Capítulo 43 — Surge o Próximo Inimigo
Enquanto subiam as escadas, Yujiro parou de repente. O olhar dele estava repleto de espanto, como se não acreditasse no que estava acontecendo. Com a mão trêmula, ajeitou os óculos e disse que não era nada com que devessem se preocupar, pedindo para continuarem avançando. Camaleão afirmou que, após aquelas escadas, chegariam ao terceiro andar e que provavelmente não haveria ninguém por lá.
Ela costumava treinar naquele local exatamente por esse motivo. Já estavam nos últimos degraus, com Camaleão à frente, guiando-os e pedindo que se apressassem, pois aquele era o ponto menos hostil do prédio. Quando ela chegou ao topo e se virou para falar com eles, uma enorme sombra se aproximou rapidamente pela sua direita.
Num reflexo, Yujiro invocou o chicote e o enrolou na perna da garota, puxando-a bruscamente em sua direção. No instante seguinte, uma pilastra passou exatamente pelo ponto onde Camaleão estava, destruindo a parede.
— Você está bem?! — perguntou Yujiro, ofegante Essa foi por muito pouco. Você não tinha dito que não tinha ninguém aqui?
O olhar dele ainda carregava o susto. Se não tivesse reagido a tempo, ela teria sido esmagada. Enquanto ele tentava acalmá-la, Akane e Kamito se aproximaram para ver o que tinha acontecido. Akane se abaixou, preocupada.
— E-Eu estou bem… — Camaleão disse um pouco trêmula — Eu podia jurar que esse local estaria vazio! Só conheço uma pessoa com uma força assim, e não pode ser possível que ela tenha tentado me matar!
Ainda em choque, ela se levantou de forma desajeitada e correu novamente até o topo das escadas. Akane gritou para que não fosse, e todos dispararam atrás dela. Assim que alcançou o andar, Camaleão se deparou com seu amigo e professor, Rinoceronte.
— R-Rinoceronte?! Por quê?! Por que você me atacou?! Eu pensei que nós fôssemos amigos!!!
— Cale-se, Camaleão! — o ódio presente em sua voz fez a garota se encolher — Você não passava de uma mera ferramenta para a Ordem. Eu fui o único que te tratou como igual, e mesmo assim você me traiu! Então agora você é minha inimiga!
A fúria dele aumentou ainda mais ao perceber a presença dos outros. Sua respiração tornou-se pesada, quase bufando de raiva.
— Vocês irão pagar por terem corrompido a Camaleão! Eu matarei todos! — ele completou.
— Você está enganado, Rinoceronte! Eles não me corromperam! Me escute, a Ordem é a vilã! Nós precisamos impedi-la! Milhares de vidas correm perigo!
Ela mal conseguia dar um passo sem perder o equilíbrio. Tentou se aproximar do antigo amigo, mas parou, fitando-o com os olhos cheios de lágrimas, incapaz de acreditar no que via.
— Eu te imploro! Por favor, não dê as costas para mim! Você cuidou de mim! Abra seus olhos!
— Meus olhos já estão abertos! — ele respondeu com firmeza — A Ordem está certa! E eu não permitirei que eles e nem mesmo você interrompa nossos planos! Me desculpe, Camaleão, mas agora você é uma inimiga.
O olhar dele a fez cair de joelhos, chorando. Sem dizer mais nada, começou a avançar com a clara intenção de matá-la. Ouvir aquilo de quem mais admirava a quebrou por completo.
— Que bom que você não demonstra resistência… — Rinoceronte prosseguiu — Já entendeu que precisa morrer como punição pela sua traição. Permita-me pôr um fim no seu sofrimento, Camaleão!
— Espere! — a voz de Kamito ecoou firme — Não esqueça que nós estamos aqui, e não vamos deixar você encostar um único dedo nela! Você pode até ser grande e forte, mas isso não significa que você seja invencível!
Ele avançou lentamente, encarando Rinoceronte com seriedade. As palavras do oponente eram cruéis, doíam até nele. Rejeitar alguém querido apenas por discordar de uma ideia era algo totalmente absurdo. Porém, antes que pudesse prosseguir, sentiu uma mão em seu ombro direito. Ao virar-se, viu que era Yujiro.
— Por que me impediu?! — o de cabelos azuis questionou — Eu posso cuidar dele! Não vou deixá-lo humilhar a Camaleão! Eu não gosto daquele olhar. Como alguém pode ser assim?!
— Eu sei que você pode cuidar dele, mas você é nossa carta na manga, lembra? — Yujiro disse de forma séria — Kamito, pegue a Camaleão e a Akane e saiam daqui. Eu mesmo cuidarei dele com minhas próprias mãos!
Ele soltou o ombro do amigo e fixou o olhar em Rinoceronte, deixando transparecer o quanto odiava aquela situação. Kamito entendeu e concordou, aproximando-se de Camaleão e segurando seu braço esquerdo para puxá-la dali. Akane os seguiu com cautela, deixando os dois a sós.
— Vejam só… Pelo que parece o quatro-olhos tem coragem. — Rinoceronte riu com escárnio — Será que é mesmo coragem, ou você está delirando?
A gargalhada ecoou, carregada de descrença. Ele não acreditava que Yujiro fosse capaz de lutar, mas mesmo assim se aproximou, observando-o com um olhar quase piedoso.
— Depois que te trucidar, vou atrás dos seus amigos. Você deveria ter deixado o garoto de cabelo azul ter me enfrentado. Ele parecia ser mais forte. — o tom de riso ainda era presente na voz do homem.
— Não julgue uma pessoa pela aparência. Se o problema são meus óculos, eu os tiro. Não vejo problema nenhum. E se você realmente acha o Kamito forte, então eu não pegarei leve.
Yujiro retirou calmamente os óculos e os guardou no bolso da calça. Em seguida, voltou a encarar Rinoceronte, que se assustou ao ver o olhar ameaçador do rapaz. Parecia o olhar de outra pessoa, completamente diferente do Yujiro calmo e concentrado de segundos atrás.
— O que foi?! Se assustou com apenas isso?! Você achou o Kamito forte só pela atitude dele. E então? O que você tem a dizer da minha?!
Um novo combate estava prestes a começar. Rinoceronte e Yujiro se encaravam seriamente, aguardando para ver quem tomaria a iniciativa do ataque.
Enquanto isso, Kamito, Akane e Camaleão já haviam saído daquele andar. Camaleão ainda estava em choque e não sabia o que fazer. Seu professor, quase como um pai para ela, a rejeitara e tentara matá-la. Aquilo a deixava completamente sem chão.
Ela puxou o braço, escapando da mão de Kamito, e correu na direção contrária, querendo voltar ao local da luta. Rapidamente, Kamito gritou para Akane, que criou uma barreira impedindo a garota de voltar. Camaleão começou a bater na parede mágica enquanto os dois se aproximavam dela com cuidado. Não sabiam ao certo o que ela poderia fazer.
— Me deixem voltar! Por favor, me deixem voltar para lá! Por quê?! — a garota chorava em desespero, sua voz transparecendo a dor que sentia — Por que o Rinoceronte fez aquilo?! Tudo que ele me falou por todos esses anos era mentira?! Por quê?! Por quê?! Por quê?!
Ela continuou esmurrando a barreira até desistir, caindo de joelhos. Sua cabeça ficou baixa, e lágrimas caíram no chão. Kamito permaneceu imóvel, sem saber como agir. Então, Akane se abaixou e acariciou a cabeça dela com calma.
— Não precisa se preocupar, Camaleão. Algumas pessoas dizem coisas horríveis quando estão nervosas. — a voz de Akane era doce e acalentadora — Você não pode desistir agora, precisamos de você. Você é a única que conhece esse local e é a única heroína capaz de impedir esses vilões de te machucarem e de machucarem os inocentes! Se quiser, eu não sairei do seu lado em nenhum momento.
Akane sorriu para ela e estendeu a mão esquerda. Sabia que precisava confortar aquela menina, pois entendia o quanto aquilo era traumático para ela.
— Isso mesmo, a Akane está certa! — acrescentou Kamito, se aproximando. — Camaleão, eu também já passei por coisas assim, mas decidi não deixá-las me afetar e encontrei alguém que realmente me apoiou. Estamos aqui para isso. Deixe que nós te apoiemos e te ajudemos. O que me diz?
Kamito olhou para Akane um pouco envergonhado e sorriu. Era exatamente como ele realmente se sentia. Ela sorriu de volta para ele e voltou a olhar para a garota, que tocou a mão dela e se levantou. Ele sorriu, animado, e continuou a observá-la, esperando que ela finalmente fizesse uma escolha.
— Vocês têm razão! É isso aí! Eu sou a única capaz de deter os vilões! Eles irão pagar pelo que estão fazendo! Vamos, vamos, vamos! O caminho é por aqui! Quanto mais rápido formos, mais rápido acabaremos com esses vilões! — exclamou Camaleão, agora bastante animada após ouvi-los.
Ela disparou confiante na frente deles. Ele olhou para Akane, riu e disse que precisavam ir depressa antes que ela sumisse de vista. Tanto ele quanto Akane sabiam que Camaleão ainda não estava pronta para aquele mundo cruel, onde até mesmo quem ela mais confiava poderia tentar matá-la. Nem eles mesmos estavam totalmente prontos.
Perto dali, no telhado de uma casa, duas pessoas observavam o prédio e toda a movimentação. Eram Raishi e Ruby, que finalmente tinham chegado ao campo de batalha. Raishi estava sentado, totalmente despreocupado com o tempo e com as lutas. Já Ruby cantarolava enquanto abraçava o braço esquerdo dele.
Ele então olhou para a frente do prédio e viu sua irmã caída. Logo à frente dela, também caída, estava a Hiena. Raishi suspirou, como se não quisesse se levantar, e se ergueu de maneira um pouco atrapalhada, pois Ruby ainda não largara seu braço.
— Hora de começarmos a agir, Ruby. Tem como você soltar o meu braço?! Eu preciso dele para ajudá-las. Não posso deixar minha pequena irmã morrer — disse ele com seriedade.
Ele parecia preocupado com o estado da Ryruka. Mesmo sem demonstrar muito os sentimentos, realmente se importava com ela e sabia que Ryruka precisaria de ajuda ou morreria por conta dos ferimentos.
— Você fica tão fofo quando está preocupado! Por que você nunca é fofo comigo?! Assim vou ficar com ciúmes. Eu vou ter que ficar à beira da morte para você se importar comigo? — provocou Ruby com um sorriso, ainda abraçada ao braço dele.
A mesma o olhava tentando provocá-lo, mas sua própria pergunta fez com que Raishi a encarasse, surpreso. O olhar dele a assustou, e ela não entendeu o motivo de tanta seriedade. Imediatamente tentou se desculpar, nervosa.
— O-o que foi, Raishi?! Eu fiz alguma coisa errada?! M-me desculpa pela brincadeira sem graça! — disse ela, erguendo as mãos levemente, em sinal de defesa.
— Está tudo bem — respondeu ele com a voz calma, mas firme. — Ruby, eu me importo com você ao ponto de abrir mão de algo só para estar com você. Não diga mais uma coisa dessas. Mesmo que não pareça, eu te amo.
Raishi tocou o rosto dela com as mãos e, inesperadamente, beijou-lhe a testa. Ruby ficou corada, surpresa e contente com aquelas palavras, e ainda mais com aquele gesto vindo dele. Sorriu, emocionada, e o abraçou com força, enquanto ele desviava o olhar de volta para o prédio.
— Vamos? — disse ele com um leve sorriso, pousando a mão sobre o ombro dela. — Outra luta deve começar em breve, então precisamos nos apressar antes que ela termine. Kamito, Akane, Camaleão e Yujiro… sobrevivam.
Os dois deixaram o telhado e correram até o prédio. Ao chegarem ao campo de batalha, tudo ainda estava congelado devido à técnica de Ryruka. Aproximaram-se das duas que estavam caídas e começaram a analisá-las. Ambas tinham partes do corpo congeladas, o que era preocupante. Raishi se abaixou próximo à irmã e tocou o braço congelado dela, concentrando energia.
Pretendia inverter todo o dano do golpe, livrando-a de todos os ferimentos causados pelo gelo. O processo exigia tempo e concentração, e por isso ele queria começar antes que a próxima luta se iniciasse, para ter chance de salvar a todos.
No terceiro andar, Yujiro e Rinoceronte se encaravam imóveis. Yujiro analisava a situação, buscando a melhor estratégia para enfrentar aquele homem imprevisível e impiedoso. A cada segundo que passava, o tempo se tornava mais precioso. Eles precisavam impedi-los o quanto antes.
Mesmo dentro do esconderijo da Ordem, Kamito começava a duvidar. Era a primeira vez que pensava daquela forma, tomado pela sensação de desvantagem — tanto em número quanto em força. Ele não queria acreditar nisso. Queria acreditar que venceriam, que seriam capazes de salvar a cidade. Tudo se encaminhava para o final daquele grande embate, e eles precisavam vencer.

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