Três dias haviam se passado, e faltava apenas um dia para o início das férias. Todos estavam animados com o penúltimo dia de aula, havia inúmeros planos em mente, uma certa correria e um clima geral de alegria. No dia seguinte, provavelmente o clima seria de despedida.

    Em uma cafeteria modesta, entre as conversas paralelas dos alunos que aproveitavam o horário de almoço, Raishi passava o tempo tomando uma xícara de café enquanto observava os estudantes entrarem e saírem. Parecia estar esperando por alguém.

    A cafeteria estava quase lotada, e as garçonetes mal conseguiam atender todas as mesas. No meio de toda aquela movimentação, uma mulher incrivelmente bela entrou no local. Sua pele era clara como a neve, seus olhos, de um azul cristalino, e os cabelos rosa chamavam atenção. Era como uma atriz no auge da beleza. Um longo vestido de alça definia seu corpo, um chapéu a protegia do sol, e seus lábios tinham o tom vermelho-cereja. Assim que viu Raishi, ela caminhou em sua direção, atraindo os olhares dos alunos e dos homens que almoçavam por ali.

    — Desculpe a demora, eu acabei me perdendo no caminho para cá. — Ela puxou uma cadeira e se sentou de frente para Raishi, sorrindo enquanto o encarava — Tem muitas cafeterias como esta pela cidade.

    Logo ela tirou seu chapéu e o colocou sobre a mesa, mas sem tirar os olhos do homem à sua frente.

    — Até que esse lugar é bonito, você tem mesmo um bom gosto, “Raishi”.

    — Pare com seus joguinhos, Ruby Phoenix. — Ele a olhou seriamente enquanto terminava sua xícara de café. Parecia conhecê-la muito bem — Não chamei você até aqui para isso, mas porque temos assuntos a tratar.

    Antes que ela pudesse responder algo, uma garçonete se aproximou para anotar os pedidos.

    — Com licença. Posso anotar os seus pedidos?

    A garçonete, sorridente, segurava um caderninho na mão esquerda e uma caneta na direita. Parecia nervosa, talvez fosse nova no trabalho e não quisesse cometer erros nos primeiros dias.

    — Eu vou querer mais uma xícara de café e um pedaço de bolo de chocolate. Para a dama, uma fatia da torta de morango e uma taça de sorvete. Não precisa ter pressa com os pedidos.

    Assim que ele terminou de falar, a garçonete prontamente anotou os pedidos e foi até o balcão. Raishi voltou a olhar para Ruby, que se inclinava para frente, apoiando o cotovelo esquerdo sobre a mesa e sustentando a cabeça com a mão.

    — Você é mesmo um cavalheiro. Quem diria que você saberia cortejar uma dama. Isso até toca o meu coração, Raishi. — Ela disse sorrindo enquanto o fitava nos olhos.

    Parecia que estava flertando com ele, mas suas intenções ainda não estavam claras.

    — Mas vamos deixar isso para depois, agora vamos para o principal assunto. Raishi, você conhece o grupo intitulado de “A Ordem dos Cavaleiros Brancos”? Obviamente sim, o que quero dizer é que ela desapareceu do Extra-Mundo há alguns meses. Segundo algumas informações, ela pode estar aqui na Terra. Por isso que eu queria te ver.

    Ruby mantinha um sorriso malicioso enquanto o observava. Seus olhos azuis não se desviavam dos de Raishi, que a encarava com frieza.

    — Por qual motivo a Ordem estaria aqui? Eu não senti nenhuma presença estranha em momento algum. Se eles realmente estão aqui, isso se torna um problema grave. Ruby, ao menos você sabe quantos são? — indagou ele, mas logo desviando o olhar ao notar que a garçonete se aproximava com os pedidos.

    Mesmo que tivesse dito para ela não se apressar, a jovem fez o contrário.

    — Desculpe a demora! Aqui estão os pedidos. — disse a garçonete, colocando a bandeja sobre a mesa.

    Ela começou a servi-los: a fatia de torta de morango e a taça de sorvete ficaram à frente de Ruby, enquanto o café e o pedaço de bolo foram colocados diante de Raishi. Em seguida, recolheu a bandeja e os deixou a sós.

    — São oito deles aqui e dois no Extra-Mundo. Eu não sei suas identidades nem Manifestações, mas essa nova formação não parece ser tão poderosa quanto a anterior. Você acha que consegue lidar com todos eles? — disse ela, pegando a colher da taça com delicadeza, provando o sorvete enquanto o encarava — Quer ajuda? Eu posso te ajudar, caso você peça com jeitinho.

    — Não preciso, eu tenho um grupo que pode resolver esse problema. Eles são jovens, mas podem dar conta disso, embora não tenham tanto treinamento.

    Respondeu ele, pegando a xícara de café com a mão direita. Levou-a até os lábios, tomou um gole e voltou a encará-la.

    — Espera aí! Está me dizendo que você vai usar quatro adolescentes, sendo que dois deles não tem nem três meses de treinamento?! Qual treinamento você deu para eles?! Em qual dos Reinos de Poder eles estão?! Raishi, você só pode estar louco! Você quer usar crianças mal treinadas contra um grupo perigoso! Qual é o seu plano? Você realmente tem um?

    Incrédula, Ruby apertou a colher com força. Deixou de fitá-lo com carinho e passou a encará-lo com um olhar carregado de raiva. Ela simplesmente não conseguia acreditar que Raishi estava disposto a cometer uma loucura daquelas.

    — Tenha calma, eu sei o que estou fazendo. Sei que eles não têm experiência o suficiente, mas eles decidiram que essa era a vida que queriam. — Com tranquilidade, ele colocou a xícara de café sobre a mesa e olhou para Ruby, que ainda o encarava incrédula — Se Isso realmente se concretizar e o que você está dizendo for verdade, não poderei impedi-los, caso seja o desejo deles.

    Ele esboçou um leve sorriso, tentando amenizar o clima.

    — Ruby, eu me importo com eles. Eu não os treinei para que alcançassem o Sexto Reino, pois eu queria que eles aproveitassem suas vidas. Mas se eles realmente quiserem isso, você sabe que não terá volta. Por isso eu os deixei entre o Oitavo e o Sétimo Reino. Akane e Kamito são especiais, eles progrediram muito em pouco tempo. Eu não quero envolvê-los nos assuntos do Extra-Mundo, mas quando esses assuntos envolvem o mundo humano e principalmente essa cidade, a escolha caberá a eles.

    — Raishi, estamos falando de oito criminosos que possuem Relíquias Espirituais. Por favor, deixe-os fora disso. — disse Ruby com evidente preocupação na voz — Principalmente sua irmã e o amigo dela. Isso é um assunto que nós devemos cuidar, não quatro crianças. Por favor, foi por isso que vim aqui. Eu imploro.

    Ela então esticou a mão esquerda, tocando suavemente a mão de Raishi que descansava sobre a mesa. Ambos se olharam fixamente, e no fim, Raishi acabou concordando com ela com um aceno sutil de cabeça.

    — Ótimo! Podemos começar a investigar a cidade assim que acabarmos aqui. Há muitos locais lindos que quero visitar enquanto estou aqui.

    Ruby disse animada.

    — Você realmente queria isso só para poder me arrastar pela cidade? Francamente… ao menos leve isso a sério. — respondeu Raishi, recolhendo a mão e observando com atenção a empolgação súbita de Ruby — Há pouco você estava me implorando para que eu não os envolvesse nisso.

    Ele então negou com a cabeça e pegou um garfo para experimentar o pedaço de bolo.

    — Não seja tão mal! — resmungou ela, afastando-se bruscamente, cruzando os braços e desviando o olhar em direção à janela — Ao menos seja um cavalheiro e aproveite o tempo comigo. Eu vim aqui só para te ver e você é frio comigo? Injusto!

    Ela passou a observar a cidade e o movimento das pessoas na rua. Raishi, por fim, suspirou, rendendo-se. Concordou em levá-la para onde quisesse, o que rapidamente devolveu a animação à Ruby. Ela voltou a tomar seu sorvete com um sorriso, enquanto a conversa entre os dois seguia de maneira mais leve e descontraída.

    Nos arredores da cidade, Coiote caminhava com um olhar sério. Finalmente havia chegado o grande dia em que ele mostraria a todos o verdadeiro poder que carregava. Sem desviar a expressão fria do rosto, ele alterou sua rota e seguiu em direção à cidade. Precisava fazer um reconhecimento cuidadoso para escolher o local ideal onde executaria seu ataque.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota