Restavam seis dias até o fim do treinamento. Raishi, os treinou arduamente no controle de Manifestação Espiritual. Akane, possuía muito mais controle para a defesa e cura, já Kamito, para o ataque, com investidas ferozes. Ao décimo quinto dia, eles estavam esgotados, mal conseguiam lutar. Por sorte, Raishi os informou que o treinamento havia chegado ao seu fim.

    — Certo, hora de voltarem para casa. Se apressem, precisamos sair dessa dimensão antes que ela deixe de existir. — Disse Raishi animado.

    Seu semblante estava diferente desde quando começaram os treinos. Ele realmente estava feliz pelos alunos terem concluído seu treinamento. A sensação de ver aquele homem frio e sério, finalmente sorrindo, era incrível.

    — E por que está tão animado? Só porque você cansou de apanhar? — Diz Kamito em um tom irônico.

    — Não seja tão metido, Kamito. Mal conseguimos fazer algo contra ele. Não se gabe tanto agora. — Repreendeu Akane.

    Era nítido que ela não estava preparada para outra luta, o cansaço era nítido. Ela também estava cansada devido o último treino, afinal, controlar e desenvolver energia era uma tarefa cansativa.

    — Escute sua namorada, ela está certa. Além disso, vocês esgotaram toda a energia que tinham. — Raishi se aproximou de uma mochila, estava procurando por algo.

    Ao encontrar o que buscava, ele puxou dois pacotes e os jogou na direção de seus alunos.

    — Quase me esqueci, esses pacotes são para vocês. São roupas do outro mundo. Elas são bem resistentes e capazes de suportar as altas quantidades de energia dos seus corpos.

    Raishi apontou para a roupa que estava utilizando, indicando que também era de outro mundo. Isso explicava o porquê mesmo sendo atacado, ele resistia aos golpes, sem se sujar ou até mesmo sem arranhar seu corpo.

    — Elas são lindas! Eu não sabia que o outro mundo tinha roupas tão elegantes!

    Akane ficou encantada com suas novas roupas. O uniforme novo de Akane consistia em uma blusa preta que definia o corpo, um colete vermelho com mangas que deixavam os ombros à mostra, uma calça preta e uma bota.

    — Veja como elas são lindas, Kamito!!!

    — São mesmo lindas, vão combinar com você. Só não sei se as minhas são a minha cara.

    Kamito olha com certa frustração para suas roupas. Ele havia recebido um sobretudo azul-escuro, dois protetores de pulsos na cor preta, uma calça escura, botas pretas e uma camiseta branca. Mas o que o havia irritado de fato, foi um cachecol cinza que recebera.

    — Você acha que eu vou usar isso, Raishi? É impossível usar uma coisa dessas! Tá pensando que aqui faz frio ou é algum desfile de moda?!

    Irritado, Kamito apertou o cachecol, para ele, era uma piada de Raishi. Por mais legal que as roupas eram, ele odiava cachecóis.

    — Não fique irritado. É a última moda no outro mundo, achei que você gostaria. — Riu Raishi.

    — Não deveria ser tão ingrato. É um presente, aceite de bom grado. E vamos deixar a conversa mole para depois. Precisamos sair logo dessa dimensão.

    Raishi esticou os braços e cuidadosamente posicionou o braço direito sobre o braço esquerdo, formando um X. Ele então fechou as mãos e, ao abri-las outra vez, criou um tipo de portal.

    — Vamos indo. Certifiquem-se de que não estão esquecendo de nada.

    Ao entrarem no portal, eles caminharam por um túnel, e em cinco minutos, já estavam de volta a cidade. Raishi aproveitou para explicar que, como possuíam controle de suas energias, eles agora seriam capazes de ver os túneis que ligavam o seu mundo com as dimensões alternativas.

    No início do treinamento, eles haviam passado por um mesmo túnel, mas não perceberam devido a falta de controle da energia. Eram tantas informações complexas, que Raishi optou por explicar outro dia. Mas havia uma informação que era crucial naquele momento.

    — Agora que vocês possuem suas Manifestações Espirituais e já conseguem ter controle sobre elas, vocês podem provar que seu treinamento foi um sucesso e fazer um grande favor para mim. — Ele os encarou seriamente, seu olhar preocupado tirou o ânimo de seus alunos. — Enquanto treinávamos, notei que o número de ataques a pessoas sensíveis ao Véu Espiritual aumentou. Kamito, Akane, eu sei que é injusto da minha parte pedir isso, mas quero que vocês trabalhem para impedir esses ataques. Há pessoas como vocês sendo mortas sem nem terem ideia da razão. – Raishi desviou o olhar para a pequena cidade de Fukinawa. Os pássaros voavam livremente pelo céu, e o vento batia em seus rostos enquanto olhavam para a cidade. — As vítimas mais comuns são crianças e pessoas na idade de vocês. É nessa faixa etária que elas ficam com mais capacidade de sentir a Energia Espiritual.

    — Impossível… Quem mataria crianças?! — Horrorizada, Akane cerrou seus punhos com toda força.

    — Chamamos eles de Carniceiros. São manipuladores que não conseguem manter sua energia estável por si só, e constantemente se alimentam da energia dos outros para sobreviver. Aquele homem que atacou vocês naquela praça era um Carniceiro. Ele também achou que vocês seriam um alvo fácil. — Raishi voltou a olhar para seus alunos.

    Seu olhar implorava para aceitarem tal oferta. Mesmo a convivência no período de treinamento, Kamito e Akane não viam Raishi com um olhar tão preocupado.

    — Por favor, eu estou contando com vocês. Quando concordaram com isso, vocês sabiam que as vidas de vocês jamais seriam as mesmas.

    — É claro que eu vou aceitar! — Kamito pressiona seus punhos.

    A raiva ao saber sobre os Carniceiros era incontrolável. Kamito socou uma árvore ao seu lado com força e desviou o seu olhar. Ele sabia que ao aceitar, não teria mais volta. — Eu sei que não tem mais volta, mas não seria egoísta para só me importar comigo mesmo. Não permitirei que canalhas como esses estejam livres por aí!

    O olhar de Kamito correspondia a sinceridade em suas palavras. Mesmo sendo arriscado e muito perigoso, essa era a nova vida dos dois, e essa era a escolha que fizeram.

    — Não vou deixar que mais ninguém passe pelo que a Akane e eu passamos.

    — Eu também concordo! Jamais perdoarei alguém que ataca uma criança!

    Foi a primeira vez que Kamito viu Akane com raiva. Ela estava tão séria, que sua expressão estava irreconhecível.

    — Obrigado por aceitarem, mas fiquem atentos. Suas vidas estarão em jogo a todo momento, mesmo após esse treinamento. Vocês ainda são alvos. — Raishi sorriu aliviado com as respostas de seus alunos.

    Sem dizer mais nada, Raishi se afastou lentamente. Kamito queria entender o que se passava na mente de seu mentor. Embora frio e misterioso, ele estava de fato preocupado com os incidentes relatados.

    — Lembrem-se de usarem as roupas que lhes dei. Mesmo que pense que elas não sirvam para nada, Kamito, elas serão de extrema importância para vocês dois.

    Raishi foi embora, e era hora de Akane e Kamito voltarem para casa. Após quinze longos dias fora, Kamito precisava de uma boa desculpa para a senhora Karin, Luise, e principalmente para a Suzumi. No ponto de ônibus, Kamito sorria ao ouvir Akane comentando sobre os resultados do treinamento, ela estava muito feliz e realizada com o que aprendera.

    Durante o trajeto, Akane encostou sua cabeça no ombro de Kamito e dormiu. Ele conseguia ouvir a respiração leve e tranquila, fazendo seu coração disparar. Ele tentou não ficar nervoso, para não acordar Akane, mas se pegou admirando-a enquanto ela dormia.

    Seu rosto delicado e sua respiração leve demonstravam sua segurança ao lado de Kamito. O que fazia Kamito relembrar a promessa que havia feito a ela. Para Kamito, não importava como ou o quanto difícil fosse a missão, ele iria cumpri-la.

    Após um tempo de viagem, eles chegaram na rua de suas casas. Caminhando lentamente, Kamito pensava em uma explicação para o sumiço. Por sorte, Akane já havia avisado sua família que ambos estavam voltando. Frente à casa de Akane, era possível ver Suzumi, Luise e a senhora Karin os esperando.

    — Então aí estão os dois pombinhos! Não adianta escapar, Kamito, você está muito encrencado! — A senhora Karin estalou os dedos e com um olhar assustador encarava Kamito. — Onde você esteve esse tempo todo com a minha filha?! — A senhora Karin puxou Kamito pela gola da camisa antes que ele pudesse reagir.

    Esperando alguma resposta convincente, ela ameaçou bater no garoto, que pensava em uma resposta.

    — Estávamos acampando, precisávamos de um tempo livre. Foi apenas isso. — Nervoso com a resposta, Kamito pensava se ela acreditaria. — Desculpa não ter avisado, não tivemos tempo. Era algo que foi planejado de última hora!

    — Isso mesmo, mãe. E eu lembro muito bem de ter deixado um bilhete. — Akane puxou o braço de sua mãe, fazendo-a soltar Kamito. Ela a olha confusa, pois tinha certeza de que havia deixado um bilhete.

    — Bilhete? Não tinha bilhete nenhum! Luise me disse que você tinha fugido com o Kamito! — A senhora Karin puxou seu braço, escapando das mãos de Akane.

    — Mas se estavam acampando juntos, significa que finalmente são um casal! — Sugeriu Karin.

    Kamito percebeu que poderia usar isso ao seu favor. Sempre que negavam, a família de Akane não acreditava, mas e se ele dissesse que eram, talvez funcionasse.

    — I-Isso mesmo! Estávamos naquele negócio lá de casal e tudo mais! — Ele desviou o olhar, envergonhado e nervoso com a mentira.

    — Ooohhh!!! Então o Kamito finalmente é meu cunhado?! — Disse Luise.

    A irmã mais nova de Akane parecia ter acreditado, realmente funcionou e ele poderia escapar ileso. Luise, sem perder tempo, começou a fazer várias perguntas para Akane sobre o casal.

    — Ele está mentindo! — Suzumi percebeu a mentira. Era muito difícil enganar Suzumi. — Kamito nunca foi disso, e agora ele apenas confirma algo que lhe convém?

    — Droga! Me descobriram! Mas essa é a oportunidade que eu precisava! — Antes que Suzumi se aproximasse, Kamito aproveita o espaço e empurra a mão da senhora Karin. Ela tenta o agarrar novamente, mas ele consegue desviar.

    Kamito correu até o portão de sua casa, e antes que elas pudessem alcança-lo, ele pulou o portão.

    — Essa foi por pouco…

    — EI! Volte aqui! Kamito! Você vai se explicar sobre onde vocês estavam!

    Elas gritavam enquanto batiam no portão. Kamito respira aliviado por conseguir escapar. Mesmo que tentasse explicar, elas bateriam nele novamente. Ainda assim, o garoto precisava pensar em algo para se explicar depois. Dentro de casa, Kamito se sentiu mal por deixar toda aquela confusão nas mãos de Akane, mas ele sabia que ela sairia da situação com tranquilidade.

    Enquanto elas voltavam para casa, um ser misterioso observava essa movimentação atenciosamente. Ele então sorri e desaparece. Seria um inimigo? Cedo ou tarde, a resposta surgiria.

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