Doze horas haviam se passado desde a cirurgia, e, “milagrosamente”, o estado de Kamito melhorara, segundo os médicos. Akane não saíra de seu lado desde que haviam autorizado acompanhantes. Por algum motivo, ele ainda não conseguia acordar, mesmo estando fora de risco.

    Ela permanecia sentada ao lado da cama, segurando sua mão esquerda com delicadeza. Seus olhos o observavam com atenção, ainda que revelassem cansaço e leves olheiras. Suas bochechas estavam levemente coradas, e seus cabelos, um pouco bagunçados. Mesmo naquele estado, não parava de vigiá-lo, esperando o momento em que ele abriria os olhos.

    — Me desculpa, Kamito. Eu devia ter aceitado sair com você… Talvez, se estivéssemos juntos, isso não teria acontecido. Por favor, me desculpa. Eu não sei o que fazer sem você aqui.

    Com um toque suave, ela acariciou a mão dele. As lágrimas ameaçavam transbordar mais uma vez. Akane sabia que não era sua culpa, mas não conseguia aceitar. Acreditava, com todo o coração, que nada daquilo teria acontecido se estivesse ao lado dele.

    Por um instante, seus olhos se voltaram para os lábios de Kamito. Ela os encarava como se fosse a primeira vez, enquanto as lágrimas escorriam silenciosas. Apertou a mão dele com mais força, sem desviar o olhar. Seu coração acelerava cada vez mais, como se estivesse hipnotizada por aquela imagem.

    — E-Eu te amo… Você esteve ao meu lado a minha vida toda… Então não me abandone agora! Eu preciso contar o que sinto a você, então acorda logo… Você precisa saber que te amo demais. Por favor, Kamito! Você me prometeu que não morreria. Por favor.

    Ela estava visivelmente envergonhada, seu rosto completamente avermelhado e as bochechas queimando de nervosismo. Lentamente, começou a se inclinar na direção do rosto dele. Seus cabelos deslizaram sobre a bochecha de Kamito, e seus olhos jamais se afastaram dos dele. Fechou os olhos, tomada pela emoção, e, num gesto inesperado, depositou um beijo suave em seus lábios.

    Era a primeira vez que os lábios de ambos se tocavam.

    Pouco depois, ela se afastou, observando-o com o rosto ainda corado, mas agora com um leve e tímido sorriso. Aquele pequeno instante de paz, no entanto, foi interrompido pelo som da porta se fechando. Akane se virou de repente, assustada. Alguém provavelmente havia visto tudo.

    — Então você finalmente tomou a iniciativa?! — disse uma voz familiar, bem-humorada — Quem diria que você seria a primeira a contar, mas é uma pena que tenha sido com ele desacordado.

    A pessoa que havia entrado no quarto era Ryruka. Ela estivera ali por alguns minutos, quieta, observando tudo sem interromper. Havia um leve sorriso em seu rosto, como se estivesse genuinamente feliz por ver Akane demonstrar seus sentimentos tão abertamente, mesmo que a situação a deixasse bastante envergonhada.

    — Como ele está? Alguma reação? Eu vim assim que soube de tudo.

    — V-V-Você viu tudo?! N-Não é o que parece!!! P-Por favor, não interprete errado!!! — Akane respondeu, nervosa — Bem… Ele já está fora de risco, mas ainda não acordou. Raishi disse que o motivo disso pode ser por ele ter se esgotado. Eu já o curei, mas agora só depende de ele recuperar sua energia.

    Ela lançou um breve olhar para Ryruka, sem jeito, mas logo voltou a olhar para Kamito, acariciando sua mão com delicadeza. Sentia que não precisava mais esconder o que sentia, pois tudo o que mais queria naquele momento era que ele abrisse os olhos. Ela então sorriu, mesmo cansada.

    — Mas, mudando de assunto, onde está o Yujiro? Ele veio mais cedo e não ficou por muito tempo. Disse que tinha assuntos a resolver e voltaria assim que acabasse. Pensei que ele viria com você, mas eu estava enganada.

    — O Yujiro veio aqui?! Que estranho… — Ryruka comentou — Provavelmente ele devia ter alguma investigação para fazer, mas não se preocupe com isso. Agora você tem outra preocupação: esperar esse idiota acordar. Só ele sabe quem realmente fez isso, então precisamos que ele acorde o mais rápido possível.

    Ryruka olhou para Kamito seriamente, ela aparentava estar levemente preocupada, pois sabia que a visita de Yujiro não era apenas uma visita qualquer. Ela se aproximou da janela e ficou de costas para Akane, observando a cidade enquanto pensava.

    — Eu sei… Por algum motivo, Raishi parece estar escondendo a verdade de mim. Ryruka, por favor me conte o que está acontecendo! Eu não vou fazer nenhuma loucura, só quero saber a verdade! Eu te imploro!

    Ela se virou para a outra garota com um olhar perdido. Ryruka a encarou por alguns instantes, séria, sem demonstrar reação. Akane, no entanto, continuou insistente. Ela só queria respostas.

    — Akane… eu não deveria te contar isso, mas sei que você não é tão imprudente como o Kamito, por isso vou te dizer. Porém, você não pode dizer isso a ninguém. Dane-se o que o meu irmão diz, apenas não comente nada a ele e nem demonstre que você sabe disso.

    Ryruka se aproximou lentamente, com um tom sério e misterioso. Rapidamente, olhou para a porta e, em seguida, para Kamito. Ao confirmar que estavam sozinhas, voltou o olhar para ela, que a observava com mais calma e alívio.

    — Eu ouvi o meu irmão e “aquela” amiga dele conversando mais cedo sobre algo, e acho que pode ter ligação com esse ataque. Pelo que ela falou, um grupo perigoso do Extra-Mundo está aqui na Terra. — Mesmo estando sozinhas, Ryruka falava quase que num sussurro — Esse ataque ao Kamito pode estar relacionado a eles. Eu não sei o motivo e também não pude ouvir muito mais que isso. Ao que parece, eles estão escondendo isso. E se o Raishi realmente não quer nos envolver, significa que é extremamente perigoso. Infelizmente, o Kamito acabou pagando por isso.

    — Entendo… Então, no fim o que ele disse era mentira. O que mais ele escondeu? Por que o Kamito teve que passar por isso?! Ele nunca confiou em nós!

    Akane estava realmente revoltada, e Ryruka compreendia seu sentimento. Ainda havia muitas coisas não ditas. Akane apertava as mãos com raiva, encarando-a em silêncio. Ryruka fechou os olhos e respirou fundo.

    — Por mais que eu odeie concordar com meu irmão… Ele estava certo em não ter envolvido vocês ainda mais nos assuntos do Extra-Mundo. Vocês são apenas humanos que, de alguma forma, desenvolveram Manifestações Espirituais. Infelizmente, não ter contado tudo também colocou vocês em perigo. Foi uma escolha que vocês aceitaram e ele os respeitou.

    Ela abriu os olhos e caminhou lentamente até a porta, parando de costas para Akane. A garota não a encarava, pois não saberia o que dizer se fosse questionada sobre mais alguma coisa. Ryruka então saiu sem olhar para trás, deixando Akane sozinha novamente naquele quarto de hospital.

    Akane desviou o olhar da porta e voltou a se sentar ao lado de Kamito. Estava determinada a permanecer ali, esperando por ele.

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