Capítulo 52 — Reunião em meio ao Caos
Akane caiu de joelhos, ofegante. Havia gasto quase toda a sua energia. Camaleão apareceu ao lado dela, perguntou se ela estava bem e a ajudou a levantar. Apesar disso, Harpia continuava de pé; ambas se impressionaram: aquele fora o golpe supremo de Akane. Harpia riu, dizendo que havia conseguido intimidar boa parte do ataque e suportar a própria dor, por isso resistira.
— I-Isso não pode ser verdade! Você não deveria estar de pé! Harpia, você já perdeu. Se renda. Você e a Pombo ainda tem uma chance de saírem daqui… Por favor, não jogue a sua vida fora!
Camaleão adiantou-se, tentando convencer Harpia a desistir. Ela estava ensanguentada e machucada, mas não parecia querer dar ouvidos às palavras de sua antiga companheira, mesmo nessa situação.
— Cale-se, Camaleão! Um dia eu já te considerei uma irmã, mas… Mas agora você não passa de uma traidora! E você deve morrer com esses miseráveis!!! — ela berrou, e em seguida invocou sua Relíquia e avançou contra Camaleão, que já não tinha mais defesas.
Quando tudo parecia condenado, uma pequena onda de chamas atingiu Harpia e a empurrou para trás. As três garotas olharam surpresas na direção do fogo e viram Solum ajudando Kamito a ficar de pé.
— C-Coiote… Você também nos traiu?! Não esperava nada mais de um fraco!!! — Harpia arfou, incrédula.
— Engraçado você dizer isso, sendo que quem está acabada é você, Harpia. E também… Eu não devo nada a você! E nem à Ordem!
Solum ficou ao lado das duas garotas, deixando Kamito sentado próximo a Akane. Ela os olhava sem entender. Solum encarou Harpia e manifestou suas Relíquias.
— Eu não respondo mais por “Coiote”. Eu cansei de vocês mandando em mim, agora eu serei eu mesmo! Solum! Você será a primeira, prepare-se, Harpia!!! — ele declarou, desafiador.
— K-Kamito?! Por que ele está do seu lado?! Por que ele está nos ajudando?!
Akane perguntou, atônita. Camaleão apenas assentiu com a cabeça. Kamito sorriu sem jeito e tentou explicar, ainda apoiado:
— B-Bem… Quando lutei contra ele, eu pude sentir que ele não era mau. Não sei explicar muito bem, mas senti que ele só queria lutar contra alguém. Seu senso de justiça, por incrível que pareça, é bom e ele não concordava com a Ordem tanto quanto eu achava. — disse ele, respirando fundo — Acho que essa foi a gota d’água para ele os trair. Segundo ele, ele só queria lutar, mas a Ordem o usou para tomar essa cidade, e que os verdadeiros responsáveis disso são Coruja e Falcão.
Kamito tentou explicar o mais resumidamente possível. Akane então tentou se levantar, mas sentiu-se tonta e perdeu o equilíbrio. Ele se moveu rápido e a segurou nos braços. Ao olhar bem para o rosto dela, sujo e com alguns arranhões, sentiu culpa e tocou timidamente a face dela.
— Me desculpe, Akane. Não cumpri minha promessa e fiz você se machucar. — disse ele, com a voz baixa.
— E-Está tudo bem… Eu quis isso. Eu falei que te ajudaria e que seria o seu escudo, não importa o que aconteça. Você sempre me protegeu, então dessa vez eu te protegerei. Não se culpe, por favor, Kamito.
Cansada, ela ainda sorriu. Ele a abraçou com força, deixando-a descansar ali o quanto fosse possível até a luta acabar.
— Eu me sinto tão segura em seus braços, Kamito… Eu queria que o tempo parasse agora mesmo. Assim, eu nunca sairia dos seus braços. — Ela murmurou, se aconchegando.
— Será que dá para os dois pombinhos deixarem a conversa para quando isso acabar?! Eu estou tentando lutar aqui! Camaleão! Cubra a minha retaguarda!
Solum interrompeu, estalando o pescoço enquanto passava uma lâmina na outra, fazendo faíscas. Harpia encarou Solum seriamente, e ele sorriu.
— Eu não tenho mais tanta energia, mas posso fazer isso. Seja rápido, antes que ela te pegue na Manifestação dela. Se isso acontecer, você já era.
Camaleão falou, andando com calma até Solum e invocando o chicote. Kamito e Akane levantaram-se e assumiram posição de combate. Akane formou uma barreira ao redor deles e Kamito invocou sua Relíquia.
— O que vocês estão fazendo?! Vocês precisam descansar! Deixei isso comigo e o Coiote! Akane, você se esforçou muito nessa luta. Descanse por favor. — Camaleão pediu, preocupada.
— Eu estou bem, Camaleão. Eu prometi que acabaria com ela e protegeria o Kamito e essa cidade. Então, é o meu dever acabar com o que eu comecei!
Akane respondeu, firme, aproximando-se de Camaleão e Solum. Eles a olharam surpresos; Kamito ficou sem reação. Ele não esperava que ela fosse tão decidida. Ela era incrível.
— Kamito, descanse. Quando isso acabar, eu usarei o resto da minha energia para te curar. Eu prometo que não vou mais me machucar!
— Idiotas! Vocês não me vencerão! Eu jamais perderei num lugar como esse! P-Pombo… Aguente firme… Logo esses idiotas estarão mortos!
Harpia olhou para a irmã caída e logo voltou a encará-los. Ela tentou caminhar, mas mal completou alguns passos antes de cair de joelhos, bastante ofegante. Sua Relíquia se desfez e ela começou a rir, num riso curto e amargo.
— Não acredito que eu não tenho mais forças para lutar… — murmurou, ofegante. — Pelo visto, aquele ataque me custou muito mais do que eu havia imaginado.
— Que saco, nem precisei fazer nada. — Solum comentou, com leve ironia, desfazendo suas Relíquias. — Menos mal, assim eu guardo muito mais energia para a minha recuperação. Você foi durona, Harpia, mas acabou.
Ele se aproximou, pegou Harpia nos braços e a levou até Pombo, colocando-a deitada ao lado da irmã. Camaleão, então, aproximou-se em passos hesitantes.
— Poupe o resto das suas energias, Harpia. Nós não somos os inimigos aqui, nem mesmo os traidores. Eu sei que você só se importa com a sua irmã, mas isso não te fez enxergar que o Falcão usou isso para te manipular. — Solum disse, sem muita emoção.
— Harpia, me desculpe pela Pombo… Eu não queria machucá-la… — pediu Camaleão, a voz trêmula — Sinto muito, de verdade. Eu não gosto nem um pouco de ter que lutar contra vocês!
Camaleão começou a chorar enquanto desabafava. Ela era apenas uma criança e aquilo soava traumático, enfrentar antigos amigos daquele jeito.
— Está bem… Somos inimigas e estamos num campo de batalha. Querendo ou não, iríamos nos enfrentar. Eu só não queria tê-la envolvido nisso.
Ela parecia aceitar, sem reclamar. Mesmo tão fraca, não se rendia por completo. Akane aproximou-se de Kamito, tocou-lhe a mão timidamente; ele a segurou e os dois se aproximaram das irmãs. Harpia abriu os olhos e os viu reunidos ao seu redor.
— Por que ainda estão aqui?! Vocês já venceram, podem prosseguir.
Faltava apenas uma hora e meia para o sol se pôr e já haviam derrotado cinco membros da Ordem. Apesar da vitória, sentiam-se pesados a cada combate. Aqueles inimigos tinham sido enganados e usados, não parecia justo continuar lutando quando a verdade vinha à tona. Akane apertou a mão de Kamito; ele percebeu que ela pensava igual. Precisavam encerrar aquilo o mais rápido possível, sem que mais ninguém sofresse.
— Vocês fizeram uma bagunça em tanto! Ainda bem que o prédio dessa escola está abandonado, ou teríamos que ter uma boa desculpa.
Viraram-se rapidamente e viram Raishi chegando, acompanhado de Ryruka, Ruby e Yujiro. O mais surpreendente era ver Hiena também ao lado deles, embora ela aparentasse não gostar da situação.
— Ah, vejo que o Coiote está com vocês. Isso foi inesperado. — Raishi comentou com a sobrancelha erguida, cruzando os braços.
— Raishi?! Ruby?! Yujiro! Ryruka! Vocês estão bem?! Eu fiquei preocupado quando a energia de vocês desapareceu! E por que ela está com vocês? — Kamito perguntou apressado, a voz carregada de alívio e estranhamento ao mesmo tempo.
Ele ficou animado ao vê-los, mas não pôde ignorar o fato de Hiena estar ali, quem até pouco tempo fora inimiga.
— Estamos bem, meu amigo. Por sorte temos o Raishi, que nos ajudou como pôde, mas não estamos completamente recuperados. Acabamos gastando toda a nossa energia. Quando acordei, ela já estava com eles, mas eu ia te fazer a mesma pergunta. Por que o Coiote está aqui? Ele não é um inimigo?
Yujiro aproximou-se junto de Ryruka, apoiando-se em alguns destroços para descansar e avaliando o estrago no local. Eles pareciam felizes em ver o restante do grupo.
— Isso não interessa agora. Kamito, Akane, vocês são os únicos que ainda podem lutar, então descansem. Pelo que vejo, o seu amigo talvez esteja em condições de lutar também. Quanto a vocês, Yujiro, Ryruka e Camaleão, estão esgotados. Então fiquem e descansem. Vou tentar reverter o máximo de dano que eu conseguir em vocês dois, então também ficarei aqui para cuidar da Camaleão e das irmãs.
Ele caminhou lentamente até as irmãs deitadas; Camaleão permaneceu de pé, observando. Raishi colocou a mão sobre a cabeça dela e bagunçou-lhe o cabelo num gesto breve de conforto.
— Ruby, Hiena, quero que vocês vigiem o local enquanto eu me concentro em ajudá-los. O restante pode descansar enquanto isso. — ordenou Raishi, já em postura de quem precisava organizar o pós-batalha.
— E-Ei! Você não manda em mim! Eu só estou com vocês porque devo a você!
Hiena resmungou, revoltada, virando-se para vigiar o prédio; Ruby, meio contrafeita, foi para o outro lado sem dizer nada.
— Kamito, Akane, e Coiote, restam apenas mais três membros, além do Falcão, é claro. Se vocês conseguirem lidar com eles, não precisam se preocupar com ele. Eu mesmo pretendo enfrentá-lo. Sei que parece egoísta eu ainda pedir para vocês lutarem, mas, após isso, tudo acabará. — Raishi olhou-os seriamente, mas sem forçar a resposta.
Solum se aproxima:
— Não é Coiote, é Solum! E você não precisa me pedir nada, eu já pretendia acabar com um deles. Considere apenas uma coincidência. — Solum falou, apressado, e deu um passo adiante como quem já saudava a próxima luta.
Solum parecia com pressa; o que mais queria era enfrentar o Coruja. Ele olhou para Kamito e sorriu, e aquele sorriso incentivou Kamito a sorrir também e a tomar sua decisão.
— Você nem precisava pedir, nós começamos isso e vamos acabar com isso. Eu prometi que salvaria essa cidade e cumprirei essa promessa. — Kamito respondeu, cerrando o punho esquerdo e estendendo-o em direção a Solum. Solum repetiu o gesto, tocando o punho de Kamito com firmeza.
Yujiro e Ryruka observavam sem acreditar como as coisas tinham chegado àquele ponto; parecia que, de repente, eram velhos conhecidos. Akane sorriu e afirmou que o seguiria aonde fosse — o que ela mais queria era encerrar aquela luta.
— Nós definitivamente iremos vencer! Estamos perto disso! — ela disse, confiante, apertando a mão de Kamito.
Raishi sorriu ao ouvir as respostas e começou a preparar o grupo para a próxima investida. Ryruka sentiu-se inútil por não poder lutar naquele momento, mas Yujiro a tranquilizou: foi ela quem abriu o caminho no início, permitindo que os outros avançassem. Todos ficaram reunidos depois de tanto caos, porém a guerra ainda não terminara. Quase toda a Ordem já havia caído; tudo caminhava para a batalha final, e ninguém sabia ao certo o que ainda viria a seguir.

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