez mais perto, e avançou contra ele também. Ambos estavam sendo movidos pela raiva e nem chegavam a usar suas Manifestações em um primeiro momento.

    — Você irá pagar, Lobo. Você irá pagar! E depois de eu te matar, eu vou para a Terra e matarei a sua família! Eu vou matar todos! Todos!!! — Ele garantiu.

    Lobo se enfureceu e logo ativou sua Manifestação. Falcão sorriu ao ver que ele tinha copiado sua Manifestação e criado asas de pura energia. Falcão deu risadas e também ativou a sua Manifestação.

    — Eu devo uma ao Tartaruga, pena que ele já está morto. Ele disse que você roubaria minha Manifestação, mas isso era tudo que eu queria! Enfim duelarei contra meu eterno rival pela última e definitiva vez! Prepare-se para morrer!

    — Antes disso, eu preciso saber a verdade, Falcão. Qual é a real razão do seu plano? Por que estava disposto a sacrificar tudo que você construiu e amou?

    Falcão baixou os braços e riu, olhando para Lobo sem sentir nada além da necessidade de contar tudo. Afinal, um deles morreria de qualquer forma.

    — Olhe para o mundo, Lobo. Ele está em guerra, mergulhado no caos. Os mares antes eram azuis e agora são vermelhos. As pessoas que antes sorriam, agora choram. A esperança não habita mais o coração de ninguém. A Ordem surgiu com o propósito de devolver a paz, de devolver a harmonia. Quando entrei para a Ordem, me apaixonei por seus ideais e crenças. Foram elas que me deram forças para querer mudar o mundo. — Ele explicou, olhando para a mão suja com o sangue de sua noiva. — Eu queria que a Ordem fosse reconhecida mundialmente. Eu seria o grande responsável pela paz mundial, e vocês seriam os peões que eu usei por todo esse tempo!

    — Mas seu plano não traria nada disso! Você quer acabar com a guerra gerando ainda mais mortes, ainda mais guerra! Você é egoísta! Não percebeu que seu ego matou as duas pessoas que mais te amaram?!

    — “Se a paz existe, eu a amarei, mas não quero desejá-la. Se os destinos justificam os caminhos trilhados, as guerras justificam os sacrifícios desonrados? Eu amo a paz, mas eu temo o dia em que alguém queira alcançá-la, eu temo que o preço para um viver seja o outro morrer. Se a paz existe, eu a amarei, mas não quero desejá-la”. Isso soa familiar?

    Lobo se assustou ao ouvi-lo falar isso. Falcão então retirou um pequeno e velho livro de dentro do casaco e o mostrou na intenção de provocar seu rival.

    — Não se assuste. Se esqueceu de quem lhe deu esse livro cheio de ideologias ultrapassadas? Eu mesmo. Você temia tanto a procura pela paz que matou seus próprios irmãos para evitá-la. Você entendeu? Você é o verdadeiro vilão! Você colocou seu medo à frente dos seus sonhos! Você acreditou que encontraria a paz se destruísse a Ordem, mas a verdade é que agora só haverá mais guerra! Sem a Ordem, os acordos que tínhamos deixarão de existir, o pouco de paz que as pessoas tinham será arrancado delas porque você teve medo de enfrentar a guerra! Você, Lobo, é o responsável pela queda do Extra-Mundo! E eu sou o herói que será lembrado como aquele que te derrotou e trouxe a paz de volta!

    Então, Falcão partiu para o ataque. Lobo, por sua vez, estava confuso diante de suas próprias decisões, mas ainda acreditava estar certo. Ele lutava pela sua família e pelo seu mundo, e não se importava em sobreviver, desde que o objetivo fosse alcançado.

    Falcão disparava várias esferas de energia, mas logo elas mudaram de direção e voltaram para ele, que pulou para a direita e saiu ileso. Lobo estava com a mão direita apontada para seu oponente e, sem aviso prévio, disparou vários raios na direção dele, fazendo com que o mesmo criasse uma barreira de energia ao seu redor para se proteger.

    — Você é tão covarde que copiou as Manifestações até dos próprios aliados. O que mais tem na manga? Me mostre tudo que você tem!

    Falcão sorriu convencido e tentou avançar, mas Lobo surgiu diante dele e o acertou com uma sequência de socos, até finaliza-la com um chute que arremessou Falcão a alguns metros. A essa altura ele já entendia que seu rival deveria ter copiado as Manifestações de todos os membros da Ordem. Isso era o que tornava o Lobo um dos mais perigosos do grupo.

    — Desista, você não vencerá. Tenho o poder de dezenas de Manifestadores, posso escolher a dedo quais usar para te derrotar. — Lobo comentou.

    — Por isso você era uma das chaves para o sucesso da Ordem! Não percebe? Nós nunca fomos apenas doze. Com você ao nosso lado, éramos um exército! Você se entregou ao medo e matou a paz que o mundo queria tanto conhecer! — Falcão afirmou, abrindo os braços em forma de protesto.

    — De que valeria a paz se não houverem pessoas para desfrutarem dela? A paz que você deseja é aquela que só os mortos conhecem!

    Lobo rapidamente invocou sua Relíquia e a arremessou contra Falcão. A força era tanta que o escudo de energia foi totalmente destruído, deixando ainda um corte superficial no peitoral do mesmo, além das próprias mãos que ele usara para segurar a lâmina. Falcão o olhava com ódio pela Manifestação de seu irmão ter sido roubada e jogou a espada para o lado.

    — Muito bem, agora é minha vez. — Ele murmurou.

    O mesmo criou asas de energia junto de uma armadura. Lobo queria usar um poder mais destrutivo, mas Águia ainda estava viva e ele não queria matá-la por acidente. Talvez houvesse uma chance de ela sobreviver.

    Ele então usou novamente as habilidades da Raposa e lançou vários raios na tentativa de afastá-lo dela. Falcão tentava suportar as descargas elétricas, mas ficar parado no mesmo lugar não lhe servia de nada. Ele então desistiu de conter os ataques e começou a desviar de alguns enquanto rebatia outros.

    Lobo notou que aquilo não estava sendo efetivo e usou a Manifestação do Lagarto, ficando invisível. Falcão se surpreendeu com a abordagem furtiva do seu oponente e sorriu.

    — Percebeu que não pode fazer nada comigo nessa forma e decidiu fugir? — Ele provocou, enquanto olhava ao redor.

    — Você é convencido demais, por isso é tão fácil te atacar.

    Falcão rapidamente se virou para trás, mas foi atingido por um poderoso soco que destruiu parte da armadura e o arremessou longe. Antes de atingir o chão, ele abriu as asas e planou até tocar a terra. Sem perder tempo, pegou impulso e voou em linha reta, disparando várias esferas de energia. Lobo então usou as habilidades de Águia e criou asas de fogo para escapar.

    Muita poeira foi levantada e os dois enfim pousaram. Falcão ofegava e olhava atentamente os arredores, mas foi surpreendido por um ataque direto. Lobo surgiu diante dele, com o corpo em chamas, pronto para finalizá-lo. Mas Águia estava logo atrás do inimigo, o que o fez recuar. Falcão ficou confuso, então olhou para trás e sorriu, se aproximando daqueles que estavam caídos.

    — O que foi? Não pode me atacar com eles por perto? Eu não sabia que você era tão fraco. Quer dizer que, enquanto eu ficar perto deles, serei intocável!

    — Você é um covarde! Não sente remorso por usar justamente eles como escudo? Essas são as pessoas que você ama! — Ele afirmou, furioso.

     Falcão deu um sorriso fraco e inclinou sutilmente o rosto para a direita, olhando para Águia, que mal respirava. Em seguida, ele apontou a mão para ela e criou uma esfera de energia. Águia o encarava com indiferença, talvez por nem saber mais o que estava acontecendo. Falcão então voltou a olhar para Lobo e sorriu sarcasticamente.

    — Amo mesmo? — Ele provocou, com um olhar cínico.

    — Desgraçado!

    Lobo enfim usou a Manifestação do Falcão e começou a concentrar sua energia para o ataque final. Falcão sentia que tinha a vantagem, então voltou sua atenção para o inimigo e elevou sua energia igualmente. Lobo sabia que era tudo ou nada, então criou a mesma armadura que Falcão usava. Quando o vento parou de soprar, ambos se encararam uma última vez e avançaram.

    Tudo pareceu ficar em câmera lenta. Lobo se lembrava de quando entrou para a Ordem, dos amigos que fez e de como tudo terminou. Lembrou de sua esposa e do seu filho, que nasceria em breve, mas que ele poderia nunca ter a oportunidade de conhecer. Tudo de melhor que ele viveu passou diante dos seus olhos. Era essa a sensação de estar prestes a morrer?

    — Acabou, Falcão!!!

    — Se eu for para o inferno, te levarei comigo, Lobo!!!

    Um grande clarão iluminou o sangrento campo de batalha assim que os ataques colidiram. Momentos depois, ambos estavam no chão. Falcão estava de bruços, com o peitoral parcialmente cortado, enquanto Lobo olhava para o céu. Seu peito foi perfurado, fatalmente. Águia testemunhou tudo e queria ajudar, mas não tinha forças nem para se mover. Eles morreriam ali mesmo.

    Enfim começou a chover, e aquela leve brisa ressurgiu para trazer alguma calmaria. Enquanto os membros ficavam dormentes e os olhos se fechavam, Lobo ouviu algo. O choro de um bebê, era o que ele podia ouvir. Ele derramou sua última lágrima e sorriu enquanto seus olhos se fecharam pela última vez.

    — Kamito…

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