Capítulo 41 - Uma Miríade de Motivos Conflitantes (3/3)

A primeira semana do reinício foi um grande sucesso aos olhos de Zorian. Verdade, ele nunca conseguiu encontrar o tesouro araneano, mas todo o resto estava indo bem.

Robe Vermelho mais uma vez negligenciou dar qualquer informação aos invasores, então eles estavam tropeçando por aí tão mal quanto no reinício anterior. Esta foi a segunda vez consecutiva que ele fez isso, e isso levando em conta apenas os reinícios que Zorian sabia — provavelmente começou muito antes disso. Robe Vermelho desistiu completamente de apoiar a invasão após o confronto? Isso foi mais do que um pouco estranho, considerando o quão dedicado ele tinha sido em ajudá-los antes. Talvez ele tenha apoiado a invasão principalmente como uma forma de manter Zach ocupado com alguma coisa e mascarar os tremores secundários de suas próprias ações? Se sim, o fato de ele ter se revelado a Zach tornaria tal truque inútil…

Independentemente do motivo, a ausência de Robe Vermelho tornou as coisas muito convenientes para Zorian. No momento em que percebeu que Robe Vermelho estava mais uma vez ignorando os invasores, ele imediatamente lançou uma série de ataques aos invasores conhecidos e seus aliados cultistas. Ele não encontrou nada de novo ainda, mas cada mergulho de memória que ele fazia o deixava um passo mais perto de abrir o pacote de memória da matriarca, então ele se considerou bem-sucedido nisso de qualquer maneira. Ele também explorou alguns dos esconderijos de recursos de emergência que ele encontrou no último reinício, e até mesmo saqueou um particularmente mal defendido. Aquele esconderijo em particular não continha nada, exceto uma grande quantidade de frascos de poção sem rótulo, o que foi um pouco decepcionante. Ele os entregou a Kael para ver se ele conseguia descobrir o que eram e encontrar um uso para eles. Ele até se sentiria mal por tirar tanta vantagem do garoto morlock, se não fosse pelo fato de Kael realmente parecer entusiasmado com todo o trabalho que Zorian estava enviando para ele, então Zorian achou que estava tudo bem.

Suas caçadas de monstros com Taiven também foram mais bem-sucedidas desta vez, já que ele tinha conhecimento de onde os ninhos de monstros e as principais rotas de migração estavam de seus reinícios anteriores. Taiven ficou em êxtase com os resultados, embora Zorian tenha notado que ela lhe dava olhares estranhos quando achava que ele não estava prestando atenção. Ela percebeu de alguma forma o quão improvável era sua alegação de adivinhar a localização dos monstros? Bem, não importa — já que ela nunca o confrontou sobre isso, ele decidiu continuar usando seu conhecimento prévio para melhorar os resultados das caçadas e lidar com as consequências quando (e se) acontecessem.

Sua busca por um passe de biblioteca melhor também estava indo bem, mesmo que ainda estivesse nos estágios iniciais. O método que ele escolheu foi extremamente simples: ele ficava à toa na entrada da biblioteca durante as horas mais movimentadas e secretamente examinava as mentes de todos que entravam e saíam, procurando por pessoas com passes mais altos que não fossem visitantes regulares da biblioteca. Afinal, embora a academia fosse mesquinha em dar autorizações mais altas a seus alunos, os verdadeiros detentores de autorizações mais altas não eram exatamente raros. Muitos magos as tinham, e poucos deles as usavam com algum grau de regularidade. Se ele escolhesse seu alvo corretamente, ele nunca perceberia que seu passe da biblioteca havia sumido. E, com sorte, a biblioteca também nunca perceberia que o portador do cartão não era a mesma pessoa cujo nome estava impresso nele.

A maior conquista desta semana, no entanto, foi a sessão com Xvim que ele estava participando no momento. Xvim geralmente era extremamente pontual em suas sessões, encerrando-as exatamente no horário determinado — nem mais, nem menos. Hoje, no entanto, Zorian tinha sido tão bom em atender às suas exigências ridículas que Xvim decidiu estender silenciosamente a sessão além do tempo estipulado. Zorian não disse nada, simplesmente continuando sua repetição sem fim das tarefas que Xvim lhe dava, mas internamente ele estava sorrindo. Mesmo que Xvim mantivesse sua fachada de pedra, o fato de ele ter decidido romper com sua rotina habitual disse a Zorian que ele estava definitivamente fazendo progresso em desconcertar seu mentor irritante.

Infelizmente, por mais que ele gostaria de ver quanto tempo Xvim pretendia mantê-lo aqui se ele não reclamasse, Zorian tinha outras obrigações a cumprir hoje.

“Uma sessão de treinamento com outra pessoa, você diz”, Xvim perguntou curiosamente. “E sobre o que, por favor, é essa sessão de treinamento, para superar o encontro com seu mentor em importância?”

“É algo que a Professora Zileti arranjou para mim”, Zorian disse, invocando a autoridade de outro professor. “Estou me encontrando com outro aluno para que possamos praticar nossa magia mental juntos.”

Xvim encarou ele por um segundo. Se Zorian esperava algum tipo de choque com sua declaração, ou um pedido de confirmação de que, sim, ele realmente queria dizer ‘magia mental’… ele ficou desapontado. Xvim apenas encarou ele por um tempo, bateu o dedo na mesa uma vez e então chegou a algum tipo de decisão.

“Por que você não me avisou sobre isso antes?”, ele perguntou.

“Não quis ofender, senhor”, Zorian assegurou suavemente. “É que esta foi nossa primeira reunião, e você imediatamente me fez começar com exercícios de modelagem quando entrei na sala. Achei que seria imprudente interromper sua aula por um detalhe tão irrelevante.”

“Hmph. E você diz que está praticando com outro aluno? O cego ensinando o cego…” Xvim disse, balançando a cabeça em desaprovação. Ele então fez um gesto de desdém com a mão, enxotando-o para longe. “Bem, então. Vá. Não vou impedi-lo de seus deveres.”

“Obrigado, senhor”, disse Zorian, levantando-se de seu assento. “Vejo você na próxima sexta-feira, então?”

“Não, venha me ver na segunda-feira depois das aulas”, disse Xvim. “Preciso ver essa sua magia mental em ação antes de poder planejar nossa próxima sessão.”

Huh. Agora, isso ele não esperava. Xvim estava insinuando que poderia ajudá-lo a desenvolver sua magia mental de alguma forma? Ele tinha um escudo mental muito bom, é verdade, mas Zorian ainda estava cético que o homem poderia ajudá-lo nesse aspecto. E ele também estava mais do que um pouco perplexo que Xvim estivesse disposto a ajudar com isso, mesmo que, por acoso, ele fosse algum tipo de especialista em magia mental… ele achava que o homem só queria exercícios de modelagem e os outros básicos?

Decidindo que teria que esperar até segunda-feira para ver o que Xvim tinha em mente, Zorian deixou o escritório do homem e foi encontrar Tinami para sua prática de magia mental.

Bem, ele tecnicamente não sabia que estava se encontrando com Tinami em particular, mas considerando que o contexto era basicamente o mesmo da última vez (ele contou a Ilsa sobre sua magia mental e solicitou um parceiro de prática), ele não achava que a identidade do outro aluno fosse um grande mistério. E de fato, quando ele chegou na sala de aula designada, ele encontrou Tinami já lá, esperando por ele.

“Você é o outro mago mental?” Tinami perguntou incrédula.

[Sim], ele respondeu telepaticamente, fazendo-a estremecer em choque. Ela estreitou os olhos para ele em resposta.

“Você está atrasado”, ela reclamou.

“Desculpe”, ele se desculpou. “Xvim inesperadamente decidiu estender nossa sessão de tutoria além dos limites. Eu só consegui sair dela alguns minutos atrás.”

“Você escolheu Xvim como seu mentor?” Tinami perguntou. “Por quê?”

“Eu moro em Cirin”, Zorian explicou. “É bem longe de Cyoria. Quando Ilsa conseguiu chegar até mim, todos os outros mentores já tinham preenchido suas cotas e Xvim era o único que restava.”

“Ele é tão ruim quanto dizem?” ela perguntou.

“Ele me fez fazer exercícios de modelagem por duas horas seguidas hoje.”

“Ai. Ok, acho que isso justifica estar alguns minutos atrasado”, ela admitiu. “Provavelmente deveríamos remarcar nossas reuniões futuras, caso isso continue acontecendo.”

“Provavelmente”, Zorian concordou. Nem ele sabia o que Xvim escolheria fazer em seguida, e ele já tinha vivido esse mês muitas, muitas vezes. “Alguma coisa importante que eu deva saber antes de começarmos?”

Assim como da última vez que fizeram isso, Tinami estava muito interessada em praticar sua telepatia e habilidade de ler pensamentos superficiais. Ela era bem ruim nisso para os padrões de Zorian, mas melhorou rapidamente sob sua direção. Quanto a ele, ele praticava principalmente acessar os sentidos de outras pessoas com ela. Ele conseguia acessar os sentidos de outros humanos facilmente neste ponto, mas tentar fazer isso realmente funcionar enquanto obtinha dois conjuntos de entradas sensoriais era um desafio enorme. Especialmente se ele e Tinami estivessem olhando em direções completamente diferentes e tal.

Na verdade, havia muito pouco que praticar com Tinami poderia lhe oferecer que ele não pudesse fazer com Kirielle, Kael ou algum estranho aleatório… mas dessa forma ele conseguiu falar com um de seus colegas de classe, o que era uma de suas resoluções para esse recomeço. Não doía que cooperar com Tinami poderia ser potencialmente muito útil, considerando quem era sua família. Também bastante perigoso, já que eles eram conhecidos por se envolverem com magia mental e necromancia, mas ele estava disposto a correr esse risco. Era uma pena que ele estivesse essencialmente começando do zero com ela, no entanto — a última vez que ele fez isso com Tinami, ele a apresentou às araneas e elas o ofuscaram aos olhos dela por uma margem considerável. Por causa disso, eles interagiram muito pouco fora de suas sessões de prática. Por outro lado, considerando que ele simplesmente a via como uma manequim de prática de magia mental naquela época e nunca sequer tentou conhecê-la, ele não tinha o direito de reclamar. Agora, porém, não havia nenhuma aranea próxima conveniente para apresentá-la, mesmo que quisesse… ele teria que chamar a atenção dela de alguma outra forma.

“Ok, eu só preciso perguntar – onde diabos você aprendeu a executar magia mental tão bem?” Tinami perguntou. “Eu tenho aprendido essas coisas por anos, com alguns tutores muito bons, e você está me superando sem esforço em todas as aplicações que eu consigo pensar. Como assim?”

“É um segredo”, Zorian disse sem rodeios. “Pergunte-me depois quando nos conhecermos melhor.”

Ela arqueou a sobrancelha para ele. “Quando, hein?”

“Quando, se, isso for do seu agrado. O ponto é que não nos conhecemos bem o suficiente para que eu revele algo tão pessoal para você.”

“Isso é justo”, ela suspirou, recostando-se na cadeira. “É realmente irritante, entretanto. Eu sei que não sou exatamente um gênio na área, mas-“

Houve uma batida na porta. Zorian e Tinami se entreolharam e deram de ombros, perplexos sobre quem poderia estar batendo na porta de uma sala de aula vazia a essa hora do dia.

“Vou verificar”, disse Zorian, levantando-se de sua cadeira. As chances eram de que fosse alguém procurando por um deles, e conhecendo sua sorte, isso significava que estavam procurando por ele.

Ele abriu a porta, apenas para encontrar Kiana parada atrás dela.

“Ahm, oi?” Zorian disse incerto.

“Oi”, disse Kiana, enfiando a cabeça para dentro da sala de aula rapidamente para ver se estavam sozinhos. Ela olhou duas vezes quando viu Tinami e lançou-lhe um olhar incrédulo.

“É particular”, disse Zorian irritado, antecipando qualquer tipo de pergunta. Ele saiu da sala de aula e fechou a porta atrás de si para que pudessem ter alguma aparência de privacidade enquanto conversavam.

“Eu não disse nada”, disse ela, levantando as mãos na frente dela defensivamente. “Só vim te dizer que Raynie finalmente decidiu se encontrar com você de novo. É às dez da manhã amanhã, neste endereço.” Ela empurrou um pedaço de papel dobrado nas mãos dele. “Eu não deveria ter que te contar isso, mas não espalhe isso por aí, ok?”

“Como se eu fosse alimentar a fábrica de fofocas”, Zorian zombou, revirando os olhos. “Você vai estar lá também, de guarda de novo?”

“Não, mas o dono daquele restaurante é amigo de Raynie, então não tenha ideias engraçadas”, ela disse. “Ah, isso me lembra – Raynie quer que você saiba que isso definitivamente não é um encontro. Mesmo que seja um encontro privado em um restaurante entre dois adolescentes…”

Ela sorriu maliciosamente para ele.

“Ei, você não deveria estar do lado da sua amiga?” ele reclamou.

“Eu estava só brincando”, ela suspirou. “Deuses, você é tão sem graça quanto ela. Que os céus nos ajudem se vocês dois realmente acabarem juntos no final… nos vemos por aí, Zorian.”

E então ela simplesmente se virou e saiu sem nem esperar pela resposta dele. Ela… não era realmente como ele imaginou que ela fosse. Balançando a cabeça, ele enfiou o papel com o endereço no bolso e voltou para a sala de aula.

“Desculpe pela interrupção”, ele disse a Tinami. “Era um pequeno assunto pessoal que eu tinha que… por que você está me olhando desse jeito?”

“Não acredito”, ela murmurou. “Ouvi dizer que você estava indo atrás de Raynie, mas pensar que você a fez concordar com isso… como você fez isso? Eu pensei que fosse impossível!”

“Eu não tenho um encontro com Raynie, Tinami”, Zorian calmamente a assegurou. “Você está tirando conclusões precipitadas.”

“A menos que… é claro!” ela exclamou. “É claro que um leitor de mentes poderia descobrir o ponto fraco dela!”

“Ei!” ele protestou. “Agora isso é simplesmente um insulto. Eu nunca violaria a privacidade dos pensamentos dela desse jeito!”

“Por que não?” Tinami perguntou curiosamente. “Eu faria, no seu lugar.”

“Você tem… você tem certeza de que quer admitir tão prontamente algo assim?” Zorian perguntou incrédulo.

“Por favor. Eu não acredito nem por um segundo que você esteja sendo perfeitamente moral e responsável com sua magia mental”, Tinami acusou. “Você é muito bom nisso para ter desenvolvido seus poderes da maneira legal.”

“Este tópico acabou, no que me diz respeito”, Zorian declarou. “Por que não voltamos a praticar magia mental? Você sabe, a coisa que deveríamos estar fazendo?”

“Eu tenho que perguntar, o que é que vocês veem naquela garota?” Tinami perguntou, ignorando-o completamente. “O que ela tem que eu não tenho? É o cabelo ruivo? É o cabelo ruivo, não é?”

Zorian enterrou o rosto nas mãos. E pensar que o dia estava indo tão bem até agora.