Capítulo 106: O Cristo Redentor
10 de abril de 2024, quarta-feira.
O dia amanheceu com um céu de azul intenso, sem nuvens. Mesmo cedo, o sol já resplandecia na imensidão azul. Victor, sentado à mesa do quarto, tomava seu café enquanto observava a japonesa se preparar.
— Você não vai precisar de casaco… — Disse ele, ao notar que ela hesitava diante da mala. — Aqui o calor não costuma dar trégua.
— Mas… e se no alto fizer frio? — Ela retrucou, ajeitando a alça da bolsa.
— No máximo, o vento vai bagunçar seu cabelo. Eu duvido muito que precise de casaco. Olha como o céu está limpo.
Aki fez uma careta, mas concordou, deixando o casaco sobre a cama.
O plano daquele dia era visitar o Cristo Redentor. Victor havia comprado os ingressos anteriormente, garantindo que não perderiam tempo nas filas. Ele conhecia o monumento apenas de fotos e vídeos, sempre enrolando para ir lá no passado.
— Vamos de carro? — Ela perguntou, enquanto saíam.
— Até certo ponto. Depois tem que pegar o trenzinho ou a van. É o clássico.
Aki sorriu com a novidade. No caminho, a cidade parecia como um grande cartão-postal vivo: o mar brilhando à esquerda, os morros verdes à direita, e o trânsito já intenso mesmo naquela manhã de dia útil.
No rádio, tocava uma música brasileira que Aki não conhecia, mas balançava levemente a cabeça no ritmo. Victor observava aquilo com um misto de curiosidade e encanto. Ela estava tão atenta à paisagem que parecia absorver cada detalhe, sem notar o que estava acontecendo dentro do carro.
— Você sabe que é um dos monumentos mais famosos do mundo, né? — Ele comentou, em certo ponto.
— Sei. Eu já pesquisei sobre ele. Já esteve na minha lista pessoal de lugares que queria conhecer um dia.
Essa última frase ficou ecoando na mente de Victor. Talvez fosse exatamente isso que ele também queria.
Chegaram ao local de embarque do trem do Corcovado pouco antes das dez. Victor estacionou o carro em um estacionamento credenciado. O movimento já era grande, com turistas falando em várias línguas, câmeras penduradas no pescoço, chapéus de aba larga e garrafas de água nas mãos. O calor começava a apertar.
Aki observava tudo, curiosa.
— É tão… diversificado, né? Pessoas de todo lugar…
— É. Aqui é um dos lugares que mais recebem visitantes no Brasil. Quem sabe a gente não encontra algum conhecido do Japão. — Ele brincou e eles riram.
Mas Victor ficou realmente com esse pensamento após a brincadeira. “Imagina que loucura se encontrasse alguém da Elegance Affairs ou que temos contato? O mundo é tão pequeno, afinal.”
Enquanto aguardavam o embarque, Victor explicou brevemente como seria o trajeto: cerca de vinte minutos subindo a montanha, passando pelo meio da Floresta da Tijuca.
Quando o trem chegou, pintado de vermelho vivo, Aki olhou como se fosse uma peça histórica. Eles entraram e conseguiram dois assentos juntos, ao lado da janela. O ar dentro do vagão estava fresco, mas não gelado, e havia um burburinho constante de vozes animadas. Apesar da brisa, o calor era intenso.
Assim que o trem começou a subir, a paisagem se transformou. A cidade foi ficando para trás, e a vegetação tomou conta da vista. Árvores altas, folhagens densas, e de vez em quando um vislumbre do céu azul entre as copas.
— É como naquelas viagens de realidade aumentada. — Murmurou Aki, lembrando do dia que foi num brinquedo desses.
Victor concordou. Ele próprio não esperava que a transição fosse tão marcante, quase cinematográfica. Um instante antes, estavam cercados por prédios e sons urbanos; agora, havia apenas o som do motor do trem e o canto de pássaros invisíveis.
Em alguns pontos, o vagão passava por clareiras que revelavam panoramas impressionantes da cidade lá embaixo: o mar brilhando, as praias curvas, os bairros espremidos entre morros.
O trem fez uma breve parada intermediária, permitindo que subissem mais visitantes. Entre eles, um casal de idosos estrangeiros se sentou à frente, falando baixo em francês. Aki achou uma graça um casal de idosos fazendo esse tipo de viagem.
“Quero fazer essas viagens com o Victor um dia…” — Pensou, imaginando um futuro longínquo ao lado dele. E depois prendendo a atenção novamente na paisagem.
Quando se aproximaram do topo, o ar pareceu mudar. Havia um frescor leve, apesar de não amenizar a intensidade dos raios solares. Victor sentiu o coração bater mais rápido, ansioso para conhecer, finalmente, o Cristo.
Desembarcaram e seguiram o fluxo de pessoas. Uma escadaria larga os guiava para cima, com degraus de pedra que brilhavam sob o sol. Aki parou no meio para beber água e respirar.
— Está quente… — Disse, limpando a testa.
— Ainda não chegamos… e você ainda queria trazer um casaco… — Victor respondeu, com falso desdém.
Ela cutucou seu braço com o cotovelo, falando: — Ei! Não precisa jogar na cara.
Eles riram e continuaram. No último lance de escadas, o Cristo começou a aparecer Primeiro apenas a base, depois o contorno dos pés, e, finalmente, a figura inteira, erguida contra o céu.
Aki parou, completamente imóvel.
— É… enorme. Mais do que eu imaginava.
Eles caminharam até a plataforma principal, de onde se via toda a estátua. O sol batia de frente, projetando sombras definidas, e o mármore claro parecia quase brilhar.
Victor olhou para ela e, por um instante, pensou em falar algo poético, mas preferiu guardar para depois. Aquele momento já dizia muito por si só.
Seguiram para a beirada da plataforma, onde a vista se abria sobre o Rio inteiro. De um lado, o Pão de Açúcar. Do outro, a Lagoa Rodrigo de Freitas. Mais além, as praias de Copacabana e Ipanema.
Aki se aproximou da grade, quase se deixando ser inundada pela paisagem ímpar e marcante.
— É lindo… muito lindo! — Expressou, encantada.
Victor ficou ao lado dela, quando comentou:
— Eu já presenciei algo mais bonito do que isso, acredita? — Falou, num tom despretensioso.
— Sério? E o que foi? Agora fiquei curiosa. — Ela respondeu quase imediatamente, tentando imaginar algo tão bonito quanto.
“Será que foi aquela visita naquela cidade aquele dia?” — Pensou, se referindo quando foram no mirante em Brumadinho.
— Você não sabe? Bom, eu te falo: Seus olhos. Para mim, são as duas jóias preciosas mais bonitas que já vi. — Ele falou, num tom provocativo, mas como se fosse algo muito natural e óbvio.
— Victor! — Ela exclamou, sentindo todo seu rosto queimar — e não era dos raios de sol. Seu coração bateu tão forte que parecia que iria explodir. — Bobo, não fala isso! Eu não sei como responder! — Protestou, tapando o rosto com uma mão e desviando o olhar para o horizonte.
— Não precisa responder. Sua reação já me pagou. — Ele riu e ela continuou sem jeito.
Depois de um tempo, e de uma enxurrada de pensamentos na sua mente, Aki se recuperou. Ela agora estava, novamente, super animada, esquecendo, momentaneamente, aquele momento.
— Vamos tirar uma foto juntos. — Sugeriu ela, levantando o celular.
Victor se aproximou, e Aki levantou o braço para enquadrar os dois, com o Cristo aparecendo logo acima. Ela sorriu, e ele também.
— Agora uma séria… — Ela disse, tentando segurar o riso.
Ele concordou e fez uma expressão neutra. Mas a tentativa dela de manter a cara séria durou apenas dois segundos antes de rir. A foto ficou com ele olhando sério e ela rindo.
“Ela vai usar isso contra mim!” — Pensou, rindo.
Enquanto caminhavam ao redor da base da estátua, Aki começou a fotografar não apenas o Cristo, mas os detalhes. O contorno das mãos, a textura das vestes, a sombra projetada no chão. Victor observava a atenção dela em pequenos detalhes, o que ele rotulou como “digna da supervisora de eventos da Elegance Affairs”.
— Olha isso, Victor… — Ela mostrou a tela, revelando uma foto onde a mão direita do Cristo parecia se alinhar com um pedaço do céu, como se segurasse uma nuvem. — Não é incrível?
— É… — Ele respondeu. — Mas tenho certeza que, se eu tentar tirar igual, vai ficar torta.
— Eu posso te ensinar. — Eles riram.
Seguindo para a lateral, encontraram um espaço de onde se via a cidade inteira. A paisagem era um mosaico impressionante: o Pão de Açúcar à esquerda, a Lagoa Rodrigo de Freitas brilhando no centro, e as praias de Copacabana e Ipanema como faixas douradas ao longe. O vento ali em cima era constante, trazendo o cheiro do mar misturado ao aroma úmido das montanhas.
Aki respirou fundo, fechando os olhos por um instante. — É diferente… o ar… essa sensação… — Ela se virou para Victor. — Você já esteve em um lugar assim antes?
— Aqui é único, na verdade…
Ela assentiu, e ficou alguns segundos apenas olhando. Depois, como se lembrasse que tinha um celular na mão, começou a tirar mais fotos. Dessa vez, pediu para Victor fotografá-la.
— Quero uma com os braços abertos, igual ao Cristo. — Ela se posicionou, rindo do próprio clichê.
Victor tentou encontrar o ângulo certo. A luz do sol batia de lado, iluminando seu cabelo preto que balançava com o vento. Ele tirou três fotos e mostrou para ela.
— Não… — Aki fez uma careta divertida. — Eu pareço um pássaro tentando levantar voo. Tira mais uma.
Victor obedeceu, e quando ela fez uma pose mais ajustada, apertou o botão. O resultado fez até ele admitir: — Ficou boa.
Aki olhou e sorriu satisfeita.
— Agora é a sua vez.
— Não.
— Sim. — Ela já estava pegando o celular de volta. — Fica aí, vai. Não precisa abrir tanto os braços, só um pouco.
Ele acabou cedendo, meio constrangido, e ela tirou várias fotos, rindo em algumas delas. Victor não se incomodava, na verdade, em fazer essas graças. Era um momento compartilhado entre os dois, um daqueles momentos bobos de casais, mas com grande significado.
Depois de um tempo explorando cada canto, eles chegaram à parte de trás da estátua, onde a vista dava para o outro lado da cidade. Ali, as montanhas cobertas de verde se encontravam com a água da Baía de Guanabara, e pequenas embarcações pareciam pontos brancos no infinito azul.
Victor se aproximou mais do parapeito.
— A vista é incrível demais para descrever. Nem parece ser as mesmas paisagens da internet. Pessoalmente tem um toque indescritível, não acha?
Ela o encarou por alguns segundos, e concordou. Depois tirou uma última foto, dessa vez não do Cristo ou da paisagem, mas dele olhando para o horizonte.
— O que foi? — Ele perguntou.
— Nada. Só achei que ficaria uma boa lembrança.
Quando começaram a descer, Aki ainda parou algumas vezes para registrar detalhes que passariam despercebidos para a maioria: o reflexo da estátua nos óculos de sol do guia turístico, o contraste do azul do céu com o branco da pedra, o caminho sinuoso visto de cima.
No bondinho de volta, sentaram lado a lado. Aki revisava as fotos, mostrando algumas para ele.
…
Quando já estavam no quarto, Aki avisou que tomaria um banho para relaxar e descansar. Ele concordou e disse que buscaria algo na recepção, em vez de apenas pedir, para também lhe dar um espaço, como estava fazendo recentemente.
Ela entrou debaixo do chuveiro com a água fria. O ar condicionado estava desligado e o calor era absurdo. Enquanto isso, Victor foi até à recepção e pediu uma porção de camarões empanados, além de arroz.
Voltando para o quarto, Matheus ligou e ele atendeu. Conversaram enquanto ele caminhava e, quando chegou à porta, acabou esquecendo de avisar Aki sobre sua chegada e abriu a porta, após passar o cartão magnético na fechadura. A porta se abriu suavemente e ele entrou, se despedindo do irmão enquanto adentrava.
Foi quando olhou para frente e se deparou com Aki trocando de roupa. Ela estava apenas de calcinha e sutiã, enquanto escolhia uma roupa, dentre algumas, espalhadas em cima da cama.
— Victor?! — Ela gritou, por instinto, puxando a toalha para se cobrir.

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