Notas de Aviso

    Anteriormente em MNVJ: Victor finalmente se abre para Aki e conta tudo que aconteceu no seu passado, que o fez quase desistir da vida, até que ele se decidiu em mudar para o Japão e tentar ter uma nova vida.

    06 de outubro de 2023, sexta-feira. 

    Victor aguardava pacientemente por Aki na frente da estação, conforme combinado. Ele confere o horário, olhando em seu celular, e olha ao redor procurando por Aki, sem sucesso. Ele havia chegado quinze minutos mais cedo, então não se importou tanto. Abrindo o aplicativo de músicas, escolhe uma playlist para tocar e guarda o smartphone no bolso da sua calça. O clima não estava quente e o vento gelado assoprava periodicamente, fazendo a blusa de frio do rapaz, que era de moletom, de cor branca, necessária para ajudá-lo a se manter aquecido. 

    Olhando em volta novamente, seus olhos vislumbram uma garota se aproximando, trajando uma calça preta, botas de cano curto e com sua parte superior coberta por um casaco longo de lã de tom cinza-escuro. Seus cabelos, soltos e ondulados, esvoaçavam ao soprar do vento forte daquele momento. A garota aperta forte seus braços, na tentativa de conter um pouco o frio, e logo chega próximo do seu amigo. Os olhos âmbar de Aki encontram os olhos escuros de Victor, fazendo-a sorrir para cumprimentá-lo. 

    — Olá, Victor! — Sua voz saiu um pouco trêmula, talvez devido ao frio que sentiu há pouco com a forte corrente de ar. 

    — Olá, Aki! — Victor analisa rapidamente a vestimenta dela e diz que era um casaco bonito. 

    — Obrigada. Esse casaco foi um presente da minha mãe, e eu adoro usar ele em dias frios. É bem confortável. 

    Aki manteve-se firme, mas sentiu-se ligeiramente envergonhada com o comentário, desviando o olhar. 

    — Aquele dia na empresa, era esse o casaco que você tinha esquecido? 

    Nesse momento, eles já caminhavam rumo à plataforma onde embarcariam. 

    — Você lembrou disso. — Ela dá uma breve risada. — Mas não era esse. Eu não o uso para trabalhar, apenas quando viajo ou estou em passeio. 

    — Faz sentido por ser um presente especial. 

    Aki compreendeu perfeitamente essas palavras, era justamente isso. 

    “Ela está muito bonita.” Pensamentos variados invadiram a mente do rapaz. “Preciso me concentrar na viagem.” 

    Já Aki estava curiosa para saber quais músicas ele, aparentemente, escutava. Pensou em perguntar, mas logo desistiu da ideia, até que Victor guardou seu único fone que usava naquele momento. 

    Finalmente, eles embarcam no trem que os levaria para Nagano. Eles se acomodam em seus respectivos assentos, um do lado do outro, enquanto mexiam em seus telefones. Victor recebe uma mensagem de Aki, perguntando se ele não gostaria de conversar pessoalmente, com um emoji (um desenho de gatinho envergonhado). 

    O rapaz a surpreende, rindo brevemente, ao abaixar o telefone e olhar para ela. Aki sente um arrepio percorrer parte de seu corpo, reparando no quanto o sorriso dele era caloroso para ela. 

    — Não precisa pedir pelo celular. Era só falar algo. 

    — Eu fiquei com vergonha. — Ela vira o rosto, tímida. — Porém, eu queria manter uma conversa durante a viagem, senão fica muito tedioso. 

    — Eu realmente não sou bom em manter assuntos por muito tempo. — Victor responde. — Quero dizer, você sabe que ainda tenho dificuldade em me expressar e de perceber certas situações. 

    Aki estava realmente consciente desse fato. Ainda mais após aquela conversa onde ele contou sobre seu passado, ela entendia bem o motivo de seu jeito apático. 

    — Eu sei. Aliás, eu não quero que se sinta pressionado. Quero te ajudar também. 

    Aki olha para o horizonte passando rapidamente, através da janela, enquanto falava. Dizer isso em voz alta fazia seu coração acelerar. 

    — Obrigado. — Ele também olhava pela janela nesse momento. — Combinamos de vir juntos, mas não te perguntei ainda: onde você vai ficar quando chegarmos em Nagano? 

    — Você vai ficar em algum hotel? 

    Ela responde com outra pergunta, deixando Victor um pouco surpreso. 

    Victor abre seu smartphone na página de uma rede social do hotel em que ele iria se hospedar e mostra para Aki. 

    — Eu conheço este hotel. 

    Ela pega seu celular e procura por uma foto. Ao achar, mostra-lhe o rapaz. Era uma selfie de Aki. A garota estava mostrando o horizonte deslumbrante que era possível apreciar do seu quarto nesse hotel. Apesar da linda paisagem ao fundo, Victor também observou que Aki estava incrível na foto. Usava uma camiseta vermelha de alças finas e uma tiara prendendo o seu cabelo. 

    — Linda! — Victor deixa escapar, percebendo isso, logo completa: — A paisagem é realmente linda. Nagano parece realmente incrível. 

    Victor sentia-se estranho. Brevemente, percebeu que recentemente estava reparando muitos detalhes de Aki, inclusive achando-a, conscientemente, bonita. Embora não compreendesse bem o que estava sentindo, temia que isso poderia ser algo como amor. 

    Fato é que ele ainda tinha uma ferida dolorosa em seu peito. Seu coração ainda sangrava quando pensava em relacionamentos. Entretanto, também já havia experimentado o significado da frase: “Não mandamos em nosso coração.”, já que ele considerava que se apaixonou por sua esposa, à primeira vista, mesmo que não quisesse relacionamentos naquela época. 

    “O que foi isso? Quase eu deixo um clima complicado.” Pensou ele, sentindo uma vontade de continuar olhando a paisagem por mais tempo. 

    Aki, por outro lado, sentiu que seu coração iria explodir de tão forte que bateu quando ouviu a primeira palavra. Ao ouvir a explicação, sentiu-se um pouco decepcionada, porém, aliviada. 

    — Acho que escolhi um bom hotel. 

    Ele bloqueia o celular, guardando-o no bolso. 

    — E você vai ficar sozinho lá? 

    Aki pergunta, enquanto mexia em seu cabelo nervosamente. 

    — Sim. Não combinamos isso, mas seria uma coincidência agradável se estivéssemos próximos durante a viagem. 

    Ouvindo isso, Aki sente um pouco mais de tensão. 

    Era o que ela realmente queria, ficar junto dele na viagem, mas era uma situação difícil para acontecer. Ele já tinha reservado o hotel. 

    A garota explica que ficaria na casa de seus pais, junto com seus irmãos, durante esse tempo. Além disso, ela calcula a distância entre o ponto turístico que Victor queria conhecer, o hotel e a casa onde ela ficaria. 

    Aki mostra a distância para ele, dizendo que não era muito longe, logo após ter enviado uma mensagem. Poucos segundos depois, o telefone dela toca e, ao conferir as mensagens, ela sorri. 

    — E que tal se você viesse comigo até a casa dos meus pais? — Ela propõe. 

    Victor se surpreende com a proposta, erguendo levemente a sobrancelha. 

    — Não sei se é uma boa ideia. Eles não podem interpretar isso de forma errada? 

    A preocupação do rapaz era coerente. Ele imaginou como os pais dela reagiriam ao vê-la chegando em viagem acompanhada de um rapaz e que isso poderia até gerar um momento embaraçoso para Aki. 

    — Não tem problema. Os meus pais são supertranquilos. Você vem, não é? — Ela insiste. 

    — Tudo bem, eu vou. 

    Embora tivesse o receio, a verdade é que ele também queria passar mais tempo com a garota nessa viagem. A proposta era muito tentadora para ele. 

    Logo após desembarcarem, eles pegam um táxi e Aki passa o endereço para o motorista. Chegando ao local, Victor se vê diante de uma casa bonita e que não era pequena. Sua fachada era branca, com detalhes em tons grafites. A garota envia uma mensagem segundos antes de desembarcar do veículo. A porta da casa se abre e um casal se revela. Eram os pais dela. 

    O pai era um homem alto e forte, enquanto sua mãe era baixa, magra e de longos cabelos que eram idênticos aos de Aki. Os olhos âmbar eram de seu pai. 

    Os pais de Aki caminham na direção deles, enquanto Victor se mantém mais afastado. Eles se abraçam forte e se cumprimentam. Logo em seguida, aparece uma garotinha, muito parecida com Aki, mas com olhos castanhos e cabelo mais curto. 

    Um rapaz alto e magro também surge, abraçando forte a Aki, chamando-a de irmãzinha. Natsu era muito apegado a ela. Fuyu também aparece, sendo mais baixo que Natsu e mais corpulento. Seus olhos eram castanhos, iguais aos do irmão, mas seu cabelo era mais liso. Ele cumprimenta Aki, chamando-a de irmãzona. 

    Victor observa tudo atentamente, sentindo um frio na barriga ao ver o reencontro da família. Flashes involuntários tomam seus pensamentos. Brevemente, imagens de sua própria família passam por sua mente, mas ele consegue afastá-las. 

    Aki chama Victor para mais perto e o apresenta: 

    — Victor, essa é minha família: essa é a mamãe, esse é o papai, esses são Natsu, Fuyu e Haru, meus irmãos, do mais velho à caçula. 

    Victor se aproxima, cumprimentando um por um. 

    — E esse é o Victor. Ele é um amigo do serviço. Trabalhamos juntos na parte de supervisão de eventos da Elegance Affairs. 

    — Muito prazer. Me chamo Shouto Yamada. — O pai da garota age formalmente. Victor vê nele uma aura de tranquilidade e seriedade. 

    — Eu me chamo Hana Yamada, é um prazer, Victor. — Hana era gentil e seu rosto era risonho. Era como se ela chamasse Victor para um abraço, e ele rapidamente afasta esse pensamento. 

    — Meu nome é Victor. Obrigado por me receberem aqui. 

    Aki percebe que seu amigo está um pouco rígido, talvez pelo frio ou pelo nervosismo. Ela dá uma baixa risada, se agradando do que via. 

    Embora Victor tivesse o costume de lidar com pessoas no trabalho, tinha dificuldade em fazer isso em um contexto mais pessoal. Esse era um dos motivos pelos quais evitava fazer amizades. Aki sabia bem disso e não se importava. 

    — Você tem um sotaque diferente. Você veio de qual país? — Shouto, curioso, indaga. 

    Victor não se incomoda com a pergunta, mas não esperava esse questionamento tão direto. 

    — Pai, não seja rude. — Repreende Aki, achando que isso poderia insultar Victor, como se estivesse insinuando que ele não dominava o japonês. 

    — Não tem problema. Eu vim do Brasil. Estou morando aqui no Japão desde o início do ano. 

    — Que incrível! O Brasil parece um lugar fantástico! — Shouto gostava da cultura brasileira, e isso deixa Victor feliz. 

    Ouvir pessoas elogiando sua cultura era satisfatório, apesar de querer deixar o Brasil de lado o máximo possível. 

    Os pais de Aki convidam todos para entrarem.

    Já dentro da casa, Victor percebe automaticamente que eles eram detalhistas. A decoração era cuidadosamente arrumada e harmônica. 

    Aki abraça sua mãe enquanto conversam algo que Victor não presta atenção, enquanto Shouto ria ao lado. O rapaz então percebe que os irmãos dela se aproximam e olha para eles, ainda indiferente. 

    — Você não está com segundas intenções com a nossa irmã, né? — Natsu pergunta de forma ameaçadora. 

    Victor mal compreende as palavras quando o outro irmão se aproxima. 

    — Se tiver com pensamentos diferentes, já pode ir tirando o cavalinho da chuva! — Fuyu também ameaça do outro lado. Assim, os dois o cercam para intimidá-lo. 

    Victor se mantém calado por alguns segundos. 

    — Não estou com segundas intenções. 

    A forma como ele falou deixou os dois irmãos sem graça. 

    Foi uma resposta muito ríspida, na visão deles. Victor, no entanto, não se incomodava com as provocações, pois sabia exatamente qual era seu relacionamento com Aki. 

    Aki e Haru se aproximam dos irmãos, puxando-os para trás, pois, mesmo após a resposta de Victor, eles continuavam insistindo. 

    — Tomem juízo! — Haru os repreende. — Desculpe meus irmãos, são meio empolgados. 

    Ela sorri para Victor, e ele percebe que o sorriso dela era muito parecido com o de Aki. 

    — Eu me chamo Haru Yamada, é um prazer te conhecer. A Aki me falou muito bem de você. 

    Victor se surpreende, arqueando a sobrancelha. Aki sente seu rosto queimar de vergonha e rapidamente desconversa. 

    — Realmente, aquele dia que nós conhecemos a Sakura, eu contei para ela. 

    Victor decide não insistir no assunto, mas sabia que não era bem do jeito que Aki estava falando. Os irmãos interrogavam as irmãs sobre aquele assunto. 

    Victor continuava observando, calado, toda aquela situação familiar, enquanto afastava os pensamentos dolorosos que tentavam assombrá-lo. 

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