Capítulo 38 — Inimiga Capturada
Aquele golpe surpresa os deixou completamente sem reação. Antes que alguém pudesse fazer qualquer coisa, Ryruka empurrou Yujiro para longe, recebendo todo o impacto. O poderoso chute atingiu seu estômago em cheio, fazendo-a cuspir uma enorme quantidade de sangue enquanto era arremessada para trás.
Yujiro se levantou desesperado e gritou por ela. Tentou correr em sua direção, mas Camaleão apareceu à sua frente com um olhar sério e frio. Ela não permitiria que ele passasse.
— Se quiser ver como a sua amiguinha está, terá que passar por mim!!!
— Então você finalmente vai lutar a sério?! Ainda bem, pois você pagará pelo que fez à Ryruka.
Eles se analisaram atentamente enquanto apertavam os chicotes. Apesar de semelhantes, as Relíquias que empunhavam possuíam propriedades e habilidades únicas. E até aquele momento, Yujiro ainda sabia muito pouco sobre a de sua inimiga.
Rapidamente, os dois começaram a se golpear enquanto se movimentavam.
— Você é bom, mas não tão bom quanto eu, vilão! Tome isso! Chameleon Tail!
Camaleão se posicionou sobre uma parede e recolheu o chicote. Em seguida, lançou-o em linha reta, a poucos metros de Yujiro. O chicote então ficou invisível, impossibilitando qualquer reação imediata. Yujiro tentou se afastar com um salto, mas o chicote já havia se enrolado em sua perna direita.
Ao perceber que o havia pego, Camaleão o arremessou contra o muro de uma casa, que se destruiu por inteiro. Em seguida, ela caminhou tranquilamente até o local, esperando encontrá-lo morto.
— O que acha disso, vilão?! Ninguém é capaz de escapar dos meus golpes!
Yujiro se levantou em meio aos escombros, sujo e sangrando, mas com o olhar firme. Ele a encarou seriamente e cuspiu um pouco de sangue. Estendeu então a mão direita e, enquanto a observava, uma vestimenta azul tomou seu corpo. A roupa lembrava um quimono budista. Seu chicote se formou mais uma vez em sua mão, mas agora repleto de espinhos de pedra.
Camaleão o observou, impressionada por ele ainda conseguir ficar de pé depois de receber aquele golpe.
— Você é mesmo forte. Ninguém que recebeu esse golpe conseguiu ficar de pé de novo.
Ela não conseguia acreditar no que via, mas aquilo serviu como um alerta: seu adversário era muito mais forte do que imaginava. Inconscientemente, ela recuou, embora não demonstrasse qualquer intenção de fugir.
— Você não me assusta. Você é apenas mais um vilão, então deixe-me matá-lo!
Sem dizer uma palavra, Yujiro lançou seu chicote e atingiu o chão próximo aos pés da garota, fazendo um buraco se abrir. Camaleão saltou instintivamente para trás, mas o buraco começou a se expandir em sua direção. Ela então lançou seu chicote em um poste e se puxou para cima dele. Yujiro sorriu e voltou a chicotear o chão e os muros, fazendo várias estacas de pedra avançarem contra a garota. Camaleão desapareceu, tornando-se invisível para escapar da investida.
As estacas colidiram violentamente, provocando um enorme estrondo e levantando mais uma nuvem de poeira. Graças àquela nuvem, Yujiro conseguiu detectar mais um dos ataques invisíveis e se esquivou a tempo. Em seguida, segurou o chicote da oponente com a mão esquerda e o enrolou em seu braço, tentando prendê-la. Quando sentiu que ela o puxava, permitiu que ela o levantasse, esperando ser arremessado. Seu plano era pegá-la desprevenida e contra-atacar no momento certo durante o golpe.
Camaleão se preparou para lançá-lo contra algum objeto, mas antes que conseguisse, Yujiro lançou seu chicote de espinhos, atingindo o braço dela e a puxando com força em sua direção.
— Fim de jogo para você! Agora é a minha vez de atacar! Bloody Rock Dance!!!
Yujiro soltou o chicote preso ao braço dela e começou a girar o seu próprio ao redor do corpo, como se fosse um tipo de proteção. Camaleão tentou escapar, mas foi puxada pelo seu próprio chicote, sendo arrastada para dentro da dança de espinhos.
— “O que acha disso”, Camaleão?! — Yujiro falou com sarcasmo em sua voz — Ninguém é capaz de escapar da minha Dança da Rocha Sangrenta!!! Eu levei anos até aprimorar e aperfeiçoar tal técnica. Sinta-se honrada.
— D-Droga… N-Não valeu! Você… t-trapaceou! Você não se importa de bater em uma garota? Ainda mais uma criança?!
A garota foi arremessada para trás, ferida, e caiu de costas no chão, quase inconsciente. Enquanto isso, Yujiro finalizou o golpe e caiu de joelhos, ofegante e exausto.
— Eu apenas usei seu despreparo a meu favor. Sua Manifestação é incrível, principalmente combinada à sua Relíquia… — parou brevemente para respirar — Porém, usá-la em meio à poeira foi um erro. Seus ataques acabaram deixando um rastro e revelaram o trajeto. Se não fosse pela poeira, eu teria perdido. Você é muito boa, Camaleão, mas ainda te falta experiência em combate.
Yujiro estava bastante cansado por conta dos golpes sofridos. Ele então desfez suas Vestimentas Espirituais e se sentou no chão. Por um momento, olhou para o céu com alívio, mas ao voltar o olhar para frente, percebeu que a garota não estava mais lá. Quando se deu conta, ela já estava em suas costas, pronta para atacá-lo.
Ele sequer teve tempo de reagir àquela velocidade. Ryruka surgiu no último instante e disparou várias flechas de gelo que a acertaram em cheio. As flechas criaram uma camada de gelo, prendendo os braços da garota ao corpo. Para garantir que ela não escapasse, Ryruka disparou mais uma vez, fortalecendo a prisão com outra camada de gelo. Ela então se aproximou dos dois, caminhando um pouco devagar por conta do golpe que havia recebido.
— O que seria de você sem mim, Yujiro?! — a garota disse enquanto ajeitava o arco — Me agradeça depois.
— Aaaaahhhhh! Me solta! Isso não vale! — Camaleão gritava e esperneava, tentando de tudo para escapar, mas falhou — É injusto! Muito injusto! Me solta! Me solta! Me solta!
Ryruka parou ao lado de Yujiro, e os dois encararam a Camaleão, que ainda se debatia. Yujiro não queria demonstrar, mas estava realmente grato por Ryruka ter salvado sua vida.
— Eu vou sair disso! — ela gritou, raivosa — E quando sair, vou fazer com que não se levantem mais!
— Desista. — Respondeu Ryruka, mantendo o olhar firme sobre ela — Não tem como você escapar. Você me pegou desprevenida naquele momento, mas eu pude amortecer o impacto e desenvolver uma prisão de gelo mais eficiente enquanto vocês lutavam. Só há uma pessoa capaz de escapar dessa prisão, e ela não é você.
Ela então desfez seu arco e, com a mão esquerda, jogou os cabelos para o lado num gesto de exibição. Logo após, estendeu a mão direita para ajudar Yujiro a se levantar.
— Eu sabia que você não seria vencida com um golpe daqueles… — ele disse ao segurar sua mão — Mas você demorou. Alguns segundos a mais e eu estaria morto. Tenho quase certeza de que era o que você queria.
Ele se levantou com a ajuda dela e olhou para a Camaleão, que ainda tentava escapar da prisão de gelo. Aquilo mais se parecia com uma camisa de força. Então, se aproximou da garota.
— Agora nos conte sobre o Coiote e seus aliados. — Falou com firmeza — Se nos ajudar, prometo te tirar disso e aperfeiçoar suas habilidades em combate. O que me diz?
— Bem… Eu jamais vou contar! Nunca! Nunca! Nuncaaaa!!! — a garota gritou novamente — Não vou trair meus companheiros! Podem me matar, vilões! Eu jamais direi uma única palavra sobre a Ordem dos Cavaleiros Brancos! Eeeh… Esqueçam isso! Eu não disse nadaaa!!! Esqueçam!!!!
Ela voltou a se debater enquanto gritava. E, pelo tom em sua voz, não parecia estar fingindo ao tratá-los como vilões. Yujiro se aproximou e tapou a boca dela com a mão para que parasse de gritar e o escutasse.
— Não sei se você percebeu, mas seus “companheiros” te mandaram para a morte certa. — Yujiro disse com seriedade — Nesse jogo, você não passa de um pião para eles. Você nunca teria chance contra dois Manifestadores. Aceite a minha oferta. Podemos nos aliar, e eu ainda irei te treinar.
Yujiro a encarou com firmeza. A garota tinha sido usada, e nem fazia ideia. Ryruka permaneceu em silêncio, apenas observando. Sabia que ele conseguiria convencê-la.
— Abra seus olhos. — Continuou — Eles te usaram para que você ganhasse tempo para eles, confie em mim. Se realmente fôssemos os vilões, você não estaria viva. Então, o que você me diz? Vai nos ajudar?
— N-Não pode ser verdade… — murmurou Camaleão, visivelmente abalada — A Ordem sempre foi meu lar, por que me usariam?! Eles me acolheram como se eu fosse da família, por que me mandariam para a morte?!
Ela começou a balançar a cabeça, tentando rejeitar o que ouvira. Não queria aceitar que aqueles que considerava como família haviam a enviado para uma emboscada.
— Se isso for verdade, eles nunca se importaram? E-Eu… Eu vou ajudar vocês.
Ainda não acreditava totalmente no que acabava de ouvir, mas concordou, ao menos para tirar suas próprias conclusões. Yujiro então pediu para Ryruka retirar a prisão de gelo. Ela hesitou por um instante, mas logo obedeceu. Camaleão não tentou atacá-los. Pelo contrário, parecia perdida, sem entender como podiam confiar em alguém que quase os matou.
Ryruka virou de costas para a garota e desfez a barreira Espiritual que protegia o local. Em seguida, disse para irem ao encontro de seu irmão, pois agora tinham algo muito mais importante do que várias informações desordenadas. Yujiro e Ryruka começaram a caminhar. Camaleão, ainda relutante, decidiu segui-los por conta própria. Talvez, no fundo, estivesse começando a acreditar no que Yujiro havia dito.
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