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    Notas de Aviso

    Anteriormente em MNVJ: Após o jantar, Victor e Aki ão até a barraca de dorayakis da senhora Nanami e Aki acaba falando um pouco de seu passado para Victor.

    08 de outubro de 2023, domingo.

    Logo ao amanhecer, uma fresta entre as cortinas da casa deixou escapar a luz do sol, iluminando diretamente o rosto de Victor. Ele acordou sentindo os primeiros raios e, com certa relutância, se levantou. Ainda meio sonolento, começou a organizar suas coisas para a viagem de retorno. Eles planejavam partir ainda pela manhã, e ele queria estar preparado para não se atrasar. 

    Ao verificar as horas, percebeu que era cedo demais. A casa permanecia em um silêncio quase absoluto, com todos ainda dormindo. Sem nada mais a fazer, decidiu iniciar sua rotina diária de alongamento. Quando terminou, sentiu uma necessidade de respirar o ar fresco e se dirigiu à varanda. 

    O ar frio da manhã era revigorante. Victor lançou um olhar em direção ao quarto onde Aki estava hospedada. A porta permanecia fechada, e ele assumiu que ela ainda devia estar descansando. O dia anterior havia sido cansativo, e ele esperava, sinceramente, que ela estivesse melhor do pé torcido. 

    Apesar disso, uma pontada de preocupação permaneceu. Ele se perguntava se ela ainda sentia dor ou se o descanso da noite anterior havia sido suficiente. A falta de respostas o deixava inquieto, mas ele sabia que não poderia fazer nada além de esperar. Sentia-se culpado, em parte, pelo ocorrido, embora Aki negasse esse fato. Foi ele quem pensou em escalar a árvore. 

    Para afastar os pensamentos, balançou a cabeça e colocou os fones de ouvido, abrindo o aplicativo de músicas. Logo estava imerso em uma playlist montada por ele, nomeada de “Aleatórias”, com faixas de diversos cantores que costumava ouvir, principalmente em momentos introspectivos. A melodia preencheu sua audição e, pouco a pouco, também sua mente. 

    Havia as mais diversas músicas nesse álbum, de diversos gêneros. Músicas brasileiras e “internacionais”, cantadas em espanhol, inglês e japonês, embora não dominasse completamente o idioma castelhano, tinha uma boa noção, principalmente daquelas canções selecionadas. 

    No entanto, bastaram os primeiros acordes de uma música específica para que algo dentro dele fosse ativado. O impacto emocional foi quase imediato, trazendo flashes de memórias antigas. Era como se cada nota carregasse imagens de momentos perdidos no tempo. Momentos felizes que, de repente, pareciam tão distantes. 

    Victor respirou fundo, tentando controlar a torrente de emoções que surgia. “Por que tinha que tocar logo essa música?”, pensou, irritado consigo mesmo. As lembranças que surgiram o levaram de volta ao passado, e a familiar dor da saudade fez seus olhos arderem. Por um instante, considerou desligar a música, mas algo nele resistiu. Ele sabia que aquelas memórias, por mais dolorosas que fossem, eram parte de quem ele era. 

    Sentiu algumas lágrimas escorrerem por seu rosto antes de enxugá-las. “Como uma única música mexe tanto com a gente?”. Era quase uma indignação ser tão instável com apenas uma canção. 

    Finalmente, decidiu trocar de música, procurando algo para se distrair. A nova melodia era diferente, menos carregada de significado, mas os pensamentos não o deixaram. Dessa vez, não eram suas memórias distantes que surgiam, mas sim momentos recentes. Imagens de Aki surgiam em sua mente: o sorriso dela, como enquanto experimentava sua comida ou fazia alguma brincadeira; como ela sempre buscava entendê-lo e ajudá-lo, ou quando ficava tímida com alguma situação. 

    Uma onda de sensações o tomou, e ele não sabia como classificá-las. Alegria? Ansiedade? Era difícil dizer. Sentia algo diferente, algo que não reconhecia completamente. Seu coração batia fora de ritmo. Ele abriu os olhos e olhou ao redor, mas a casa permanecia silenciosa. 

    Victor voltou a se perder em pensamentos. Estar ao lado de Aki o fazia sentir-se… bem. Havia algo de reconfortante na companhia dela, como se, por breves momentos, ele pudesse esquecer as feridas que carregava. Mas logo veio a realidade. “Eu não posso querer algo sério com ninguém agora”, refletiu, sua expressão endurecendo. 

    Ainda que três anos tivessem se passado desde o acidente que destruiu sua família e sua vida, ele não sentia que seu coração estava inteiro novamente. Relacionamentos pareciam uma ideia distante, quase impossível para ele. 

    Mesmo assim, não podia negar que Aki tinha um efeito diferente sobre ele. Os momentos que compartilhavam, por mais simples que fossem, traziam um tipo de paz que ele não experimentava há muito tempo. 

    A música chegou ao fim, e Victor sentiu como se tivesse sido arrancado de um sonho. O vazio deixado pela melodia era quase físico, mas foi preenchido rapidamente por algo inesperado: o som suave de passos no interior da casa. Ele virou-se instintivamente e viu Aki surgir na sala. 

    Ela estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, que deixava seu rosto ainda mais delicado. Usava roupas casuais que ficavam ótimos em seu tom de pele claro: um suéter rosa em tons claros com uma calça combinando, algo que parecia ser seu pijama. O detalhe fofo da blusa era o desenho de gatinhos brilhantes. Victor ficou imóvel por um momento, observando-a enquanto ela entrava no ambiente, despreocupada. 

    — Bom dia! — disse ela com um sorriso. 

    — Bom dia! Você dormiu bastante, hein. — comentou, com um tom de brincadeira, esforçando-se para soar mais leve. Ele vinha trabalhando nisso, tentando deixar de lado a apatia que carregava consigo. 

    Aki deu uma risada leve antes de responder: 

    — Eu realmente apaguei. — Ela se jogou no sofá de maneira descontraída. — Acho que ainda estou dormindo, para falar a verdade. 

    — O dia está ótimo. Eu acordei com uns raios de sol batendo no meu rosto. — Ele se sentou ao lado dela. — Já faz um tempo que estou de pé. Confesso que queria ter descansado mais. — Seu tom de voz soou quase preguiçoso. 

    — Então está cansadinho? — provocou Aki, olhando para ele com sarcasmo. 

    Victor arqueou a sobrancelha: 

    — Corta essa. Estou muito bem. Ainda mais com a sua presença aqui. — tentou ele, usando a mesma brincadeira que ela havia feito. 

    Aki pareceu ser pega de surpresa pela resposta. Sua voz saiu manhosa, e ela desviou o olhar:

    — Para com isso! — Enquanto um leve rubor surgia em suas bochechas. — Isso me deixa com vergonha. 

    Victor sorriu discretamente, satisfeito em ter provocado aquela reação. Ele se levantou, olhando ao redor. 

    — Acho que está na hora de todos levantarem. Vamos preparar o café da manhã? 

    Aki concordou com um aceno e o seguiu até a cozinha. Juntos, começaram a organizar tudo, desde cortar pães até preparar o café. Quando terminaram, o cheiro de comida recém-preparada já havia se espalhado. 

    Natsu e Fuyu foram os primeiros a chegarem. 

    — Olha só, se não são os dois pombinhos. — Brincou Natsu, rindo. Seus cabelos ainda estavam bagunçados. 

    — Cala a boca! — Aki o repreendeu, dando de ombros e se dirigindo para a mesa. 

    Assim que se sentaram, não perderam tempo em continuar provocando Victor. 

    — Então, Victor, vai mesmo continuar fingindo que não tem nada rolando? — Natsu insistiu, com um sorriso travesso. 

    Victor lançou um olhar indiferente, fingindo não entender. 

    — Não faço ideia do que você está falando. — respondeu, mantendo seu tom neutro. 

    — Ah, qual é! — Fuyu entrou na conversa. — Você e Aki têm uma química óbvia. É difícil não perceber. 

    Victor “sorriu internamente” e se forçou a não demonstrar isso, ignorando os comentários. Sabia que eles não estavam sendo maldosos. 

    — Vocês dois falam demais. — retrucou, brincando, enquanto pegava uma xícara de café. A expressão de surpresa no rosto dos dois irmãos foi imediata. Não esperavam que Victor retrucasse, muito menos num tom de brincadeira. 

    — Ei, estamos só nos divertindo! — respondeu Natsu, rindo alto. — Além disso, a Aki precisa de um cara que cuide bem dela, e você parece ser o tipo certo. 

    Victor encarou Natsu por um momento, desejando concordar com suas palavras. Mas logo, como um balde de água fria fosse jogado sobre ele, lembrou-se que não estava preparado.

    — Vocês são muito unidos, não é? — perguntou Victor, mudando de assunto para evitar prolongar a conversa. 

    — Sempre fomos. — respondeu Fuyu, com um sorriso genuíno. — Nossa família é tudo para nós. 

    Eles riram e, mesmo Aki tendo os repreendidos, pelas brincadeiras, estava se divertindo. Victor ficou em silêncio, apenas observando a dinâmica entre os irmãos. Era reconfortante e, ao mesmo tempo, trazia uma pontada de melancolia. Então tentou afastar qualquer pensamento melancólico e participou esporadicamente da conversa, até que em alguns poucos minutos chegaram Haru, Hana e Shouto. 

    Eles conversaram bastante, agora com todos reunidos. Depois do café, todos ajudaram a arrumar a cozinha, e logo chegou o momento das despedidas. 

    — Foi um prazer conhecer você, Victor. — disse Hana, com um sorriso caloroso. 

    — É verdade. Você é um grande homem. — acrescentou o pai de Aki, com um tom firme e sincero. 

    Victor inclinou-se ligeiramente em reverência. 

    — Sou muito grato por tudo, desde a recepção até a comida. Obrigado por me receberem. 

    — Não precisa agradecer. — respondeu a mãe de Aki. — Foi a nossa Aki que te trouxe aqui. Esperamos que você volte mais vezes. 

    Victor olhou para Aki, que, sem jeito, mexia em uma mecha de cabelo. Antes que ele pudesse responder, Natsu voltou a falar. 

    — Tenho certeza de que você já será o nosso cunhado na próxima vez que vier. 

    Fuyu riu, concordando. 

    — É verdade. Cuide bem da nossa irmã, hein. 

    — Parem com isso! — Aki exclamou, claramente envergonhada. 

    Haru, a irmã mais nova, sorriu e se aproximou de Victor. 

    — Eu gostei de você, Victor. Não seria ruim ter você como irmãozão. 

    — Obrigado, Haru. Eu também adorei te conhecer. Você já é como uma irmãzinha para mim. — Victor abaixou-se para ficar na altura dela antes de falar. 

    Haru abriu um sorriso e tirou algo do bolso. 

    — Tenho um presente para você. — disse ela, revelando uma pulseira de fita com desenhos de flores de cerejeira. — Eu adoro a primavera, e espero que você goste. 

    — Eu adorei. Pode colocar em mim? — Ele estende o braço, esboçando um sorriso, não antes de olhar discretamente para Aki, que acena, confirmando.

    Haru amarrou a fita no punho dele, e Victor observou o presente: 

    — Vou cuidar muito bem do seu presente. 

    Haru sorriu, animada. Natsu e Fuyu foram até ela contestar, pedindo pelos seus presentes e lhe perguntando que papo era aquele de “irmaozão” de novo. 

    “Esse presente…”, pensou, “Eu não esperava receber um presente tão especial…” — Enquanto eles discutiam, Victor estava olhando para seu pulso, quase num transe. 

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