Índice de Capítulo

    Faltavam cerca de apenas quatro dias para as férias, todos se demonstravam animados. Kamito e Akane caminhavam pelo corredor da escola enquanto vários alunos seguiam seus próprios caminhos, já outros apenas permaneciam parados conversando entre si.

    Kamito costumava apenas focar em seu próprio rumo, ignorando todos ao redor, mas como os outros estudantes já haviam se acostumado com sua aparência e também passaram a ignorá-lo, o trabalho tinha se tornado mais fácil. Os poucos que falavam com o de cabelos azuis não se importam mais com esse detalhe.

    Enquanto caminhavam, Akane lhe contava sobre como adoraria ir para a praia durante as férias, sobre seu desejo de ir em todos os festivais da cidade durante essa época e de como amava cada um deles, enquanto Kamito apenas lhe escutava de forma atenciosa e sorria com sua animação. Estavam em direção ao campo, queriam almoçar próximos a uma grande árvore, quando encontraram Ryruka e Yujiro, que estavam conversando em frente de sua sala de aula. Akane os convidou para se juntarem a eles no almoço, que por sua vez aceitaram.

    O desgosto estampou o rosto do azulado, deixando óbvio o que se passava em sua cabeça, que seu momento de paz havia chegado ao fim. Ryruka rapidamente notou sua expressão, e logo começou a lhe encarar.

    — Por que essa cara feia? Por acaso está com tanta fome assim? — Kamito observou enquanto o rosto da garota assumia uma expressão maliciosa — Ou será que você queria ficar sozinho com a Akane?

    Ela se aproximou começando a cutucar o mais alto tentando o provocar, assim chamando a atenção dos outros colegas ao redor que ouviam curiosos.

    — N-Não é nada disso! Eu só estou com fome. — O garoto riu de forma nervosa, tentando disfarçar ao máximo sua vergonha — As aulas do turno da manhã dão uma baita fome! V-Vamos logo!

    Os outros alunos que passavam em volta fofocavam sobre suas suspeitas de um possível envolvimento entre Akane e Kamito, mas quando perceberam que podiam estar falando alto demais, passaram a andar mais rápido.

    — Viu o que você acabou de fazer, Ryruka? — Yujiro bateu em seu próprio rosto de forma dramática se mostrando decepcionado — Agora as pessoas sabem que os dois namoram. Era para ser segredo e você fez o favor de espalhar.

    Kamito que antes já era um poço de vergonha, agora parecia que tinha pegado fogo devido ao rubor que havia preenchido suas bochechas,

    — N-Nós, nós… — Akane começou a falar de forma envergonhada — Nós não namoramos… Ainda.

    Ela desviou o olhar tentando disfarçar sua tristeza, o final de sua frase soou como um sussurro, fazendo com que ninguém entendesse o que havia sido dito. A mesma então voltou a olhar para seus amigos e os apressa.

    — Francamente, vocês não têm senso de humor. Vamos logo ir almoçar, estou com muita fome. Rápido, ou não esperarei vocês.

    Ryruka começou a caminhar rapidamente com os estudantes abrindo caminho para que ela pudesse passar. Naquele momento, foi possível ver o quanto as pessoas a respeitavam. Ser a “número um” da escola era uma grande responsabilidade.

    — Ignorem a Ryruka, ela só está tentando ser legal. Mas, como puderam ver, não deu certo. Talvez seja por ela não ter tantos amigos, assim como nós.

    Yujiro os acompanhou enquanto olhava para Ryruka, que já os esperava bem mais a frente. A garota já havia comentado uma vez que ele era o “número dois” da escola, mas os alunos não o tratavam da mesma maneira com a qual tratavam-lá, e parecia ser mais legal do que aparentava.

    — Ei, Yujiro, por que você é legal conosco? — Kamito o questionou curioso — Eu pensei que você só estava interessado em nos ajudar com os Carniceiros, mas desde que se juntou a nossa “equipe”, você tem nos ajudado bastante.

    O de cabelos vermelhos era conhecido por ser uma pessoa reservada e séria, mas após a ajuda que prestou contra os carniceiros, se mostrava uma pessoa mais amigável. Os integrantes do grupo já estavam próximos da árvore, que era um local perfeito para comer e descansar um pouco na sombra.

    — Não tenho um motivo específico. Apenas decidi ser sociável com vocês. — Revelou já estando mais próximo da árvore — Se seremos uma equipe, creio que devemos nos conhecer bem e sermos bons amigos… Ryruka também pensa assim, ela só não demonstra.

    Ryruka e Akane já haviam se sentado próximas ao tronco, estavam conversando enquanto pegavam seus almoços.

    — Ei! Vocês dois! — Akane os chamou, aparentando estar bastante animada e sorridente — Venham logo ou não conseguirão almoçar!

    Yujiro tocou o ombro do azulado e foi em direção às garotas.  Enquanto os observava, Kamito entendeu que o sorriso de Akane se devia ao fato de que ele tinha feito amigos. Ele logo se sentou junto a eles, e Akane que estava sentada ao seu lado lhe entregou seu almoço. Agradeceu, e começaram a comer e a conversar, falaram sobre seus treinamentos, sobre a luta contra os Carniceiros, sobre a escola e as férias. Pareciam todos animados com as férias já tão próximas. Akane perguntou a Kamito sobre sua mãe, se ela iria o visitar durante as férias, porém ele respondeu que somente ao final do ano, já que seria o unico momento que ela teria tempo de vê-lo.

    — Agora que a Akane falou… Kamito, sua mãe trabalha no que? — Ryruka perguntou curiosa, e com razão, já que Kamito não tinha conversado com ela ou com Yujiro sobre sua mãe — Pelo que deu para notar, você mora sozinho. Eu pensava que seus pais haviam morrido, mas, agora que Akane falou da sua mãe, isso mostra que eu estava errada.

    Os dois passaram a o encarar, fazendo com que Kamito parasse de comer e também os olhasse. Eles esperavam por uma explicação.

    — Ah… Isso?! Você não estava errada totalmente. — Ele colocou seu almoço no chão enquanto terminava de falar — Meu pai morreu há muito tempo, e minha mãe trabalha fora do país. Ela tem a própria empresa e por isso não vive aqui… Tudo bem que foi eu quem pediu para ela não se preocupar comigo e focar no trabalho, mas às vezes sinto falta dela.

    Isso o trazia recordações, estava com o olhar perdido no nada enquanto seus amigos o observavam, especialmente Akane, que por sua vez já sabia de tudo.

    — Isso explica você ter aquela casa e como a mantém sem trabalhar. Quem diria que você era rico. Você é sortuda, Akane.

    Ryruka disse entendendo o que ele estava sentindo, e tentou descontrair com uma piada. Ela o olhava preocupada, pois não sabia o que dizer depois que aquele assunto veio à tona.

    — Não é bem assim. Não me importaria se ele tivesse dinheiro ou não… Só ver seu sorriso todos os dias seria o suficiente. Claro, se fôssemos namorados!

    Akane disse exatamente o que Kamito precisava ouvir. Mesmo estando triste, ela sabia como animá-lo. Ela era realmente incrível.

    — Como vocês se conheceram? — Yujiro perguntou, curioso — A forma que você fala do Kamito faz parecer que vocês se conhecem há bastante tempo.

    Isso também despertou interesse em Ryruka sobre a história do passado dos dois. Não havia mais saída. Para a sorte de Akane, o sinal havia tocado e ela respirou aliviada enquanto o olhava disfarçadamente. Ele sorriu ao se lembrar do passado deles e ajudou ela a arrumar as coisas para voltarem à sala. Se havia alguma dúvida ou sentimento incompreendido em sua mente, eles tinham acabado de ir embora. Ele se lembrara do motivo de sempre dizer que a protegeria — e da primeira promessa entre eles. Algo que estava decidido a cumprir assim que as coisas melhorassem.

    No esconderijo da Ordem dos Cavaleiros Brancos, Coiote caminhava por um longo e escuro corredor com um sorriso maléfico. Ele mal podia esperar pelo momento em que pudesse lutar contra Kamito. Pouco depois, Coruja surgiu à sua frente, dizendo que tinha algo muito importante para falar e que eles deviam ir para outro lugar. Sem questionar, Coiote o seguiu para fora do esconderijo. Os dois foram até o topo de um edifício próximo para conversar e observar a cidade. Coruja ficou na borda do prédio, enquanto Coiote estava logo atrás, observando-o.

    — Então?! O que você quer conversar, Coruja? — Ele o encarava seriamente, sem desviar a atenção por um segundo sequer.

    Coiote parecia estar tanto nervoso quanto ansioso.

    — Coiote, você sabe que nosso objetivo é viver nesse mundo e que faremos daqui a nossa casa. Então, não coloque suas ambições na frente dos nossos planos. — Coruja se virou e o observou com um olhar preocupado e aflito. Ele não queria que Coiote lutasse naquele momento, apesar de estarem do mesmo lado, realmente não queria que aquilo acontecesse agora — Eu sei que você está animado para lutar contra o Kamito, mas isso é um erro. Desista, por favor. Não jogue fora a oportunidade que estamos tendo de ter uma vida melhor nesse mundo.

    — Tá de brincadeira?! Primeiro o Cascavel, agora você?! — Coiote se aproximou furioso, seu olhar e seus gestos demonstraram isso — Vocês não confiam em mim?! É isso?! — sua postura estava alterada, como se estivesse pronto para lutar a qualquer momento — Por mais que eu faça de tudo por nós, vocês não me reconhecem! Eu não vou estragar tudo! Eu achei que você me entenderia!

    — E entendo. Entendo o bastante para saber o quanto você é impulsivo! Coiote, se você lutar contra o Kamito e ele sobreviver, você colocará o nosso sonho em risco. —  Lembre-se que todos nós não tínhamos um lugar para ir ou um propósito para viver. Graças ao Falcão e a Ordem, nós pudemos mudar isso e agora podemos fazer a diferença. Nós devemos isso a ele, pois ele nos deu esse sonho.

    Coruja então desceu do muro de proteção e caminhou em direção a Coiote. Calmamente, colocou a mão esquerda no ombro direito do garoto e o encarou seriamente nos olhos. Seu olhar era penetrante e mortal.

    — Desista dessa ideia agora mesmo e aguarde as devidas ordens, assim como os outros. Siga o meu conselho antes que seja tarde demais para você.

    — Está me ameaçando?! Acha mesmo que isso vai me assustar?! — Coiote empurrou o braço de Coruja e se afastou bruscamente, indo para trás. Não parava de encará-lo com seriedade.

    — Claro que não, isso foi apenas uma advertência. — Ele ainda o olhava friamente, aguardando que o escutasse e aceitasse suas ordens — Fui eu quem te trouxe para cá, não se esqueça. Você deve isso a mim, então me escute.

    Ele aparentava ser um homem perigoso, muito mais perigoso, até mesmo do que o próprio Falcão.

    — Me escute você. Quando eu tiver a oportunidade, eu irei cravar as minhas espadas no seu coração. Você pagará pela forma que me trata.

    Coiote se virou e caminhou até a borda do prédio. Olhou para Coruja, que expunha um sorriso na face, ele então virou o rosto e pulou do prédio para ir a outro lugar.

    — Coiote, você não entende a magnitude do nosso objetivo, do nosso sonho. Queria que você deixasse de ser impulsivo e ao menos uma vez e desse ouvidos à razão. Todos eles são nossos inimigos graças ao destino. — Coruja falou sozinho enquanto observava a cidade — E mesmo assim, você quer lutar contra um deles por pura diversão. Por acaso você já se esqueceu de como está o nosso mundo? E de como pessoas como eles, e como você, causaram a queda do nosso mundo?

    Em seguida, invocou sua Manifestação, que transmitia as imagens de Kamito e dos outros na escola. Observava-os atentamente. Mesmo que fossem uma ameaça, cada um deles o intrigava. Que segredos aquele homem escondia? Era algo que, possivelmente, Kamito e os outros descobririam quando a verdadeira batalha começasse.

    Enquanto isso, os demais descansavam no esconderijo, à espera do grande momento. Hiena estava em seus aposentos, se preparando de forma sedutora para algum tipo de encontro ou missão. Em certo momento, parou e encarou fixamente seu reflexo no espelho, pensativa sobre o que poderia acontecer no futuro, antes de voltar a se maquiar. Em outra sala, Camaleão treinava sua Manifestação em uma série de testes. Não parecia ser má como os outros. Ao que tudo indicava, ela também havia recebido a mesma proposta que Coiote recebera. Cascavel estava sentado em uma cadeira, com o olhar morto fixado no treino da Camaleão, até que Leopardo se aproximou:

    — Fascinante, não acha? A beleza da juventude é inigualável. — Ele falava sem tirar os olhos da garota, que treinava concentrada — É por isso que eu adoro matar pessoas jovens e belas. Elas são as melhores presas.

    Cascavel então virou a cabeça para o lado, quase deitando-a sobre o ombro direito, para olhar Leopardo, que agora estava ao seu lado.

    — Não me importo se são jovens ou não. O que realmente me importa é se eles dão uma boa caça, algo que realmente vale a pena matar. — Leopardo foi sincero e direto. Seus olhos se moveram na direção de Cascavel enquanto falava — Só assim meu desejo por sangue é saciado. Nada se compara com a emoção da caça.

    Revelou o quanto se divertia em matar qualquer tipo de pessoa que lhe proporcionasse um prazer genuíno.

    — Você e eu somos parecidos. — Cascavel voltou sua cabeça para a posição normal, voltando a olhar para frente — Enquanto você caça por prazer, eu tenho prazer em matar jovens. Somos diferentes de todos eles… Às vezes me pergunto se há lugar nesse mundo para pessoas como nós. E porque fomos escolhidos como aqueles que trarão a paz para alguns Extra-humanos.

     Seu olhar era tão frio que não dava para saber se estava feliz ou triste. A única coisa que realmente importava para ele era matar.

    — Sempre haverá espaço para qualquer um. Diferente deles, nós sabemos o verdadeiro prazer da vida. Somos caçadores por natureza, aqueles que matam milhares para que centenas vivam em paz. Não estamos fazendo nada diferente aqui. Sacrificaremos vidas humanas em troca das vidas dos nossos.

    Leopardo estava confiante em suas palavras. Orgulhava-se de matar por objetivos próprios, como se já não restasse nenhuma humanidade ou remorso por tudo o que havia feito. Para ele, o que mais importava era matar.

    — Exatamente. Mataremos quantos forem precisos para enfim termos um lar.

    Cascavel se levantou e empurrou a cadeira para trás. Caminhou lentamente para fora do local, deixando Leopardo e Camaleão a sós.

    Na sala de reuniões, Falcão permanecia sentado em sua cadeira com os olhos fechados, como se estivesse descansando. À sua frente, Rinoceronte o protegia de qualquer ameaça, fosse ela uma invasão ou uma traição. Coruja entrou na sala calmamente e se aproximou de Falcão, que já havia aberto os olhos. Coruja disse então sobre ter informações sobre o paradeiro de Raishi, que estava desaparecido há alguns dias.

    Aquilo fez com que Falcão o olhasse com seriedade e o convidasse a se sentar para compartilhar o que havia descoberto. Coruja logo se acomodou, preparando-se para revelar sua descoberta. Parecia que tudo o que planejavam estava ocorrendo conforme o esperado. Enquanto Kamito e os outros estavam distraídos, vivendo suas vidas normalmente, as sombras se moviam, orquestrando seus próximos passos.

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