Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Durante o passeio no Lago Nagaike, a turma faz um piquenique, enquanto relembram alguns momentos.
Capítulo 20: “Minhas histórias…”
07 de outubro de 2023, sábado
Após uma caminhada agradável, chegaram ao topo do Senjojiki Cirque, onde a vista era simplesmente deslumbrante. A paisagem parecia uma pintura viva, com tons quentes de amarelo, laranja e vermelho cobrindo as árvores ao longo das montanhas. De um lado, o Lago Nagaike brilhava como um espelho, refletindo o céu e a vegetação ao redor. Do outro, uma cadeia de morros criava uma sensação de vastidão e serenidade. O bondinho que descia pela encosta completava a cena.
Victor ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo a grandiosidade da paisagem. Era impossível não sentir um misto de tranquilidade e admiração, além de sentir-se realizado, podendo viver esse sonho de muito tempo.
— Acho que é a vista mais bonita que já vi. — Ele comentou casualmente.
— Concordo. — Aki respondeu, o olhar perdido no horizonte, as mãos juntas como se tentasse proteger-se do vento frio.
Victor propôs uma foto ali no topo, e o grupo pediu ajuda a um casal próximo para tirar a fotografia. Apoiados por um fundo montanhoso magnífico, todos posaram. Haru insistiu em ficar no meio, entre os irmãos mais velhos, enquanto Victor e Aki ficaram lado a lado na ponta. Após o clique, Victor conferiu as fotos, satisfeito, e aproveitou para enviá-las diretamente a Aki.
— Aqui estão todas as fotos até agora.
Aproveitando o momento, ele enviou as anteriores também.
Enquanto verificava as imagens no celular, Aki, sempre curiosa, aproveitou o momento para fazer uma pergunta que vinha remoendo desde o início da viagem.
— Victor, no Brasil é comum tirar fotos com pessoas menos íntimas?
Victor desviou os olhos do horizonte e a encarou por um breve momento antes de responder, ponderando a melhor forma de explicar.
— Depende muito do contexto. Por exemplo, quando somos apresentados por amigos em comum, tirar fotos juntos não é tão raro. Também é comum cumprimentar pessoas com abraços e beijos no rosto, especialmente quando há um amigo intermediando.
Aki parecia intrigada, absorvendo a explicação enquanto observava Haru rindo de alguma careta exagerada que Natsu fazia. Ela sorriu ao ver os irmãos se divertindo.
— Entendi… É só que, na nossa família, a gente não tem o costume de tirar muitas fotos.
Antes que ela pudesse continuar, Victor a interrompeu, sorrindo.
— Mas isso não importa, porque, tecnicamente, já podemos nos considerar amigos íntimos, certo? Afinal, eu já dormi na sua casa e na casa dos seus pais.
Aki sentiu o coração saltar no peito. Suas bochechas aqueceram novamente, apesar do vento frio ao redor. “O que é isso que estou sentindo?”, pensou. Ela não tinha certeza, mas parecia inevitável. Aquela frase fora do contexto fazia tudo parecer tão diferente do que realmente havia acontecido.
Só depois de alguns segundos que Victor percebeu suas palavras e soltou um sorriso sem graça, pedindo desculpas para Aki pela forma com que disse aquilo, embora fosse verdade.
Os dois ficaram em silêncio por um instante, ambos observando os irmãos dela brincarem despreocupadamente. O ar gelado soprou entre eles e Victor percebeu que ela se encolhia ligeiramente, tentando se aquecer. Por um breve momento, ele sentiu uma vontade quase irresistível de abraçá-la, de protegê-la do frio. Mas sua mente foi inundada por uma confusão de pensamentos: lembranças do passado, saudades do que perdeu, e um sentimento novo, inquietante.
Ele sacudiu a cabeça, tentando afastar essas ideias. “Se recomponha”, pensou, dando um leve tapa no próprio rosto. Quando olhou novamente, viu que os irmãos de Aki já estavam voltando.
— Vamos embora? — Natsu perguntou, apontando para o bondinho. — Nós vamos por ali.
— Certo. — Aki hesitou antes de olhar para Victor, reunindo coragem. — Mas… eu queria voltar caminhando. Você se importa de me acompanhar, Victor?
Victor a olhou surpreso, mas logo assentiu, satisfeito em poder aproveitar mais tempo naquele lugar, que era um sonho, ao lado de Aki.
— Claro, vamos.
Os irmãos se despediram, não antes de Natsu provocar Aki ligeiramente, sem que os outros vissem, e ela fez careta para ela o repreendendo.
Natsu, Fuyu e Haru vão para o bondinho, enquanto Aki e Victor começaram a caminhada de volta pela trilha serpentiforme na maior parte do tempo. Caminharam por aquela estrada sinuosa que levava direto à entrada do Senjojiki Cirque. Ao redor, as folhas secas balançavam no ar, sob o vento, quase dançantes.
— Eu amo esse clima outoniço. — Aki quebrou o silêncio, abraçando seu casaco com as duas mãos enquanto o vento insistia em atravessar sua pele. — É a sua primeira vez tendo essa experiência. O que achou desse passeio?
Victor deu uma breve pausa, desviando o olhar para a paisagem à sua frente. As árvores, carregadas com folhas de tons amarelados e alaranjados, pareciam pintadas à mão.
— É uma experiência incrível… Diferente. — Ele respondeu, a voz carregada de um tom reflexivo, embora sua expressão não mudasse muito. — É lindo. É… maravilhoso.
Aki sorriu ao ouvir as palavras dele, seus olhos brilhando como se sentisse da mesma forma.
— Concordo. Não preciso nem rever as fotos para lembrar dessa paisagem. Esses momentos ficam gravados na memória, não acha? — Ela olhou para ele por cima do ombro, enquanto caminhava um pouco à frente.
Victor assentiu, observando-a em silêncio. Algo nele o fazia notar os detalhes que, antes, nunca chamaram sua atenção: o modo como o vento brincava com os fios longos de seu cabelo, ou como o tom de seu casaco rosa-claro parecia complementar sua pele delicada. Ele desviou o olhar, sentindo que não deveria pensar tanto nisso.
— Principalmente… — Ele começou a falar, mas se interrompeu, percebendo que estava prestes a dizer algo que nem ele entendia completamente.
Aki parou, virando-se para encará-lo. — Principalmente o quê? — O olhar curioso da garota procurou os olhos vacilantes de Victor.
Victor desviou o olhar. — Não é nada.
“Como eu posso dizer isso a ela?”, pensou, tentando organizar o turbilhão de pensamentos que o consumia.
Naquele momento, o rapaz não sabia o que realmente o fazia se sentir daquela forma. Talvez a emoção de conhecer um dos lugares que sonhava em visitar. Ou talvez a beleza por si só daquela paisagem também lhe causasse aquelas emoções. Mas também pensava que talvez fosse simplesmente pela companhia de Aki.
A única certeza que ele tinha ali era de que não compreendia seus sentimentos e tinha medo de que isso pudesse machucar tanto ele quanto Aki.
— Certo. Não vou insistir. — Aki respondeu, mantendo um sorriso gentil enquanto retomava o caminho.
Eles continuaram descendo, e o ar fresco da montanha parecia preencher os pulmões de Victor com algo mais que oxigênio. Era como se cada respiração trouxesse memórias antigas, sensações esquecidas, mas se pegava pensando como era possível, se nunca esteve ali antes.
Ele olhou para Aki por um instante, vendo-a caminhar à frente, a brisa leve balançando seus cabelos escuros. Em sua mente, imagens desconexas surgiam: momentos de sua infância, a casa dos avós, tardes ensolaradas de risadas inocentes… e agora, Aki.
— Por que estou pensando tanto nisso? — murmurou baixinho, como se contestasse seus próprios pensamentos.
— Hm? Está tudo bem? — A voz de Aki trouxe-o de volta à realidade. — Eu não entendi o que você disse agora.
— Sim… Estou bem. Só estou um pouco… — Ele hesitou, buscando as palavras certas. — Talvez nostálgico.
Aki ergueu as sobrancelhas, surpresa.
— Mas essa não é a sua primeira vez aqui. Nostálgico como? — Seu tom brincalhão, quase como tentando adivinhar, deixando um clima descontraído e leve.
Victor soltou uma risada curta, sem humor aparente.
— É difícil explicar. — Sua mão coçando a nunca denunciava que estava “sem graça”.
Apesar da resposta vaga, Aki não insistiu. Em vez disso, tentou preencher o silêncio com histórias de sua infância, narrando momentos em que vinha com os pais e irmãos para o mesmo lugar.
Victor havia dito que não se importaria em conhecer algumas histórias da família naquele lugar e, aproveitando que teriam bastante tempo para conversar, Aki escolheu algumas para contá-lo.
— Você sabia que dá para alugar barcos a remo no lago durante o verão? — Aki perguntou, olhando para Victor.
— Não sabia. Não tinha visto isso nos sites que pesquisei sobre o Senjojike Cirque. — Victor responde honestamente.
— Nós fizemos isso num verão que viemos aqui.
Aki, quase pensativa, sorria enquanto procurava as palavras para contar a história.
— Como foi? — Victor ficou curioso em descobrir essa lembrança.
Embora ainda estivesse com um semblante quase apático, sua voz demonstrou certa curiosidade.
— A mamãe e o papai decidiram ir juntos. Eles não conseguiram sincronizar os movimentos e ficaram girando em círculos por uns cinco minutos. — Aki cai na gargalhada, lembrando da cena, quase viva em sua memória. — Todos nós assistimos da margem e rimos bastante. Natsu de vez em quando chama o papai de “Capitão Remo”. Mas ele não gosta muito da ideia. Sempre o repreende. Nós sempre rimos.
Victor, por um momento, sorriu, imaginando a cena.
Continuando a caminhada, Aki também contou da vez em que foram fazer um piquenique, mas dessa vez contando mais detalhes de como deu tudo errado. Aki havia ajudado sua mãe a preparar toda a refeição do passeio, e todos estavam muito empolgados. Ao chegarem no parque, deixaram a cesta próximas ao lago, enquanto davam uma volta. Natsu, porém, deixou a cesta aberta quando foi pegar um petisco escondido e quando voltaram, tudo estava repleto de formigas.
Mesmo já sabendo, por alto, aquela história, Victor admirou cada palavra contada, prestando atenção no que Aki falava.
Ela também contou outras histórias e mantiveram um diálogo por um bom tempo, com todo o assunto envolvendo o local que se encontravam.
Eles passam em frente aquele templo xintoísta e eles decidem passar rapidamente por lá. Victor fica encantado com os detalhes do local, além do cuidado e do zelo. Eles tiram algumas fotos e voltam para a estrada.
— Essas foram minhas histórias… Já estamos quase na entrada. — Aki comentou.
— Eu gostei de ouvir. — Victor responde. Aki sente um misto de alegria e satisfação ao ouvir isso.
Pouco tempo depois, os portões da entrada finalmente apareceram no horizonte. Próximo ao caminho que faziam, uma árvore de galhos grossos chamou a atenção de Victor. Ele parou, observando-a por um momento.
— Gostou dessa árvore? — Aki perguntou, curiosa.
— Ela me lembra uma que costumava escalar quando criança, na casa dos meus avós. — Ele explicou. — Quando começamos a subir, eu vi ela, mas ignorei pelo longo caminho que tínhamos pela frente.
— Quer tirar uma foto nela? — Sugeriu Aki, com um tom brincalhão.
— Gostei da ideia. — Victor respondeu com entusiasmo. — Após caminhar até lá, ele estendeu os braços, segurando-se em um galho mais baixo. Pendurando-se e erguendo o corpo, Victor conseguiu subir, sentando-se em seguida para posar para a foto.
— Tira uma foto para mim? — Pediu, olhando para Aki.
Ela sorriu e pegou o celular dela.
— Claro. — Ela tirou várias fotos, capturando-o de diferentes ângulos enquanto ele fazia algumas poses. Sua expressão mudou poucas vezes, mas Aki conseguiu capturar um sorriso dele.
Aki se surpreendeu com a feição de Victor ao reparar nas fotos. O rosto apático de sempre havia dado lugar para um rosto, de certa forma, pensativo.
Quando Victor desceu, agradeceu. Porém, antes que pudessem retomar o caminho, Aki o surpreendeu.
— Quero tentar subir também.
Victor arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Você já fez isso antes?
— Não. Mas acho que consigo. — Ela respondeu, determinada.
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