Capítulo 81 – O trapaceiro

Sophie caminhava pelas ruas desertas no lado oeste da escola 25, sua respiração controlada e os olhos atentos a cada movimento ao seu redor. O ambiente estava silencioso, exceto pelos passos dos delinquentes que haviam caído diante dela momentos antes. Eles estavam inconscientes ou fugindo, incapazes de enfrentar sua habilidade afiada e determinação implacável.

— Esses idiotas não são nem um desafio — murmurou, limpando o sangue seco na manga de sua jaqueta.

Enquanto virava uma esquina, Sophie parou bruscamente. À sua frente, alguém estava encostado em uma parede, com os braços cruzados

— Bem, bem, se não é a famosa Sophie — disse ele, com uma voz vacilante. — Parece que a líder da linha de frente da escola 25 está bem ocupada hoje.

Sophie estreitou os olhos.

— E quem é você?

— Hajuki Gon, número 8 da escola 24 — respondeu ele, dando de ombros. — Mas, por favor, não se preocupe. Não estou aqui para lutar.

A menção de seu nome trouxe à mente de Sophie os relatos que havia ouvido. Hajuki era conhecido por ser um covarde astuto, mas também por ter dado uma surra em Hayato dias antes. Ela o observou cuidadosamente, notando sua postura relaxada e o suor que escorria por sua testa.

— Então, você é o covarde que atacou Hayato — disse Sophie, com desprezo na voz.

Hajuki levantou as mãos em um gesto de rendição.

— Ei, calma aí. Não há necessidade de violência. Eu não sou tão bom em lutar… Honestamente, eu só venci o Hayato porque ele estava despreparado.

Sophie o encarou, desconfiada.

— Você espera que eu acredite que um dos rankings da escola 24 está simplesmente desistindo de lutar?

Hajuki deu um passo à frente, erguendo as mãos em um gesto conciliador.

— Olha, eu sou um número 8, mas isso não significa que eu sou forte. Eu só estou aqui porque Hillary me colocou. Eu não quero brigar com você, Sophie. Na verdade, eu estou disposto a me render.

Sophie franziu a testa, tentando decifrar o jogo dele.

— Você é mesmo patético. Rendendo-se sem sequer tentar lutar? Isso é nojento.

Hajuki sorriu nervosamente.

— Talvez. Mas sou um sobrevivente, entende? Não vejo sentido em lutar contra alguém como você, especialmente quando sei que não tenho chance.

Sophie relaxou levemente a postura, mas manteve a guarda alta.

— Então, você só vai sair do meu caminho?

Hajuki assentiu, recuando lentamente.

— Claro, claro. Só estou aqui para sobreviver. Vá em frente.

Por um momento, Sophie acreditou que ele realmente estava se rendendo. Mas havia algo estranho em seu comportamento, algo que não parecia certo. Enquanto ela avançava, Hajuki deu um sorriso traiçoeiro, puxando algo do bolso de sua jaqueta.

Em um movimento rápido, ele lançou uma pequena bomba de fumaça no chão. A área ficou instantaneamente tomada por uma névoa densa e sufocante. Sophie tossiu, recuando enquanto tentava manter a visão clara.

— Você realmente achou que eu ia me render tão fácil? — a voz de Hajuki ecoou na fumaça. — Só precisava de um pouco de tempo para virar o jogo.

Sophie cerrou os dentes, irritada com sua própria ingenuidade.

— Patético e traiçoeiro — rosnou, puxando uma barra de ferro que havia pegado de um dos delinquentes derrotados. — Você vai pagar por isso.

A luta estava prestes a começar, e Sophie sabia que não podia subestimar nem o mais medroso dos adversários.

Sophie avançava pela fumaça como uma fera, seus passos ecoando no chão enquanto procurava por Hajuki. Sua respiração estava pesada, não por cansaço, mas pela fúria que fervia dentro dela.

— Covarde! — gritou ela, sua voz carregada de raiva. — Você acha que pode fugir de mim?

De repente, a figura de um homem surgiu na frente dela

— Não tão rápido, Sophie. — A voz dele era grave e carregada de autoridade.

Sophie parou abruptamente, encarando o homem à sua frente.

— Quem é você? — perguntou, sua barra de ferro firmemente segura em suas mãos.

— Finger Gran, número 6 da escola 24 — respondeu ele, cruzando os braços. — Parece que você está um pouco ocupada perseguindo aquele rato inútil, Hajuki.

Sophie franziu o cenho, analisando seu novo oponente. Diferente de Hajuki, Finger Gran exalava confiança, e sua postura firme indicava que ele era alguém que não recuava diante de uma luta.

— Então, você é outro dos lacaios do Hillary — disse ela, com desdém na voz.

Finger riu suavemente, inclinando a cabeça.

— Lacaios? Que rude. Eu prefiro pensar em mim como um soldado leal. Mas você… — Ele apontou para Sophie. — Você parece mais uma predadora sem rumo.

Sophie apertou o punho ao redor da barra de ferro, dando um passo à frente.

— Se você está aqui para me atrasar, isso vai acabar mal para você.

Finger suspirou, tirando lentamente as mãos dos bolsos.

— Sabe, eu ouvi falar de você, Sophie. Dizem que é implacável, brutal até. Mas também ouvi que você depende muito da força bruta e da raiva. — Ele sorriu de lado. — E raiva sem controle é apenas uma fraqueza.

Sophie apertou os dentes, sentindo o sangue ferver com as provocações.

— Você fala demais. Quer lutar ou vai ficar se escondendo atrás de palavras?

Finger estalou os dedos, inclinando o pescoço de um lado para o outro.

— Lutar, claro. Mas antes… deixa eu te dar um conselho. Não subestime o número 6 da escola 24.

Sophie avançou sem hesitar, sua barra de ferro balançando no ar em direção a Finger. O confronto estava prestes a começar, e ela sabia que este não seria um adversário fácil.

A tensão no ar se transformou em puro caos quando Sophie avançou contra Finger Gran. Sem hesitar, ela desferiu um chute alto, mirando a lateral da cabeça do oponente. Finger inclinou-se para trás, desviando com precisão, e respondeu com um jab rápido que Sophie bloqueou com o antebraço.

— Você é rápida, admito — comentou Finger, sorrindo de canto. — Mas vou te mostrar como é uma luta de verdade.

Ele avançou, tentando agarrá-la com um movimento típico de MMA, buscando um clinch. Sophie, no entanto, era ágil demais. Ela deu um passo para o lado, girou o corpo e acertou um chute rodado na costela de Finger, o impacto ecoando pelo beco.

— Parece que você me subestimou, hein? — provocou ela, mantendo sua postura firme.

Finger cambaleou, mas rapidamente recuperou o equilíbrio. Ele tentou um chute baixo para desequilibrá-la, mas Sophie saltou para trás e desferiu dois socos diretos no rosto dele, seguidos por um chute frontal que o empurrou para trás.

— Você é resistente, eu dou isso a você — disse ela, limpando o suor da testa. — Mas resistência não é o suficiente.

Finger cerrou os dentes e avançou novamente, dessa vez com uma sequência de golpes rápidos: dois jabs e um direto, seguidos por uma tentativa de queda. Sophie desviou habilmente, usando seu jogo de pés ágil para se manter fora do alcance. Quando Finger se abaixou para tentar agarrá-la, ela aproveitou a posição baixa dele e aplicou uma joelhada brutal no queixo.

— Ugh! — grunhiu Finger, cambaleando para trás.

Sophie não perdeu tempo. Ela avançou com velocidade impressionante, acertando uma combinação feroz: dois cruzados no rosto, um gancho no abdômen e finalizando com um chute alto que acertou o lado da cabeça de Finger. Ele caiu de joelhos, tentando se manter de pé, mas o impacto foi devastador.

— Isso é tudo? — perguntou Sophie, respirando pesadamente, mas ainda cheia de energia.

Finger tentou se levantar, balançando a cabeça para clarear a visão, mas Sophie não deu espaço. Ela girou o corpo e desferiu mais um chute giratório, acertando-o diretamente no rosto. Finger foi ao chão com um baque seco, completamente derrotado.

Ela o observou por um momento, certificando-se de que ele estava fora de combate.

— Eu avisei que não sou alguém para subestimar — disse ela, dando um sorriso cheio de confiança e seguindo seu caminho

Sophie avançou, determinada a capturar Hajuki Gon. Sua respiração estava acelerada, mas sua mente focada. As marcas da batalha contra Finger Gran ainda estavam frescas, mas isso não a deteria.

Hajuki, por sua vez, continuava correndo à frente, olhando para trás constantemente. Ele estava impressionado com a velocidade dela e, mais ainda, com o fato de ela ter derrotado Finger.

— Droga… Ela não é normal! — resmungou, parando por um instante para recuperar o fôlego.

Foi nesse momento que Sophie o alcançou. Ela apareceu como uma tempestade, os olhos fixos nele, transbordando determinação.

— Fim da linha, Hajuki — disse ela, ajustando as faixas em suas mãos. — Agora é sua vez de cair.

Hajuki levantou as mãos em sinal de rendição, um sorriso nervoso surgindo em seu rosto.

— Ei, calma aí, Sophie. Você realmente derrotou o Finger? Isso é… impressionante! Mas vamos conversar, certo? Não precisa de violência.

— Não estou aqui para conversar — rebateu Sophie, avançando em sua direção. — Vou acabar com você agora.

Mas antes que ela pudesse dar o primeiro golpe, algo inesperado aconteceu. Um vulto emergiu das sombras, rápido e silencioso. Sophie não teve tempo de reagir. Uma barra de ferro veio em um arco perfeito e atingiu a lateral de sua cabeça com um som seco e brutal.

— Argh! — gritou Sophie antes de cair no chão, inconsciente.

Hajuki, que estava prestes a entrar em pânico, olhou para o agressor, um delinquente robusto com um sorriso cruel no rosto.

— Boa, cara! — exclamou Hajuki, aliviado. — Você chegou na hora certa.

O delinquente deu uma risada baixa, olhando para Sophie caída.

— Ela é forte, mas ninguém é invencível. Especialmente quando se está distraída.

Hajuki deu um passo para frente, olhando para Sophie desacordada. Ele estava visivelmente aliviado, mas uma sombra de dúvida cruzou seu rosto.

— É melhor a gente sair daqui antes que alguém apareça — sugeriu o delinquente, puxando Hajuki pelo braço.

— Sim… Boa ideia — respondeu Hajuki, ainda olhando para Sophie.

Os dois desapareceram rapidamente nas sombras, deixando Sophie caída no chão, vulnerável e sozinha.