Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Após a decisão de assinarem o acordo com a "Hanami & Becker", Victor, Aki e Akashi vão no bar "Flor da Noite" para comemorar. Depois, Victor acompanha Aki até a casa dela, mas uma tempestade se inicia e ela o convida a dormir lá. Victor descobre que Aki tem irmãos durante a conversa e ele dorme lá.
Capítulo 10: Apenas coincidência?
26 de setembro de 2023, terça-feira
Enquanto procurava uma pasta de documentos específica numa sala da empresa, Victor estava completamente submerso em seus pensamentos. Uma introspecção. Pensava no quanto ele e Aki estavam conversando ultimamente e em como ela era gentil com ele. Ao analisar, percebeu que não estava retribuindo da forma correta, se mantendo muito calado em algumas situações em que deveria conversar mais.
Lembrou-se ainda que, no dia anterior, após saírem do bar, dormiu na casa dela devido ao temporal.
Acordou bem cedinho, antes de Aki, ou ao menos era essa a intenção. No entanto, a garota já havia se levantado mais cedo e estava preparando algo. Tomaram café da manhã juntos e, em seguida, ele saiu antes dela, pois ainda precisava passar em casa para se trocar antes do trabalho.
Mesmo que não fosse intencional, aquele tipo de atitude o incomodava. Era difícil simplesmente tentar mudar sua personalidade tão rápido. Depois do ocorrido com sua família, seus sentimentos foram trancados, e ele perdeu, de certa forma, a habilidade de leitura interpessoal.
Entender algumas situações ou perceber o que os outros sentiam era quase impossível, mesmo diante de muitos sinais. Porém, com Aki, era um pouco diferente. Algumas vezes, se pegava compreendendo a situação e tentando agir da melhor forma, mesmo que não fosse algo recorrente.
Uma voz suave e conhecida pronunciou seu nome, libertando-o do transe.
Aki o chamou, fazendo-o virar automaticamente. Se deparou com a garota vestindo seu uniforme do dia a dia: uma camisa branca e a saia social preta.
— Olá, Aki — respondeu no automático. Fazia apenas alguns minutos que haviam se visto no escritório.
— Você estava viajando — ela riu. — Você está bem?
— Sim, estou — confirmou, enquanto os pensamentos de antes voltavam à sua mente com ainda mais força. Ele balança a cabeça ligeiramente, na tentativa de afastá-los.
— Que bom.
O sorriso dela fez o coração de Victor saltar ligeiramente, apesar de não compreender o motivo. Pensou que poderia ter sido apenas pelo “susto” quando ela o chamou.
— Estou procurando uma pasta com alguns relatórios físicos que guardamos por aqui há algumas semanas. — explicou, após uma falsa tosse para interromper o breve silêncio que se instaurou. Ele voltou seu olhar às prateleiras.
— Aquela vermelha, com os documentos sobre os gráficos de desempenho? — Aki perguntou, abaixando-se para verificar as prateleiras inferiores.
— Isso mesmo. — Victor faz uma breve pausa. — Sobre ontem… Muito obrigado pela recepção.
Aki percebeu que aquele era um momento incomum. Victor havia iniciado um diálogo com um assunto não relacionado ao trabalho.
— Foi um prazer ajudar um amigo. — Ainda surpresa, respondeu quase automaticamente, não querendo perder a oportunidade de aproveitar aquela conversa fora da normalidade do dia a dia.
— Sabe, ontem foi bem divertido — sua fala carregava um tom mais leve, diferente das palavras secas que costumava usar.
— Eu também me diverti bastante! — exclamou, empolgada. — Aquele Martini de Chocolate estava inexplicavelmente gostoso.
Ela se levantou após terminar de verificar a prateleira.
— O problema foi que fiquei com vontade de experimentar o Bellini de Morango. O aroma dele era muito tentador, deu para sentir quando você me entregou minha bebida. — Aki respondeu sinceramente.
— Não seja por isso. Podemos voltar lá para você experimentar.
A resposta do rapaz a surpreendeu, que responde quase imediatamente.
— Eu queria experimentar os drinks que você faz. — Balbuciou.
Ela pensou alto demais, mas Victor ouviu. Por um instante, ele não respondeu, e Aki sentiu uma leve ansiedade pelo que seguiria. Mesmo que não quisesse ter dito aquilo, apenas “pensado”, também não queria voltar atrás.
— Eu adoraria preparar algum drink para que pudéssemos beber juntos. — Após um tempo de silêncio, Victor finalmente falou.
— Qualquer dia, então, podemos fazer isso. Temos que marcar.
A resposta a deixou um pouco nervosa. “Se ele vai preparar, provavelmente será na casa dele…” Seu coração acelerou ao pensar nisso.
Eles continuaram procurando a pasta, até que Victor a encontrou em uma das prateleiras. Aki disse que poderiam voltar ao escritório, mas não antes de guardar o documento que havia ido armazenar ali.
— Aki.
Ela olhou instintivamente ao ser chamada pelo nome.
— Sobre o assunto que falamos aquele dia… sobre milagres… passei a acreditar que você tem razão. Basta acreditarmos para acontecer.
Victor há muito havia perdido qualquer confiança em milagres ou destino. Tudo que aconteceu em sua vida o tornou uma pessoa muito séria e fechada para sentimentalismos. Entretanto, pouco a pouco, Aki conseguia quebrar essa barreira.
Um exemplo disso era que Victor conseguia sorrir para ela vez ou outra, algo que não fazia há muito tempo. O fato de conseguir conversar tão bem com a garota também demonstrava que ele estava contornando esse problema graças a ela.
Para Aki, tudo isso era mérito dele próprio. O rapaz, por outro lado, sentia que era graças a ela.
— Que notícia boa! — exclamou, animada. — Eu realmente penso assim também, e sempre acontece.
— Você tem desejado um milagre recentemente? — Perguntou Victor, com um certo tom de curiosidade.
O questionamento a pegou de surpresa. Não esperava que Victor fosse aprofundar o assunto daquela forma, ainda mais jogando de volta a pergunta que ela queria fazer a ele.
— Como posso dizer? — murmurou, escolhendo as palavras. — Ele não foi completamente realizado, mas está se formando aos poucos.
Ela sorriu ao fim da frase. Mesmo que estivesse olhando para o chão, Victor percebeu.
— Eu também. — Ele desviou o olhar ao falar. — Pensando melhor em como minha vida tem sido recentemente, percebi que o que eu buscava estava acontecendo. Só que eu ainda não consigo compreender muito bem.
Aki mexeu no cabelo, não olhando para Victor diretamente. Mesmo que ele não tivesse dito expressamente, compreendeu que ela fazia parte disso. Queria continuar pensando dessa forma, e queria perguntar, queria descobrir mais.
“Será que eu realmente faço parte disso?”, imaginava ela, anates de tentar dar qualquer resposta. Ponderou por tempo demais, deixando um silêncio, antes de Victor continuar falando.
— Sou muito grato a você por estar me ajudando… mesmo que talvez você não perceba.
A voz de Victor saiu mais baixa que o normal, pois ele compreendeu a profundidade daquelas palavras antes de dizê-las.
— Eu nem sei como te responder — Aki sentia que precisava dizer algo, mas seus pensamentos estavam um caos. Todas aquelas palavras gentis dele a deixaram completamente desnorteada.
Ela sentia uma mistura de felicidade e gratidão. Talvez até um pouco de ansiedade e nervosismo, esperando ouvir palavras mais específicas, que não vieram.
— Não precisa. Só queria que soubesse que sou grato — Victor respondeu e eles cruzam olhares. Ele sorri brevemente para ela, demonstrando sua real gratidão. Até mesmo sua forma de agir estava mudando.
— Vamos voltar para o escritório.
Após o convite vindo dele, ambos voltaram ao trabalho.
Aki ficou com aquelas palavras martelando em sua cabeça. Foi realmente uma situação muito diferente do habitual. Aquela conversa íntima dentro das dependências da empresa e a profundidade com qual ele falou para ela. Mesmo assim, conseguiu focar no trabalho, enquanto a sua rotina seguia normalmente doravante.
…
28 de setembro de 2023, quinta-feira
No mesmo ambiente de costume do dia a dia para trabalhar, Aki e Victor estavam em seus respectivos assentos, focados em suas tarefas. Durante a tarde, receberam uma mensagem do senhor Akashi, informando que, ao fim do expediente, haveria uma reunião com todos os membros da empresa.
Quando o horário chegou, todos os funcionários se reuniram na sala de reuniões coletivas. Diferente do escritório onde Akashi costumava ficar, esse espaço era maior, com cerca de trinta cadeiras organizadas diante de um pequeno palco.
Em uma das laterais, uma grande janela contava com persianas que podiam deixar a sala completamente escura quando necessário. No teto, havia um projetor posicionado de frente para a parede principal, onde ficava o tablado.
Ao adentrarem, Aki e Victor se depararam com o local já cheio. Os demais funcionários estavam reunidos. Eles se sentaram ao lado de Kazuya, um homem ruivo cujo cabelo vibrante era sua característica mais marcante. Ele era responsável pelo setor de organização, juntamente com Mio. Do outro lado, estava Saio, uma mulher de cabelos cacheados e pele de um bronzeado profundo e reluzente, que trabalhava no setor de pesquisas.
— Boa tarde, Aki! Boa tarde, Victor! — cumprimentou Saio, apertando a mão de ambos. — Estão animados para a reunião?
— É sempre bom se reunir para discutir detalhes importantes para o andamento da empresa. — respondeu Victor, sério e direto.
— E, assim, todos compreendem melhor — completou Aki.
— Vocês são sempre tão profissionais — Saio riu, cruzando os braços. — Ah, Aki, quase me esqueci! Você estava precisando de informações sobre eventos de matrimônio, não é? Acabei de te enviar por e-mail.
— Ainda não cheguei a ver — Aki agradeceu. — Obrigada pela ajuda.
— Faz parte do meu trabalho. E somos uma equipe.
A conversa foi interrompida pela voz firme de Akashi, que iniciou a reunião, cumprimentando todos os funcionários de forma geral. Depois de uma breve introdução, ele finalmente chegou no assunto principal.
— Gostaria de agradecer a cada um de vocês pelo desempenho que tivemos no último trimestre. — Enquanto falava, gesticulava, de forma espontânea. — Estou muito feliz com nossos resultados. No último mês, fechamos novos acordos que serão essenciais para nosso crescimento.
Seus olhos percorreram rapidamente todos os presentes.
— Nos últimos dias, temos trabalhado duro para manter nossas metas. Chegou a ser cansativo, não é mesmo?
Com um clique, ele iniciou uma apresentação de slides, exibindo gráficos.
— Aqui podemos ver nosso desempenho em relação às horas trabalhadas. Como podem notar, excedemos o limite combinado. — Ele apontou os dados com um laser. — Por isso, decidimos conceder uma folga para vocês.
Um leve burburinho se espalhou entre os funcionários.
— Dos dias seis até doze de outubro, a empresa não irá funcionar. Retornaremos na sexta-feira, dia treze. Peço que adiantem suas pendências para poderem aproveitar esse período de descanso.
Assim que terminou de falar, a sala se encheu de murmúrios animados. Todos comemoraram. Era excelente saber que teriam dias de folga.
Ao término da reunião, os funcionários voltaram às suas salas para pegar seus pertences, já que o expediente havia chegado ao fim.
29 de setembro, sexta-feira
A sala de trabalho estava silenciosa, exceto pelos sons costumeiros: o barulho das teclas do teclado, o zumbido do ar-condicionado e murmúrios distantes de outros setores.
Victor estava concentrado no computador quando Aki se levantou para sair e, ao passar por trás dele, deu uma espiada na tela.
— Esse é o Senjojiki Cirque? — indagou, surpresa.
— Sim. Eu queria conhecer Nagano e aproveitar essa folga para visita-lo. — Victor responde, casualmente.
— Sério?! — A empolgação na voz dela foi instantânea. — Meus pais moram em Nagano! Também vou para lá nessa folga que ganhamos!
— Que coincidência! — Victor levantou-se da cadeira para conversar melhor com ela. — O que acha de irmos juntos? É uma viagem longa até lá e ir sozinho pode ser tedioso.
Sua expressão não mudou, como de costume, mas sua voz soou um pouco mais animada. Talvez por ter uma companhia de viagem ou… por ser a Aki? Nem Victor saberia dizer isso nesse momento.
— Eu acho uma ótima ideia! — respondeu Aki, com um brilho no olhar.
“Não acredito nisso! Obrigada, destino!” Aki pensava, feliz em poder viajar com Victor. Ela não sabia explicar o motivo dessa felicidade explosiva dentro de si.
— Pretendo ir no dia seis, bem cedo. Está bom assim? — Propôs Victor.
— Está ótimo! Vou comprar minha passagem para o mesmo horário.
Eles combinaram qual trem pegar e ajustaram os horários. Agora, restava apenas aguardar o dia da viagem.
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