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    De volta ao campo de treinamento, Raishi permanecia de pé, observando os dois com atenção. Estavam exaustos, mal conseguindo se manter de pé. Segundo ele, aquele treinamento era o que os colocaria no mesmo nível dos inimigos que enfrentariam em breve.

    Kamito estava sentado, ofegante, enquanto Akane repousava com a cabeça encostada em seu ombro esquerdo. Ela havia adormecido, o que não era surpresa, considerando que passara todos aqueles dias acordada no hospital e agora havia utilizado uma quantidade imensa de energia. Ela merecia aquele descanso.

    — Acho que isso é tudo, por enquanto.  — Disse Raishi — Eu lhes ensinei tudo que precisam para a próxima batalha. Kamito, sua rajada de energia está incrível… Que tal nomear seus novos golpes com os nomes relacionados ao “Céu”? A Ordem é composta por doze membros e cada um deles escolhe o nome de um animal que os representa. Você pode ser o Lobo, aquele que os caçará. Antes a Ordem era um grupo honrado e heroico, mas com o tempo ela perdeu seu significado e se corrompeu. Você pode provocá-los fazendo o que eu digo.

    O tom de sua voz era sério. Ele queria atingir a Ordem em cheio, e aquela nomenclatura parecia ter um significado mais profundo, que Kamito ainda não compreendia. Raishi então se aproximou e sentou-se à sua frente. Seus olhos estavam fixos nele, como se alguma lembrança distante estivesse se manifestando em sua mente naquele instante.

    — Você é rápido, forte e tem a garra de um lobo, sem falar que “coiote contra lobo” soa muito legal. — Continuou — Vamos, aceite. Não é mais nenhum tipo de piada.

    — Lobo?! — Kamito respondeu após pensar um pouco — Acho que deve fazer um pouco de sentido. O homem que me atacou se chamava Coiote, então se eu me nomear “Lobo” seria uma boa provocação. Já sei como chamarei a minha nova técnica! Logo eu o farei pagar pelo que fez. Me aguarde, Coiote.

    Kamito se mexeu com cuidado, para não acordar Akane. Sua respiração era calma e tranquila. Ele já havia causado preocupações demais e não queria perturbar aquele descanso. Na verdade, ela merecia muito mais do que apenas repouso.

    — Ei, Raishi… — começou a dizer com a voz mais baixa — Quando eu estava no meu interior, o local estava todo destruído e fragmentado. E o pior de tudo era que não havia só a minha Relíquia. Havia outra, uma espada negra. Também havia um homem idêntico a mim, mas seus cabelos eram negros e os olhos eram azuis. Ele me chamou de fraco e impostor, e disse que tomaria o meu corpo. Por que isso aconteceu? Quem era ele? Por que ele estava lá? Por qual motivo ele era idêntico a mim?

    — Você viu uma personificação de tudo que você teme. Algumas pessoas também conseguem ver essa forma. É o resultado desse treinamento, afinal, ele consiste em o Manifestador se encontrar com seu espírito. Eles tentam fazer você não se sentir capaz e acabar desistindo. Muitos não conseguem suas Relíquias por conta disso. Mas não precisa se preocupar, ele não deverá voltar, já que você despertou sua Relíquia e se encontrou. Está tudo bem. — Raishi dizia tudo de forma calma, porém firme.

    Apesar das palavras, o olhar de Raishi ainda era sério e pensativo. Logo ele desviou o olhar e se levantou em silêncio, caminhando lentamente para longe. Foi até onde Ruby estava, sentada, lendo um livro enquanto tomava chá. Ela o observou com um sorriso, colocou a xícara sobre a mesa e fechou o livro rapidamente, voltando sua atenção completamente para ele. O homem a encarava, como sempre, sem demonstrar qualquer emoção.

    — Eles não são lindos?! — Ruby falou sorridente — Me faz lembrar o tempo que nos conhecemos. Você bem que poderia ser mais romântico comigo! — Mas, mudando de assunto, o que te preocupa? O que vocês conversaram? Parece que tem algo te incomodando. Por acaso eles desistiram?

    Ela o olhava de forma provocante, sem desviar os olhos. Seu sorriso de canto, que realçava os lábios, era capaz de enlouquecer qualquer homem.

    — Não foi nada… apenas sobre o treinamento. — Ele respondeu a encarando — Eu te disse que eles escolheriam seus caminhos, e posso afirmar que estão prontos. Kamito atualmente está mais forte do que aquele homem quando tinha a mesma idade dele. Se os tempos fossem outros, com certeza Kamito seria um membro da Ordem. Talvez por isso eu tenha dado a ele o nome de “Lobo”.

    Ruby o encarou surpresa. Seus olhos se arregalaram, e a expressão de choque tomou o lugar do olhar sedutor e provocante de antes. Ela não conseguia acreditar que Raishi havia feito algo tão sério. Dar um nome da Ordem a um humano era praticamente proibido.

    — Raishi! Isso é algo extremamente sério! Você não podia ter dado um fardo tão grande assim para ele! Ele é só um garoto! Dar o nome do Lobo a ele foi assinar sua sentença de morte! O que você pretende fazer?! Usar ele para matar todos os membros da Ordem?!

    Enquanto os dois discutiam, Kamito permanecia sentado, refletindo sobre o que Raishi lhe dissera. Não precisava se preocupar, então fechou os olhos, sentindo o vento soprar suavemente sobre o rosto. Akane se mexeu em seu ombro, e ele abriu os olhos na direção dela. Parecia que ela havia acordado, talvez por algum movimento brusco seu. Kamito levou a mão até seu rosto e acariciou-o com delicadeza ao vê-la despertar.

    — Desculpa por te acordar… Pode voltar a dormir se quiser, Akane. — Sussurrou, com um leve sorriso no rosto.

    Akane negou com a cabeça calmamente e o olhou com um sorriso leve, sentando-se ao seu lado. Ele sorriu, um pouco envergonhado. Aquele era o primeiro momento a sós que tinham desde o início do treinamento. Coçou a cabeça, visivelmente nervoso, enquanto a encarava.

    — Tudo bem, eu quero ficar acordada, quero ficar com você…  — ela respondeu, suavemente — Desde que você acordou, não tivemos um momento juntos. Sem falar que logo teremos mais uma batalha. Quero aproveitar esse tempo para passar com a pessoa que eu amo, então não me importo de estar cansada.

    Akane estava com o rosto levemente corado, mas era notório que sua vergonha de dizer que o amava estava desaparecendo aos poucos. Ela sorriu, levou a mão ao bolso esquerdo e pegou uma pequena caixinha.

    — Kamito, no dia que você foi atacado eu… eu comprei um presente para você. Não só para você, na verdade. São para nós. Um par de pingentes, um azul e um dourado. Eu queria usá-los com você.

    — Pingentes?! — ele repetiu surpreso — É claro que eu usarei, Akane. Não por ser um presente, mas por ser da pessoa que eu amo. Quero aproveitar esse tempo com você.

    Ele a observou abrir a caixinha, revelando os dois pingentes. Eram lindos. Akane pegou o pingente azul e o entregou a Kamito. Ele o analisou com cuidado antes de colocá-lo no pescoço. Assim que terminou, olhou para ela, agora com o pingente visível. Ela sorriu novamente e lhe entregou o dourado, pedindo com um gesto que ele colocasse nela. Akane levou o cabelo para o ombro esquerdo, deixando o pescoço à mostra. Kamito, com cuidado, colocou o pingente em seu pescoço. Sua pele se arrepiou com o toque dos dedos dele, o que o deixou ainda mais nervoso. Quando terminou, ela ajeitou o pingente e voltou a fitá-lo.

    — Eles são lindos. Obrigado, Akane, eu nem sei como retribuir esse presente. — Kamito exibia um tímido sorriso, porém sincero.

    — Você já retribuiu… você não morreu. — Ela respondeu calma, mas com a voz carregada de alívio — E também retribuiu meus sentimentos dizendo que me ama, Kamito. Tudo que eu te disse no passado ainda continua de pé. Eu jamais te deixarei.

    Ela tocou a bochecha esquerda do rapaz enquanto o olhava sorrindo. Seu olhar era calmo e sereno. Aquele sorriso fazia o coração do azulado bater mais rápido.

    — Vamos vencê-los juntos! — a garota disse com fé — E temos algo que nos une ao outro agora, não é?!

    Antes que Kamito pudesse responder, Ryruka, Yujiro e uma garota desconhecida surgiram. Assim que Raishi e Ruby os notaram, se levantaram e foram ao encontro dos três. A movimentação chamou a atenção de Kamito e Akane, que também se levantaram, curiosos para saber quem era aquela garota.

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