Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Victor e Aki reforçam a promessa dela experimentar os drinks que ele preparar. Eles ficam sabendo que terão alguns dias de folga, entre os dias 06/10 até o dia 12/10. Aki também acaba descobrindo que Victor iria viajar para Nagano para ir no Senjojiki Cirque durante essa mini-férias, e ela também iria para essa cidade visitar seus pais, que moram lá. Eles combinam de irem juntos. NOTAS: Queridos leitores, eu estou com o propósito de ir postando dois capítulos por dia. Vamos bater essa meta, juntos.
Capítulo 11: Um sonho bobo
30 de setembro de 2023, sábado
Victor e Aki observavam a festa discretamente de um canto do salão, quase escondidos. A decoração baseada em tons brancos e marfins era para comemorar os quatorze anos de um casamento. A iluminação era suave, refletindo halos no piso polido do local.
O casal anfitrião era formado por Eduardo, que era nativo do Brasil e era casado com Emiko, uma japonesa. Após conhecê-los na entrada do evento, Victor e Aki decidem ficar mais reservados, respeitando a natureza matrimonial da ocasião. Mesmo assim, os olhos atentos e perspicazes deles estavam atentos a todos os detalhes que eles podiam notar.
Os arranjos de flores em grandes vasos distribuídos ao longo das paredes, compostos por hortênsias, lírios-brancos e rosas. Estavam bem organizados, criando uma harmonia no ambiente. Mas o destaque era a mesa principal, com um bolo de três andares, decorado com tons de dourado e marfim, sendo destacada pelas luzes que estavam apontadas para aquela direção, vindo de cima. O próprio ambiente do salão era favorável àquela decoração.
O trabalho delicado de confeitaria se destacava tanto quanto a própria mesa em si, com detalhes minuciosos simulando rendas e pérolas comestíveis. Era possível ver todo o empenho e profissionalismo dos responsáveis. Além disso, havia plaquinhas ao longo da mesa com frases inspiradoras e algumas até românticas.
A música ambiente era suave, um jazz instrumental que preenchia o espaço sem ofuscar as conversas. Os convidados transitavam pelo salão, divididos entre aqueles que se reuniam em pequenos grupos e os que preferiam circular para cumprimentar os outros. Victor e Aki, porém, se mantinham no canto, observando silenciosamente.
— Você já conversou com o senhor Eduardo? Ouvi dizer que ele também veio do Brasil. — Aki quebra o silêncio entre eles.
Victor desviou o olhar das decorações e a observou por um instante antes de responder.
— Apenas nos cumprimentamos brevemente, em japonês. — Seus olhos captaram um detalhe discreto: as unhas de Aki estavam pintadas no estilo francesinha. — Não tivemos tempo para falarmos de outros assuntos.
— Você está bem calado hoje. Aconteceu algo? — Aki passa uma mecha de seu cabelo para trás da orelha, deixando seu brinco, ornamentado por uma pequena pedra vermelha, à mostra.
— Não aconteceu nada de diferente. — Respondeu o rapaz após fazer uma pausa. Ele pega seu celular, que estava no bolso de sua calça. — Vou tirar uma foto daquelas placas na mesa, achei as frases interessantes.
— Eu te acompanho.
Os dois caminharam pelo salão, trocando cumprimentos educados com alguns convidados no caminho. Victor aproveitou para fotografar, além das placas com as frases, a decoração de forma geral. Captou imagens dos vasos de flores, das mesas e de detalhes que achou interessante. As fotos tiradas também seriam usadas em anexo no relatório do evento.
“Esse trabalho merece ser elogiado”, pensou, enquanto fazia seu trabalho.
O bufê serviria um jantar ao longo da celebração, e assim foi feito. Eles não participam do jantar em si, por ser uma celebração matrimonial. Estavam ali apenas para supervisionar e, dessa vez, não quiseram participar.
Embora estivessem acostumados a participar dos mais variados eventos, dessa vez, foi algo diferente para eles. Se sentiram deslocados do ambiente.
O fim da cerimônia foi marcado pela noiva jogando o buquê. Embora fosse uma celebração de bodas de marfim, comemorando quatorze anos de casamento, eles refizeram esse icônico gesto. Algumas convidadas disputaram a captura, arrancando sorrisos e aplausos dos demais.
Aki até pensou em fazer algum comentário com Victor sobre essa tradição, mas se conteve. “Como eu queria poder pegar o buquê. Dizem que quem pega o buquê, logo casa”. Pensamentos variados desse tipo invadiram a mente dela, mas não a atrapalhou.
Com o fim do evento, Victor propôs acompanhar Aki até a sua casa. Ela aceita.
Ele, por um momento, durante a caminhada, atrasa alguns passos e repara nela caminhando e pensa como aquele vestido, de cor verde-esmeralda, ficava deslumbrante na garota.
Ele é arrebatado de seus pensamentos quando ela olha para trás, percebendo Victor parado há alguns curtos passos de distância.
— Aconteceu algo? — A voz tranquila dela soou natural e Victor se repreendeu brevemente por estar a observando daquela forma, quando ela parecia tão… inocente.
“Para de pensar assim…” Victor se repreende, mentalmente.
— Não. — Ele se aproxima dela. — Esse evento foi diferente dos outros que costumamos participar e eu fiquei um pouco… — Ele faz uma pausa, tentando achar uma palavra para descrever o que queria.
— É meio constrangedor participar de uma festa de matrimônio sem ser amigo dos noivos, não acha? — Aki responde, como se lesse os pensamentos dele.
Victor confirma, e ao avistar um banco num pequeno parque que estavam passando em frente, ele convida Aki para se sentarem ali um pouco. Eles sentam nele, enquanto estavam em silêncio.
— Quatorze anos… — Ela deixa escapar, olhando para o céu estrelado.
Victor olha para a garota, curioso para saber o resto da frase. A sobrancelha erguida automaticamente.
— Quero dizer, comemorar quatorze anos de casado deve ser legal, ainda mais com essas comemorações temáticas de “bodas”.
Os olhos âmbar da garota agora olhavam para o horizonte.
— Você já se imaginou casando? — Victor pergunta, casualmente.
— Sim. Eu sempre sonhei com um casamento simples, desde que seja com a pessoa que eu realmente ame. Uma cerimônia com as famílias e amigos próximos. Meu vestido branco deslumbrante destacando, e meu marido me esperando no altar no seu terno azul-marinho… — Ela olha para Victor e nota que ele a observa atentamente, fazendo-a corar de leve.
— Ah, me desculpe! Estava sendo indiscreta falando de algo tão íntimo. Acho que deixei me levar pelo clima do evento. — Ela tenta se explicar, despistando.
Aki passou a acreditar, com o tempo, que talvez esse desejo fosse um sonho de menina, longe da realidade para ela. Mas falando disso para o seu amigo, não se sentia tão desconfortável como imaginou que ficaria. Ainda assim, sentiu suas bochechas queimando quando percebeu o olhar atento dele.
— Com qual tipo de pessoa você gostaria de se casar? — Ela se surpreende com a pergunta de Victor, erguendo uma das sobrancelhas ao ouvir o questionamento.
— Essa pergunta me deixa ainda mais envergonhada. — Respondeu a garota, mexendo em seu cabelo, nervosamente, entrelaçando uma mecha com seu dedo indicador.
— Se não se sentir confortável em responder, está tudo bem, é apenas curiosidade. — Victor tenta tranquilizar.
— Não. — Interrompe Aki. — Na verdade, eu quero falar, só estou procurando o jeito certo.
Victor, voltando o olhar para ela, diz que ela não precisava correr para responder.
— Eu posso estar sendo um pouco exigente e talvez até egoísta, mas uma pessoa que me ame pelo que eu sou e que me compreenda, que me respeite e que seja também meu melhor amigo, que me apoie e que me ajude quando necessário.
Victor esboça um sorriso de canto de boca.
— Pode rir, eu sei que é um sonho bobo e um pensamento utópico achar alguém assim.
— Não estou rindo. Achei fofo que você sonhe com alguém assim, tipo o príncipe encantado. É difícil achar alguém que tenha todas essas características. — Victor volta seu olhar ao horizonte, não percebendo suas palavras.
Aki, por outro lado, as ouviu muito bem, e seu coração estava batendo acelerado e mais forte.
“Ele está fazendo isso de propósito?”, pensava, com vergonha, mas Victor apenas continuou falando.
— Eu não acho que seja algo bobo você querer ser feliz. Mesmo que seja algo exigente, é um desejo de ser feliz.
Aki se surpreende ao ouvir essas palavras.
“Não pensei que ouviria palavras tão gentis assim desse sonho bobo.” Pensou ela.
Em seguida, foi a vez da garota perguntar para Victor:
— E você?
— Não esperava ter que responder algo assim. — Respondeu rapidamente. — Me surpreendeu me devolver essa pergunta.
— Eu queria saber o que você acha.
Aki tinha medo de ser invasiva, mas o momento estava propício a perguntas mais íntimas, então aproveitou, reuniu coragem e perguntou. “Provavelmente não vou ter outra oportunidade como essa”. Pensava ela.
— Certo, eu vou responder. Não sou tão exigente. Uma pessoa que seja capaz de me entender e me fazer sorrir já são bons critérios. — Ele se levanta, olhando para cima, a imensidão do céu. — Porém, a vida é cheia de pegadinhas, não é mesmo?
Aki percebeu que a voz dele saiu um pouco diferente, mas não entendeu o que era. Pensando ser algo normal, apenas continuou o diálogo.
— Sempre acontece coisas para nos testar. Só não podemos desistir.
A garota pensava no que ele queria dizer, sobre o que estava falando, mas não queria perguntar diretamente e apenas respondeu de forma genérica. Todas essas dúvidas, ao mesmo tempo, a deixou ainda mais nervosa.
— Há momentos em que se levantar parece impossível. — Suas palavras soam baixas e difíceis de ouvir, mesmo para Aki que estava próxima dele. Ela não insiste para entender a resposta e, mesmo que não tenha entendido completamente, apenas continua o diálogo.
— Você já se imaginou no altar esperando pela sua noiva? — Aki perguntou sem processar a pergunta, apenas falou o que pensou.
Por um instante, ela hesitou, pensando se era adequada ou não, mas antes que pudesse concluir se era uma boa hora ou não para falar disso, Victor respondeu:
— Eu já. Já sonhei com isso, e já vivenciei isso. — Suas palavras saíram num tom sufocado.
Aki sente um arrependimento, pois entendeu que havia feito seu amigo se lembrar de algo do seu passado que não queria.
— Me perdoe, Victor. Não queria tocar em um assunto delicado…
— Eu não quero ser desonesto com você, Aki. Você tem confiado em mim para passar vários momentos e você é sempre compreensiva comigo. Eu vou te contar o que aconteceu comigo, se você não se importar em ouvir.
Aki sentiu um frio na barriga.
“O que será que eu vou ouvir agora?”
— Claro, pode me contar, se você não se sentir mal com isso.
Victor respirou fundo antes de começar.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.