Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Victor, Nastsu, Aki, Fuyu e Haru finalmente sobem o Senjojike Cirque e chegam ao lago Nagaike.
Capítulo 19: O lago e o piquenique
07 de outubro de 2023, sábado
— Vamos ver quem consegue fazer a pedra quicar mais vezes na água. Está dentro, Victor? — Natsu já segurava uma pedra, pronto para o arremesso.
Victor pegou uma pedra plana e a girou na mão, testando seu peso.
— Claro.
Os cinco lançaram suas pedras ao mesmo tempo. A de Haru foi a primeira a afundar, em seguida a de Fuyu, depois a de Aki. Os três, quase desanimados, prestavam atenção nas duas pedras restantes, que quicaram mais algumas vezes antes de submergirem. A de Victor quicou uma vez a mais antes de afundar, enquanto Natsu resmungava.
— Você tem muita força. — Natsu faz uma careta de desânimo.
— Não é só força. — Victor apontou para a superfície do lago. — É o jeito que você posiciona a pedra e o ângulo do arremesso. — Sua explicação carregava um tom de brincadeira, o que deixa Aki feliz em ver a interação entre eles.
— Sei disso… mas você é bom. — Natsu tentou esconder a decepção, mas Haru não deixou passar.
— Não seja um mal perdedor, Natsu! — Haru aponta para Victor, empolgada. — O “irmaozão” Victor ganhou!
— “Irmaozão”? — Natsu repetiu, ofendido, enquanto Fuyu caía na risada.
— Ah, não vai dar chilique agora, né? — provocou Fuyu, empurrando o ombro do irmão de leve.
Os três irmãos caíram na gargalhada, deixando Natsu sem palavras e pisando firme no chão, resmungando enquanto se afastava ligeiramente. Victor observava a cena em silêncio, um sorriso suave no rosto. Aquela comunhão familiar era algo que ele admirava profundamente, embora trouxesse lembranças de um vazio que ele não sabia se um dia seria capaz de preencher.
Apesar de se manter firme, quase inexpressivo, Victor ainda sentia um desconforto quando pensava sobre isso, que trazia memórias dolorosas. Mesmo afastando seus pensamentos melancólicos, era impossível impedi-los totalmente.
Depois de alguns minutos, Fuyu e Natsu decidiram levar Haru para explorar o outro lado do lago. A pequena pulou de alegria e correu na frente, deixando Aki e Victor sozinhos.
Aki sentou-se em uma pedra próxima, observando o reflexo das árvores na água.
— Obrigada por vir com a gente, Victor. — Os longos cabelos pretos da garota esvoaçavam quando o vento soprava.
Victor sentou-se ao lado dela, o olhar perdido na paisagem.
— Eu que agradeço. Não sei explicar, mas… acho que precisava disso.
Ela sorriu, olhando para ele de lado.
— Às vezes, tudo o que a gente precisa é de um momento assim.
Os dois ficaram ali, em silêncio, enquanto o vento soprava suavemente, trazendo o cheiro fresco da água e o som das risadas distantes de Haru, além de ser possível ouvir murmúrios de outros visitantes.
— Ei, Aki. — Victor chamou-a, tirando o celular do bolso. Ele estava um pouco hesitante, mas logo forçou um sorriso para disfarçar o nervosismo que sentia. — Vamos tirar uma selfie?
Desde aquele momento na roda gigante, Victor estava com muita vontade de tirar uma foto com a garota, mas estava relutante. Após todo o ocorrido ali, ele deduziu que seria um bom momento.
Aki ergueu as sobrancelhas, surpresa. Não era típico de Victor sugerir algo assim, mas ela assentiu prontamente, tentando disfarçar a empolgação.
— Vamos.
Os dois se posicionaram lado a lado, com o lago ao fundo, refletindo o céu, já quase todo acinzentado, e as árvores coloridas de outono. Victor ergueu o celular com o braço direito, ajustando o ângulo para enquadrar bem a paisagem e eles. Vestindo um moletom preto sem estampas, ele fez o clássico sinal de “V” com a mão esquerda.
Aki, ao seu lado, usava uma camisa rosa-clara sob uma blusa preta e imitou o gesto com um sorriso tímido, mas genuíno. Victor clicou e imediatamente conferiu o resultado, se inclinando para mostrar a foto a ela.
— Até que ficou boa, né? — Ele comentou com um tom descontraído.
Enquanto Aki observava, passou o dedo na tela, tentando dar zoom, mas acidentalmente deslizou para a próxima foto. Seu coração disparou ao ver a imagem: era uma foto dela do dia anterior, tirada em um momento que ela não percebera. Seu rosto ficou vermelho no mesmo instante, e a surpresa tomou conta.
— Victor… — Sua voz saiu mais tímida do que ela pretendia. — Você não me falou dessa foto.
Victor sentiu um frio na espinha, percebendo a situação, com medo de que Aki ficasse com raiva. Ele coçou a nuca, sem saber bem como explicar.
— Eu esqueci de te falar. Me desculpa, Aki. — Ele escolheu palavras simples e prontamente começou a apagar a foto, mas Aki levantou a mão, interrompendo-o.
— Não tem problema. — Ela tentou soar casual, mas sua voz tremeu ligeiramente. — Eu só me surpreendi porque não sabia. Se quiser alguma foto minha, é só me pedir.
Assim que as palavras saíram, Aki percebeu o quanto aquilo soava íntimo. Seu rosto corou ainda mais, e ela desviou o olhar, tentando recuperar a compostura. Por um momento, todo o frio desapareceu.
Victor olhou para ela, primeiro surpreso, depois com um sorriso.
— Vou cobrar isso depois, então. — O tom brincalhão da frase, surpreendeu Aki novamente. Uma sequência de eventos “não comuns” estava deixando Victor parecer um tanto quanto brincalhão e simpático, embora essa última parte já fosse confirmada por ela.
Antes que a conversa pudesse ir mais longe, os irmãos de Aki retornaram com passos rápidos, ainda rindo das brincadeiras que haviam feito perto do lago.
— Então, acho que já está na hora. Vamos fazer o piquenique. A Haru está com fome. — Natsu propõe.
Logo, eles pegam uma das mochilas e começam a organizar. Aki estende um forro de listas vermelhas e brancas sob o chão, onde os cinco se acomodam. Fuyu carregava uma bolsa térmica com onigiris e um molho que haviam preparado em casa.
A brisa era agradável, enquanto comiam e conversavam. Victor se mantém mais caldo, geralmente, apenas respondendo perguntas dirigidas a ele.
— Isso é nostálgico… Lembram do dia que o Natsu deixou a bolsa aberta e quando voltamos, estava tudo infestado por formigas? — Aki gargalhou, lembrando-se desse evento.
— O papai ficou em choque e deu uma bronca nele por abrir a bolsa para pegar um petisco antes da hora. — Fuyu completou.
— Eu não lembro disso… queria me lembrar dessa cena. — Haru comentou.
— Ei, não precisam lembrar disso… — Natsu respondeu, com falso desdém.
— E como vocês fizeram? — Haru indaga.
— Ficamos com fome por um tempo. — Natsu riu. — A volta foi dolorosa.
Eles riam lembrando do ocorrido e Victor, ainda que estivesse achando engraçado, isso era como um gatilho que trazia outras lembranças e flashes. Se mantinha mais sério e pensativo.
Uma cena que não gostaria de lembrar veio à tona. Victor estava num parque com folhas verdes vivas, num roda de sete pessoas, com ele. Um rapaz de estatura mediana, de cabelos e olhos pretos, bebia uma lata de cerveja, enquanto a sua namorada, uma mulher de cabelos loiros, chamava sua atenção por beber naquele momento de família.
Uma senhora de cabelos castanhos conversava com um senhor de barba bem-feita. E o que mais chamava a atenção de Victor, nessas memórias, uma moça de cabelos escuros e lisos, medianos, de pele morena, amamentava uma criança de colo, com um body vermelho e tiara de pano na cabeça.
O sorriso enquanto conversava enquanto ajeitava a mama na boca da criança, aquele cuidado materno… Victor sentia toda a felicidade do mundo em si. Mas, abruptamente fora arrebatado desse conto de fadas, caindo direto num pesadelo, num poço escuro.
Victor estava de frente a uma TV em um escritório, estupefato, lendo a manchete que passava no jornal: “Acidente fatal na principal rodovia de ligação entre os estados de MG e RJ deixa cinco adultos e uma criança sem vida.”
Nas imagens, o carro de seus pais completamente irreconhecível. Lágrimas escorriam sem parar do rosto do rapaz, enquanto o choro estava entalado em sua garganta. Sem reação, tapando a boca com a mão e paralisado.
Victor é subitamente tirado de seus pensamentos com Aki lhe chamando.
— Você está bem? — Indagou, preocupada.
Foi somente então que Victor percebeu que lágrimas escorriam de seu rosto. Mas, ninguém além de Aki percebeu.
“O que estou fazendo?” Se perguntava. “Finalmente estou aqui. Tenho que aproveitar esse passeio.”
— Eu só me lembrei de algo… bom, não quero lembrar disso… — Victor então morde um pedaço de seu onigiri.
Aki se perguntava o quão doloroso era lembrar disso. Seu coração batia fora do ritmo apenas por pensar sobre. Mas, afastando os pensamentos, começou a conversar com Victor sobre histórias do lago.
Quando terminaram de comer, guardaram as coisas e tiraram mais algumas fotos, todos juntos. Depois, decidiram que já era hora de subirem para o outro ponto legal do passeio. O topo do parque.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.