O grupo estava atrás do Carniceiro por algumas horas. Não sabiam se já haviam dado uma ou duas voltas pelo quarteirão, mas até aquele momento, não haviam encontrado nenhuma pista concreta. O sentimento de frustração os cercava, eles esperavam resolver o problema de forma rápida, o que não aconteceu.

    Ryruka, mais uma vez tentou rastrear os vestígios de energia, mas eles sempre levavam o grupo para o mesmo rastro.

    — Droga! O rastro dele está muito confuso. É como se ele trocasse de direção diversas vezes em pouco tempo. Isso é muito estranho. — Enquanto mantinha o braço direito estendido, Ryruka tocava o chão com a mão esquerda. A mão direita, aberta, apontava para a direção de um pequeno parque que ficava do outro lado da rua.

    — Não tenho certeza, mas parece que o rastro simplesmente não acaba. Ele sempre volta para a mesma direção. Isso é estranho. Não sinto a presença dele, nem de sua energia.

    — Droga! Ele só pode estar brincando com a gente, é a única explicação. —Disse Kamito.

    Por mais empolgado que o garoto estava com a missão real que recebera, o cansaço já batia, eles estavam andando em círculos, e Kamito estava se sentindo um idiota por isso.

    — Provavelmente ele sentiu nossa presença antes de sentirmos a presença dele e tenha armado uma pista falsa.

    — É uma possibilidade. Se isto for verdade, ele nos tem exatamente onde quer. — Ryruka começara analisar o local, buscando pontos estratégicos, mas não encontrou nada. — Ele é bem mais esperto do que eu pensava. Se vocês não tivessem corrido quando chegamos, não teríamos caído nessa armadilha.

    — Hã? Agora a culpa é nossa?! — Kamito a encara. O olhar de arrogância de Ryruka o incomodava. — A culpa foi sua! Você devia ter rastreado direito. Se estamos nessa situação, a culpa foi sua!

    — Escuta aqui, quem correu para uma direção aleatória foi você! — Ryruka avança contra Kamito, segurando sua camisa.

    — Você ao menos deveria ficar calado! Eu sou a única que está levando isso a sério! Você pediu a minha ajuda, então ao menos fique calado!

    — Vocês dois, chega dessa briga idiota. — Akane afastou os dois. Na situação em que estavam, a briga entre dois parceiros deixou Akane com raiva. — Se caímos mesmo em uma armadilha, deveríamos estar nos preparando para um possível ataque, não brigando entre nós mesmos!

    — Foi ela quem começou. — Kamito ajeitou sua camisa enquanto desviava o olhar. Akane estava certa, eles não poderiam se distrair. Se de fato fosse uma armadilha, eles deveriam pensar em algo o mais rápido possível.

    — Mas você está certa. Se caímos numa armadilha, precisamos nos preparar.

    O grupo voltou a caminhar, desta vez, na direção contrária. Eles observavam tudo e todos que estavam em seu campo de visão, buscando um possível novo rastro de energia.

    Enquanto o trio procurava pelo rastro, ao longe, o Carniceiro os observava do topo de um prédio ainda em construção. Com os olhos estáticos, ele admirava suas presas, imaginando no banquete imenso que teria.

    Kamito estava esgotado de tanto caminhar sem rumo, ele se sentou em um banco para descansar. Isso era novo para ele, e mesmo que estivesse preparado, ele se frustrava. Kamito passou a observar as nuvens, pensando em como poderiam encontrar seu alvo.

    Com uma lata de refrigerante, Akane se sentou ao seu lado. Ryruka estava mais afastada, tentando encontrar algum novo rastro. Kamito volta seu olhar perdido para os prédios mais altos da vista.

    — Eu já sei! — Kamito se levantou tão rápido que assustou Akane, quase derrubando seu refrigerante.

    — Cuidado! Não me assuste assim! — Repreendeu Akane com as mãos trêmulas. — Eu quase derramei o refrigerante em mim.

    — Desculpa… Não foi por querer. — Kamito sorri envergonhado. Ele volta seu olhar para Ryruka e caminhou até a mesma.

    — Acho que descobri o motivo de não o encontrarmos. Sempre que tentamos rastreá-lo, por terra, acabamos andando em círculos. Mas e se o alvo estiver acima de nós, nos telhados ou prédios? Sua técnica não poderia rastreá-lo.

    — Isso pode ser possível. Minha técnica se limita a uma certa área, tanto aérea quanto terrestre. Se ele estiver no topo de um prédio, está fora de alcance. — Pensativa, Ryruka vira as costas para Kamito. — Vamos nos separar. Eu vou para o sul, você e a Akane vão para o norte. Evitem serem pegos por ele, não queremos trabalho desnecessário.

    Ryruka tinha um plano em mente, mas optou por não contar para os dois novatos. Para Kamito, Ryruka estava usando Akane e ele como iscas ou apenas não confiava neles.

    — Acho que devemos ir também, Kamito. Não podemos permitir que ele ataque algum inocente. — Akane se levantou e jogou sua lata de refrigerante na lixeira. O fato de o Carniceiro atacar inocentes, inclusive crianças, aumentava a revolta e a determinação de Akane, e ela queria pôr um fim nisso.

    — Você está certa, vamos encontrá-lo o quanto antes! — Kamito sorriu confiante. Ele estava animado, finalmente colocaria o que aprendeu em prática, estava sendo útil para a missão, mas acima de sua animação, estava sua preocupação com Akane.

    — Você está com medo? Digo… Podemos estar indo para uma armadilha. Isso não te assusta?

    A preocupação de Kamito era realista. Ainda que tivessem um treinamento para controlar seus poderes, eles não sabiam nada sobre o inimigo, tampouco sua força.

    — É claro que estou…, mas não posso deixar esse medo tomar conta de mim.

    Akane estava confiante como nunca. Ela era forte e determinada, o que deixava Kamito ainda mais admirado. Por mais perigosa que a missão fosse, Akane não deixava se abalar.

    — Além disso, você vai me proteger. E, se não conseguir, eu te protegerei.

    — E depois eu que sou confiante, não é mesmo? — Sorriu Kamito. — Mas não se preocupe, eu realmente irei-te proteger!

    Eles continuaram caminhando até o canteiro de obras de um prédio. A noite estava chegando e não havia mais trabalhadores no local. Kamito deu a ideia de entrarem no prédio para investigar. Após alguns minutos caminhando, eles sentiram uma presença estranha próxima a eles. Sem dúvidas, o Carniceiro estava ali. Ao perceber, Akane se aproximou de Kamito e segurou seu braço direito.

    Uma risada sádica ecoou, havia algo batendo nas vigas. Eles pareciam ter caído na armadilha. Assustados, eles olharam para todas as direções, mas não identificavam a origem dos sons.

    A risada se aproximou, Akane apertou o braço de Kamito, se aproximando mais ainda de seu corpo.

    — Desgraçado! Por que você não aparece?! Por acaso está com medo?! — Gritou Kamito.

    — E perder toda a diversão? Não, não, não… Gosto de brincar com a comida. Principalmente com aquela que me escapou uma vez!

    Uma lâmina de energia é lançada na direção dos dois, mas é repelida pela barreira de Akane.

    — Hahahaha! Então agora vocês controlam as suas Manifestações? Talvez o sabor delas tenha melhorado muito!

    — Não adianta se esconder! Eu vi a direção da qual você atacou. É inútil tentar mudar de posição. Agora que minha energia bloqueou a sua, eu consigo saber onde você está!

    Com calma, Akane se afastou de Kamito, abaixando seu braço direito, desfazendo a barreira.

    — Impressionante, então vocês estão levando isso a sério.

    O Carniceiro saiu das sombras, era o mesmo sujeito que havia atacado dos dois perto da escola quando descobriram suas Manifestações. Ele estava mais magro, e o contorno de seus olhos estavam mais escuros.

    — Não imaginei que vocês iriam atrás de informações sobre as Manifestações Espirituais e, principalmente, dominá-las. Mas isso não importa, agora vou me vingar de vocês!

    Com velocidade, ele avançou disparando lâminas de energia, as quais ele chamava de “Spiritual Razors”. Eram lâminas de ar, quase invisíveis e muito rápidas.

    — Você não conseguirá nos ferir!

    Akane prontamente tomou a frente, estendeu suas mãos e ativou suas barreiras de energia para os proteger. As lâminas atingiram a barreira com força, mas causavam apenas arranhões na barreira.

    — É inútil, você jamais passará pela minha Wall of Souls.

    — Ô, queridinha, eu já passei.

    Akane olhou para trás e viu o Carniceiro a encarando. As lâminas eram apenas uma distração. Ele ri enquanto se preparava para atacá-la com sua mão em forma de lâmina.

    — Diga adeus à sua vida medíocre! Isso é pelo que vocês me fizeram antes!

    — Akane! Abaixe-se!

    Akane abaixou como Kamito ordenara, deixando o Carniceiro confuso. Ao voltar sua atenção para Kamito, uma onda de chamas veio em sua direção, atingindo-o em cheio.

    — Não se esqueça de mim!

    Kamito correu até Akane, ela dizia estar bem e que ele havia conseguido contra-atacar a tempo.

    — Isso foi perigoso. — Sorriu o Carniceiro. O golpe de Kamito não havia surtido efeito.

    — Você não vai me acertar de novo com a sua chama. Na primeira vez, você me pegou desprevenido. Agora não irei mais permitir que você me ataque.

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