Notas de Aviso

    Anteriormente em MNVJ: Victor e Aki finalmente viajam para Nagano. No trem, acabam decidindo que Victor passaria na casa dos pais de Aki com ela. Chegando lá, Victor conhece, brevemente, seus pais e irmãos.

    06 de outubro de 2023, sexta-feira.

    Victor estava sentado na extremidade de um sofá confortável na casa de Shouto e Hana. A sala era espaçosa, com paredes brancas e um tapete cor de caramelo cobrindo parte do chão entre a TV e os sofás. Ele estava sentado ao lado de Aki, sentindo-se deslocado da conversa, apenas observando os familiares naquele momento de comunhão. 

    Ele queria mexer no celular, mas deduziu que seria falta de educação. 

    — Victor, o que acha de almoçar conosco? — questiona Shouto. 

    O assunto, segundos antes, era justamente sobre o almoço, mas, distraído, Victor não percebeu a conversa chegando nesse rumo. Relutante em aceitar de imediato, ele olha de canto para Aki. 

    — Vamos, Victor! — Aki insiste antes mesmo de ele confirmar ou negar. 

    — Certo, eu almoço aqui. Obrigado pelo convite. 

    — Mãe, você precisa que eu vá ao mercado? — Aki pergunta, pensando que, com a presença adicional de Victor, talvez precisassem comprar algo para completar a refeição. 

    — Não precisa. Fomos ao mercado mais cedo e trouxemos coisas a mais do que de costume. 

    Embora tenha aceitado o convite, o desconforto não havia passado. Victor não queria ser um incômodo que atrapalhasse os assuntos familiares. 

    “Será que eu vou atrapalhar?”, pensava. 

    Logo ele percebeu Aki e Hana se levantando, dizendo que iriam começar a preparar o almoço. Após elas saírem, os irmãos dela se sentam ao lado dele. 

    — Você e Aki são amigos há quanto tempo? — indaga Natsu. Dessa vez, seu tom soou mais formal. 

    — Nós trabalhamos na mesma empresa, no mesmo departamento, há alguns meses. — Victor ainda não havia respondido com clareza à pergunta, então Natsu insiste. 

    — Uns dois meses. 

    — E você não tem segundas intenções com ela, não é? — Fuyu pareceu um tanto chato, na visão de Victor, após essa pergunta, então ele não respondeu de imediato. 

    — Conforme eu disse mais cedo, não. 

    Sua resposta ríspida encerrou o assunto ali, e os irmãos perceberam que ele não queria conversar sobre aquilo — ou pelo menos entenderam dessa forma. 

    Mesmo assim, os dois continuaram a conversar com Victor, perguntando sobre seu dia a dia e passatempos. Haru percebe que ele não está muito confortável e vai até Aki. 

    — Os dois patetas estão atormentando o Victor. — Ela aponta para os irmãos. 

    — Aqueles dois não têm jeito, mas pelo menos não estão com aquelas perguntas idiotas. 

    Aki agradece a Haru por avisar e pede para que ela fique de olho neles. 

    — Sabia que o Victor cozinha muito bem? Ele mesmo faz suas marmitas para o trabalho, além de cozinhar todo dia para ele mesmo. — Ela comenta com sua mãe, lembrando-se desse detalhe. 

    — É verdade? — Hana fica surpresa. — Que tal se ele ajudasse a gente? 

    Aki se dirige até a sala e convida Victor para ajudar a cozinhar. Ele se levanta e pergunta se não seria um problema, e a garota explica que foi sua mãe quem o convidou. 

    — Como ela sabe que eu gosto de cozinhar? — Ele questiona.

    O motivo era claro em sua cabeça, mas a pergunta acabou escapando. 

    — Talvez eu tenha falado. — Ela sorri para ele, enquanto caminham para a cozinha. 

    Em seus pensamentos, Aki agradecia Victor por aceitar, já que tinha receio de que ele não se sentisse à vontade. Por outro lado, Victor estava ansioso para cozinhar naquela casa após o convite. 

    Chegando à cozinha, eles dividem as tarefas. Preparariam um ensopado de peixe, tsukemono e arroz. Hana deixa Victor bem à vontade, e ele orquestra quase todos os processos desde que chegou. 

    Focados na refeição, mantiveram o assunto dentro do tema culinário. Hana perguntou sobre alguns pratos que Victor sabia preparar, e Aki e ele responderam. 

    A mãe da garota perguntou se Aki já havia experimentado, e ela se sentiu um pouco envergonhada ao admitir que sim, completando que era delicioso. Victor sorri brevemente, enquanto pensa que Aki usou essa estratégia de chamá-lo para a cozinha para deixá-lo mais confortável — e funcionou. 

    Quando a comida ficou pronta, eles preparam a mesa, e todos se reúnem para comer. Victor sente-se feliz ao ver todos experimentando a refeição que ajudou a preparar. 

    — Esse peixe está delicioso! — Natsu exclama após engolir um pedaço. 

    — Eu concordo! — Fuyu fala na mesma intensidade do irmão. 

    — Eu disse que Victor era um ótimo cozinheiro. — As palavras de Aki chegam até Victor, que sente uma felicidade por ser elogiado por ela, embora não tenha demonstrado nenhum sorriso. 

    — E ele também é muito bonito. — Haru comenta, fazendo Aki sentir seu rosto queimar. 

    Victor olha para Aki, e ela desvia o olhar, jogando uma mecha de cabelo para trás da orelha. Mesmo que não tenha comentado nada, ele achou aquela cena “bonitinha”.  

    — Realmente. — Hana concorda. — Ele tem boa aparência, tem talento para cozinhar e é gentil. 

    Aki concordava com todas as palavras em seus pensamentos, imaginando que poderia acrescentar várias outras qualidades. 

    — Ele é bem atencioso também, apesar de ser mais reservado. — Shouto faz sua observação. 

    — Obrigado. 

    Aki percebe que sua voz não estava naquele tom neutro de sempre. 

    “Será que ele está com vergonha?”, pensa, formando um sorriso breve no rosto. 

    — Será que podemos te chamar de cunhado? — Natsu ri, olhando para Aki. 

    — Não seja idiota, Natsu! Pare com isso! — Aki responde, com um tom ameaçador. 

    Até mesmo Victor percebe que ela estava com vergonha da situação e acaba esboçando um pequeno sorriso rápido. 

    Após mais algumas palavras, todos terminam o almoço. Victor e Aki se dispõem a arrumar a bagunça. Haru ajuda a levar os pratos até a pia, enquanto Aki e Victor trabalham na parte de lavar e secar a louça. Aki mima Haru a todo momento, e Victor aprecia aquele gesto. 

    Em alguns momentos, memórias importantes para Victor preenchiam seus pensamentos, mas logo ele se regulava. Não queria perder a compostura ali. Ele achava a relação de Aki e Haru muito bonita — e não apenas com a caçula, mas com todos os irmãos, apesar das pequenas discussões. 

    Imagens dele com sua família vinham à sua mente rapidamente, trazendo um sentimento nostálgico. Apesar disso, causavam um certo desconforto, pois a saudade tomava todo o espaço. Respirando fundo em dado momento, ele se força a não pensar naquilo. 

    Logo que terminam, Hana, Natsu, Aki, Fuyu e Haru decidem ir até uma loja de conveniência próxima dali. Aki convida Victor, mas Shouto propõe que ele fique para poderem conversar um pouco melhor a sós. 

    Mesmo surpreso, Victor decide aceitar. Ele avaliou Shouto como uma pessoa gentil e de boas intenções e achou que seria, no mínimo, curioso conversar com ele sem interrupções. 

    Os dois se sentam na sala, após todos saírem. Apesar do silêncio inicial, logo é quebrado por Shouto. 

    — Então, Victor, você realmente manda bem na cozinha. Onde aprendeu a cozinhar? 

    — Sozinho. Sempre gostei de cozinhar e aprecio fazer isso para mim e para pessoas que considero importantes. 

    — Você mal nos conhece e cozinhou na nossa cozinha. Acho que é um pouco mais que isso. — Shouto solta uma breve risada, demonstrando que estava se divertindo com o assunto. 

    Victor arqueia a sobrancelha brevemente, um pouco surpreso com a resposta. 

    — Vocês são a família da Aki. Automaticamente, são pessoas com quem eu posso me esforçar um pouco. 

    Seu tom ao falar da família foi um pouco mais animado que de costume, e Shouto, perspicaz, percebeu. 

    — Fico feliz que minha filha tenha um amigo tão legal. — Ele elogia, enquanto se levanta do sofá. — Acredito que você goste de bebidas. Acertei? 

    — Eu não sou um especialista, porém, gosto de experimentar bebidas diferentes. 

    “Ele tem uma habilidade incrível de dedução”, pensou Victor, achando aquele dom interessante. 

    — Venha, me acompanhe. 

    Shouto o guia até outro cômodo, onde guardava uma coleção de bebidas. Desde rótulos simples e comuns até garrafas exóticas. Victor conseguiu identificar várias delas, mas não todas. 

    — É uma coleção impressionante. Consegui identificar algumas garrafas, e o senhor tem um ótimo gosto. 

    Victor manteve um diálogo mais amplo com Shouto, principalmente porque falavam sobre algo que ambos apreciavam. Ele se perguntou se essa conversa fluía tão bem porque o homem era o pai de Aki ou porque o tema lhe interessava. A resposta não era clara, mas gostava da situação. 

    — Minha coleção ainda não está completa, mas um dia eu termino. 

    Shouto se dirige a uma das prateleiras e puxa uma garrafa de vinho tinto. 

    — Esse é um Château Margaux 2010. Esse vinho é sensacional! 

    Victor se empolga ao reconhecer a bebida. Seu tom apático dá lugar a um entusiasmo evidente. 

    Ele conhecia bem aquela garrafa, já havia tomado desse vinho em momentos importantes, principalmente com seu pai, um amante de vinhos. Pequenas lembranças enchem seu coração de nostalgia. 

    Uma das memórias mais marcantes foi quando sua família alcançou uma meta importante na empresa e comemorou com esse vinho. As imagens vívidas preenchiam sua mente, despertando uma ansiedade em experimentar uma taça. 

    — Vejo que você entende mesmo de bons vinhos. — Shouto comenta. — Aceita tomar uma taça comigo? 

    — Seria um prazer. 

    Shouto pega duas taças e as enche até um terço. Eles se sentam num pequeno balcão, semelhante a um bar, em frente à adega. Victor aprecia o sabor único de cada gole. A cada dose que descia por sua garganta, uma lembrança de seu pai o acompanhava. 

    Era raro ele conseguir distinguir precisamente seus sentimentos, mas, naquele momento, podia jurar que sentia o cheiro do pai enquanto degustava o vinho. 

    — Parece que você tem uma boa história com esse vinho. — Shouto falou, após tomar um gole de sua taça.

    — Sim. Meu pai era um amante de vinhos e adorava o Château Margaux 2010. Usava-o para ocasiões especiais. 

    A voz de Victor transmite um orgulho sutil, e Shouto percebe. 

    — Ele tinha bom gosto. Essa é a parte que acho mais interessante nas bebidas. 

    Victor olha curioso para o pai de Aki. 

    — Elas se tornam marcas na nossa história. 

    — Eu concordo! — exclama, esboçando um sorriso ao tomar o último gole. — Esse vinho realmente é sensacional. 

    — Você também gosta de uísques? 

    Shouto se levanta e volta à adega. 

    — Gosto, mas acho que já deu de álcool por hoje. 

    Victor tenta recusar, sem parecer indelicado. 

    — Ah, para com essa timidez toda. Veja. 

    Ele exibe uma bela garrafa azul-escura, com tampa dourada. 

    — Royal Salute 21. Um ótimo uísque. 

    Victor conhecia bem aquela garrafa. Além de ser icônica devido a uma música brasileira que tocava muito quando ainda estava no Brasil, era o uísque preferido de seu amigo. 

    — Vamos tomar um pouco. É raro eu compartilhar minhas bebidas com alguém. Geralmente, nem Natsu ou Fuyu tomam comigo. 

    O tom de Shouto pareceu um pouco desapontado. 

    — Eles não gostam de bebidas? — Victor se atreveu a perguntar. 

    — Exato. E eles não entendem a complexidade de uma bebida. Tomam apenas por tomar. 

    Ele já havia servido os copos. 

    — Mas você é diferente, e me deu muita vontade de compartilhar esse momento com você. 

    — Não posso negar. 

    Victor realmente não queria beber mais álcool, mas também não queria recusar o gesto do pai de Aki. 

    Eles brindam e tomam a bebida. Mais uma vez, os sentimentos nostálgicos invadem Victor ao degustar. Ele sorri e diz que aquela bebida era tão nostálgica quanto o vinho anterior. 

    — Desculpe a pergunta. — Ele quebra o breve silêncio. — Por que o senhor está sendo tão legal comigo? 

    — Aki gosta bastante de você, e vejo que é recíproco. Isso me deixa feliz e me faz querer retribuir a gentileza. — Shouto dá um tapinha no ombro de Victor. 

    — Fico honrado em ser amigo de Aki. Ela está me ajudando mais do que posso retribuir. — Ele faz uma breve pausa. — Eu fico feliz com sua atitude, mas sinto que não mereço. 

    — Não seja tão duro consigo mesmo, Victor. — Shouto o encoraja, sua voz soando firme. — Na verdade, me desculpe por ser tão invasivo. Sou realmente grato por você apoiar minha filha, apesar de achar que não faz o suficiente. Tenho certeza de que ela é grata por sua amizade. 

    Eles conversam por mais um tempo, até ouvirem a família chegando, então encerram o assunto e vão recebê-los. 

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