Yoooo!! Passando só para desejar parabéns para mim. Hahahaha Obrigado a todos que estão acompanhando a obra!
Capítulo 110: Esperança
11 de abril de 2024, quinta-feira.
O salão aos poucos foi silenciando. As conversas se dissolveram em murmúrios e depois em um silêncio quase reverente, quando Victor subiu ao pequeno palco montado no canto central. Por um instante, ele sentiu o peso daqueles olhares.
Respirou fundo. Seu coração parecia bater tão alto que acreditava que poderiam ouvir. Olhou rapidamente para a plateia e, mesmo com o nervosismo, conseguiu distinguir rostos conhecidos: alguns membros antigos da associação, famílias que se apoiavam ali, como a Dona Márcia.
E, discretamente, também notou representantes importantes de empresas parceiras, como era o caso de Rafaela e Ronaldo, que olhavam para ele, atentos. Também notou a atenção de José Geraldo e de Denilson, além de outros apoiadores.
Victor ajeitou o microfone e pigarreou, antes de começar:
— Boa noite a todos.
Sua voz saiu firme, apesar do frio que ainda percorria sua espinha.
— Hoje celebramos oito anos da “Brilho Feliz”. Oito anos que não são apenas números em um calendário… são oito anos de histórias. Histórias de pessoas que passaram por dificuldades, mas encontraram aqui um lugar de apoio, uma ajuda, uma amiga.
As primeiras palavras soaram natural. Victor se apoiou nessa ideia e prosseguiu, lembrando-se de como queria que aquele momento fosse marcado em todos os presentes.
— Quando fundamos esta associação, meu sonho era simples: que ela fosse um espaço de acolhimento. Eu não queria que ninguém se sentisse sozinho diante das adversidades. Queria que, ao menos aqui, houvesse luz suficiente para que cada pessoa pudesse enxergar novos caminhos.
Olhou para um ponto no fundo do salão, como se buscasse forças. As imagens das palavras da dona Márcia e do jovem rapaz que o abordaram mais cedo vieram à mente, como se lhe enchesse de coragem e determinação.
— Hoje, ao ouvir depoimentos de pessoas que tiveram ajuda da “Brilho Feliz” e conseguiram avançar, eu me emociono. Não porque vejo nosso trabalho sendo reconhecido, mas porque percebo que esse sonho não é algo pífio. Ele se tornou muito grande e palpável, após muita luta e trabalho. Cada colaborador, cada voluntário, cada empresa parceira, cada família que já estendeu a mão ao próximo… todos fazem parte desse sonho, desse projeto.
O silêncio na plateia era denso, e ele sabia que tinha a atenção de todos.
“Isso está mais difícil do que eu me lembrava…” — Pensou rapidamente, em determinado momento, antes de continuar:
— Talvez nem todos saibam, mas eu mesmo já me distanciei desta associação. Por algum tempo, deixei de enxergar sua importância, como se fosse apenas mais uma responsabilidade na minha vida. — Sua voz vacilou levemente, mas ele se recompôs. — Foi um erro. Me sinto mal ao lembrar disso, e não há muito tempo, eu finalmente percebi que deveria voltar.
Alguns olhares de surpresa e empatia se espalharam entre os convidados.
— Eu sou muito grato a cada um que trabalhou em favor da associação, mesmo quando eu me distanciei. Mas o que importa não é o tempo que perdi. É o tempo que podemos ganhar daqui para frente. Eu estou de volta.
Um breve aplauso espontâneo surgiu de um canto do salão, mas cessou rápido, permitindo que ele continuasse.
— E o futuro da “Brilho Feliz”… — Victor parou, respirou fundo, e deixou um leve sorriso surgir. — …é brilhante. Será extraordinário!
Victor prosseguiu, após um burburinho surgir e logo cessar:
— Temos parceiros que caminham conosco e fazem essa jornada possível. Empresas que acreditam que responsabilidade social não é apenas uma palavra bonita… E a cada parceria, a cada gesto de apoio, nós ampliamos o alcance dessa luz que a “Brilho Feliz” traz.
Nesse momento, olhou discretamente na direção de Rafaela e Ronaldo, como quem queria reforçar a importância deles, mas sem expor demais. Os dois pareceram perceber e deram um sorriso discreto.
— Quero deixar aqui meu agradecimento a todos vocês. Aos que acreditaram, aos que apoiaram, aos que estenderam a mão. Este é o nosso aniversário, mas quem recebe o presente são as centenas de famílias que já foram, são e ainda serão, transformadas por esse trabalho incrível! Sinceramente, muito obrigado a todos!
Victor então mudou o tom para algo menos formal, menos sério.
— Há uma frase que gosto de repetir: “Solidariedade é um idioma que todos entendem.” Hoje, eu não falo apenas como fundador da “Brilho Feliz”, mas como alguém que, acima de tudo, acredita no poder dessa união entre entidades e famílias. E este evento… é a prova viva de que vale a pena acreditar.
Ele fez uma pausa. Olhou ao redor, mas não viu Aki e por um momento, pensou: “Será que ela está bem? Bom, não vou pensar nisso agora. Se concentre!”
— O futuro começa agora. — Continuou, firme. — E eu espero que, daqui a oito anos, possamos estar juntos novamente, celebrando não apenas o dobro de história, mas um futuro muito mais solidário, onde nenhuma família se sinta abandonada, onde todos tenham oportunidades de recomeço. Podemos desejar e alcançar isso!
Victor se endireitou, fechando o discurso:
— Obrigado por acreditarem. Obrigado por caminharmos juntos. Que a “Brilho Feliz“ continue sendo, por muitos e muitos anos, um farol de esperança.
O salão se encheu de aplausos. Longos, fortes, de pé. Victor respirou fundo. Era como se um peso tivesse sido tirado de suas costas, mas ainda sentia que aquelas palavras iriam reverberar em muitas pessoas.
…
“Eu queria ter entendido esse discurso!” — Aki se lamentava, angustiada, internamente.
— Droga! Por que eu não sei falar português justo agora? — Murmurou.
“Mas, o Victor parece ter mandado bem… Olha a euforia dos convidados…” — Ela observou, vendo os aplausos ecoaram por toda a instalação.
Aki realmente não havia entendido o que foi dito, não entendeu o que ele quis dizer. No fundo, porém, sabia que teve sucesso. “Eu quero perguntar para ele sobre o que ele disse…”
Nesse momento, Tábata se aproximou: — Foram palavras bonitas, não? — Comentou, despretensiosamente.
Aki forçou um sorriso de canto:
— Infelizmente, eu não entendi o que ele disse… — Respondeu com certa insatisfação.
Tábata sorriu:
— Esqueci desse detalhe. Só que eu tenho plena certeza de que ele irá te contar tudo se você perguntar.
As palavras soaram ambíguas para Aki. A Tábata conhecia Victor tão bem a esse ponto? De certa forma, ela também já tinha essa convicção, de que Victor lhe explicaria o que foi discursado. Porém, ouvir a outra mulher falar isso com tanta naturalidade, fez ela ficar com um certo incômodo.
“Será que… ela vê Victor de forma diferente?” — Aki ponderou, percebendo a forma como ela falava de Victor e a intimidade que eles pareciam ter. “Para com isso, eles são amigos de longa data…”
A japonesa se sentiu incomodada consigo mesma quando percebeu esse sentimento que parecia ciúmes. Ela não tinha motivos para isso.
“Estou fazendo papel de boba desse jeito… Aff…”
Tábata já havia se retirado e Aki retirou o avental, saindo da cozinha. Os cozinheiros e auxiliares já tinham conseguido controlar a situação.
Quando começou a caminhar pelo salão, logo parou e seus olhos percorreram o espaço procurando por Victor, foi quando alguém lhe cutucou o ombro, por trás.
— Olá… — Uma voz masculina soou.
…
Victor desceu do palco com o coração ainda acelerado. O som dos aplausos cessava pouco a pouco, misturado com vozes que, gradualmente, iam retomando as conversas. Assim que pisou novamente no chão do salão, foi imediatamente cercado.
— Victor, que discurso maravilhoso! — Disse uma senhora de cabelos grisalhos. — Você me fez lembrar porque eu nunca deixei de ajudar na “Brilho Feliz”.
Ele sorriu e agradeceu. Logo outro se aproximou:
— Preciso parabenizá-lo, meu amigo! — Comentou Denilson, firme, com aquele aperto de mão caloroso. — Suas palavras foram inspiradoras. Acho que todos aqui se sentiram parte da associação de uma forma mais íntima.
Victor agradeceu novamente, enquanto outros apoiadores, empresários e voluntários se aproximavam. Perguntas, cumprimentos, elogios… todos queriam falar com ele. Embora estivesse contente, a sensação de estar “preso” naquela roda começava a lhe incomodar.
“Preciso respirar… e também encontrar a Aki.” — Pensou, com um certo aperto no peito.
Após longos minutos de cumprimentos e de novas conversas curtas, Victor finalmente conseguiu se afastar. Moveu-se entre os grupos, desviando de bandejas carregadas pelos garçons e trocando acenos educados. Então, seus olhos a encontraram: Aki.
Ela estava um pouco mais afastada, parada no meio do salão, com o olhar atento, varrendo o espaço como se o procurasse. O coração de Victor se aqueceu ao vê-la, e seus passos se direcionaram quase automaticamente.
No entanto, antes que conseguisse alcançá-la, um homem de aparência simples aproximou-se dela por trás. Com um toque leve no ombro, chamou sua atenção…
…
— Com licença…
Aki virou-se rápido, assustada. Os olhos dela se arregalaram, e o coração disparou. Não havia entendido nada do que o homem falava — ele falava apenas em português.
— Ah… eu… desculpe… — Murmurou em japonês, meio sem saber o que fazer. Apertou a roupa na tentativa de afastar o nervosismo.
O homem franziu a testa, sem compreender. Repetiu a pergunta, com um tom de voz preocupado:
— Você está bem? Precisa de alguma coisa?
Aki piscou várias vezes, nervosa. Não sabia se ele estava oferecendo ajuda, pedindo algo ou mesmo tentando puxar conversa, ou sendo uma pessoa horrível. A barreira da língua erguia-se como um muro alto e intransponível.
— Me desculpe… Eu… Eu não falo… — Tentou, agora em inglês, esperando que pelo menos ele entendesse.
Mas o homem balançou a cabeça, ainda sem compreender.
— Está tudo bem aqui? — A voz de Tábata surgiu suave e firme, quando ela se aproximou do pequeno grupo.
Aki suspirou de alívio ao vê-la chegando.
— Tábata! Eu… não entendi o que ele disse…
A outra sorriu, colocando-se ao lado dela.
— Deixe comigo. — Ela apalpou o ombro da japonesa, para tranquilizá-la.
Virou-se para o homem e perguntou, com toda naturalidade:
— O que houve, senhor?
O homem de bigode e baixa estatura relaxou os ombros e explicou:
— Eu vi que ela estava parada no meio do salão, olhando em volta, e pensei que talvez estivesse passando mal ou perdida. Só queria saber se estava tudo bem.
Tábata assentiu, sorrindo:
— Que gentileza a sua. Ela está bem, sim, só estava procurando alguém. Muito obrigada por se preocupar.
O homem sorriu, satisfeito com a resposta, e deu um leve aceno para Aki antes de se afastar.
— Fique bem, mocinha. — Murmurou, indo se juntar a outro grupo.
Aki, ainda meio perdida, olhou para Tábata com um sorriso constrangido:
— Ele estava perguntando se eu estava… bem? — Sua voz denunciava sua dúvida e ansiedade.
— Isso mesmo. — Tábata confirmou. — Só queria ajudar.
A japonesa suspirou fundo, envergonhada:
— Eu… devo ter parecido uma boba, né?
— Nada disso. — Tábata a tranquilizou. — Pelo contrário, a maioria das pessoas admira quando alguém se esforça em um ambiente diferente.
Nesse momento, Victor finalmente alcançou as duas.
— Aki! — Exclamou. — Está tudo bem?
Aki levantou os olhos para ele, e por um instante, sua expressão se suavizou.
— Sim… acho que sim. — Respondeu, mas logo percebeu que precisava explicar melhor. Virou-se para Tábata: — Pode… pode contar para ele o que aconteceu?
Tábata relatou em poucas palavras, e Victor relaxou os ombros, sorrindo:
— Que bom. Fiquei preocupado quando vi aquele homem se aproximando sem você entender nada.
Aki franziu os lábios, cruzando os braços com leve irritação de si mesma:
— Foi desconfortável… Mas ele só queria ajudar, não é?
— Sim. — Victor confirmou, olhando nos olhos dela. — Vamos nos sentar?
Ela concordou.
Aki desviou o olhar, tímida, mexendo nos dedos como se buscasse um escape para a própria ansiedade.
“Eu fiquei tão nervosa…” — pensou, mas logo respirou fundo, tentando recuperar a compostura, enquanto caminhavam para uma mesa.
Tábata, percebendo a tensão, se afastou um pouco, deixando espaço para que os dois conversassem.
— Preciso voltar para a cozinha. Até mais.
Victor aproveitou. Aproximou-se levemente e disse em voz baixa, quase só para ela:
— Eu vi você me procurando. — Seu tom saiu quase provocativo.
Aki, surpresa por ter sido notada, respondeu:
— Eu… sim. Queria saber o que você falou no discurso.
O sorriso de Victor se alargou.
— Então depois eu te conto. Palavra por palavra.
Ela abriu um sorriso, tímido.
— Promete?
— Prometo. — Ele respondeu sem hesitar.
…
Enquanto voltava para a cozinha, Tábata os observava discretamente, pela janela. Havia em seus olhos um brilho diferente, talvez de nostalgia, talvez de reflexão.
“Parabéns, Victor… Parece que finalmente você se reencontrou… E está seguindo a sua vida… Isso me deixa mais tranquila…”
Uma imagem veio à sua mente, como um flash, de um momento passado, há muitos anos, ainda no ensino médio…

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