Capítulo 69 - Ruína (1/3)

Capítulo 069

Ruína

Zorian percebeu imediatamente que a hidra à sua frente não era normal. Primeiro, era grande demais. Ele não era especialista em hidras, mas sabia que mesmo as maiores não ultrapassavam 10 metros de comprimento. Esta parecia ter pelo menos o dobro desse tamanho, se o tamanho de suas cabeças fosse algum indício. Depois, havia a questão de quão repentinamente ela aparecera em seus sentidos. Não havia como ele não perceber algo assim, mesmo com uma inspeção superficial, quanto mais na varredura detalhada que fizera no cenote. A mente que ele estava sentindo naquele momento era uma das coisas mais distintas que ele já havia testemunhado através de seu sentido mental, e deveria ter chamado sua atenção imediatamente. A hidra parecia ter nove mentes — uma para cada cabeça e uma nona que servia como uma espécie de… mente superior, na falta de um termo melhor. As cabeças individuais pareciam de alguma forma subjugadas à mente principal da hidra, que provavelmente era a responsável por coordená-las em direção a um objetivo maior. Era, de certa forma, fascinante.

Então a hidra apontou todas as oito cabeças para eles e rugiu. Se estivessem lidando com uma hidra normal, isso seria apenas uma tática de intimidação barata. Em vez disso, o rugido foi imbuído de uma potente magia de vento, atingindo todo o grupo com uma poderosa rajada de vento. Zach e Zorian simplesmente colaram os pés no chão com magia não estruturada, e Daimen protegeu a maior parte de sua equipe com uma parede de força conjurada com impressionante rapidez. Infelizmente, isso ainda deixou quatro pessoas à mercê do ataque de vento. Desses quatro, um era Chassanah, que simplesmente cravou seu cajado no chão e o segurou com pura força física. Zorian ficou impressionado — o velho parecia um pouco abatido, mas parecia haver uma força surpreendente escondida sob seu corpo magro. Quanto aos outros três, eles não tiveram tanta destreza e apenas soltaram um coro de gritos e lamentações curtas enquanto eram arremessados pelos ares e lançados para longe. Eles não morreram, mas não se levantariam tão cedo.

Zach foi quem melhor lidou com o ataque surpresa. Enquanto todos os outros, até Zorian, lutavam para resistir ao rugido de alguma forma, Zach já conjurava algum tipo de feitiço complexo em retaliação. Ele transformou toda a área à sua frente em um campo de lâminas de pedra toscamente talhadas antes mesmo que a tempestade de vento tivesse tempo de se dissipar, todas envoltas em uma luz vermelha ameaçadora. Então, ele bateu as duas mãos contra a terra à sua frente, lançando-as em direção à hidra.

O monstro lançou um único olhar à nuvem de morte pétrea que se aproximava, seus muitos olhos se arregalando de surpresa e medo, então imediatamente interrompeu seu rugido e recolheu todas as suas cabeças para dentro do cenote. Os dracos camaleões, ainda dispostos ao redor do cenote, não foram tão rápidos. A chuva de lâminas desabou sobre a área so redor do cenote, enterrando-se profundamente no solo da selva e empalando qualquer draco camaleão que tivesse o azar de estar no caminho. Os sortudos foram mortos no local pelos estilhaços de pedra. Os menos afortunados gemeram como porcos feridos enquanto a luz vermelha que impregnava as lâminas se espalhava por seus corpos e começava a liquefazer suas entranhas.

Os dracos camaleões sobreviventes perderam qualquer resquício de coesão de grupo e simplesmente se dispersaram em todas as direções, abandonando seu antigo lar, com os gritos de dor de seus irmãos moribundos motivando-os a continuar até que tivessem saído completamente do alcance do sentido mental de Zorian.

Zach não estava realmente prestando atenção nos dracos camaleões, no entanto. Eles eram apenas dano colateral. No momento em que lançou a chuva de lâminas destruidoras de carne contra a hidra, antes mesmo de saber se atingiria o alvo ou não, ele já estava conjurando outro feitiço. Assim, no momento em que a hidra recuou para o cenote, Zach lançou um par de esferas azuis-pálidas de energia mágica em sua direção.

Zorian descobriria mais tarde que os projéteis tinham como objetivo congelar a água no fundo do cenote, com a esperança de aprisionar a hidra em um bloco de gelo. Infelizmente para essa ideia, a hidra não recuou para a água. Ela simplesmente se esquivou do ataque de Zach e então decidiu pular para fora do cenote e atacar o grupo.

Ver aquela hidra gigante pular para fora do cenote com a mesma facilidade com que um gato doméstico pula para a mesa da cozinha realmente deixava claro que estavam lidando com algo completamente fora do comum. Hidras normais eram ‘apenas’ altamente venenosas e capazes de uma regeneração de tecidos impressionante, especialmente em relação às suas cabeças. Elas não eram conhecidos por serem especialmente rápidas ou ágeis fora d’água.

A investida da hidra era imparável. Daimen e sua equipe lançaram uma sequência constante de diferentes feitiços de ataque contra a hidra, tudo em vão. Cada projétil lançado era interceptado pelas muitas cabeças da hidra antes que atingisse seu corpo principal, causando dano que logo era anulado pela habilidade natural de regeneração da hidra. A regeneração de uma hidra era mais potente em relação às suas cabeças, capaz até mesmo de superar dano de fogo e outras coisas que geralmente frustravam regeneradores, mas seu corpo principal era muito mais vulnerável. O grupo de Daimen claramente sabia disso e, portanto, mirava no corpo principal em todos os ataques que realizava, mas a hidra era rápida e astuta demais para que isso funcionasse.

Zorian se absteve de se juntar ao ataque. Se todo o grupo de Daimen não conseguia romper a defesa, sua adição provavelmente seria um desperdício de mana sem sentido. Ele simplesmente se concentrou em descobrir como a mente da hidra funcionava, conservou sua mana e reposicionou seus golens para poder responder a tempo ao identificar uma abertura apropriada. Felizmente, a hidra parecia focada principalmente em Zach, tendo identificado nele a maior ameaça.

Bem, talvez tenha sido um pouco insensível da parte de Zorian dizer isso… mas, em sua defesa, Zach pareceu bastante feliz por ter atraído a ira da hidra com seu feitiço anterior. Aparentemente ignorando a hidra colossal que trovejava em sua direção, Zach conjurou dois feitiços longos. O primeiro criou uma grande esfera de luz branca e suave que simplesmente ficou suspensa acima de sua cabeça, aparentemente sem fazer nada. O outro não produziu efeitos visíveis, mas a percepção mágica de Zorian já estava bastante aguçada e ele podia sentir oito construções mágicas surgindo repentinamente ao redor de Zach.

Logo, a hidra estava perto o suficiente de Zach para atacar. Naquele momento, todas as oito cabeças avançaram, disparando em direção a Zach como molas em espiral. Em algum lugar atrás dele, Zorian podia ouvir algum membro da equipe de Daimen gritar um aviso para Zach, como se isso fosse lhe servir de algo agora. Ao mesmo tempo, porém, os oito construtos mágicos ocultos ao redor de Zach também se moveram, avançando para encontrar as cabeças da hidra. Oito mandíbulas espectrais de tubarão se materializaram, já em processo de morder as cabeças atacantes. A hidra, percebendo de repente que havia caído em uma armadilha, tentou abortar o ataque.

Era tarde demais. Ela era grande demais e tinha ímpeto demais. Qualquer que fosse a magia que lhe desse velocidade e agilidade tão anormais, tinha seus limites. As mandíbulas espectrais se fecharam com força, cortando escamas e músculos da hidra com uma facilidade ridícula. Em pânico, a hidra pareceu recorrer a alguma reserva secreta de força que lhe permitiu extrair rapidamente a maioria de suas cabeças antes que fossem arrancadas.

A maior parte, mas não todas. Uma das mandíbulas espectrais agarrou seu alvo de maneira particularmente precisa e continuou mordendo. Com um estrondo alto, as mandíbulas atravessaram a espinha da cabeça da hidra, separando-a do corpo principal.

As sete cabeças restantes da hidra rugiram de dor e raiva, o pescoço decapitado sem cabeça da oitava se debatia freneticamente e espirrava sangue por toda parte. Este não era um ferimento que sua regeneração pudesse curar — a cabeça não estava danificada, simplesmente havia desaparecido. Ela se regeneraria com o tempo, mas esse processo seria lento demais para ter qualquer influência no resultado daquela batalha.

Zorian esperava que Zach agora usasse a misteriosa bola de luz branca flutuando acima de sua cabeça, mas o feitiço permaneceu inerte. Em vez disso, ele criou novamente um campo de lâminas de pedra à sua frente. Antes que pudesse lançá-lo contra a hidra, no entanto, ela subitamente retraiu suas cabeças para mais perto do corpo principal e se envolveu em algo semelhante a uma esfera escamosa e carnuda. Então, desapareceu no ar.

Quando reapareceu, estava de repente ao lado de Daimen e seu grupo.

“Claro que também pode se teletransportar”, murmurou Zorian para si mesmo.

Deveria ter sido mais surpreendente. A magia de teletransporte geralmente era impraticável para criaturas grandes, pois os custos aumentavam explosivamente com o volume da coisa teletransportada. Ainda assim, parecia quase apropriada. Zorian agora suspeitava fortemente que estavam lidando com algum tipo de guardião ancestral da época de Awan-Temti, quando os deuses ainda se intrometiam nos assuntos mortais e concediam poderes potentes àqueles que lhes atraíam. Era de se esperar que algo assim fosse equipado com habilidades estranhas e formidáveis.

Ele apontou para o ar à sua frente e um grande disco de força semitransparente se materializou no ar à sua frente. Zorian pulou nele e voou na direção da hidra. Ele não se importava em deixar Zach enfrentar a hidra sozinho, mas Daimen e as pessoas ao seu redor provavelmente precisariam de sua ajuda para sobreviver.

Chassanah, que ainda estava perto de Zorian naquele momento, copiou seu truque e o seguiu em um disco de força próprio.

O teletransporte repentino, embora muito impressionante para uma criatura tão grande, pareceu exigir muito da hidra. Em vez de atacar imediatamente, ela levou alguns segundos para se desenrolar e recuperar o fôlego antes de atacar novamente. Isso amenizou um pouco o choque entre o grupo de Daimen e permitiu que eles se organizassem um pouco antes do ataque.

Quando o ataque aconteceu, no entanto, foi devastador. Uma camada de escudos foi erguida diante do grupo, mas foi reduzida a fumaça e partículas de luz que se dissipavam rapidamente em menos de um segundo. Desesperado para manter a hidra longe de si e de seus homens, Daimen conjurou uma versão ectoplásmica gigante de si mesmo, que então a atacou fisicamente. O gigante Daimen fantasmagórico agarrou duas cabeças da hidra com suas mãos fantasmagóricas e tentou derrubá-la no chão. Isso não funcionou muito bem, mas manteve três cabeças da hidra ocupadas demais para atacar qualquer outra pessoa e a impediu de se mover livremente no campo de batalha, então também não foi exatamente um fracasso.

Kirma disparou uma série de projéteis semelhantes a brocas contra a hidra, cada um deles acertando com precisão os pontos sensíveis da hidra — olhos, boca, ouvidos, narinas. Isso foi bastante notável, já que a maioria dos feitiços teleguiados não era nem de longe tão precisa em sua mira. Especialmente porque as brocas em miniatura se moviam a velocidades incríveis, o que complicaria ainda mais as funções de rastreamento da maioria dos feitiços. Zorian só conseguia imaginar que a máquina de lótus que ela carregava fosse de alguma forma responsável por esse feito.

Zorian teria pensado que Orissa seria completamente inútil nesse tipo de luta, já que a hidra dificilmente notaria as picadas de abelha. No entanto, ela o surpreendeu. Suas abelhas subitamente foram envoltas por uma aura laranja que fez o ar ao redor delas ondular com o calor intenso que emanava delas. Daquele ponto em diante, elas voaram mais rápido e queimavam tudo o que tocavam, como mil minúsculas fornalhas voadoras. Ocasionalmente, ela fazia um gesto rápido, fazendo com que algumas das abelhas detonassem, criando explosões minúsculas, porém intensas, que carbonizavam a pele dura e escamosa da hidra onde quer que a tocassem. E como as abelhas eram tão pequenas, elas podiam simplesmente voar além das cabeças mais duráveis e regenerativas e atacar o corpo principal da hidra.

O próprio Zorian também adicionou um pouco de pressão sobre a hidra, lançando uma lança de força, um feixe incinerador e dois discos cortantes contra a hidra enquanto voava em direção ao local da batalha. Ele não achava que causaria dano real com aquilo, mas cada segundo que a hidra gastava lidando com aqueles ataques era um segundo que ela não podia desperdiçar lidando com Daimen e os outros.

Apesar de todos esses esforços, a hidra ainda tinha sete cabeças restantes, e era difícil mantê-las constantemente ocupadas. Zorian teve que sacrificar um de seus golens para salvar Orissa de ter a cabeça arrancada com uma mordida quando a hidra finalmente descobriu de onde vinham as irritantes abelhas flamejantes e explosivas. Torun também sacrificou um de seus olhos maiores para sobreviver a um ataque, fazendo com que o olho em questão explodisse em uma quantidade abundante de lodo translúcido que formou uma cúpula fina e elástica ao seu redor. A cabeça que o mirava mordeu a cúpula e, apesar de sua aparente fragilidade, não conseguiu atravessá-la. A cúpula se dobrou e se esticou, mas não se rompeu.

Infelizmente, nem todos os alvos da hidra tinham um método tão eficaz preparado para salvar suas vidas. Um dos magos foi mordido quase ao meio antes que alguém pudesse fazer algo, morrendo na hora. O outro teve o braço injetado de veneno quando a hidra o arranhou com suas mandíbulas. Daimen imediatamente cortou o membro em questão e então ordenou que um dos magos o teletransportasse, junto com todos os outros feridos, para longe do campo de batalha.

Além disso, um dos homens tentou circundar a hidra e atacá-la por trás, mas teve as pernas quebradas em resposta quando a hidra revelou que sua cauda também era uma arma poderosa, capaz de golpear com grande força e velocidade. Zorian não se importou com os gritos agonizantes do homem — ele ainda se lembrava de como doeu quando a caçadora cinza fez o mesmo com ele.

Finalmente, Daimen encontrou um bom momento para acionar sua armadilha. A hidra conseguiu passar por alguns dos feitiços defensivos e lançou uma de suas cabeças em direção a Daimen, que lançou um projétil vermelho de aparência banal contra ela. Sem pressentir grande perigo, a hidra simplesmente mordeu o projétil para fazê-lo desaparecer… estilhaçando o frasco de poção escondido dentro do projétil bem dentro de sua boca.

A hidra, como um todo, recuou ao sentir a mistura alquímica escorrer por sua garganta, interrompendo todos os seus ataques. A cabeça afetada soltou um grito agonizante enquanto rapidamente começava a se transformar em um cristal branco brilhante. Sua regeneração natural foi incapaz de interromper o processo e parecia inevitável que toda a hidra se cristalizasse rapidamente e se transformasse em uma estátua sem vida e brilhante.

Sem hesitar, uma das outras cabeças da hidra mordeu o pescoço da cabeça que se cristalizava rapidamente e a arrancou em uma chuva de sangue e vísceras. Agora reduzida a seis cabeças, mas a salvo do veneno cristalizante, a hidra lançou a Daimen um olhar assassino e se preparou para outra investida.

Infelizmente para a hidra, foi nesse momento que Zach, Zorian e Chassanah chegaram ao campo de batalha e a maré mudou. Chassanah circulou o campo de batalha, conjurando barreira após barreira e impedindo que qualquer outra pessoa fosse morta ou gravemente ferida pela multidão de ataques da hidra. Zorian já havia descoberto o suficiente sobre sua mente para começar a mexer com sua mira e timing, e ocasionalmente lançava feitiços de combate contra ela também quando via uma boa abertura.

E então havia Zach. Ao contrário de Zorian e Chassanah, ele não se preocupou com um disco de força — quando a hidra se teletransportou para longe dele, ele simplesmente saltou no ar e voou em direção ao novo campo de batalha como se fosse a coisa mais normal do mundo, com suas oito mandíbulas espectrais a tiracolo. O misterioso orbe branco ainda flutuava sobre sua cabeça. Enquanto ele se movia, outros três orbes idênticos se juntaram ao que ele havia criado anteriormente, igualmente passivos por ora. Quando ele finalmente alcançou a hidra, as mandíbulas espectrais que o seguiam avançaram, mordendo-a, e ela foi instantaneamente colocada na defensiva.

Naturalmente, foi então que a hidra utilizou mais uma de suas habilidades surpresa. Ela rugiu novamente, expelindo nuvens de gás verde brilhante em todas as direções. Todos foram forçados a recuar temporariamente do que provavelmente era algum tipo de névoa venenosa, dando à hidra um descanso muito necessário.

A batalha continuou. A hidra perdeu mais uma cabeça, depois duas. A hidra conseguiu privar de Zach  todas as mandíbulas espectrais e feriu outro homem de Daimen. Zorian conseguiu atingir o corpo principal da hidra com uma esfera dilacerante, causando-lhe um ferimento duradouro. Todos os seus golens acabaram sendo reduzidos a sucata, no entanto. O gigante ectoplasmático de Daimen foi disperso, mas Daimen conseguiu cortar sua cauda em resposta. À primeira vista, parecia que eles estavam vencendo e que a vitória era apenas uma questão de tempo… mas a verdade era que eles estavam ficando sem mana. A hidra podia estar à beira do colapso, mas eles também. Até as reservas de mana aparentemente inesgotáveis de Zach estavam começando a se esgotar.

Eles não queriam recuar. Pelo menos uma pessoa estava morta, muitas sofreram ferimentos graves e eles usaram muitos recursos caros durante a batalha. Além disso, embora a hidra estivesse gravemente ferida, ela se recuperaria rapidamente se fosse deixada em paz. Muito mais rápido do que o grupo deles. Se fugissem e voltassem mais tarde, ela provavelmente estaria com a saúde em dia, com todas as cabeças de volta.

A hidra também não queria recuar. Só lhe restavam três cabeças, mas sabia que poderia se recuperar desse revés muito rapidamente. Seus inimigos estavam visivelmente enfraquecidos, ela só precisava continuar e sobreviver a eles. Além disso, virar as costas para inimigos tão perigosos era loucura — todos os seus instintos lhe diziam que fazer isso seria um erro. Melhor arriscar lutar até o fim do que ser derrubada pelas costas ao tentar fugir.

No fim, porém, todos subestimaram Zach novamente. Em algum momento da luta, Zach criou outra esfera branca para se juntar às quatro que havia preparado anteriormente. Ele então passou o resto da batalha organizando as cinco bolas pelo campo de batalha e tentando manobrar a hidra para o centro da formação. Embora ninguém, exceto Zach, soubesse para que elas serviam, sua performance foi impressionante o suficiente para que todos se esforçassem ao máximo para ajudá-lo. A hidra estava cautelosa com as bolas no início, mas com o passar do tempo e elas se tornando pouco mais do que ornamentos brilhantes, ela começou a ignorá-las em grande parte.

Eventualmente, Daimen instruiu seus homens a fingirem uma debandada em pânico e a hidra os seguiu imprudentemente, pisando bem no meio da formação resultante. Naquele exato momento, Zach fez um estranho sinal de mão e as bolas se ativaram. Uma teia de fios brilhantes se desdobrou delas, atravessando o espaço vazio para entrelaçar-se e prender a hidra sob uma cúpula de fios de aparência delicada.

A hidra experimentou roçar a cúpula de fios e sibilou de dor enquanto eles dilaceravam sua carne como mil lâminas entrelaçadas.

E então a cúpula começou a encolher.

Todos assistiam, exaustos, enquanto a hidra gigante lutava futilmente para escapar da cúpula de fios cortantes que se fechava sobre ela. Ela berrou de fúria repetidas vezes, desafiadora até o fim. Finalmente, com todo o corpo mutilado e apenas uma cabeça intacta, ela mais uma vez se enrolou em uma bola e se teletransportou para fora da esfera.

Ao contrário do primeiro teletransporte, este não a levou muito longe. Na verdade, a hidra apareceu bem ao lado da esfera que se encolhia rapidamente, tendo se transportado o suficiente para escapar da morte imediata. Ela cambaleou enquanto se desenrolava, parecendo que ia desabar morta a qualquer momento. No entanto, antes que isso pudesse acontecer, ergueu a cabeça uma última vez e lançou a Daimen um olhar amargo e assassino. Embora fosse Zach o responsável por sua situação atual, ele estava perseguindo Daimen e seus homens quando caiu na armadilha, e o via como o principal culpado pelo seu estado atual.

Através de sua percepção mágica, Zorian detectou repentinamente um enorme acúmulo de magia na hidra. Aliás, praticamente todos pareciam ter percebido, considerando como estremeceram em surpresa. Antes que alguém pudesse fazer qualquer coisa, a hidra abriu sua última boca restante e disparou um feixe de energia negra como breu diretamente em Daimen.

Com os olhos arregalados, Daimen enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno e modesto espelho, colocando-o à sua frente como uma espécie de escudo.

O feixe atingiu. O espelho se estilhaçou como se tivesse sido atingido por uma bomba, e o som de sua destruição reverberou pelos arredores com uma intensidade anormal. O próprio Daimen foi jogado para trás como uma boneca de pano, com o braço que segurava o espelho claramente quebrado. O raio negro, no entanto, desapareceu, como se nunca tivesse existido.

Por um segundo inteiro, a hidra pareceu contemplar a cena. Então, estremeceu por um instante e caiu para o lado, morta.

A batalha havia terminado.

* * *