Capítulo 64 — Reencontro de Antigos Companheiros
Assim que a lança atingiu a parede atrás de Falcão, ele se virou bruscamente para o vulto que havia rebatido seu ataque. O homem permanecia imóvel, neutro, com os olhos fixos na direção para onde a lança havia sido jogada. Era Raishi.
Falcão engoliu seco ao reconhecê-lo, aquele homem que ele evitara expor seus planos, o único cuja presença ele esperava nunca mais enfrentar. Seu antigo conhecido, e agora o inimigo mais perigoso que tinha diante de si.
— Ai, ai, ai… — Raishi murmurou, levando uma das mãos ao bolso com calma quase provocativa.
— Eu faço das palavras da garota as minhas. Se quiser matá-los, terá que me matar também, Falcão. — Ele inclinou um pouco o corpo para o lado. — E sua lança não foi rebatida, foi invertida.
Quando Kamito ergueu a cabeça, sentiu Akane apertá-lo com todas as forças, aliviada e tremendo. Diante deles, parado como se sempre tivesse estado ali, estava Raishi. O homem lançou um olhar rápido e triste na direção dos dois, um olhar tão rápido que parecia quase imaginado, antes de voltar a encarar Falcão com um sorriso leve.
— Desculpem a demora, Akane, Kamito. — Ele respirou fundo. — Agora vocês podem descansar. Eu tomo conta do resto daqui em diante.
— A-Adfectus! — Falcão cuspiu o nome, dando um passo para trás. — Então você finalmente resolveu aparecer?! Pensei que deixaria todo o trabalho para o seu novo lobo, como da outra vez.
Ele estava visivelmente irritado, os punhos trêmulos de tanta tensão ao ver Raishi ali, firme.
— Mais uma vez você ousa ficar contra mim?! — Falcão gritou, abrindo as asas com violência. — Então eu matarei todos de novo e de novo até não sobrar mais nenhum de vocês, traidores da Ordem!!!
Raishi apenas estreitou os olhos, como se aquilo não o afetasse. Nesse momento, Kamito o encarou, surpreso.
— “Adfectus”?! — perguntou, confuso. — Quer dizer que você não se chama Raishi?! E como assim “traidor da Ordem”?! Você era membro da Ordem dos Cavaleiros Brancos e nunca nos falou nada?! O que diabos está acontecendo aqui?!
Akane o soltou, igualmente confusa. Era como se uma parte inteira do passado do homem tivesse sido revelada de repente, revelada tarde demais.
Raishi suspirou, inclinando a cabeça com pesar.
— Minhas sinceras desculpas por não ter lhes contado tudo. — Ele os observou com seriedade antes de continuar a caminhar na direção de Falcão. — Eu pretendia contar a verdade quando tudo acabasse, e eu farei isso. Mas agora temos algo muito mais importante para lidar do que meu nome ou meu passado.
Enquanto ele avançava, Hiena, Ruby e Harpia surgiram. Raishi gesticulou para que elas se apressassem.
— Tirem eles daqui. — Ordenou, sem desviar os olhos de Falcão.
Hiena pegou Solum no colo e se preparou para sair, mas Raishi levantou a mão.
— Leve também o homem que estava na sala ao lado. Todos eles. Agora.
Assim, restaram apenas os dois, antigos aliados, agora inimigos mortais se encarando. Falcão tremia de ódio; Raishi permanecia com a expressão neutra, como uma estátua.
— Agora que estamos sozinhos, Falcão… — Raishi disse, sem alterar o tom. — Não vamos precisar nos conter. Você machucou muito os meus discípulos. E isso eu não posso perdoar.
— Seus discípulos?! — Falcão riu com desprezo, mas sua voz falhou.
— Você se importa com eles de verdade?! O que deu em você, Adfectus? Onde estão suas emoções?! — ele avançou um passo, e pequenas ondas de energia saltaram de suas asas. — Você parece uma estátua! Você realmente mudou muito, traidor.
Raishi inclinou levemente a cabeça.
— Vai saber. Eu realmente te odeio, Falcão. — Ele afirmou, ainda sem erguer a voz.
— Você matou meus amigos e tirou minha felicidade uma vez. Por que eu mostraria meus sentimentos a você? — um breve sorriso sem alegria cruzou seu rosto. — Se realmente deseja vê-los, saiba que depois disso você morrerá.
— Dezesseis anos atrás, a Ordem caiu. — Continuou ele, dando um passo firme à frente. — Pensei que isso te faria repensar…, mas dezesseis anos depois, aqui estou repetindo o que o Lobo provavelmente disse naquele dia.
Enquanto isso, longe dali, Hiena nos levou para um local seguro. Ela acomodou Solum e Coruja em uma cama improvisada, enquanto Ruby tentava falar conosco. Kamito, porém, não a ouviu. Seu peito estava apertado em confusão, medo e fadiga se misturavam.
Os outros, ouvindo o tumulto, se aproximaram. Kamito acabou perdendo o controle e explodiu, gritando, questionando tudo: o nome de Raishi, sua ligação com a Ordem, o porquê de jamais ter contado a verdade. As palavras mal saíram de sua boca quando Ryruka avançou e lhe deu um tapa forte no rosto, fazendo-o cair sentado no chão.
Yujiro correu e a segurou, enquanto Camaleão e Akane se abaixaram para ajudar Kamito a levantar.
— Não seja idiota, Kamito! — Ryruka gritou, lutando contra os braços que a prendiam. — Meu irmão escondeu o nome dele para se proteger e para me proteger! Se você não percebeu, o verdadeiro nome dele seria reconhecido por qualquer Extra-humano na Terra! Até eu e o Yujiro usamos nomes falsos! Então não julgue ou duvide do meu irmão! O passado dele não te interessa!!!
Ela tentou avançar novamente, mas Yujiro e Pombo a seguraram. Ruby e Hiena finalmente intervieram.
— Você também tem segredos! — Ryruka continuou, apontando para Kamito. — Aquele poder que sentimos era seu, e você nunca nos disse nada! E ainda ousa criticar o meu irmão?!
Ruby levantou a voz, séria:
— Já chega, vocês dois! — ela ergueu as mãos, tentando acalmar. — Vocês precisam descansar. Brigar não vai resolver nada. Kamito… não só o Adfectus, mas eu também fiz parte da Ordem há dezesseis anos. Falcão o chamou de traidor porque ele já tentou derrubar a Ordem, mas nós o impedimos com a ajuda de dois Manifestadores, que infelizmente morreram na batalha. Agora entende?
Ela estendeu a mão para Kamito. Após hesitar, ele aceitou e se levantou. A expressão dela estava cheia de preocupação.
— Não queríamos esconder isso de vocês, mas era preciso. — Ruby continuou. — Estávamos enfrentando uma ameaça enorme. Revelar que fizemos parte da Ordem só faria vocês desconfiarem. E… inicialmente, a Ordem não era assim. Mudou quando Falcão decidiu seguir suas ambições. Foi por isso que deixamos aquilo para trás.
Todos ficaram em silêncio. Até mesmo Ryruka. Era evidente que nem ela sabia de tudo.
Kamito se afastou, encostando-se numa parede. Observou as próprias mãos, como se buscasse respostas nelas. Akane se aproximou devagar e tocou sua mão esquerda. Ele a olhou, e viu a preocupação nos olhos dela. Todos no cômodo tinham sentido aquele poder monstruoso dele, mas apenas ela teve coragem de se aproximar.
Yujiro se aproximou em seguida, tocando seu ombro.
— Relaxa, cara. — disse ele, sorrindo. — Você é cheio de surpresas.
De volta ao prédio destruído, Raishi e Falcão ainda se encaravam, imóveis. Nenhum deles era impulsivo, ambos esperavam o menor descuido. Lentamente, Raishi levantou a mão esquerda e tocou a própria testa com o dedo indicador, como fazia antes de liberar seu poder. Falcão abriu as asas com cuidado, cada pena vibrando energia.
Raishi sorriu, aquele sorriso fatídico, o único que dava quando a batalha estava decidida em seu coração. Era o fim.
Depois de dezesseis anos, os dois antigos amigos finalmente resolveriam tudo. Uma batalha épica estava prestes a começar. O peso de todo aquele passado pairava no ar como fumaça.
De um lado, o homem mais misterioso de todos. Do outro, o líder da Ordem.
Antigos aliados. Agora, inimigos mortais.
Todos sabiam: o resultado dessa luta definiria o destino de todos eles.
O fim daquela pequena guerra estava, enfim, próximo.

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