Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Victor prepara uma refeição para que ele e Aki possam jantar, já que eles não puderam sair com a família, devido ao machucado de Aki.
Capítulo 23: Dorayakis da senhora Nanami
07 de outubro de 2024, sábado
— Aonde estamos indo? — Victor pergunta, curioso. Aki havia dito que iriam a um lugar que ela conhecia.
— Vamos numa praça aqui perto. Eu costumava ir lá quando morava aqui. — Suas palavras foram quase nostálgicas.
Victor sentiu-se curioso para saber que lugar era. Após mais alguns minutos de caminhada, chegaram ao local. Era uma praça bem iluminada, com vários carrinhos, trailers e barraquinhas de lanches em volta. Bancos brancos compunham a paisagem, junto de árvores e a grama aparada ao longo do lugar.
Apesar de simples, tinha um ar aconchegante. A brisa suave ajudava a tornar a experiência agradável, carregando o aroma das comidas, preenchendo o ambiente. Aki caminha em direção ao outro lado da praça.
— Você vinha muito aqui? — Victor pergunta, enquanto observa em volta.
— Sim. Principalmente depois da escola. — Aki sentia muita nostalgia em estar ali.
— Sozinha? Quero dizer, você vinha com seus amigos? — Victor pensa que a primeira parte ficou estranha e tenta consertar a pergunta.
— Talvez. — Sem dar uma resposta certa, Victor confirma algo que tinha percebido desde mais cedo. Havia algo que a incomodava. Mas antes que pudesse questionar sobre, ela continua:
— Vamos naquele trailer.
“Ela fugiu da pergunta?”, Victor se perguntou, quase confuso. “Foi por causa das palavras que eu usei?”. Forçando sua mente a não pensar muito sobre, ele apenas segue a garota.
O trailer, ao qual eles se aproximavam, vendia dorayaki. Um letreiro na parte superior informava isso, com uma logo atraente. Uma placa na lateral mostrava os sabores disponíveis e os valores. Victor sentiu água na boca ao sentir o cheiro delicioso que pairava no ar.
— Olá, senhora Nanami! Há quanto tempo! — Aki exclamou, com um sorriso caloroso.
— Oi! — A senhora se vira para confirmar quem a cumprimentou. — Aki! Que bom te ver! Faz quanto tempo que não nos vemos? Uns dois anos?
A senhora de baixa estatura e cabelos curtos demonstrou uma grande empolgação ao ver Aki.
— Deve ter mais ou menos isso. Das últimas três vezes que vim para Nagano não te encontrei aqui.
— Me desculpe, eu tive alguns problemas nesses últimos tempos. — Ela se explica. — Sentem-se, fiquem à vontade. Quem é esse rapaz? — Ela olha para Victor, que a cumprimenta formalmente.
— Esse é o Victor. Viemos juntos para Nagano após termos umas “férias” no trabalho. — Aki sinaliza “entre aspas”. — Trabalhamos juntos na Elegance Affairs.
— É um prazer te conhecer, Victor. — Nanami se dirige ao freezer e pega duas latinhas de chá, entregando-as para Aki. — Hoje temos o seu chá favorito.
— Obrigada. — Aki agradece, entregando para Victor uma das latas.
— E como tem sido no trabalho? — Nanami se dirige para preparar os quatro dorayakis pedidos.
— Está indo tudo muito bem. — Aki dá um gole no chá, antes de continuar. — O chefe Akashi nos dá muitas oportunidades legais, não é, Victor?
— É verdade.
A senhora Nanami considerava Aki uma grande amiga e isso era recíproco. Desde muitos anos, Aki passava ali quase diariamente para poder comer seus dorayakis e conversarem. Quando a garota se mudou para Tóquio para trabalhar na Elegance Affairs, Nanami sentiu muito orgulho por ela estar crescendo.
O celular de Victor toca e ele se afasta, após pedir licença. Nanami aproveita a oportunidade para ter outro tipo de conversa com Aki.
— Fala a verdade para mim, ele é seu namorado? — Nanami fala com um tom quase provocador.
— Não seja boba, Nanami. — Aki nega, erguendo a mão, embora tenha ficado corada.
— Você gosta dele, não é? — Ao ouvir isso, Aki engasga com o gole que tomava do chá, tossindo e se recuperando, mas ficando em silêncio. Nanami ri de toda a cena, entregando-lhe o pedido.
Após um breve momento, Victor retorna e senta na cadeira de antes. Nanami e ele conversam por um tempo. Ela pergunta algumas coisas sobre como é trabalhar na Elegance Affairs, a idade dele, comidas que ele gostava, até descobrir que ele era do Brasil.
Isso deixa Nanami empolgada, que começa que a fazer perguntas sobre o país natal do rapaz. Aki se surpreendeu em como Victor conseguiu manter o diálogo de forma fluída. Ela riu, satisfeita, consigo mesma.
Até mesmo antes do diálogo se estender, eles comeram os dorayakis. A massa fofa e adocicada harmonizava perfeitamente com o recheio de “anko”.
Aki e Victor se despedem da senhora Nanami, com a garota, dessa vez, pegando o contato dela. O rapaz quem pagou a conta, apesar de Aki ter sido contra.
— Isso é um presente, já que não fiz a sobremesa em casa. — Nanami, ao ouvir a resposta, esboça um sorriso que Victor não percebeu, mas fez Aki corar ligeiramente, desviando o olhar.
Logo, eles caminham de volta para casa. Victor estava inquieto sobre como Aki pareceu incomodada com algo desde quando estavam na praça. “Será que eu posso ajudá-la?”, questionava Victor, internamente.
Embora estivessem conversando, os pensamentos de Victor estavam como um turbilhão, pensando em várias possibilidades sobre como ela se sentia.
— Aki. — Victor a chama, inesperadamente, deixando-a curiosa. — Vamos nos sentar aqui um pouco? — Ele aponta para um banco que tinha ali próximo, numa espécie de parquinho para crianças. Ela aceita.
O chão era de areia, com alguns brinquedos, como escorregador, gangorra e balanço espalhados. A iluminação era suficiente para enxergar naquele espaço e o vento frio passava por entre os dois.
O céu estava nublado, apesar da possibilidade de chuva ser baixa e não se ouvia muitos sons na região. Os dois se acomodam no banco, um do lado do outro.
— Esse lugar também me é nostálgico. Você sabia disso? — Aki me questiona, com um tom brincalhão.
— Na verdade, não. — Victor desviava o olhar, procurando as palavras certas. — Mas, tem algo que eu preciso saber.
Aki sentiu seu coração acelerando e batendo mais forte. Mil pensamentos passavam pela sua cabeça, tais como: “Será que ele ouviu minha conversa com a senhora Nanami?”, “Ele quer falar de mais cedo?”. Após uns segundos, ela finalmente consegue responder:
— E o que seria? — Embora nervosa, manteve sua voz mais normal que pôde.
— Você estava incomodada com algo quando chegamos na praça? — A pergunta foi um alívio para Aki, ao mesmo tempo em que ela não queria falar sobre.
— Eu não gosto de falar disso. — Suas palavras saíram baixas.
— Se você não se sentir à vontade, eu entendo. — Victor a conforta. — Eu só estou preocupado.
A garota sente um arrepio e tinha certeza de que não era por causa do frio.
— Não precisa se preocupar, mas é que… — Uma breve pausa pareceu uma eternidade para Victor, que ouvia atentamente. — Eu nunca falei disso para ninguém. Me sinto ainda insegura sobre isso.
— Você sabe que pode contar comigo, não é? Lembra da nossa conversa aquele dia na Elegance Affairs?
— Claro que eu lembro. — Ela olha para Victor. — Você era um bom aluno na escola?
Victor não entendeu onde ela queria chegar, mas responde.
— Eu não diria isso… Acho que eu era normal. Por quê?
— Eu era… introvertida. — Ela fala devagar, procurando as palavras. — Digamos que muito introvertida. Eu tirava notas altas, era organizada…, mas nunca consegui me comunicar direito. Isso me tornou um alvo fácil.
— Alvo fácil? — Victor franziu a testa, já imaginando do que se tratava.
— Bullyng. — Ela confirma. — Nada físico, mas eram comentários, risadas quando eu tentava responder algo na frente da turma, ou quando eu fazia algo errado, ainda que pequeno. Algumas garotas diziam que eu me achava “melhor que todo mundo”, mas eu apenas me esforçava nos estudos.
— Deve ter sido difícil… — Victor comenta, dando espaço para ela continuar.
— E foi. Eu me senti, por muito tempo, isolada. Nunca fui de sair com colegas, nem pessoas que eu pudesse chamar de amigos eu tinha. Só me procuravam quando era para ajudar em trabalhos escolares. — Após pensar um pouco, Aki concluiu que isso havia a marcado mais do que ela havia percebido. Falar disso com Victor lhe mostrou isso.
Victor, apesar de se manter em silêncio, absorveu cada palavra, procurando uma forma de confortá-la.
— E por esse e outros motivos que eu sempre visitava a senhora Nanami. Ela sempre conversava comigo sobre tudo e me confortava, além de eu adorar o dorayaki de lá. Embora eu sempre fosse após a escola, nunca fui acompanhada de algum amigo. E acho que foi isso que me deixou dessa forma, meio… pensativa. — Ela conclui brevemente, respirando fundo antes de continuar.
Victor estava surpreso com as palavras. Não achou que Aki fosse contar tantos detalhes, embora tivesse gostado da ideia de conhecê-la melhor.
— Por isso nunca tive relacionamentos também. — Aki joga uma mecha de cabelo para trás da orelha, sentindo um frio na barriga. Ela falou essa parte impulsivamente, quase pensando alto demais.
Victor levanta a sobrancelha, surpreso com a revelação, embora Aki não tenha percebido. Ele, logo, recupera a postura, e ela continuou:
— Nunca me senti confortável o suficiente com alguém. Nunca me achei atraente ou interessante o bastante. — Aki continua mexendo nos seus cabelos, nervosamente.
Ela continua:
— Eu só comecei a mudar quando entrei para a Elegance Affairs. O chefe Akashi me deu uma ótima oportunidade, mesmo eu tendo essa dificuldade. Mas trabalhando com os eventos fui obrigada a lidar com as pessoas e acabei me tornando essa pessoa que sou hoje. Dentre outros motivos, esse é um pelos quais eu respeito e admiro tanto o nosso chefe. — Ela esboça um sorriso.
— O chefe Akashi é realmente incrível, também sou muito grato a ele. — Victor concorda. — Mas, eu acho que você não precisa se forçar a ser diferente por ninguém. E também fico feliz que você tenha superado parte disso.
— Obrigada, Victor! — Ela agradece. — Senti um peso sendo tirado das minhas costas. Me sinto bem confortável com você.
Victor sente um calor subir no peito e ele sorri para ela. Essas palavras o tocaram. Aki ficou desconcertada ao perceber o que falou, mas não tenta consertar, sabendo que podia deixar um clima ainda mais embaraçoso. Victor diz que é melhor voltarem, pois o tempo estava muito fechado. Eles voltam a caminhar.
O clima estava frio e nuvens carregadas encobriam o céu. Eles planejavam ir embora antes do almoço do próximo dia e queriam descansar, e logo chegam à casa.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.