Capítulo 37 - Queima Lenta (2/3)

Quando Mente Em Chamas declarou que as defesas mentais de Zorian eram ‘passáveis’ e que eles passariam a aprimorar seu arsenal ofensivo, ele ficou cautelosamente otimista, mas não esperava muito. A prática provavelmente se tornaria menos dolorosa, já que Mente Em Chamas seria a receptora final dos ataques dessa vez, mas ele realmente não achava que seus ataques seriam muito eficazes. As defesas mentais dela estavam fadadas a ser excelentes.

Mas então Mente em Chamas disse a ele para acertá-la com seu melhor tiro e simplesmente ficou lá parada, contente em resistir passivamente ao ataque, e Zorian decidiu atendê-la. Ele despejou uma quantidade extremamente grande de mana em seu próximo ataque, o máximo que ele conseguiu sem que a coisa toda perdesse a coesão, e bateu o projétil direto em sua concha mental.

Os resultados foram além de todas as suas expectativas. Em vez de simplesmente ricochetear em sua concha mental como ele esperava, o ataque facilmente explodiu suas defesas e bateu em sua mente desprotegida como um aríete. Ela gritou de dor, tendo espasmos e se debatendo com todo o corpo e, por um breve momento, houve um pandemônio quando outras araneas próximas irromperam na sala para ver sobre o que era a confusão. Zorian tentou explicar o que tinha acontecido sem que tudo se transformasse em uma briga. Por um momento, ele teve certeza de que teria que fugir e já estava segurando a haste de retirada em sua mão para se teletransportar, mas Mente Em Chamas se recuperou a tempo de acalmar a situação.

Ela também insistiu em continuar as aulas como se nada notável tivesse acontecido e começou a espantar todas as outras araneas que vieram em sua defesa.

[Maldição], Mente Em Chamas resmungou quando ficaram sozinhos novamente. [Não só fui derrubado por um novato humano, mas todos viram também. Não vou superar isso por muito tempo.]

[Uh, desculpe?] tentou Zorian. Ele não tinha certeza do que sequer dizer a ela, com toda a honestidade.

[Não peça], ela disse. [É minha culpa, sério — sua inexperiência colocou automaticamente na minha mente para tratá-lo como um dos nossos jovens, e eu tolamente presumi que seu ataque seria como o deles. Mas, embora suas habilidades em combate mental deixam muito a desejar, você ainda é um mago qualificado com bastante mana para queimar e experiência considerável em administrá-la. Eu deveria ter deixado você enfrentar minhas melhores defesas e só depois diminuído a força. Eu deveria ter esperado para ver como era seu ataque mais forte em vez de fazer suposições sobre o quão forte meu escudo precisava ser. Que isso sirva de lição para você também, caso você ensine a alguém — é sempre imprudente ser arrogante e descuidadamente presunçoso, para não ser derrubado por algum filhote precoce.]

Ele não era um maldito filhote! Ele estava a apenas um ano de ser legalmente reconhecido como adulto, e já era um se o tempo gasto no loop temporal fosse levado em consideração!

[Eu não fiz nada permanente, fiz?] Zorian perguntou em vez disso.

[Não, claro que não. Por que você acha- Ah. Vejo que na minha pressa de levar suas habilidades práticas a um nível viável, negligenciei alguns pedaços cruciais da teoria. Como o que acontece quando um atacante consegue romper as defesas do defensor.]

[Coisas ruins?] arriscou Zorian.

[Sim, mas talvez não tão ruim quanto você imagina], ela rebateu. [Para simplificar grosseiramente as coisas, há quatro coisas principais que se pode fazer a um alvo desprotegido. A primeira é simplesmente atacar sua mente telepaticamente, visando danificá-la. Esta é, em quase todos os casos, simplesmente um meio de incapacitar o alvo por um tempo. É muito difícil realmente matar pessoas por meio de ataques puramente mentais — geralmente esses ataques simplesmente causam muita dor e fazem o alvo perder a consciência por um tempo. Talvez um bom tempo, e eles podem sofrer de dores de cabeça, confusão e amnésia por um tempo, mas mesmo assim é quase garantido que eles eventualmente se recuperem.]

[Oh. Eu não sabia disso], Zorian admitiu. Ele honestamente pensou que ser atingido por uma investida telepática suficientemente poderosa poderia aleijá-lo permanentemente. Por outro lado, ‘por um tempo’ poderia talvez significar meses ou anos, então ainda não é algo para se levar levianamente. E ele tinha certeza de que um ataque indutor de dor poderia ser facilmente adaptado a um instrumento de tortura. [Então você nunca esteve em perigo permanente, mas provavelmente ficará ferida por um tempo.]

[Sim, essa é a versão resumida.]

[E as outras três coisas que o atacante poderia fazer ao alvo?] Zorian perguntou.

[Bem, a segunda possibilidade é que o atacante extraia informações do alvo, seja lendo seus pensamentos ou sondando suas memórias. Ler pensamentos é a opção mais fácil, claro, mas muitas vezes ineficaz. Araneas, magos e até alguns civis humanos também aprenderam a manter certa disciplina sobre seus pensamentos superficiais, tornando difícil arrancar informações de suas mentes dessa forma. Com isso, sobra a leitura de memória profunda, e isso não é nem de longe tão fácil quanto parece, pois a maioria das pessoas tem muitas memórias para peneirar e pode sentir quando alguém está vasculhando suas cabeças e resistir. Até mesmo não psíquicos podem resistir a varreduras de memória profunda se forem mentalmente obstinados, e o psíquico não for muito versado na habilidade…]

Zorian permaneceu em silêncio. Ele havia levantado a possibilidade de aprender manipulação de memória muitas vezes no passado, e ela sempre disse a ele que ele ainda não estava pronto. Ele não conseguia imaginar que a resposta dela seria diferente agora. Pelo menos não foi um não categórico, ele supôs.

[A terceira e quarta opções são o que nós, araneas, chamamos de manipulações profundas e superficiais. Manipulações superficiais consistem em manipulações temporárias, como enganar os sentidos ou amplificar uma emoção específica na vítima para produzir uma reação desejada. Manipulações profundas, por outro lado, são mais… permanentes. Elas consistem em coisas como modificar as memórias de alguém, apagar seções inteiras de sua vida, impor compulsões duradouras ou transformá-los em agentes adormecidos sem consciência. Técnicas profundas são o que muitos humanos associam à magia mental, mas elas, na verdade, raramente são usadas. Tais alterações mentais duradouras exigem que o atacante mergulhe fundo na mente da vítima e gaste muito tempo ajustando as coisas, tornando o uso difícil e demorado. Isso não é algo que você usa em uma luta — é algo que você faz a um inimigo que foi derrotado decisivamente e não pode revidar. Mesmo entre nós, aranea, é considerado uma arte obscura. Poucos de nós são proficientes em seu uso.]

Zorian suspirou. “Isso tudo está levando a uma explicação sobre por que você não quer me ensinar nenhuma manipulação de memória, não é?” ele disse em voz alta.

[Sim e não], Mente em Chamas disse cuidadosamente.

“Então um não expresso em linguagem floreada,” disse Zorian ironicamente. “Cara, essa é a terceira recusa consecutiva. Vou ter que encontrar mais teias para investigar…”

[Oh, você foi para outras teias com isso?] ela perguntou, nem um pouco incomodada com sua pequena explosão. [Parece uma história e tanto, você terá que me contar sobre isso mais tarde. Mas não nos descarte ainda. Embora seja verdade que não estamos prontos para deixar você vasculhar nossas mentes, mesmo como prática, isso não significa que não podemos ajudar a prepará-lo para quando você finalmente encontrar uma aranea corajosa o suficiente para permitir que você leia suas memórias.]

“E você vai fazer isso como…?”

[O principal problema que você enfrenta ao tentar ler mentes araneanas é que nossas maneiras de perceber o mundo são muito diferentes das suas. Nossos muitos olhos nos permitem ver o mundo de três maneiras diferentes, apenas uma delas — a fornecida por nosso par de grandes olhos frontais — é de alguma forma análoga à visão humana. Também podemos sentir vibrações através de nossas pernas, e nosso sentido do tato é muito mais sofisticado que o seu. É como podemos navegar pelos túneis tão facilmente sem luz para enxergar.]

“Você não consegue ver no escuro?” perguntou Zorian. A maioria dos moradores da Masmorra conseguia.

[Não, precisamos de pelo menos um pouco de luz para ver], ela disse. [Temos uma excelente visão cem baixa luminosidade, no entanto. Mas estamos nos desviando do assunto. O que estou tentando dizer é que mesmo se você tivesse acesso a uma memória araneana, provavelmente não seria capaz de analisá-la. Se você quer ser capaz de ler memórias araneanas, primeiro precisa aprender a processar a maneira como percebemos o mundo. E é aí que eu consigo ajudar você. Posso deixar você acessar meus sentidos e se ajustar a eles. Posso até empacotar algumas das minhas memórias mais triviais em pequenos pacotes e enviá-los a você pelo vínculo telepático para ajudá-lo a entender como lidar com pacotes de memória.]

“Oh”, Zorian disse sem graça. Sim, isso soou útil. Um tanto apaziguado pela resposta dela, ele voltou para a comunicação telepática. [Então, talvez possamos mudar para isso agora? Devo admitir que estou ficando completamente cansado de exercícios de combate. Sei que é importante praticar meus escudos mentais, acredite, mas vou enlouquecer se isso continuar por muito mais tempo.]

[Na verdade, sim. Eu queria esperar com essas instruções até que você pudesse realmente romper meus escudos mentais antes de começar esse caminho, mas você conseguiu. Não da maneira que eu esperava ou planejava, mas o justo é justo. Começaremos com manipulações superficiais, já que você precisará de alguma proficiência com elas antes de poder acessar os sentidos de alguém. O quanto seus outros professores araneanos lhe contaram sobre elas?]

[Muito pouco, além do fato de que eles existem], disse Zorian. [Mas manipulações superficiais são basicamente controle mental, certo? Nós cobrimos isso na minha academia de magia. Apenas teoricamente, com ênfase em identificar o tipo de controle mental e como combatê-lo, mas ainda assim.]

[Resuma essas lições para mim, por favor]. ordenou Mente Em Chamas. [Quero ver com o que estou trabalhando.]

Com um movimento de mãos, Zorian criou um diagrama geométrico brilhante que era informalmente conhecido como o ‘retângulo de controle mental’ entre os alunos e cujo nome oficial escapou a Zorian no momento. Era algo muito eloquente e complicado para o que eram basicamente quatro palavras organizadas em uma grade simples de dois por dois — um retângulo dividido em quatro menores, cada um dos quatro principais métodos de manipulação de pessoas por meio da magia mental atribuído a seu próprio canto.

Dominação, Sugestão

Marionetização, Ilusão

[Bonito], Mente Em Chamas falou inexpressiva. [Mas devo confessar que nunca aprendi a ler a escrita humana, então você terá que me explicar o que isso significa.]

Ah. Certo. Às vezes ele se esquecia de que, apesar de toda a interação das aranea com os humanos, elas ainda eram seres alienígenas com uma cultura completamente diferente. Os ikosianos possuíam uma reverência quase religiosa pela palavra escrita e espalharam a alfabetização para todos os lugares que caíram sob seu domínio, então a alfabetização era quase universal nos lugares que eles já governaram. A alfabetização universal provavelmente tornou muito mais fácil treinar o máximo de pessoas possível para se tornarem magos também, proporcionando assim benefícios tangíveis para a política. As araneas, por outro lado, não tinham essa tradição e provavelmente não conseguiam usar a escrita no estilo humano de forma eficaz de qualquer forma. Ele sabia que a teia cyoriana tinha várias araneas capazes de ler e escrever, mas a maioria das araneas provavelmente não precisava dominar tais habilidades.

[Dominação e sugestão representam feitiços que impõem a vontade do conjurador sobre o alvo], disse Zorian, apontando para a linha superior do retângulo. [Feitiços de dominação envolvem o conjurador ordenando diretamente ao alvo que faça algo e compelindo-o a fazê-lo contra sua vontade. A sugestão tenta apresentar a ordem como algo que o alvo quer por conta própria. Eles são baseados em vontade e situação; dependendo do tipo de pessoa em que você conjura tais feitiços e das circunstâncias em que ela se encontra, pode ser completamente impossível afetá-la com esse tipo de magia mental. A maioria das pessoas resistirá a ordens de se matar ou matar seus entes queridos, por exemplo, e é quase impossível convencer um soldado em patrulha de que você não é a pessoa que eles estão procurando se eles tivessem recebido sua foto ou alguém o tivesse destacado para eles]. Ele apontou para a linha inferior do retângulo. [Marionetização e ilusão, por outro lado, não são diretamente afetadas pela personalidade e circunstâncias do alvo. Marionetização usurpa totalmente o controle do alvo sobre seu corpo e o pilota como um… bem, fantoche. Ilusões manipulam os sentidos do alvo de alguma forma. Nenhum deles pode ser resistido dado isso, embora a marionetização tenha que superar a resistência mágica do alvo primeiro e as ilusões possam ser detectadas e dissipadas.]

Zorian acenou com as mãos novamente e a ilusão se dividiu ao meio, separando o retângulo em lados esquerdo e direito — dominação e marionetização no lado esquerdo, sugestão e ilusão no lado direito.

[Dominação e marionetização são métodos forçados], ele disse. [O alvo sabe que está sendo alvo de um feitiço e geralmente ficará furioso com o conjurador quando ele terminar. Como tal, eles geralmente são usados ​​em situações de combate, contra pessoas que são inimigos claros para você. Sugestão e ilusão são métodos sutis. O alvo não se torna automaticamente consciente que foi afetado e, na verdade, o objetivo deles é que permaneça inconsciente o máximo possível. Eles normalmente são usados ​​para propósitos criminosos e de espionagem.]

Feitiços de compulsão no topo, feitiços de sequestro sensorial na parte inferior, feitiços forçados na esquerda e feitiços sutis na direita. Sim, ele cobriu tudo. Ele deixou a ilusão¹ evaporar em fumaça e se acomodou para esperar pela resposta de Mente Em Chamas.

[Uma categorização interessante], ela disse. [Tem uma espécie de beleza simplista. Vou ter que lembrar disso. A realidade é muito mais complexa e menos rigidamente definida… mas chegaremos a isso mais tarde, quando for realmente relevante. Nunca fui muito fã de gastar tempo com teoria, verdade seja dita. Já perdemos tempo suficiente com isso hoje, e eu gostaria de começar algo produtivo.]

A lição que se seguiu foi excepcionalmente dolorosa, lembrando Zorian de suas lições iniciais com ela, vários reinícios no passado… e apesar de sua insistência de que ela não estava sendo mais dura com ele do que com qualquer um de seus outros alunos, Zorian sabia que a ferocidade repentina de suas lições era sua vingança por pegá-la desprevenida.

O lado bom é que ela se acalmou depois de uma semana disso. O lado ruim é que ele teria que irritá-la daquele jeito em cada novo reinício também, então ele estava olhando para uma semana de dores de cabeça dolorosas no início de cada ciclo.

Às vezes, você simplesmente não consegue vencer.

* * *

Como se revelou, a declaração de Mente Em Chamas sobre ele ser incapaz de entender os sentidos araneanos acabou não sendo apenas correta, mas um eufemismo gigantesco. Mesmo depois de um mês inteiro de prática, ele não conseguia entender os sentidos araneanos. Até mesmo tentar limitar sua conexão sensorial apenas à visão delas o deixou tonto e confuso, e quanto menos se falasse sobre o sentido do tato delas, melhor. Eles tinham um senso rudimentar de paladar nos pelos das pernas! Eles sentiam o gosto do chão em que pisavam! Por que, pelo amor de tudo que era sagrado, uma espécie precisaria ter uma habilidade dessas!?

Isso também colocou o hábito de Novidade de tocar em tudo, inclusive nele, sob uma luz totalmente nova e perturbadora…

Não que ele não tivesse aprendido nada durante o mês inteiro. Mente em Chamas conseguiu ensiná-lo a afetar as mentes dos outros de maneiras sutis. Algumas delas, como a habilidade de induzir espasmos e falha nos membros, ele já sabia como produzir — mas não de forma muito consistente antes de ser ensinado sobre a maneira correta de sequestrar o sistema nervoso de outras pessoas. Outras, como induzir paralisia corporal completa, amortecer ou amplificar levemente suas emoções, redirecionar sutilmente a atenção para longe das coisas ou induzir a falha de um ou mais sentidos, eram completamente novas para ele. Mas, embora todas essas coisas fossem inquestionavelmente úteis, a total falta de progresso na única coisa que ele realmente precisava dominar o atingiu duramente.

No fim, ele relutantemente decidiu consultar os Defensores Luminosos para obter ajuda. Por mais que eles o irritassem, eles provavelmente tinham uma resposta para seu problema. Ele conseguiu dar um curto-circuito nas negociações com eles apenas duas semanas após o reinício, simplesmente pagando o preço ridículo deles. Isso exigiu passar dia após dia explorando os níveis mais baixos da masmorra de Knyazov Dveri e vender tudo de valor que ele havia encontrado lá, mas ele conseguiu convencê-los a algo meio razoável e então simplesmente pagá-los.

De acordo com os Defensores Luminosos, seu principal problema era que ele estava basicamente tentando enfrentar um desafio muito grande de uma vez. Para começar, ele estava tentando conectar os sentidos de outros enquanto ainda mantinha os seus, forçando sua mente a processar diferentes perspectivas de uma vez. E não, ficar sentado com os olhos fechados não era nem de longe o suficiente para contornar isso. Para lidar com esse problema, os Defensores Luminosos o ensinaram a voltar suas habilidades mentais para dentro e desligar um ou mais de seus sentidos, deixando apenas o fluxo sensorial estrangeiro para sua mente processar.

A segunda sugestão deles foi que ele tinha que praticar a conexão sensorial em algo mais fácil primeiro. De preferência seus companheiros humanos, já que seus sentidos eram mais próximos dos dele, mas alguns dos animais mais semelhantes também poderiam ser suficientes. Somente quando ele dominasse a arte de conectar nos sentidos de seus companheiros humanos, ele se daria ao trabalho de tentar conectar em algo tão alienígena quanto uma aranea.

Quando Zorian tentou fazer exatamente isso conectando nos sentidos de um transeunte aleatório em uma cidade próxima, ele percebeu que eles estavam completamente corretos. Ele quase desmaiou de desorientação, embora estivesse apenas tocando em sentidos humanos familiares dessa vez. Levaria muito tempo até que ele pudesse passar para algo mais exótico do que um humano, ao que parecia.

O que lhe apresentou um problema. Embora as habilidades mentais de Zorian fossem boas o suficiente para que ele não temesse ser descoberto toda vez que as usasse em algum civil aleatório, ele dificilmente poderia garantir que nunca iria bagunçar e revelar ao seu alvo que estava mexendo com suas cabeças. E, francamente, você nunca poderia realmente ter certeza de que seu alvo era realmente ‘um civil aleatório’ — era muito possível entrar na mente de algum mago de alto escalão bom em se misturar à multidão, ou encontrar um civil treinado para detectar tais intrusões. E a resposta da guilda de magos aos magos mentais desonestos era severa. Ele não queria uma equipe de caçadores de guildas atrás dele, mesmo que o loop temporal provavelmente o protegesse das piores consequências.

E isso sem nem mesmo considerar a dimensão moral da coisa toda. Usar pessoas inocentes como cobaias por uma questão de treinamento pessoal não era o caminho que ele queria seguir, e descartar a situação delas como irrelevante devido ao loop temporal lhe pareceu uma atitude doentia. Ele poderia ter justificado a coisa toda para si mesmo se fosse apenas uma questão de conectar os sentidos delas, já que isso era inofensivo, mas os Defensores Luminosos deixaram claro que essa não era a única habilidade que ele teria que praticar em seus companheiros humanos para acertar. Ele encontraria exatamente os mesmos problemas quando tentasse dominar a manipulação de memórias — mesmo depois de levar em conta seus diferentes sentidos, as mentes aranianas eram suficientemente diferentes para que ele precisasse praticar em algo mais parecido consigo mesmo antes de tentar interpretar suas memórias. E praticar sondagens de memória não era seguro, inofensivo nem discreto.

Ele precisava de um alvo aceitável.

* * *

1. no caso, o diagrama retangular[↩]