Capítulo 37 — Primeiro Movimento
O treinamento seguia cada vez mais intenso. Dominar uma Relíquia Espiritual levava tempo, e isso era algo que Kamito e Akane não tinham. Precisavam se apressar. Estavam em um jogo onde aguardavam o primeiro movimento de um dos lados, e quem tivesse a melhor estratégia sairia vitorioso.
Enquanto isso, Ryruka e Yujiro permaneciam no Distrito Norte. Haviam coletado informações que poderiam ser de grande ajuda. Já era tarde, e o clima estava agradável. Os dois caminhavam por uma rua pouco movimentada enquanto conversavam.
— Há quantos dias estamos aqui? Dez? Treze?! Acho que já temos o suficiente, Yujiro. — disse Ryruka, um pouco cansada.
Fazia dias que ela não dormia direito ou comia uma refeição decente. Apesar disso, não queria demonstrar cansaço, pois também desejava vingar seu amigo.
— Não sei se você notou, mas há cinco dias a energia do Kamito voltou. E, ao que parece, está aumentando cada vez mais. Provavelmente o meu irmão deve estar o treinando para dominar a sua Relíquia. Possivelmente o que ele sabe deve bater com tudo que conseguimos. — comentou Yujiro.
— Eu também senti isso. Você tem razão. Melhor voltarmos e juntarmos as informações que temos. Provavelmente o Raishi já deva ter mais informações. Sabemos quem atacou o Kamito, agora resta saber o motivo de estarem aqui.
Yujiro caminhava pensativo. Disfarçadamente, olhou para a esquerda e logo voltou os olhos à frente. Sentia claramente que estavam sendo espionados.
— Enfim! Não aguentava mais ser ignorada. Você chega a me dar nos nervos!
Reclamou Ryruka, notando que ele ainda não a ouvia. Irritada, o puxou pelo braço, forçando-o a encará-la. Yujiro então olhou nos olhos dela e falou em voz baixa:
— Antes de voltarmos, eu pretendo dar um jeito nesse espião que nos observa há três dias. Eu achei que era apenas minha imaginação, mas agora eu posso sentir bem sua energia. Não demonstre que você sabe que descobrimos, vamos para um local reservado.
Soltando-se em seguida, Yujiro ajeitou suas roupas com naturalidade e voltou a caminhar, desta vez um pouco mais devagar, enquanto começava a bolar uma estratégia para enfrentar o inimigo.
— Então era esse o motivo das suas desconfianças e análises?! — começou a falar Ryruka, determinada — Se chamamos a atenção dele, ele com certeza é aliado do homem que atacou o Kamito. Hora de darmos o troco!
Ela o seguiu enquanto, discretamente, ativava sua habilidade de rastreamento. No entanto, conseguiu apenas uma leitura fraca e imprecisa da localização do espião, o que a surpreendeu. Percebera então que estavam lidando com alguém que possuía uma camuflagem quase perfeita.
— Parece que nosso amigo já está usando sua Manifestação. Eu jamais poderia imaginar que existisse uma Manifestação Espiritual de camuflagem… Eles são realmente perigosos.
Continuaram caminhando com naturalidade até uma rua vazia. Não queriam que o inimigo notasse que havia sido descoberto. Do outro lado, Camaleão os seguia cuidadosamente. Ao vê-los naquela rua silenciosa, invocou seu chicote e começou a se aproximar com cautela, preparando-se para atacar.
Ela moveu o braço esquerdo e lançou uma chicotada em direção à Ryruka, que rebateu rapidamente com uma flecha de gelo. Em seguida, Ryruka passou a disparar uma sequência de flechas contra a adversária, que esquivava-se com agilidade e destruía algumas com seu chicote. Foi então que Camaleão percebeu que Yujiro havia desaparecido. Quando se deu conta, ele já estava atrás dela.
Ela tentou contra-atacar com o chicote, mas Yujiro fez o mesmo. As armas se entrelaçaram, e ambos começaram a puxar com força.
— Vou criar uma barreira Espiritual. Pelo visto, essa luta não será tão tranquila. — Murmurou Ryruka, com os olhos fixos na disputa de forças.
Ela então reuniu energia na mão direita e a ergueu lentamente, formando uma esfera espiritual que rapidamente se expandiu, cobrindo boa parte da rua e das casas ao redor.
— Por que não se revela?! Alguém como você deve ser muito bom no que faz, pois nos seguiu por três dias. Mostre a cara, Manifestador da camuflagem. — A garota exigiu.
Yujiro continuava puxando o chicote com firmeza. Sentia a resistência da oponente, o que o ajudava a rastrear sua posição exata. Estava pronto para prendê-la ao chão, se necessário.
— Então vocês me notaram?! — disse a inimiga — Já esperava que vilões como vocês pudessem me notar com trapaças. Mas vocês não terão tanta sorte! Pois eu, Camaleão, irei acabar com vocês!
Ela desativou sua Manifestação e mostrou-se por completo. Parecia mais jovem que os dois, e sua aparência frágil e delicada escondia sua verdadeira natureza. Encarou Yujiro com intensidade e puxou o chicote com força, fazendo com que ele fosse obrigado a soltá-lo.
— Uma criança?! — exclamou Ryruka, surpresa — Eu esperava alguém mais assustador, mas não importa. Você disse se chamar “Camaleão”, então você é companheira do homem que se chama “Coiote”, estou certa?
Ela mantinha seu arco firmemente apontado para a garota, séria e pronta para disparar ao menor sinal de ameaça. Precisava de respostas, e rápido.
— Algum problema por eu ser uma criança?! Eu posso ser muito mais assustadora que qualquer um!!! — a garota respondeu, indignada — Vocês não têm ideia de com quem estão lidando! E se falaram do Coiote, isso só quer dizer que vocês já querem se intrometer nos nossos planos!!! Não vou permitir!
O olhar dela ficou subitamente frio e determinado. Ryruka não hesitou, disparou uma sequência de flechas. Camaleão rebateu todas com seu chicote e, num piscar de olhos, sumiu da vista. Reapareceu atrás de Ryruka, prestes a golpeá-la. Yujiro, atento, agiu rápido e acertou a mão da oponente com seu chicote.
— Não esqueça que você está em desvantagem. Acho melhor você começar a levar isso a sério, ou terei que pegar leve com você?! Não importa. De toda forma, nós iremos te vencer! — declarou, confiante.
Ele então pisou com força no chão, fazendo várias estacas de pedra emergirem sob os pés da Camaleão. A garota saltou para evitar o impacto, mas Yujiro conseguiu enroscar a ponta de seu chicote na perna esquerda dela e puxou com força, lançando-a contra as estacas. Ryruka se afastou rapidamente do local.
— Você ao menos poderia ter dito algo como: “Ryruka, desvie!” ou “Ryruka, cuidado!” — ela reclamou, irritada — Mas não, você sempre tem que lutar como se estivesse sozinho. Tudo isso só por que sou melhor que você?! Não precisa ter vergonha disso. Todos sabem que você ocupa o segundo lugar.
Ela estava visivelmente irritada, sem tirar os olhos de Yujiro enquanto tirava a poeira de suas roupas. Depois, voltou a atenção para o ponto do impacto. A nuvem de poeira ainda encobria a visão e não havia sinal de energia vindo dali.
— Foi fácil… Espero que ela não tenha morrido com o impacto. — Ryruka exclamou surpresa com a facilidade da vitória.
— Concordo. Foi fácil até demais… Devemos ter cautela, não sabemos os limites dela. Estou certo de que esse golpe não a matou, deve tê-la feito desmaiar.
Yujiro se aproxima tranquilamente dela, mantendo os olhos fixos na cortina de poeira. Tinha sido muito mais fácil do que ele planejou e isso era muito bom, pois ele não precisou lutar a sério contra aquela garota, que aparentava ser mais forte que eles.
— D-Desgraçados… Jamais irei perdoá-los! Vocês irão pagar!!! Vocês realmente irão pagar!!!
Camaleão cortou a nuvem de poeira com um único movimento do seu chicote. Ela estava completamente irritada. As roupas estavam sujas e rasgadas em alguns pontos, o rosto exibia alguns arranhões e, pior ainda, o cabelo estava todo bagunçado. Sua expressão era de puro ódio.
Sem perder tempo, ela avançou contra os dois. Num movimento rápido, esticou a perna esquerda, já carregada com uma boa quantidade de energia espiritual.
— Chameleon Kick!!!

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