Capítulo 28 — Presa Abatida
Ao fazer sua energia se elevar rapidamente, o corpo de Kamito ficou envolto por uma chama azul-escura, completamente diferente da anterior. Coiote se surpreendeu, sem entender como as chamas haviam mudado de cor. Lentamente, Kamito foi posicionando o braço direito para trás, como se estivesse prestes a sacar uma arma. Continuou encarando Coiote com seriedade, sem desviar o olhar, enquanto as chamas fluíam de seu corpo.
— Blue Flame Sickle! — gritou ele.
— Então era isso?! Que poder incrível é esse?! — Coiote murmurou.
Rapidamente, ele se lembrou de Coruja explicando como aquela técnica funcionava. Não podia ser atingido por ela de forma alguma. Logo, a lâmina de chamas veio em sua direção. Com um olhar assustado, Coiote energizou as pernas e saiu da rota do ataque. No entanto, a lâmina passou a seguir o rastro de sua energia. Ele então começou a se mover em zigue-zague, criando um falso rastro e desviando o golpe. A lâmina colidiu contra uma rocha, partindo-a ao meio e devastando tudo ao redor. Coiote o encarou, incrédulo.
— Se aquilo tivesse me acertado, teria sido meu fim…, mas devo imaginar que você esgotou toda a sua energia com esse último golpe. Agora você não pode mais fazer nada, correto?
— I-Impossível… É impossível alguém conseguir desviar disso. É o meu fim…
Ele caiu de joelhos, olhando Coiote com incredulidade. Seu corpo começou a doer intensamente e, logo em seguida, ele vomitou sangue. Levou a mão direita até o peito, que apertava com força. Seu corpo começava a sofrer as consequências do uso daquela técnica, e os efeitos eram ainda piores do que das vezes anteriores. Ele não conseguia se mover.
— Vejo que você está sofrendo muito. Isso era tudo o que você tinha? — dizia Coiote enquanto se aproximava lentamente — Como gostei de você, acabarei logo com seu sofrimento.
Kamito o olhou com dificuldade, tomado por uma dor insuportável. Isso não fez com que Coiote demonstrasse qualquer compaixão. Sem hesitar, ele o atingiu violentamente com um chute no rosto. Kamito perdeu o equilíbrio e caiu de lado. Já estava completamente debilitado.
— Olha só para o seu estado. Que deplorável. Mesmo assim, você não implora para viver e continua me olhando assim. Será que você enlouqueceu por estar à beira da morte? Ou isso realmente é coragem? — disse o vilão de forma calma, mas com uma certa ironia na voz — Se você realmente fosse forte, essa luta teria sido satisfatória para ambos. Eu realmente gostei de você, Kamito. Eu queria que você fosse forte de verdade.
Coiote se preparou para golpear Kamito com as espadas, mas parou no último instante. A ponta de uma delas ficou a milímetros de sua garganta, mas Kamito continuava a encará-lo com firmeza, como se ainda pudesse vencer, mesmo naquele estado deplorável.
“Esse olhar… Por que ele tem esse olhar?” — pensou Coiote, hesitando.
Ficou parado por um momento, apenas o observando. Por alguma razão, o modo como Kamito o encarava causou um efeito estranho dentro dele.
— Por que está me olhando assim?! Aceite a derrota! Você perdeu! Pare de me olhar assim!
Tomado por raiva, Coiote começou a chutá-lo e pisoteá-lo violentamente. Kamito gritava de dor, o que só o instigava a continuar. Em seguida, ele se abaixou, segurou Kamito pelos cabelos e o levantou. O jovem não reagia mais; mal conseguia manter os olhos abertos.
— Eu cansei do seu olhar, é o seu fim. Mas, em consideração ao seu esforço, direi o nome do homem que te matou: Coiote!
Coiote concentrou energia na mão direita e atravessou o estômago de Kamito com brutalidade, fazendo-o cuspir uma grande quantidade de sangue. Depois retirou a mão e o arremessou para o lado como um trapo. Caminhou lentamente para longe, com o semblante pensativo e carregado de uma tristeza silenciosa. Parou após alguns passos e se virou para encarar o corpo caído.
— Eu mudei de ideia, não vale a pena acabar com seu sofrimento tão rápido assim. Como punição por ferir meu rosto, te deixarei aqui para morrer… Adeus.
E então desapareceu, deixando Kamito para trás, sozinho, com a vida esvaindo-se lentamente. Seria aquele o fim? Todo o esforço havia sido em vão? Kamito não conseguia parar de pensar em como era patético, em como havia decepcionado Akane. Ele queria se mover, queria se levantar, mas seu corpo estava tão pesado que nem mesmo um dedo respondeu. Tudo ao redor escurecia, o som desaparecia. Seria assim que se morria? Ele via a chama azul dentro de si se apagando, aos poucos, conforme a escuridão o envolvia. Ele havia perdido. Tinha realmente perdido.
Quando já não enxergava mais nada, começou a ouvir vozes abafadas o chamando, insistindo para que resistisse. Não conseguia entender as palavras, mas reconhecia o desespero nelas. Viu dois vultos se apagando na escuridão, sumindo de sua visão. Quando tudo parecia ter chegado ao fim, sentiu uma energia quente e reconfortante envolver seu corpo. Era como um delírio… como se estivesse nos braços da doce Akane. Como ele queria poder se desculpar por ter falhado com ela.
— Ei! Kamito!!! Não se entregue!!! Vamos, resista!!! Não te treinei para isso! Você não quer deixar a Akane sozinha nesse mundo, não é?! Resista, Kamito! — gritava Raishi, tentando mantê-lo consciente.
Ele sabia que, sem energia, Kamito não passava de um humano comum e que, se se entregasse, morreria ali mesmo. Raishi continuava tentando curá-lo, enquanto Ruby o abraçava com força, tentando transferir sua própria energia para o corpo ferido do rapaz.
— Raishi, não está funcionando! Precisamos levá-lo imediatamente para o hospital! Eu posso cuidar disso para você. Enquanto isso, vá atrás da garota com poder de cura! Se demorarmos muito, ele morrerá! Rápido, Raishi!
Ruby estava visivelmente desesperada. Ela apertou Kamito com cuidado contra o peito e se levantou, erguendo-o nos braços. Raishi, então, desenhou um símbolo brilhante na testa de Kamito e deu a ordem para que ela partisse imediatamente. Sem hesitar, Ruby se teleportou, levando Kamito com ela.
— Kamito, aguente firme. Eu prometo que você não morrerá! — murmurou ela.
Logo em seguida, Raishi também sumiu do local, teleportando-se de lugar em lugar, seguindo os rastros de energia de Akane. O tempo era curto, e ele precisava encontrá-la imediatamente. A vida de Kamito dependia dela.
Ele apareceu em frente às casas de Kamito e Akane e começou a tocar a campainha repetidamente. Luise foi a primeira a atender a porta. O som insistente fez com que Akane e Suzumi também fossem ver o que estava acontecendo. Assim que Akane viu Raishi, se surpreendeu, fazia dias que não o via.
— Akane, você precisa vir comigo! O Kamito… Aconteceu algo terrível com ele!
— A-Aconteceu algo com o Kamito?! Não, não pode ser verdade!
Ao perceber que a energia de Kamito havia desaparecido, Akane entrou em choque. Levou as mãos à boca e desabou em lágrimas. Suzumi e Luise tentaram acalmá-la, mas era inútil. Ela se afastou das duas e olhou para Raishi com desespero. Ele podia ver claramente a dor estampada em seu rosto.
— Me leve até ele! Me leve até o Kamito!
— Ei! O que está acontecendo? O que o Kamito tem?! Suzumi?!
Luise observa toda a situação sem entender nada. Ela não sabia como realmente agir e não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
— Infelizmente, é verdade, e você é a única que pode cuidar dele agora. Eu explico tudo quando chegarmos lá.
Raishi estava bastante abalado. Esperou que Akane conseguisse digerir tudo aquilo e caminhou em sua direção. Tocou seu ombro direito, enquanto olhava para o final da rua, desolado.
— Akane?! Se realmente aconteceu algo com ele, eu irei avisar a mãe dele e a nossa. Não se preocupe com isso, apenas vá!
Suzumi estava trêmula. Não acreditava que algo tão grave pudesse ter acontecido em tão pouco tempo. Luise, ao compreender a situação, começou a chorar e a abraçou com força em busca de conforto.
— Não se preocupe Luise, o Kamito vai ficar bem. Provavelmente não deve ser tão grave. Não chore, minha pequena, por favor.
Em seguida, Raishi se afastou com Akane para longe dos olhares das irmãs dela e se teleportou com a garota. Akane não parava de tremer, chorar e pensar em como Kamito estava. Ao chegarem na frente do hospital, ela correu desesperadamente até a recepção, buscando alguma notícia. Raishi vinha logo atrás e, ao avistar Ruby sentada em um canto, aproximou-se dela.
Ruby contou que Kamito havia sido levado às pressas para a sala de cirurgia, mas que aquilo não adiantaria se Akane não o curasse o mais rápido possível. Akane se aproximou deles ainda muito nervosa. Ao ver o estado da garota, Ruby se levantou e a abraçou, tentando confortá-la. Akane a apertou com força enquanto desabava em lágrimas. Ruby sabia que ela precisava daquele abraço, pois estava prestes a colapsar. Acariciou delicadamente os cabelos de Akane, tentando acalmá-la. Raishi olhava para o fim do corredor à sua direita, tentando sentir qualquer vestígio da energia de Kamito.
— Isso, isso, pode pôr tudo para fora, minha querida. Não precisa esconder seus sentimentos.
Ela ainda abraçava Akane, que não conseguia parar de chorar. Estava triste ao vê-la sofrer daquela maneira e não aceitava que alguém tão jovem tivesse que suportar tamanha dor.
— Está tudo bem, querida, ele ficará bem. Eu prometo que ele ficará bem.
— Kamito! Kamito! Ele me prometeu! Ele me prometeu que não morreria!
Então Akane se afastou dos braços de Ruby e caminhou em direção a Raishi, que a observava sem saber o que dizer ou fazer. Secou as lágrimas e o encarou com um olhar furioso.
— Quem fez isso com ele?! Quem fez isso com o Kamito?! Me diga! Agora!
— Eu não sei. Nós chegamos tarde demais. Por algum motivo, não sentimos a luta até a energia dele quase desaparecer. Me desculpe, Akane.
Ele desviou o olhar e fechou os olhos. Sabia que aquilo era sua culpa. Queria poder ter sentido o que estava acontecendo, mas não conseguiu, e isso o destruía por dentro.
— É uma pena que tenhamos que nos conhecer assim. Eu me chamo Ruby Phoenix, sou a noiva do Raishi. — Akane conseguia sentir a dor na voz de Raishi — Sinto muito pelo que aconteceu com o Kamito.
Ruby se aproximou de Akane, apreensiva. Sabia que, naquele estado, a garota seria capaz de qualquer coisa, então a tocou no pescoço e a fez dormir.
— Por que fez isso com ela? Não tinha necessidade de tê-la feito desmaiar. — disse ele, surpreso.
Ruby o olhou com seriedade e respondeu que nada do que ele dissesse naquele momento seria o bastante para ela. Por mais sincero que fosse, Akane não acreditaria em suas palavras.
— Será melhor assim. Quando ela acordar, é bom se explicar. Confie em mim.
Raishi segurou Akane em seus braços e a levou até o banco de espera. Enfermeiras e pacientes os observavam sem entender, e ele apenas disse que ela havia desmaiado por conta do choque. O tempo passava lentamente — minutos pareciam horas, horas pareciam dias.
Por volta das 21h50, Kamito foi retirado da sala de cirurgia e levado para a UTI.
O médico que o operou aproximou-se de Ruby, informando que o estado dele era grave e que estava em coma induzido. Ruby perguntou se poderia vê-lo, e o médico respondeu que apenas uma pessoa poderia entrar, e que não deveria demorar muito. Ruby então acordou Akane, que ainda estava atordoada, sem entender o que tinha acontecido. Antes que ela pudesse dizer algo, Ruby informou que a cirurgia havia acabado e que só uma pessoa poderia entrar para vê-lo.
Disse para ela se manter calma, pois agora era a única que poderia cuidar dele. Akane estava nervosa; suas mãos ainda tremiam, mas tentava se manter forte, por ele, por ambos. Se realmente era a única salvação dele, não o deixaria morrer.
Ruby explicou que deveria seguir até o fim do corredor e entrar na penúltima porta à esquerda. Também pediu que não se esforçasse demais.
Akane seguiu as instruções em silêncio. Caminhou pelo corredor que parecia não ter fim. Sempre que achava estar próxima, sentia-se mais distante. Balançou a cabeça, afastando os pensamentos ruins, e continuou até a porta. Assim que viu Kamito pela janela, seus olhos se encheram de lágrimas diante do estado em que ele se encontrava.
Mas ela sabia que não podia chorar. Precisava ser forte, e ela sabia disso. Entrou no quarto e se aproximou lentamente. Não conseguia dizer nada. Apenas tocou a mão esquerda dele e beijou sua testa com delicadeza. As lágrimas escapavam de seus olhos, caindo sobre seus cabelos e testa. Sua aura dourada cobriu o corpo de Kamito, e ela continuou a beijá-lo, sem parar.
Ela não sabia se ele acordaria. E ele, mesmo inconsciente, não fazia ideia de como se desculpar com ela quando despertasse. Na verdade, ele já não sabia mais de nada.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.