Capítulo 30 — Retaliação — parte 1
Longe do hospital, num beco escuro e coberto de sujeira, uma briga violenta acontecia. Havia sangue espalhado pelo chão e pelas paredes. Um homem corria com a mão pressionando o ombro esquerdo, ferido, até ser puxado por algo que se enrolou com força ao redor do seu pescoço. Não teve tempo de gritar. Em poucos segundos, Yujiro emergiu das sombras, segurando um chicote envolto em energia espiritual. Ele o havia perseguido desde que saíra do hospital.
— Irei perguntar novamente. Ontem, a luta entre dois Extra-humanos devastou um bosque aqui perto. Você viu quem foi o responsável por isso?! — disse, com a voz firme e sem demonstrar paciência — Acho melhor não testar meu humor.
Yujiro estava sério. Mais do que o normal. Ele sempre foi calmo, mas agora parecia mais direto, até agressivo. Ele usaria qualquer método para descobrir quem era o responsável pelo ataque e, principalmente, o que ele queria.
— E-E-Eu não sei de nada!!! P-Por favor, me deixe ir! Eu juro que não sei!!!
O homem estava em pânico. Yujiro puxou o chicote com mais força, apertando seu pescoço até ele perder o ar.
— Por algum motivo, eu acho que você está mentindo. Sua vida miserável não me importa, mas te darei uma chance para contar o que sabe e, se tiver sorte, sua morte não será dolorosa.
Ele começou a puxar o chicote para perto, forçando o homem a se aproximar. Pouco antes de sufocá-lo, afrouxou o laço. O homem caiu de joelhos, respirando com dificuldade enquanto o encarava seriamente.
— Vamos, fale!!! Não me obrigue a te matar sem ter essa informação!!! Quem foi que devastou a floresta?! Diga de uma vez ou eu não terei mais piedade!
— Mais que droga! Tá, tá, tá, eu falo! Foi… Foi… Foi um homem chamado Coiote. Dizem que desde que ele chegou aqui na cidade, ele procura por pessoas fortes para lutar. Mas ninguém nunca o viu pessoalmente.
Ele estava bastante assustado e temia pela própria vida. Sua única forma de tentar escapar era cooperar com Yujiro, pois talvez assim tivesse uma chance de sair com vida daquele beco.
— Coiote?! Não consegue ser mais preciso?! Tem mais alguém com ele?!
Ele agarrou o homem pela gola, o levantando. O outro mal conseguia se sustentar, e Yujiro o encarava com raiva. Mas bastou olhar em seus olhos para saber que ele não sabia de mais nada. Yujiro o soltou, jogando-o para trás. O homem caiu sentado, tremendo.
— Parece que você não é mais útil para mim. Não leve para o lado pessoal, é apenas uma justificativa para o meu mau humor. Como prometido, sua morte não será dolorosa.
— N-Não! Não! Por favor, não! Eu imploro! Eu disse tudo que eu sei! Por favor! Olha, talvez ele esteja pelo distrito norte… Dizem que ele costuma estar por lá. Não precisa ser assim!
O homem tentou se arrastar para longe, desesperado, mas Yujiro apenas caminhou lentamente até encurralá-lo contra a parede.
— Não precisa ser assim?! Está de brincadeira?! Meu amigo quase morreu e você me diz que não precisa ser assim?! Sinto muito, mas eu mudei de ideia quanto a te matar sem dor.
Yujiro soltou o chicote preso à cintura. Assim que o desenrolou, espinhos de pedra se formaram ao longo dele. O homem congelou, apavorado. Sem dizer mais nada, Yujiro começou a atacá-lo. Cada golpe o fazia gritar, mas os espinhos o petrificavam à medida que os golpes o atingiam. Em segundos, o corpo do homem se despedaçou.
— Ora, ora, mas que bagunça você fez aqui. Conseguiu o que queria, Yujiro?!
Uma voz familiar chamou sua atenção sem parecer surpresa. Isso fez com que ele se virasse para ter confirmação de quem era. Ao se virar, notou a presença de Ryruka. Ela havia ido à sua procura após sair do hospital, pois sabia exatamente o que ele faria para encontrar respostas.
— Você pretendia fazer tudo sozinho de novo?! Pelo visto, você ainda não lida bem com a perda de um companheiro — ela dizia calmamente — Mas não se preocupe, eu não vim para te impedir, e sim para te ajudar.
— Ryruka? Não deveria estar aqui. Hoje é o encerramento das aulas, a escola precisa de você. Posso cuidar disso sozinho, não precisa se preocupar.
Ele caminhou lentamente até a garota, mas, quando passou ao lado dela, ela segurou sua mão direita, fazendo-o parar e olhá-la, confuso.
— “A escola precisa de mim”?! Você realmente disse isso sendo que o Kamito também é meu amigo?! Você acha que eu não me importo?! Não dou a mínima para escola! Eu vou te ajudar!
Os dois se encararam seriamente enquanto se analisavam. Ryruka e Yujiro, por mais próximos que parecessem ser, possuíam uma certa competitividade em relação às notas na escola e, principalmente, sobre os assuntos ligados ao Extra-Mundo. Situações como aquela deixavam isso ainda mais claro.
— Não precisa se preocupar, não irei te atrasar. Vamos, o que você descobriu?
— Quem atacou o Kamito é conhecido como “Coiote”. Pelo que nosso amigo ali disse, ele costuma frequentar o distrito norte. Eu pretendia investigar mais o local para descobrir mais informações, mas ainda é muito cedo para isso. E a Akane… Ela já sabe de algo?
Yujiro ajeitou calmamente os óculos com a mão esquerda e caminhou lentamente, sendo acompanhado por Ryruka. Ao que parecia, os dois realmente trabalhariam juntos para lidar com algo muito mais importante do que a competitividade entre eles.
— Eu contei o suficiente a ela. Por mais que ela e o Kamito estejam envolvidos, não acho que devemos deixá-la participar disso. — Ela dizia sem o olhar diretamente, com o pensamento longe, pensando na situação da garota — Meu irmão está escondendo a verdade, então cabe a nós dois cuidarmos disso. Por mais que eu odeie admitir, eu devo isso ao Kamito.
Ela o acompanhou por uma pequena rua estreita. Apesar de todas as diferenças, eles se entendiam. Ryruka então parou por um momento, o que fez Yujiro também parar e olhá-la com certa preocupação.
— Yujiro, estamos por conta própria… Então, por favor, não faça nada precipitado… Não quero te perder. Ver a Akane naquele estado me deixa angustiada, principalmente porque podemos ser os próximos. Temos que nos preparar ao máximo para revidarmos à altura.
O clima daquele dia fatídico ficava cada vez mais pesado. De um lado, Akane torcia para que Kamito se recuperasse logo. Do outro, Yujiro e Ryruka se mantinham apreensivos com o futuro e as escolhas que ainda teriam de fazer. A noite logo caiu, encerrando um dia que mais parecia um pesadelo. As férias finalmente haviam começado, mas ninguém estava no clima para comemorar.
Durante a noite, Akane recebeu a visita de sua mãe e de suas irmãs. Elas queriam notícias sobre o estado de Kamito, e se já havia alguma previsão de melhora, mas infelizmente as notícias eram as mesmas. As horas passavam, e não havia estimativa de quando ele poderia acordar.
Três dias se passaram desde que Kamito entrou em coma. O clima continuava pesado e tenso. Ele ainda não dava sinais de melhora, e isso começava a preocupar a todos. Yujiro e Ryruka não haviam sido vistos desde a última visita ao hospital. Nem mesmo Raishi e Ruby apareceram novamente. Akane começava a pensar que havia sido abandonada, e que talvez eles já não se importassem mais com Kamito.
Mas ela estava errada. Nos arredores do distrito norte, Yujiro continuava sua busca por informações, interrogando alguns Carniceiros que frequentavam o local. Tanto ele quanto Ryruka haviam passado aqueles dias vasculhando cada pista possível. A cada interrogatório, estavam cada vez mais próximos de descobrir o que realmente queriam.
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