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    Notas de Aviso

    Anteriormente em MNVJ: Depois de uma conversa inesperada com Aki durante a madrugada, finalmente chega o dia de Victor conhecer o Senjojike Cirque, um sonho desde criança.

    07 de outubro de 2023, sábado

    Já na entrada do Senjojiki Cirque, eles conversam e decidem como subiriam. De início, já se deparam com um enorme caminho serpentiforme, calçado de pedras, com as folhas secas, amareladas e alaranjadas em volta, que parecia ser infinito daquele ponto. Árvores com poucas folhas também fazia parte da paisagem, enquanto o vento jogava folhas de um lado para o outro, quase como se elas estivessem dançando.   

    O cheiro “de natureza”, como descreveram, era revigorante e o farfalhar de folhas quando o vento soprava, trazendo também o odor das mesmas, unidos com a imagem que os olhos presenciavam, trazia uma sensação ímpar de satisfação e desejo de aventura.

    Como estava relativamente frio, devido aos ventos, era até aconchegante para aquela escalada. Aki pensava que, se estivessem no verão, a subida seria muito mais difícil e cansativa.  

    Após um tempo de caminhada, se deparam com um templo xintoísta. A construção de madeira no alto de uma pequena e larga escada de pedras, era elegante e chamativa. Afastada ligeiramente da estrada que andavam, havia outro caminho ali que levava até o santuário. Ao pé dos degraus, duas estátuas, como se estivessem convidando a visitar o local, completavam um cenário clássico dos templos.   

    — Vamos lá no templo?! Ele é muito bonito! — Aki propõe, animada, apontando para a construção. Ela se lembrou de alguns anos antes, quando visitava aquele santuário sempre que “escalavam” a montanha. 

    — Melhor não. O caminho até o lago é muito demorado. Não queremos nos atrasar. Talvez na volta. — Natsu responde. Fuyu concorda.

    Victor apenas observava o desenrolar da cena, sem opinar. Ele realmente queria conhecer aquele templo, mas os argumentos de Natsu eram válidos.

    Após se decidirem, eles continuam caminhando. 

    Aki já sentia um cansaço nos pés. Ela não se lembrava em como era cansativa essa jornada, apesar de ser recompensadora. Memórias de sua infância e adolescência visitando o local se misturavam com seus pensamentos nostálgicos. Natsu e Fuyu também se sentiam dessa forma, com boas lembranças.  

    Passados alguns minutos, logo após uma das paradas, Haru pede para descansarem mais uma vez, e Natsu diz que ainda faltava um longo caminho até onde eles queriam chegar.

    — Não seja tão duro com ela, Natsu. — Aki o repreende. — Você não lembra de como era árduo para nós quando mais novos?  

    — Ainda assim, a gente sempre continuava andando. — Ele murmura.  

    — A diferença é que na época não tinha quem nos carregasse se precisasse. O papai sempre trazia toda a bagagem e não tinha como carregar um de nós. — A garota acariciava a irmãzinha enquanto falava, abaixada ao seu lado. — Mas agora você pode carregá-la, não é?  

    — Eu?! O quê?! — Exclamou, surpreso. Natsu já se sentia cansado da escalada, e a última coisa que queria fazer era ter que carregar sua irmã caçula.  

    — Eu também não aguento. — Respondeu Fuyu logo em sequência, se jogando ao chão, dramatizando. 

    — Vocês são todos fracos. — Caçoa Aki. — Infelizmente vamos ter que continuar andando, Haru.

    Agachada, conversando com Haru, Aki é surpreendida por Victor que se agacha ao seu lado.  

    — Eu posso carregá-la? — Victor se dispõe, olhando para sua amiga.

    — Você faria isso mesmo? — Indaga Aki, surpresa. Ela havia caçoado de Natsu, mas sabia que carregar mais peso ali era difícil e cansativo.

    — Claro. — Fala, sem enrolação. Então, ele se vira para a pequena: — Você quer que eu te carregue?

    — Eu quero! Eu já estou muito cansada. — Haru dá um destaque para a frase, fazendo eles rirem. — Mas, não será um problema? — Indaga ela, olhando pro chão.

    — Não é um incômodo. Se você não se importar, eu posso te carregar. — Victor explica. Haru aceita e ela ajeita em suas costas.

    — Você é mesmo um cara legal, cunhado! — Natsu não perde a oportunidade e quase se lança em um abraço, fazendo Victor esboçar um riso, achando a cena teatral engraçada. 

    Natsu aproveita e diz que vai levar a mochila de Victor, já que ele está levando a Haru.

    — Ele tem razão. — A garotinha fala. — Você é muito legal, Victor. 

    O sorriso de Haru era tão contagiante quanto de Aki, embora Victor não conseguisse ver. 

    Enquanto Haru conversava com Victor, mostrando-lhe coisas na paisagem que a chamava a atenção, Natsu e Fuyu conversavam com Aki, enciumados. Eles alegavam que Haru iria acabar gostando mais de Victor do que deles. 

    — A culpa é de vocês mesmos, por serem tão frouxos. — Aki ri.

    — Você é muito debochada, não acha? — Natsu protesta, fazendo o seu drama.

    Os irmãos continuam rindo e brincavam entre si, e Victor estava meio distraído com as conversas da Haru. Ela contava algumas coisas para ele, como era seu dia a dia, como Aki falava dele para ela, como era na escola, sobre coisas que gostava de fazer… A caminhada foi um pouco longa e deu para falarem de bastante coisa, apesar de Victor ser o ouvinte a maior parte do tempo.

    O caminho finalmente parece acabar, e ao passarem pela aparente última volta, finalmente chegam ao topo do caminho que seguiam, se deparando com uma vista deslumbrante. 

    A paisagem montanhosa no fundo, com nuvens acinzentadas e neblina compondo a vista superior, enquanto o enorme lago Nagaike dominava o horizonte abaixo. As tonalidades amareladas-avermelhadas das folhas de outono completava harmonicamente o ambiente.

    Victor sente uma emoção percorrer seu peito, quase lacrimejando. Era muito emocionante estar ali, naquele momento, após anos sonhando em conhecer aquele lugar. Por um curto período, Victor se esqueceu completamente de todos os seus traumas e problemas, hipnotizado pela vista exuberante.  

    Mas ainda faltava um caminho a percorrer para que pudessem chegar ao lago. Eles teriam que fazer um caminho descendo para alcançá-lo.

    — Vamos! Falta muito pouco para chegarmos ao lago. — Aki continua a caminhada, encorajando os outros a continuar.

    Victor não se sentia tão cansado. O clima frio ajudava nessa questão. Se fosse um dia quente, provavelmente já teria parado para descansar. Haru não era pesada, mas mesmo assim, pela caminhada, sentia seus braços levemente dormentes, mas se força a continuar. Faltavam poucos metros.

    À medida que o grupo se aproximava do lago, a paisagem ao redor parecia se transformar. O chão de terra batida deu lugar a um tapete de folhas alaranjadas que estalavam sob seus passos, enquanto o som do vento entre as árvores se tornava mais atraente, quase uma música natural. 

    Ao chegarem na planície do lago, a beleza do lugar roubou a atenção de todos. A água cristalina refletia o céu com tons de nuvens cinzas, embora não tivesse previsão de chuva, e as folhas vermelhas e douradas das árvores ao redor, criando uma paleta que parecia saída de uma obra de arte. Pequenos círculos se formavam na superfície, onde gotas de orvalho escorriam das folhas. 

    Victor parou, finalmente tão próximo do lago e dentro de um dos seus sonhos. Estava incapaz de continuar andando. Era como se o tempo tivesse desacelerado, permitindo que ele absorvesse cada detalhe daquela vista. Um nó na garganta o impediu de dizer qualquer coisa, enquanto um frio familiar se espalhava por seu estômago. 

    — Finalmente… — sussurrou, a palavra quase inaudível, como se estivesse falando consigo mesmo. — Estou aqui. Parece um sonho. — Murmurou.

    Victor transbordava de ansiedade. Longos anos de espera finalmente se tornando realidade. A emoção que sentia, não conseguia descrever, e não era somente pela sua dificuldade em se comunicar. O turbilhão de emoções mexia com ele, quase sentindo vontade de chorar pelos sentimentos transbordantes. 

    Haru, ainda nas costas de Victor, inclinou o corpo para frente com os olhos brilhando de entusiasmo. 

    — Uau! É muito maior do que eu lembrava! — exclamou, a animação em sua voz transbordando. Ela deslizou das costas dele, pisando no chão com pressa. — A última vez que vim aqui, eu era tão pequena! 

    — Você era mesmo, Haru — respondeu Aki, agachando-se ao lado da irmã com um sorriso caloroso. — Eu lembro que você tentava jogar pedrinhas no lago, mas elas nunca chegavam à água. 

    — Isso porque eu era muito nova — Haru cruzou os braços, fazendo bico. — Tenho certeza de que agora eu consigo. — Ela abaixa e pega uma pedra, arremessando. Ainda que não fosse muito longe, atingiu a superfície do lago.  

    — Muito bem, Haru! — Aki elogia, enquanto a pequena comemora. 

    Natsu e Fuyu se aproximaram, sentindo um ar de nostalgia. Natsu respirou fundo, os olhos fechados por um breve instante, aspirando profundamente o ar e depois soltando pela boca.

    — Parece que foi ontem que a gente vinha aqui todo ano…

    — E lembra da vez que você tentou jogar uma pedra e caiu no lago? — Fuyu soltou uma risada alta, apontando para o irmão. — Saiu encharcado e resmungando o resto do dia! 

    — Claro que lembro. — Natsu revirou os olhos, mas o sorriso denunciava que ele também achava graça. 

    — Papai riu tanto que quase caiu também — completou Aki, rindo junto. 

    Victor observava a interação com um sorriso discreto, mas por dentro, uma pontada de melancolia crescia. Os risos ao seu redor começaram a se misturar com lembranças que surgiam como flashes.  

    Ele viu o rosto sorridente de sua esposa, iluminado pela luz do sol, e o olhar curioso de sua pequena filha, em seus braços. Sentiu novamente o calor dos abraços de seus pais, enquanto eles sorriam, todos sentados em volta de uma mesa, durante um almoço. Era quase como se ele pudesse tocá-los novamente. Mas uma dor aguda o arrebatou das lembranças, trazendo-o de volta para a realidade, enquanto ouviu a voz suave de Aki o chamando, fazendo com que as memórias se dissipassem, completamente, tão rápido quanto surgiram. 

    — Victor? — Ela estava ao seu lado, com um olhar preocupado. — Está tudo bem? 

    Victor piscou algumas vezes, tentando se recompor, forçando seus pensamentos de volta para o mundo real. Ele sente seus olhos arderem, prontos para despejarem lágrimas a qualquer instante. Mas ao observar todos ao seu redor, principalmente para o olhar preocupado de Aki, sentiu uma motivação para se manter firme. 

    — Estou… — respondeu, a voz um pouco rouca. Ele olhou para o lago, onde Haru já estava à beira da água, escolhendo pedrinhas para arremessar, com Natsu e Fuyu ao seu lado. — Só lembrei de algumas coisas… do passado. 

    Aki sorriu suavemente, mas não insistiu no assunto. Em vez disso, se dirigiu para o lado dos irmãos, sinalizando para ele a seguir. 

    — Vamos, você não pode perder isso. 

    Ao chegar à margem, Natsu propôs um desafio com um sorriso travesso e empolgado. 

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