Capítulo 16 — Desentendimento
Se a informação de Raishi fosse verdadeira, Luise estava correndo perigo por culpa de Akane e Kamito, e se algo acontecesse com a garota, Akane jamais se perdoaria. Enquanto corria, Kamito evitava pensar nas piores possibilidades. O garoto estava tão aflito, que tentou atravessar a rua com semáforo aberto, por sorte, Ryruka o puxou de volta para calçada, evitando que um carro que passava o atingisse.
— Tenha mais cuidado! De que adianta tanta pressa se você acabar morto?! Respire, Kamito. Você precisa se manter calmo. Se a sua energia se descontrolar, você colocará muito mais pessoas em perigo. — O olhar sério e cauteloso de Ryruka era somado com sua força segurando o braço de Kamito. Ela estava certa, o desespero não poderia tomar conta das ações de ambos.
— Desculpa. Eu… Eu só quero chegar lá o quanto antes. Não quero acreditar que ela realmente desapareceu. Prometo que terei mais cuidado. — Kamito tentou se acalmar, voltaram a caminhar, e quando o semáforo fechou para os veículos, eles atravessaram.
— Obrigado por vir, não tive tempo de agradecer. Eu sei que não é problema seu, mas mesmo assim você se ofereceu para ajudar. Obrigado, de verdade.
— Não precisa me agradecer. Eu estou fazendo isso por mim, não por você ou pela Akane. Se o desaparecimento de Luise tem a ver com o Extra-Mundo, então isso se torna problema meu. — Ryruka estava séria, não havia arrogância ou superioridade em seu tom. Ela se se sentia responsável, não queria pessoas comuns se envolvendo nos assuntos do Extra-Mundo.
— Talvez você esteja certa, mas esse problema não é só seu. Foi por nossa causa que isso pode estar acontecendo, então o problema é nosso.
Kamito acompanhava Ryruka, estava mais calmo. Por outro lado, as pessoas caminhavam pela rua, era um dia comum do cotidiano, pássaros cantavam livres pelo céu, a paz era aparente naquele lugar, mas a mente de Kamito não parava de pensar em Akane e Luise.
— Ryruka, eu gostaria de te pedir um favor. Assim que chegarmos lá, preciso que você rastreie aquela área para ver se encontra algum rastro de energia. Precisamos tirar logo essa dúvida.
— Nem precisa pedir. Será a primeira coisa que farei assim que chegarmos, mas não sei se conseguirei. Luise não possui energia nem é sensível ao Véu. — Disse Ryruka. O fato de Luise não ser sensível ao Véu Espiritual, dificultaria o rastreio, porém, Ryruka guardou para si o peso de não saber se conseguiria, ela não poderia deixar Kamito sem esperanças.
Já era hora do almoço, o movimento na rua era grande. Kamito e Ryruka foram para frente da escola, ali estava Akane, aguardando-os impacientemente. Trêmula e em lágrimas, ao ver Kamito, correu para seus braços, e o abraçou o mais forte que conseguia.
Kamito retribuiu o abraço, tocou os cabelos de Akane, ele queria conforta-la, mas sabia que naquele momento, não seria possível. Ryruka aproximou-se, afirmou que não havia rastro algum de energia, mas um cheiro forte que estava tomando o local. Confusa, Akane soltou-se de Kamito, e questionou sobre o que Ryruka estava falando.
— Achamos que sua irmã pode ter sido capturada por algum Carniceiro, mas não sinto a presença de nada além desse cheiro horrível por aqui. — Ryruka esticou o braço, e discretamente criou uma pequena caixa de gelo para capturar uma amostra do cheiro.
— Espera aí! Vocês acham que a Luise foi raptada por um Carniceiro?! Kamito, por que você não me contou isso pelo telefone?! Por que você não me contou o que realmente está acontecendo!? — Com os punhos fechados, Akane começou a bater no peito de Kamito. Ela estava fora de si, empurrava e batia no garoto, não parava de questiona-lo, queria uma resposta.
— Akane, se acalme! Eu também estou preocupado, mas não temos certeza de nada, por isso não te contei! Você sabe que eu não esconderia nada de você! — Kamito segurou Akane pelos ombros e a chacoalhou levemente, tentando traze-la de volta a realidade. Ele queria ser ouvido, mas é ignorado, Akane empurrou seus braços e o acertou com um forte e estrondoso tapa no rosto.
— Não me diga para ficar calma! Foi a minha irmã que desapareceu! Ela está correndo perigo e mesmo assim você não me contou nada! — As lágrimas de Akane seguiam escorrendo, lentamente ela recolheu sua mão. As pessoas que passavam na rua, pararam para olhar a discussão. Kamito baixou a cabeça.
— Akane, a culpa não é dele! Ele disse a verdade. Fui eu quem pensou nessa hipótese, mas, como ele já disse, não tenho certeza se foi isso que aconteceu. — Ryruka calmamente afastou Kamito de Akane. Também sem entender o motivo do tapa, ela mudou o assunto, tentando entender o que havia acontecido antes da chegada dos dois. Já Kamito, não olhou mais para Akane.
— Você parece estar aqui há um tempo, já falou com a professora ou o diretor?
— Fiz isso assim que cheguei… A professora dela me disse que ela nem passou pelo portão. Eu havia a deixado na esquina daqui. Foi minha culpa, eu devia ter esperado ela ter entrado. — Nervosa e abalada, Akane se culpava. Por um momento, tentou fazer contato visual com Kamito, mas ele não a correspondeu, deixando-a com raiva de si mesma.
— Acho que eu conheço alguém que pode nos ajudar. Ele estuda na minha classe, é um Manifestador Espiritual como nós e também tem talento para rastrear. Yujiro Nomura, o segundo melhor estudante da Yamashita Central.
Apesar da própria sugestão, Ryruka não parecia contente com a ideia, mas era a opção que restava. Por telefone, a garota contatou Yujiro, até que combinaram um novo ponto de encontro.
— Ele disse para nós o encontrarmos na cafeteria que fica aqui perto. Vamos o quanto antes. Quanto mais demorarmos, mais perigo a Luise corre.
— Espero que esse cara seja tão bom quanto você diz, e que não seja arrogante e prepotente como você. Espero que a Luise esteja bem e que se realmente um Carniceiro estiver envolvido nisso… Eu o farei pagar! — Kamito estava determinado, ele queria acabar com aquilo o quanto antes, caso contrário, jamais conseguiria olhar para a Senhora Karin e Suzumi.
Com o punho cerrado, Kamito descontava a raiva em sua própria mão, a dor do tapa que recebeu de Akane não se comparava a dor que estava sentido com a situação de Luise. Akane tentava olhar para Kamito, tentava de desculpar de alguma forma, mas ele desviava o olhar.
— Não fale assim de mim! Você sabe que tenho meus motivos. Mas não minto quando digo que ele é um ótimo rastreador. O Yujiro nunca errou uma busca. — Ryruka caminhou para a faixa de pedestres, Akane e Kamito a seguiram em silêncio.
Enquanto isso, em um lugar escuro, um homem olhava para uma jaula, sem sentimento ou reação. Dentro da jaula, Luise e mais três garotas, desmaiadas e de mesma faixa etária.
Ele puxou uma cadeira, se sentou e sussurrava consigo mesmo enquanto as olhava, seu olhar era perturbador.
As garotas não teriam muito tempo, o grupo precisava agir rapidamente.
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