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    10 de abril de 2024, quarta-feira.

    Aki estava sentada na beirada da cama, enquanto passava uma camada de creme hidratante nas suas pernas. A parte boa de Victor deixar ela a sós no quarto, era essa liberdade de poder se sentir em casa, despreocupada. 

    Espalhou um pouco mais sobre os braços e espalhou, massageando-os, finalizando, no pescoço e bustos para aproveitar os resquícios do produto na palma da mão. Ela se levantou, estava de pé diante da cama, avaliando com cuidado as peças que havia separado de antemão. 

    No corpo, usava um conjunto de lingerie em tom marfim. Uma delicada renda floral bordava o tecido, formando pequenos arabescos sobre o busto. As alças finas, ajustadas aos ombros, desapareciam sob a queda natural dos cabelos negros e ainda úmidos, semi penteados.

    A parte inferior trazia um recorte nas laterais, com detalhes de cetim na barra, que quase enfeitavam as coxas expostas dela, e com um leve detalhe de tom lilás nas alças da parte superior.

    Sobre a colcha clara, repousavam as opções para a noite:  Um conjunto azul claro, de mangas longas e calça, apesar de serem de um pano mais leve; ou um pijama mais curto, com um shortinho e uma camiseta sem mangas. Devido ao calor, queria usar esse conjunto, porém, por estar ao lado de Victor, pensava em usar o mais longo, igual fazia geralmente. 

    Contudo, uma outra questão batia na sua mente, martelando como um ferreiro forjando uma espada: “Eu deveria fazer isso?” — Ela queria se sentir com mais liberdade ao lado dele, mas a vergonha ainda incomodava. 

    Mesmo que ele já tivesse visto ela com biquíni, que já é uma grande exposição do corpo, parecia diferente quando se tratava de algo mais íntimo, como aquele pijama. Ela mordeu o lábio inferior, avaliando as peças. Seu telefone estava jogado entre os dois conjuntinhos, aguardando o aviso de Victor para se vestir logo. 

    Enquanto ainda tentava se decidir, avaliando os prós e contras de cada opção de roupa, Aki virou-se para o espelho.

    Não se considerava alguém de autoestima elevada, mas também não era cega para o que via. No fundo, sabia que seu corpo tinha uma harmonia que chamava atenção de forma sutil.

    Seus longos cabelos negros desciam como um véu sobre a pele clara, criando um contraste perfeito. O rosto, delicado e expressivo, era emoldurado por fios que escapavam do penteado, e seus olhos, de um tom âmbar incrivelmente marcante, completavam sua beleza natural.

    O corpo tinha curvas bem distribuídas — nem exageradas, nem ausentes —, com linhas suaves que passavam por um busto proporcional, cintura definida e quadris discretos, sustentados por coxas firmes. Não era o tipo que “parava o trânsito”, mas possuía um encanto inegável. 

    “O Victor nunca elogiou meu corpo diretamente… Será que sou atraente o suficiente?!” — Um pensamento repentino passou pela sua mente, mas ela negou, sacudindo a cabeça. “Para com isso! Claro que você é atraente. Tenha mais confiança, Aki!”

    Quando ela percebeu esse monólogo interno, caiu na gargalhada, pensando estar parecendo uma criança brigando consigo mesma. Seus olhos passaram uma última vez pelo reflexo do seu corpo, antes de se virar para as peças sobre o lençol. 

    — Qual eu escolho? — Murmurou, colocando o indicador no queixo. 

    Foi quando o barulho sutil da porta se abrindo ecoou, revelando Victor, com o celular em uma das mãos, adentrando. Seu coração bateu tão rápido, tão repentinamente, que sentiu como se tivesse sido atingida por uma pancada no peito. Instintivamente, sua mão alcançou a toalha, que estava colocada pendurada na cabeceira, tentando tapar seu corpo.

    — Victor?! — Ela exclamou, com sua voz falhando ligeiramente. 

    Victor engoliu em seco, paralisando no lugar momentaneamente. Naquele instante, ele entendeu tudo. Estava distraído conversando com o seu irmão que esqueceu de avisar para a Aki que estaria chegando ou abrindo a porta. Seu coração disparou e ele desviou rapidamente o olhar, em respeito a ela, enquanto erguia uma das mãos na altura dos olhos. 

    — Me – me desculpa, Aki! — Se apressou em dizer. — Eu estava numa ligação com o Matheus e acabei esquecendo de te avisar. — Ele se sentou na poltrona, com o corpo virado para o outro lado. 

    A garota processava todas as informações, ainda em um estado de choque. Sentiu suas mãos suando e apertou a toalha com mais força. 

    — N-não te-tem pro-problema… — Ela gaguejou. Percebendo seu nervosismo altíssimo, ela respirou fundo, fechando os olhos. — Quero dizer, você já me viu de forma parecida… de biquíni… apesar das situações serem diferentes… — Justificou. 

    Ela apertou a toalha, prendendo-a nela mesmo, enquanto uma das mãos, instintivamente, foi até seus cabelos, com os dedos enroscando-se numa mecha, mexendo de forma acelerada e ritmada em movimentos circulares. 

    — Eu… não me importo se você me ver assim… apesar de estar com vergonha… — Ela murmurou, mas alto o suficiente para Victor entender. 

    A cabeça dele agora parecia atingida por uma explosão de pensamentos. Ele ficou feliz de saber que ela confiava nele, naquele ponto, mas hesitou, imaginando que talvez pudesse parecer estar abusando do momento. 

    Em outras circunstâncias, o clima já havia esquentado entre eles, enquanto se beijavam e trocavam carícias, mas ela ainda não se sentia pronta para avançar o relacionamento, e Victor a respeitava demais nesse ponto. Ele sabia que ela tinha um ritmo diferente e queria segui-lo. 

    E, de repente, aquela cena fez parecer que, apenas observando ela daquela forma, estaria violando os limites pré-estabelecidos, mesmo que entrelinhas. Hesitante, ele se virou e ela ainda estava enrolada na toalha, com o rosto tão corado que era visível, mesmo naquela distância relativa, desviando o olhar e ainda mexendo no cabelo. 

    — Eu… Eu vou esperar do lado de fora… — Ele falou, tentando acalmar aquele clima constrangedor. 

    — Não, espera… — Ela murmurou. — Pode ficar, se quiser. — Suas palavras saíram embargadas.

    Mesmo que realmente não se importasse, aquele sentimento sufocante de timidez era difícil de lidar. Tentando agir sem pensar muito, ela soltou a toalha, enquanto, rapidamente, escolheu uma das peças de roupas: o conjunto curto. 

    “Preciso dar um passo agora…” — Ela pensou. 

    Victor, nesse momento, estava paralisado, sem reação. Ele pensou em sair para dar mais liberdade para a Aki, mas estragou o clima entrando sem avisar. Tentou consertar saindo novamente, porém, ela estava se trocando, dizendo não se importar. 

    Ele teve a sensação que uma montanha de informações havia desabado sobre ele de uma única vez, como uma avalanche.

    Aki acabou se vestindo muito rápido, mais rápido do que o tempo que normalmente levaria. E Victor acabou vendo metade da cena. Somente quando ela começou a vestir o short, que ele conseguiu se recompor e despistou, caminhando até o frigobar e pegando uma garrafa d’água, tentando agir naturalmente. 

    A garota sentia seu corpo como se estivesse fervilhando. Podia jurar que estava saindo fumaça de sua face, pela sensação ardida que sentia nas maçãs do rosto. Porém, também tentava agir naturalmente, o que resultou em seus movimentos saindo quase robóticos e travados, sentindo como se seus membros estivessem enrijecidos.

    Victor lhe ofereceu uma garrafa e ela pegou, agradecendo. Os dois sentaram na cama, um de cada lado e o silêncio pairou por alguns momentos. 

    — O dia de hoje foi muito divertido, né? — Victor quebrou o gelo, tentando puxar assunto. 

    Ela concordou. 

    — E tiramos muitas fotos. Eu até enviei uma delas para o Natsu e o Fuyu e para a Sayuri e a Yumi. 

    — E o que eles disseram? — Ele perguntou, bebendo um gole. 

    — Os quatro parecem ser a mesma pessoa. Falaram quase o mesmo: “Vocês formam o meu casal favorito”. 

    Victor riu: — É o meu também. 

    Ela lhe deu um cutucão, com falsa incredulidade: — Ei, não fique do lado deles. 

    Após mais algumas brincadeiras e um tempo de conversa, a campainha do quarto tocou, informando que havia chegado o jantar. Victor abriu a porta e recebeu os pratos, agradecendo ao funcionário antes de fechar a porta. 

    Aki adorou o cardápio pedido, sendo camarão uma de seus ingredientes favoritos — ainda mais empanados e acompanhados com arroz. Degustou, aproveitando o sabor ao máximo. Victor ficou feliz de ter lhe agradado tanto, ainda mais depois do ocorrido. 

    Eles se organizaram para dormir, logo após mais alguns momentos de conversa e brincadeiras. Aproveitaram para ver um filme juntos, já que ainda era cedo. Era uma comédia romântica, tendo cenas de vergonha alheia que fizeram os dois se sentirem, de certa forma, constrangidos, mas nada que atrapalhasse a experiência. 

    Depois, deitaram juntos, prontos para dormir. Aki se enroscou em Victor, enquanto tentava esquecer a cena de mais cedo. Ele a abraçou, enquanto acariciava suas costas com uma das mãos. 

    — Sabe, Victor… — Ela começou. — Não sei bem o que você pensa sobre isso, mas eu vou te falar uma coisa: Eu não quero esquecer desses momentos, nunca. Por mais que sejam constrangedores na hora, faz parte da gente, né? — Após dizer, apertou o rosto contra ele, como se fosse uma forma de aliviar a tensão. Ele sorriu. 

    — Eu também, Aki… E posso completar, te dizendo algo: eu quero ficar assim, com você, tendo esses momentos bobos, mas importantes, para sempre. Com você. Eu te amo. 

    Aki apertou o rosto com ainda mais força contra o peito dele: — Bobo… não fala assim… dessa forma… 

    Por um momento, lembrou-se de Tábata e como ela reagiu com ele. Um nó surgiu em sua garganta, mas ela não queria pensar nisso agora. Aquele momento estava ótimo. Então, afastou os pensamentos. 

    Victor beijou sua cabeça — a única parte alcançável no momento —, enquanto um sorrisinho bobo estava estampado em seu rosto.

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