Capítulo 06 — As Yagami
Assim que Kamito entrou na casa, deparou-se com Suzumi, a irmã mais velha de Akane. Ela era mais alta e também possuía cabelos pretos, mais longos que os de Akane. O que as diferenciava, além da franja, era o fato de Suzumi usar óculos. Tinha vinte e cinco anos e a beleza de uma atriz. Kamito a cumprimentou, mas Suzumi apenas respondeu com um gesto simples.
Ele caminhou até a sala de jantar e sentou-se em uma das cadeiras. Logo, Luise correu e sentou-se ao seu lado. Piscou para ele, sinalizando que não contasse a verdade sobre não estar doente. Akane e Suzumi se sentaram em seguida, e a Senhora Karin começou a servir o jantar.
— A comida parece estar deliciosa! — Disse Luise, já se servindo com rapidez, demonstrando total despreocupação e sem esperar os outros.
— Claro que está. Eu mesma a preparei — respondeu a Senhora Karin, orgulhosa.
Ela adorava cozinhar, especialmente quando recebia elogios das filhas. Voltou seu olhar para Kamito e pegou um prato para servi-lo.
— Comam bastante! Principalmente você, Kamito! — Sorriu enquanto o servia.
A comida parecia realmente deliciosa. Sempre que podia, Kamito fazia questão de experimentar os pratos da Senhora Karin, principalmente quando ela caprichava. Ele sorriu.
— Claro. Obrigado pela comida — agradeceu, ainda sorrindo.
Ela havia colocado um pouco de tudo: arroz, salada, estrogonofe e diversos acompanhamentos. Kamito pegou o garfo e levou a comida à boca, mas não percebeu que a Senhora Karin ainda o observava.
— A propósito, Kamito, quais são as suas reais intenções com a minha filha? Até agora você só está enrolando! — Disse ela, com a expressão gentil se desfazendo em um olhar sério e penetrante.
Kamito já havia explicado inúmeras vezes que era apenas amigo de Akane, mas a Senhora Karin nunca deixava de perguntar.
— C-como assim?! — Engasgou-se com a comida.
A pergunta o pegou de surpresa. Precisou de um copo cheio de água para engolir. Ainda tossindo, percebeu que a Senhora Karin continuava a encará-lo, esperando por uma resposta.
— Ah! É verdade, mamãe! O Kamito veio aqui hoje. Ele foi ao quarto da Akane e ficou lá um bom tempo! Estavam conversando sobre algo bem estranho — comentou Luise, comendo despreocupadamente, como quem queria ver Kamito em apuros.
— Não vou permitir que faça uma coisa dessas sem assumir a responsabilidade, Kamito! — A Senhora Karin se levantou furiosa e foi em direção a ele.
— Ei, Luise! Já disse para não falar coisas que criem mal-entendidos! Eu não fiz nada, acredite em mim!
Kamito se levantou, já prevendo que precisaria fugir a qualquer momento.
— Acalme-se, mãe. É óbvio que o Kamito não tem um relacionamento tão intenso com a Akane. Ele nem tem responsabilidade e maturidade para isso — comentou Suzumi, com calma e seriedade.
Kamito respirou aliviado. Suzumi parecia mais racional que a mãe.
— O-obrigado, Suzumi, mas acho que a “falta de responsabilidade” foi exagero — riu sem jeito, ainda em alerta.
— Parem de falar sobre mim e o Kamito como se eu não estivesse aqui! — Akane bateu na mesa, irritada. Levantou-se e se aproximou de Kamito.
— Eu e o Kamito somos só amigos… Ainda não é o momento certo para se falar de uma relação!
Akane os encarou com as bochechas coradas. Tentando ajudar, acabou complicando tudo.
— Akane… Você ouviu o que acabou de dizer? — Perguntou Kamito, em choque.
Akane cobriu a boca, ainda mais vermelha. Kamito voltou seu olhar lentamente para a Senhora Karin.
— Kamito… Então você e a minha filha têm mesmo algo sem compromisso?! — Disse ela, aproximando-se de forma ameaçadora. Suzumi também começava a se levantar, visivelmente irritada.
— Eu não vou permitir que você e a minha irmã tenham um relacionamento sem compromisso! — Exclamou Suzumi, contornando a mesa para encurralá-lo.
— E-ei! Isso é um mal-entendido! Eu nunca faria algo sem o consentimento dela! E principalmente sem pedir a vocês!
Kamito recuou, afastando a cadeira. Suzumi vinha pela direita, a Senhora Karin pela esquerda.
— E-espere! Não é isso que eu quis dizer! Vocês sabem que eu não faria nada do tipo!
Olhou para Akane em busca de ajuda, mas ela parecia paralisada. Estava sozinho.
— Então, Kamito… Quais são as suas últimas palavras?! — Disseram ambas ao mesmo tempo, tomadas pela raiva.
— P-por favor, esperem! Vocês sabem que é um grande mal-entendido!
— Então, namorar a minha filha é um grande mal-entendido?!
— Então a minha irmã não é boa o bastante para você?!
Suzumi o puxou pela camisa. Estava perdido. Era o fim. Não importava o quanto explicasse.
— Você pagará por isso, Kamito Takeda!!! — Gritaram as duas em uníssono.
A Senhora Karin também o agarrou pela camisa. Kamito fechou os olhos e tentou se proteger enquanto começavam a dar tapas nele. Por mais que tentasse explicar, sempre terminava daquele jeito. Por mais que tivesse crescido com elas, jamais o viam apenas como amigo da Akane, mas como o possível namorado.
Mais tarde, Akane o acompanhou até o portão. Pediu desculpas por tudo, e ele respondeu que não havia problema. Riram juntos da situação. Akane então olhou para o céu estrelado. Amanhã seria o dia em que suas vidas mudariam para sempre. Aquele momento, depois de tudo, havia valido a pena.
Kamito ficou encantado com o sorriso de Akane enquanto ela contemplava as estrelas. Ela o olhou e sorriu. Ele retribuiu com um sorriso tímido. Lentamente, aproximaram-se. Kamito tocou o rosto dela com carinho, e Akane fechou os olhos, colocando a mão sobre a dele.
Era ela quem ele precisava proteger. Precisava lutar por aquele momento, e para estar sempre com ela.
Seu coração batia forte. Aproximou o rosto do dela. Sentiu sua respiração quente, o calor da pele. Nervoso, a abraçou. Era a primeira vez que se sentia assim. Ela o abraçou com força. Saber que ela retribuía lhe dava esperança.
Olharam-se, envergonhados pelo que quase acontecera. Antes que qualquer um dissesse algo, Akane correu de volta para casa. Kamito, ainda envergonhado, caminhou até o portão de sua casa e notou uma carta meio para fora do correio. Assim que entrou, a abriu e começou a ler. Ficou surpreso e animado. Era de Raishi, indicando onde se encontrariam para treinar.
“Saudações. Amanhã, às 7h30, me encontrem na colina ao norte da cidade. Estejam preparados para não voltarem caso o treinamento falhe. Espero que estejam prontos para os 15 dias no inferno.”
Era o que dizia a carta, junto da localização. Kamito enviou a mesma mensagem para Akane. Ao fazer isso, lembrou-se do que havia acontecido entre eles e ficou envergonhado, mas sabia que precisava se concentrar no amanhã. Tudo dependia disso. Se realmente quisesse ser feliz ao lado dela, teria que controlar seus poderes e se fortalecer. Tinha certeza de que ela pensava o mesmo.
No dia seguinte, Kamito já estava preparado. Parou em frente à casa de Akane. Ela saiu, e os dois se cumprimentaram. Nenhum ousou comentar sobre a noite anterior, mas era nítido o quanto estavam envergonhados.
Caminharam até o local trocando poucas palavras. Conversaram sobre o treinamento e como estavam se afastando de suas antigas vidas. Por mais que o futuro fosse incerto e assustador, enquanto tivessem um ao outro, poderiam superar qualquer coisa — até mesmo aqueles quinze dias no inferno.

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