Capítulo 03 — Um Visitante Inesperado
Após o ocorrido naquela pequena praça, Kamito e Akane já não tinham mais condições de voltar para a escola. Embora não soubesse o motivo, Kamito havia manifestado um poder na forma de chamas azuis, enquanto sua amiga Akane possuía um tipo de poder regenerativo, algo como um escudo.
A sensação que os cercava era tão assustadora que, mesmo depois de duas horas pensando no que fariam, ainda não encontravam nenhuma solução. Perdidos, decidiram voltar para casa e tentar esquecer o que havia acontecido. Porém, até mesmo o rotineiro caminho para casa parecia mais longo; a paisagem já não possuía as mesmas cores vibrantes de antes — parecia morta e envolta em profundo silêncio. Nem Akane, nem Kamito tinham coragem de tocar no assunto relacionado ao ocorrido.
— Ei, Akane — disse Kamito, incomodado, ao tomar a iniciativa. — Eu sei que você não quer tocar no assunto, mas acho que nós precisamos descobrir o que está acontecendo, descobrir por que temos esses poderes. Você não acha isso estranho? Por que justo nós? — Questionou ele.
Assustada com as perguntas de Kamito e ainda mais abalada pelo que haviam enfrentado, Akane se afastou. Preocupado com a garota, Kamito sentiu o peito apertar com aquela reação defensiva e optou por deixar o assunto de lado.
— Não precisa ser agora, é claro. Deixa isso para lá. Me desculpa por tocar no assunto, isso não vai mais acontecer — disse ele, sorrindo nervosamente diante da situação.
Akane parou de caminhar e encarou Kamito com os olhos cheios de lágrimas, fitando-o diretamente.
— Eu estou com muito medo, Kamito… Você quase morreu, e agora temos esses poderes estranhos. Eu realmente estou assustada — disse ela.
A voz de Akane traduziu seus medos. A qualquer momento, ela poderia desabar em um turbilhão de sentimentos, mas antes que isso acontecesse, Kamito a abraçou com força. Ela pousou o rosto no peito dele, escondendo-o, e então começou a chorar. Naquele momento, Kamito apenas a acolheu em seus braços, disposto a esperar o tempo que fosse necessário para que ela se acalmasse.
— Não se preocupe. Eu estou aqui, e não deixarei que nada aconteça com você. Eu prometo que vou cuidar de você, Akane — disse ele enquanto acariciava os cabelos dela.
O céu ainda parecia morto, sem cor, e Kamito precisava pensar em algo que a acalmasse. Continuou acariciando os cabelos dela até que teve uma ideia.
— Isso me traz lembranças da nossa infância… De quando você se machucava ou estava com medo. Você sempre fazia isso, e eu te acalmava assim — comentou, sorrindo, sendo correspondido por um pequeno sorriso de Akane.
Akane e Kamito haviam se conhecido ainda crianças, quando ele se mudou para a casa ao lado. Desde aquele dia, tornaram-se inseparáveis. Ao contrário de Akane, que tinha duas irmãs, Kamito era filho único.
Apesar de sua aparência, as irmãs de Akane acolheram Kamito e sempre o trataram bem. Ainda assim, por terem a mesma idade, ele acabou se aproximando mais de Akane, e com o tempo, a proximidade era tamanha que suas irmãs passaram a acreditar que os dois eram, na verdade, um casal.
Com Akane já recuperada de sua crise de choro, caminharam por longos minutos até finalmente chegarem em suas casas. Mais uma vez, Kamito a abraçou, acariciou seu rosto e disse que tudo ficaria bem. Ficou do lado de fora do portão, esperando a garota entrar.
Após deixá-la em casa, Kamito seguiu tranquilamente para a sua, mas, ao encostar na maçaneta e se preparar para destrancar a porta, sentiu uma presença forte atrás de si, observando-o atentamente. Assustado, ficou paralisado.
— Quem está aí?! — Perguntou, com medo.
Rapidamente, virou-se para olhar sua retaguarda e viu um homem encostado na pilastra da varanda. Era alto e um pouco magro. Seu rosto era afilado, sem expressão, os cabelos loiros e os olhos verdes. Parecia ter cerca de trinta e sete anos, com uma aparência suspeita e intenções misteriosas.
— Oh, então você conseguiu me notar. Meus parabéns. Mas, se eu fosse seu inimigo, você já estaria morto. Eu te vi lutar naquela praça… Se é que aquilo foi uma luta. Mas fique tranquilo, não sou um inimigo. Ou será que sou?
O homem encarou Kamito nos olhos e se afastou da pilastra. Kamito, por sua vez, permaneceu imóvel. O olhar do estranho era vazio e sem expressão — algo assustador. Caminhou lentamente em direção ao jovem, como se quisesse algo. Kamito não sabia o que fazer, nem como reagir.
— Prazer em te conhecer, Kamito Takeda. Eu me chamo Raishi Kurogane. Imagino que tenha muitas perguntas sobre o acontecido. Principalmente sobre a chama azul que você despertou… e também sobre o poder da sua amiga.
Raishi sorriu sem mostrar os dentes, mantendo o olhar misterioso, e fez uma reverência após se apresentar.
Quem seria aquele homem? Como sabia o nome de Kamito Takeda? E por que parecia ter tantas respostas?
Raishi se endireitou e voltou a olhar Kamito com o mesmo sorriso.
— Creio que a senhorita Akane também deveria se juntar a essa conversa, assim não precisarei explicar duas vezes. Por favor, você poderia chamá-la para se juntar a nós? Ela também merece respostas sobre o que aconteceu.
— Por que eu deveria acreditar em você? Nada garante que você também não esteja planejando nos atacar, igual aquele outro! — Gritou Kamito, tentando confrontá-lo.
Ele sabia que não podia confiar em um estranho, ainda mais depois do que havia acontecido. Mesmo que parecesse confiável, o nível de energia que Raishi exalava o tornava assustador — o que deixava Kamito cada vez mais apreensivo.
— Já disse que não sou uma ameaça. Se eu quisesse te matar, já teria feito. Tive várias oportunidades. Por que você não acredita em mim? — Insistiu Raishi.
Num piscar de olhos, ele desapareceu do campo de visão de Kamito, que se assustou e recuou. Em uma velocidade inimaginável, Kamito sentiu o braço de Raishi pousar sobre seu ombro. Ao olhar para o lado, lá estava o homem, apoiando-se nele.
— Viu? Não quero fazer nenhum mal a vocês. Se quisesse te matar, já teria feito. Agora, poderia chamar a senhorita Akane? Rápido, Kamito.
— Mesmo assim, eu não tenho garantia. Você pode muito bem esperar que eu a chame para nos matar ao mesmo tempo. Talvez seja esse o seu plano.
Kamito estava em pânico. Mais um pouco, estaria tremendo de medo. Não fazia ideia do que Raishi era capaz, e isso o aterrorizava — especialmente após ele demonstrar que podia fazer o que quisesse em questão de segundos. Mesmo assim, Kamito sabia que não podia envolver Akane nisso sem ter certeza.
— Você é mesmo um rapaz bem desconfiado. Realmente se importa com o bem-estar da garota… Isso é muito bom. Não se preocupe, você tem a minha palavra de que não farei nada a ela nem a você — garantiu Raishi, ainda sorrindo enquanto olhava para a rua.
Kamito não podia fazer nada. Se aquele homem era realmente tão poderoso e, mesmo assim, não havia tentado matá-lo, só restava acreditar em suas palavras. Desistiu de confrontá-lo. Tirou o braço de Raishi de seu ombro, respirou fundo e caminhou até o portão.
Ele precisava pensar bem antes de fazer qualquer coisa, pois não podia envolvê-la em uma possível luta. Precisava de um plano — mas seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu Raishi dizer para não demorar.
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