Capítulo 41 — A Batalha Começa
Todos os preparativos estavam prontos, era hora de pôr o plano em ação. O objetivo era simples: deter o maior número de membros possível enquanto adentramos no esconderijo da Ordem, destruir o artefato que firmaria a ponte entre os mundos e, o mais importante, ganhar tempo até a chegada do Raishi, que lidaria com o Falcão. Apesar de parecer fácil, todos estavam nervosos. Segundo as informações da Camaleão, cada membro possuía Manifestações poderosas, isso sem contar a alta experiência em combate.
Haviam acabado de completar a primeira parte do plano: se infiltrar na região próxima ao esconderijo da Ordem sem serem detectados. Estavam em uma casa vazia, esperando o momento exato para invadir. Isso deixava todos tensos, pois não havia mais volta. Enquanto estavam apreensivos e pensativos, Kamito pegou seu celular, discou um número e ligou.
— A-Alô?! Oi… Mãe, tudo bem com você?! — ele começou a dizer com a voz trêmula — Por que eu estou ligando? Eu queria poder falar com você antes de tomar uma grande decisão… Sinto sua falta. Queria poder te ver mais vezes.
Ele não sabia ao certo o que dizer e não queria levantar suspeitas. Sentia muita falta dela e, talvez, ouvir sua voz pudesse lhe dar forças. Ela sempre o apoiara em todas as decisões.
— Kamito, você está bem?! Isso tem a ver com a sua internação no hospital?! Pela sua voz, parece ser algo grave, já que você nunca me cobra atenção. É tão sério assim?
A voz da mãe demonstrava preocupação. Ela não hesitaria em largar tudo para vê-lo. Kamito respirou fundo e confirmou. Ela ficou em silêncio por um momento e, antes de responder, também respirou fundo.
— Eu te amo, Kamito. Você é meu único e precioso filho. Espero que o que você esteja prestes a fazer seja o melhor para você e para todos ao seu redor. Não precisa ter medo, meu pequeno. A mamãe sempre estará aqui para você. Só tente não ficar em coma de novo. Eu quase fui aí para te bater. Você é o único que me restou nessa vida, então não ouse cair nunca!
— Eu também te amo, mãe. Não precisa se preocupar, eu não irei mais cair. Dessa vez, sei que consigo sair inteiro… Desculpa por te preocupar tanto. Eu devo ser um filho malcriado.
Kamito riu com o que disse, mas logo foi interrompido. Sua mãe afirmou que ele não era malcriado, que tinha orgulho dele e que teria orgulho do homem que ele ainda se tornaria. Isso o fez sorrir. Suas palavras o motivaram. Após alguns minutos, ela desligou o celular, e ele, ainda pensativo, virou-se para os outros.
— Certo, certo! Hora de irmos! Não importa o que aconteça, nós todos voltaremos vivos. — Ele estampou um sorriso em seu rosto, com um leve tom de riso na voz — Essa é uma promessa. Mesmo que eu tenha que arrastar cada um de vocês de lá, eu não deixarei nenhum dos meus amigos para trás!
Kamito disse tentando mudar o clima para algo um pouco mais animado. Mas quem olhasse com atenção, perceberia que no fundo, ele tentava animar a si mesmo.
— Palavras bonitas, Kamito. Não será isso que nos ajudará no campo de batalha, mas elas realmente me motivaram. Eu também não deixarei nenhum de vocês para trás. Voltaremos todos para casa. Podemos estar em desvantagem, mas nunca nos renderemos!
Ryruka caminhou até o centro da sala enquanto discursava. Suas palavras fizeram Camaleão começar a aplaudi-la e elogiá-la. Em seguida, ela se aproximou de Yujiro, que bolava uma estratégia para ganhar tempo.
— Está na hora! São exatamente 13h00, precisamos ir. Camaleão, esse é o horário exato que todos os cantos do esconderijo ficam sem vigilância, certo?
— Sim. Segundo o que o Coruja dizia, nessa hora do dia os seus lacaios repousam. Temos exatamente meia hora até eles serem reativados. — explicou Camaleão, enquanto os seguia.
A garota estava com medo. Haviam se passado apenas três dias desde que deixara a Ordem, e agora estava ali, ao lado de estranhos, prestes a atacá-la.
— O local não é longe daqui. Se formos rápidos, teremos quinze minutos até que eles sejam ativados, mas temos que correr se quisermos chegar a tempo.
O grupo saiu da casa e partiu em direção ao esconderijo. Era hora de mostrar à Ordem que aquela cidade não seria deles, nem hoje, nem nunca. Camaleão os guiava por becos e ruas menos movimentadas, mas havia algo estranho no ar. Tudo parecia sem vida. Talvez a Ordem estivesse envolvida, ou fosse algo relacionado ao artefato que ligaria os dois mundos.
Ela os conduziu até um antigo prédio que aparentava estar abandonado há muitos anos. Disse que aquele era o esconderijo e que deveriam ter o máximo de cautela possível, qualquer vestígio de energia os denunciaria.
Yujiro sugeriu que seguissem em fila, mantendo um metro e meio de distância entre cada um. Assim, caso algo acontecesse com um deles, os outros poderiam reagir rapidamente. A sugestão foi aceita. Ryruka seria a primeira, seguida por Camaleão e Akane. Depois, Kamito, e por fim, Yujiro. Saíram cuidadosamente, seguindo a ordem combinada, para evitar imprevistos.
Durante o percurso, perceberam que havia algo errado. Era um lindo dia de sol, o céu estava completamente limpo, então por que uma névoa cobria suas pernas até os joelhos? No mesmo instante, pararam e olharam em todas as direções. Segundos depois, começaram a ouvir o riso de uma mulher, um riso que, de alguma forma, lhes causou arrepios. O som ecoava por todo o local, como se várias mulheres os estivessem cercando.
— Vocês sabiam que, em tribos africanas, os aldeões acreditam que o riso das hienas na verdade são os risos de bruxas montadas em suas costas?! Como um animal teria um riso assim?! Prazer em conhecê-los, eu me chamo Hiena, e vocês estão no meu território.
Os risos começaram a se aproximar de todas as direções, até que surgiram cinco garotas idênticas. Provavelmente eram uma ilusão, e apenas uma era a verdadeira. Elas os olhavam de forma maliciosa enquanto lambiam os lábios de maneira provocante. Uma delas notou que, dentre os invasores, estava sua companheira Camaleão. A mesma a encarou, sem acreditar.
— Ora, ora, o que temos aqui?! Camaleão, você nos traiu?! — Hiena ria com escárnio — Eu achava que o Coiote nos trairia, mas você?! Você realmente é muito ingênua e fraca! Você pagará por isso!
— Bem… Não é bem assim, Hiena. A Ordem é a verdadeira vilã! — a garota falava assustada — Temos que impedi-la! Por favor, nos deixe passar. Podemos resolver isso sem lutar. Eu imploro.
Camaleão recuou um pouco. A ideia de ter que lutar contra sua amiga era algo para o qual ela não estava preparada. Suas ações mostravam claramente que, apesar de estar fazendo o certo, ela jamais conseguiria lutar contra a Hiena. A mesma então abaixou a cabeça, com medo.
— Você é patética! Não existem vilões e heróis! Existem apenas dois lados que buscam a mesma coisa por perspectivas opostas! Você nos traiu, então você também é nossa inimiga!
Hiena e seus clones assumiram uma postura ofensiva e se prepararam para atacar. Todas as cinco invocaram um cachimbo longo e o colocaram na boca. Ao fazerem isso, a névoa ficou mais densa e cobriu cada vez mais os corpos deles, até não ser mais possível enxergar.
— Droga! Essa névoa será um problema. Pessoal, precisamos dar um jeito nela o mais rápido possível! Talvez eu consiga distrai-la com as minhas chamas, depois eu alcanço vocês.
Kamito deu um passo à frente com a perna esquerda e começou a se concentrar para acumular energia, mas sentiu uma névoa fria passar pelos pés e parou. Com certeza aquela névoa era da Ryruka. Como a sua Manifestação era o gelo, ela poderia protegê-los.
— Deixe isso comigo, Kamito — Ryruka ergueu o olhar com determinação — Eu sei que você está ansioso para lutar, mas nós não podemos revelar que você é nosso trunfo. Deixem essa egocêntrica comigo. Eu os alcançarei depois.
Ela então ergueu uma plataforma de gelo, que os levou para fora da neblina. No mesmo instante, a névoa começou a se expandir como uma cortina espessa. Ryruka os olhou seriamente, firme como uma líder.
— Não precisam se preocupar. Eu não perderei para ela, apenas vão. Ganharei tempo para vocês. — falou com um leve sorriso confiante — Se os planos do meu irmão estiverem corretos, eu não preciso avançar agora.
— Está bem, Ryruka. Nós iremos te esperar mais à frente, eu acredito em você. Vê se não morre, “Garota número um”. Ainda teremos nosso acerto de contas.
Yujiro tentou provocá-la, mas sua voz carregava sinceridade. Ele passou por ela sem olhar para trás, demonstrando total confiança. Ryruka riu da provocação, balançando a cabeça com leveza, e isso o aliviou.
— Vamos lá! Temos que ir agora, não podemos ser um fardo para a Ryruka!
Kamito ainda não concordava completamente com aquela decisão, mas sabia que precisava respeitá-la. Akane se aproximou em silêncio, tocou de leve o seu ombro direito e falou com firmeza que precisavam seguir em frente. Ele assentiu em resposta e a acompanhou logo em seguida.
Yujiro e Camaleão foram os primeiros a saltar da plataforma e começaram a correr em direção ao prédio. Akane e Kamito os seguiram logo depois, mantendo o ritmo. Enquanto avançavam, vários clones da Hiena surgiram de diversas direções, cercando-os e atacando com ferocidade.

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