Capítulo 29 – Os caçadores e os caçados (2/3)
Então, agora a aranha assassina também tinha percepções hipersensíveis? Isso era absurdamente ridículo. Como diabos ela o notou, de qualquer forma? Ele até tirou um tempo para preparar alguns feitiços de camuflagem e proteções silenciosas ao redor de si só para prevenir coisas como essa de acontecer. Verdade, elas eram razoavelmente fracas, já que ele queria conservar mana, mas elas não deveriam ter-
Ele franziu a testa. Era isso, não era? A caçadora cinza estava rastreando-o através das proteções. Suas presas naturais eram ditas ser outras criaturas mágicas. Tinha um veneno especificamente projetado para neutralizar magia. Provavelmente existia algum tipo de sentido mágico inato que a permitia sentir suas presas a grandes distâncias. Em vez de protegê-lo da caçadora cinza, as proteções que ele montou estavam revelando sua posição para ela. O fato delas serem tão fracas era provavelmente o único motivo pelo qual sua posição não foi adivinhada instantaneamente e, em vez disso, ela foi compelida a tropeçar em todo o local como tentativa de localizá-lo.
Se isso, então ele estava em apuros. Ele não poderia não fazer nada, pois o monstro eventualmente o farejaria. Por outro lado, no momento que ele tentasse teletransportar para longe, sua localização, quase certamente, seria destruída completamente.
10 segundos depois, com a aranha chegando cada vez mais perto e com nenhuma solução à vista, Zorian decidiu que ele teria que agir rápido e rezar pelo melhor. Respirando profundamente para se acalmar, ele começou a conjurar o feitiço de teletransporte o mais rápido que podia.
Como ele temia, a caçadora cinza reagiu instantaneamente. No momento em que a primeira palavra do encantamento saiu de sua boca, a aranha avançou em sua direção, abandonando seu errático e incerto avanço de antes. Enquanto corria em sua direção, inclinou-se para fora do conjunto de glifos explosivos que Zorian posicionou em cada uma das rochas em seu caminho, de alguma forma ciente de suas existências e funções, ele lançou-se de lado no ar. Pousou verticalmente no tronco de uma árvore próxima e imediatamente lançou-se ao lado novamente, ricocheteando de árvore em árvore e ganhando altitude a cada pulo, até que finalmente estava perto e alto o suficiente para alcançar a localização de Zorian.
Zorian terminou o feitiço de teletransporte e foi puxado para longe no último segundo. A visão horrenda de uma aranha gigante pulando pelo ar em sua direção, com as pernas dianteiras estendidas e enormes presas pretas prontas para um acerto, iriam assombrá-lo em seus pesadelos nos dias seguintes.
* * *
Após seu encontro quase mortal com a caçadora cinza, Zorian decidiu colocar a missão de Silverlake em espera indefinida. Afinal, havia várias outras pessoas que Kael listou como possíveis ajudantes, e talvez, se ele falasse com ela em outro reinício e tentasse novamente, ela o enviasse em uma tarefa menos suicida.
Era bem frustrante, entretanto. O pensamento de como ele foi imensamente superado pelo que era fundamentalmente uma besta irracional, refrescou sua mente da memória daquele reinício final em Cyoria, quando ele confrontou Robe Vermelho nas ruínas do assentamento araneano. O fato de que a caçadora cinza era uma aranha gigante, assim como as araneas, trouxe à sua mente comparações desconfortáveis. Apesar de saber, intelectualmente, que não havia vergonha em perder para uma criatura que até mesmo magos famosos hesitariam enfrentar, e que ele deveria, na verdade, estar feliz por estar vivo, ele se encontrou bastante incomodado com sua incompetência.
Ele gastou o dia seguinte rastreando as aranhas gigantes do alçapão, que eram similares em tamanho com os caçadores cinza, mas eram amarronzadas e abismalmente menos perigosas, antes dele retirá-las de seus buracos com fumaça e as matar com uma variedade de modos dolorosos. Seus olhos e glândulas venenosas valiam bem mais que a pele de lobo também. Ele deveria fazer isso mais vezes.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Ainda com relativo humor deprimente, ele começou a ver se algum dos outros contatos de Kael eram capazes e dispostos a ajudá-lo. Quando ele chegou em uma vila onde seu primeiro candidato vivia e foi informado pelos locais que o homem não tinha sido visto nos dois últimos meses, ele não se importou. O homem era um mago aposentado fascinado por familiares — ele tinha seis deles, bem como um grande número de pets mais mundanos, e estava sempre buscando adicionar outras criaturas exóticas à sua coleção de feras. Uma ausência de dois meses era um pouco incomum, mas não algo que levantasse imediatamente um alerta.
Mas então outros desaparecimentos começaram a se acumular. A velha herbalista que às vezes também removia maldições simplesmente sumiu, e seus vizinhos não tinham ideia de para onde ela foi. Os dois irmãos que viviam em uma torre que construíram longe da civilização e secretamente estudavam magia de alma não estavam presentes em sua casa, o portão da torre estava quebrado e os interiores estavam despojados de qualquer coisa que valesse a pena. O sacerdote em uma vila perto dedicado a estudar os mortos-vivos e meios para enfrentá-los foi encontrado morto em sua casa há 4 dias, causa da morte desconhecida. Ele era jovem e não tinha problemas médicos ou vícios conhecidos, então era suspeito de crime. Um alquimista especializado em transformação mágica foi dilacerado fora de seu vilarejo por um grupo de javalis anormalmente agressivos. E assim por diante. Apenas o sacerdote e o alquimista foram efetivamente confirmados mortos, os outros haviam saído em viagens de negócios repentinas ou apenas desapareceram algum dia, e os desaparecimentos estavam em uma área suficientemente grande que ninguém pareceu tê-los conectado em um único padrão, mas Zorian sabia que isso não era acidental.
Alguém estava deliberadamente mirando em qualquer um que possuísse algum tipo de conhecimento em magia de alma. A única questão era se as pessoas desaparecidas estavam mortas ou apenas sequestradas para algum propósito.
Felizmente, ele finalmente conseguiu localizar uma das pessoas que Kael mencionou a ele. Para seu lamento, o homem em questão não sabia qualquer magia de alma. Vani era ‘apenas’ um estudioso, e de acordo com Kael, poderia apontar a ele alguém que soubesse. Possivelmente. A única arapuca era que Vani era bem adepto da conversa, ziguezagueando de tópico em tópico como ele bem-quisesse, e ele recusaria ajudar qualquer um que fosse de alguma forma desrespeitoso com ele. Portanto, qualquer um que o buscasse por conselhos teria que ser muito paciente e preparado para divagações frequentes.
Zorian podia ser paciente. Ele bateu na porta da casa do homem e foi prontamente guiado adentro por Vani, um homem alegre e envelhecido, com entradas na linha do cabelo, que não estava nem um pouco surpreso que alguém o procurasse para pedir conselhos.
O interior era… sobrecarregado. Essa era a única palavra que se encaixava, sério. Quase todo centímetro da casa estava cheia de caixas, estantes e pedestais que guardavam livros, estátuas grandes e pequenas, plantas e animais preservados em frascos, vitrines que continham pequenos modelos ou construções e outras coisas do tipo. Onde as paredes eram visíveis, eram geralmente cobertas por pinturas e desenhos. Enquanto Vani o conduzia para seu escritório, a visão de Zorian caiu sobre uma estátua particularmente grande e realista de uma mulher nua com alguns grandes… abundantes… atributos, e ele arqueou uma sobrancelha divertida para o homem.
“É uma, ahn, deusa da fertilidade ou algo do tipo” o homem apressou-se em explicar. “É uma coisa temporária, um amigo meu me enviou para guardar e você sabe como é. Coisa fascinante. De qualquer forma! Não pense que eu não sei quem você é, jovem rapaz — você é aquele que estava matando todos os lobos invernais da região ultimamente!”
“Ehh, isso é um problema?” Zorian perguntou.
“Problema?” o homem riu. “É o oposto! Finalmente alguém fez alguma coisa para abater um pouco dessas feras horríveis. Elas não são tão ruins agora, mas com a chegada do inverno elas ficam agressivas e começam a atacar viajantes e comunidades remotas. Esteve acontecendo uma série de desaparecimento de crianças nos últimos invernos, e todo mundo sabe que a culpa provavelmente é dos lobos invernais. Droga, essas coisas malditas ficam mais ousadas com o passar de cada ano…”
“Como ninguém organizou um grupo de caça ainda, então?” perguntou Zorian. A guilda dos magos foi basicamente fundada para reagir em situações como essa, afinal.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
“Neva de forma pesada aqui no inverno, e torres inteiras podem ficar ocasionalmente desligadas do resto do mundo por dias, então é difícil ordenar uma resposta a tempo. Na maior parte das vezes ninguém sequer descobre que houve uma crise até dias depois, quando nada pode ser feito,” Vani tamborilou seus dedos contemplativamente na mesa, como se considerasse algo. “Ou, pelo menos, é o que os caçadores e as autoridades gostam de dizer. Pessoalmente, eu apenas acredito que eles estão com medo do Prateado.”
“Prateado?” perguntou Zorian curiosamente.
“É um rumor. Alguns anos atrás, quando os lobos cinzas inicialmente começaram a agir, houve uma tentativa de organizar um abate em larga escala e um grande grupo de caça foi organizado. Isso acabou… Mal. De acordo com as histórias, inúmeros bandos de lobos invernais trabalharam juntos para atrair os caçadores a armadilhas, os separando em grupos menores que foram derrotados um a um. Eles agiam mais como um exército do que como um grupo de animais selvagens, e os sobreviventes alegaram que eles foram liderados por um grande lobo invernal com uma pele prateada brilhante. O Prateado — um alfa dos alfas, inteligente quanto qualquer homem e com o poder de direcionar seus irmãos menores contra os humanos. Houve uma tentativa oficial pela guilda dos magos de Eldemar de localizar e eliminar esse lobo invernal, mas eles não encontraram nada — nem o lobo invernal ou quaisquer evidências de múltiplos bandos trabalhando juntos. Vários dos locais ainda estão convencidos de que ele existe, no entanto — eles dizem que quem vai atrás dos lobos acaba sendo confrontado por ele cedo ou tarde.”
“Entendo”, franziu Zorian. “E o que você pensa?”
“É possível, eu suponho,” admitiu Vani. “Nós vivemos em um mundo louco, e você nunca pode dizer que algo realmente é impossível. Pode ser um experimento foragido feito por algum mago lunático na floresta. Pode ser uma nova espécie originária do Coração do Inverno. Pode até ser um mago polimorfo em alguma cruzada transtornada para proteger os monstros sanguinários desses terríveis humanos. Tudo o que eu sei é que estou satisfeito que alguém não esteja ficando intimidado com todo esse alarmismo rodando por aí…”
Levou outros 15 minutos até que Vani decidiu finalmente perguntar o porquê de Zorian ter ido até ele.
“Kael me enviou,” disse Zorian. “Ou melhor, ele listou seu nome como uma possível fonte de conselhos”
“Kael!” Vani disse alegremente. “Ah, eu lembro dele… é lamentável o que aconteceu com a esposa e a sogra dele. O Choro levou tantas pessoas maravilhosas de nós. Ele continua com sua filha, apesar disso, não é?” Zorian assentiu. “Ótimo. Crianças são o maior tesouro. Conte a ele por mim. Ele me ajudou a escrever um livro, você sabia? Ele te disse isso?”
“Ele falou”, Zorian confirmou. Kael o havia alertado que Vani era um pouco frívolo e amava discutir seus livros, e que seria uma boa ideia ler um ou dois. Zorian atendeu esse aviso e leu dois deles. O primeiro, aquele que Kael ajudara o homem a escrever ao coletar relatos de várias pessoas na região, era sobre a história recente da região e era predominantemente uma coleção de anedotas, algumas interessantes e divertidas e algumas tremendamente tediosas. Se não fosse pelo conselho de Kael, ele nunca teria passado do primeiro capítulo. “Eu até li, assim como o outro livro.”
“Oh?”
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
“Era titulado “História da Altazia Pré-Ikosiana,” Zorian falou, considerando se contava a verdade ao homem ou simplesmente o bajulava. Ele decidiu ir com a verdade por enquanto. “Eu… era meio interessante, mas eu não concordo realmente com muito que está nele. Minha principal crítica é que você continuava falando sobre as tribos pré-ikosianas vivendo em Altazia como se elas tivessem vivido em isolamento total, quando a realidade era que a costa sul inteira de Altazia era pontilhada com colônias e fortes Ikosianos que remontavam a pelo menos mil anos. Os Ikosianos dificilmente eram os completos alienígenas de Altazia que você retratou em seu trabalho.”
“Ah, mas as evidências históricas claramente mostram que a influência cultural daqueles estados costeiros não se estendeu terra adentro,” pontuou Vani triunfantemente.
“Isso talvez seja estritamente verdade, mas os Ikosianos eram muito mais avançados tecnologicamente do que tribos Altazianas na maioria das áreas, e eu penso que você está subestimando enormemente o efeito da simples difusão tecnológica na cultura das pessoas…”
Sim. Isso provavelmente ia demorar.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.