Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Victor e Aki acabam se destacando na reunião e recebem uma proposta inesperada.
Capítulo 28: Cinema
13 de outubro de 2023, sexta-feira.
De volta ao escritório, todos que já haviam terminado seus relatórios apresentaram, respectivamente, os documentos ao chefe Akashi, que os recebeu com a habitual seriedade e gratidão.
Pelo decorrer da segunda reunião, Victor e Aki tiveram um prazo maior para entregar, sendo o limite até o fim do próximo dia. Ainda assim, trabalhavam em seus relatórios preliminares. Enquanto eles ajustavam os últimos detalhes para entregar o arquivo ao chefe Akashi, Aki soltou um suspiro alto, atraindo o olhar de Victor.
— Algo errado? — ele perguntou, casualmente.
— Não… Só pensando no tanto de trabalho que ainda temos amanhã. — Ela apoiou o queixo na mão, encarando o monitor. — Mas acho que uma pausa vai ajudar.
Victor inclinou-se levemente para frente, com um tom descontraído.
— É só um filme, Aki. Não precisa levar como uma pausa estratégica.
Ela riu.
— Não subestime o poder de um bom filme!
…
Por um instante, os dois ficaram em silêncio, o som dos teclados e o ruído do ar-condicionado do escritório preenchendo o ambiente. Victor, hesitante, perguntou:
— Faz tempo que você não vai ao cinema?
Essa dúvida vinha o atormentando desde mais cedo. Finalmente ele resolveu perguntar.
— Sim, já faz um tempo. Acho que da última vez eu estava com a Haru, há uns dois anos. — Aki sorriu com carinho. — Ela me arrastou para ver uma comédia ridícula, mas foi divertido.
— Bom, hoje é minha vez de arrastar você para algo diferente. Espero que o filme esteja à altura. — Victor fala, desviando o olhar.
Aki ergueu uma sobrancelha, desafiadora.
— Vamos ver se você sabe escolher filmes tão bem quanto sabe fazer relatórios. — Sua voz carregada de falsa afronta, seguido por uma risada, fez Victor rir brevemente.
…
Com o expediente encerrado, Victor e Aki combinaram os detalhes para o cinema.
Já em casa, Victor sentiu uma pequena hesitação ao pensar no filme e na companhia de Aki, enquanto encarava o guarda-roupa, pensativo. Ele escolheu uma camisa branca e uma blusa de frio preta, além de uma calça jeans.
“Não posso pensar por esse lado.”, brigava consigo mesmo. “É apenas um cinema com uma amiga. Nada além disso.”. Inúmeros pensamentos desse mesmo tipo invadiam sua mente, fazendo-o ficar disperso debaixo do chuveiro.
Enquanto isso, Aki, em casa, lutava com a escolha do casaco.
— Rosa é casual o suficiente, certo? — murmurou para si mesma, olhando-se no espelho.
Após alguns segundos, ela liga para Sayuri. Aki inventa uma história e acaba por perguntar com que roupas supostamente deveria ir.
— Você e o Victor estão saindo? Que fofos! Vocês combinam muito. — Disse empolgada, também escolhendo um dos looks que Aki propôs.
— É apenas um cinema entre amigos. Nada de mais. — Respondeu Aki, hesitante, suas bochechas coraram levemente.
Depois de uma breve conversa, ela desliga o telefone.
“Será que estou me esforçando de mais?”, pensou, demorando mais do que planejou durante o banho.
…
Aproximadamente às 20:20, Victor já estava no ponto de encontro, usando uma camisa branca por baixo de uma blusa de frio preta, com capuz e zíper, que ele mantinha aberto até a altura do peito. Combinava o visual com uma calça jeans e tênis preto. Enquanto mexia no celular, viu Aki se aproximando. Ela usava uma calça skinny preta e botas de cano curto, completando o look com um casaco rosa e brincos dourados delicados. O cabelo estava preso num rabo de cavalo.
— Desculpe a demora — disse ela, com um sorriso.
— Você não demorou. Está bem pontual, na verdade — Victor respondeu, tentando aliviar sua preocupação e tentando não reparar muito nas roupas dela.
“Ela está realmente bonita”, pensou Victor. “Devo elogiá-la agora?” Os pensamentos bombardeavam sua mente, indeciso de deveria fazer um elogio para o visual dela. Embora quisesse, sentiu receio de deixar o clima diferente e acabar por estragar o “apenas um cinema com uma amiga”.
Victor sabia como se comportar num encontro, já tinha passado por isso várias vezes no passado – e isso até atrapalhava suas decisões atuais. Ele não queria se envolver romanticamente com Aki, pois sentia que não estava preparado. Ele tinha medo de sofrer tudo novamente, tinha medo de fazê-la sofrer.
Seus pensamentos estavam completamente bagunçados, fazendo-o ficar em silêncio por alguns segundos, antes de ser arrebatado pela voz suave de Aki.
— Vamos comprar pipoca? O filme começa daqui a pouco.
— Claro, vamos. — Victor começa a caminhar e Aki anda ao seu lado.
Eles seguiram juntos até a lanchonete do cinema, mas foram surpreendidos por uma falha na máquina de pipoca que queimou a próxima leva, que Victor esperava. Ele desistiu de esperar e optou apenas por um refrigerante, enquanto Aki ficou com um saco de pipoca do lote anterior.
No trajeto até a sala de exibição, Aki, ainda desconfiada sobre os incidentes do dia, insistiu que Victor deveria comprar um amuleto de proteção. Ele riu, rebatendo com paciência.
— Gatos pretos não dão azar, Aki. São só coincidências.
— Coincidências que só acontecem em sexta-feira treze — ela provocou, balançando a cabeça com um sorriso.
A conversa terminou quando entraram na sala escura e se acomodaram.
…
Durante a exibição do filme, em uma sequência de suspense prolongado, Victor percebeu que Aki estava praticamente afundando na cadeira, com as mãos agarradas ao saco de pipoca. A sala estava silenciosa, exceto pelo som crescente da trilha sonora. Ele olhou discretamente para o lado, vendo os olhos dela fixos na tela, completamente imersa na tensão.
Então, o som estridente de uma porta batendo no filme fez Aki dar um pequeno salto, derramando algumas pipocas no colo. Victor conteve uma risada, mas não pôde evitar um sorriso desafiador surgir nos seus lábios.
— Isso foi só o começo, você sabe, né? — ele murmurou, baixinho, inclinando-se na direção dela.
Victor sentiu uma alegria crescente em poder brincar com Aki daquele jeito, provocando-a, e de conseguir fazê-lo. Ele estava praticando falar de forma mais casual e brincalhona para essas situações, para quebrar um pouco de sua apatia.
— Você está tentando me assustar ainda mais? — sussurrou ela de volta, os olhos semicerrados em um olhar acusatório, mas ainda mantendo a concentração na tela.
Ele riu baixo, sem que ela percebesse, voltando a se acomodar na cadeira, como se a conversa tivesse terminado. Mas não durou muito. Uma nova cena tensa, onde o protagonista explorava um sótão escuro, fez Aki, instintivamente, buscar o braço de Victor, segurando-o com força quando uma criatura grotesca surgiu na tela.
— Acabei de lembrar que não gosto de filmes de terror… — ela sussurrou, com um tom quase manhoso.
Victor, surpreso, olhou para o braço capturado por ela, e decidiu provocá-la, murmurando de forma brincalhona.
— Se segurar meu braço tão forte assim, vou acabar saindo daqui sem circulação.
Aki rapidamente soltou-o, corando.
— Desculpa!
— Estou brincando. Está tudo bem. — Ele disse tranquilamente, tentando deixá-la à vontade.
“Será que exagerei na brincadeira?”, pensava. Após tanto tempo vivendo sem se divertir e sem se envolver com outras pessoas, Victor não sabia se o tom que demonstrava transmitia a ideia que ele queria.
Seu desconforto desapareceu quando Aki lhe ofereceu pipoca, que aceita de bom grado e Victor se manteve mais concentrado no filme. Em certo momento, ao tentarem pegar alguma pipoca, a mão de ambos se toca de forma suave, fazendo Aki recuar a mão instintivamente. Victor olha para ela, que mantém os olhos na tela, fingindo não perceber que ele a encarava.
“Esse toque… tão suave.” Pensou Victor, ainda sentindo o calor do toque dela em suas mãos. “Para com isso! É só uma amiga. Não posso perder a compostura.”. Ele continuou pensando. “E se ela achar que fiz por querer?”. Um turbilhão de pensamentos vinha à mente dele, enquanto tentava se manter concentrado no filme.
Do outro lado, Aki não estava se sentindo diferente. “Nossas mãos se tocaram!”, exclamava ela, internamente. “A mão dele, transmite uma sensação tão calorosa. Será que eu deveria segurá-la?” Ela começou imaginar uma cena assim. “Não, não posso! Eu não deveria pensar nisso.”. Aki também se forçou a manter a concentração no filme.
Era verdade que ambos sentiram um misto de emoções naquele pequeno toque. A troca de calor quando se tocaram, o toque suave de Aki e as mãos quentes de Victor. Os dois sentiram seus corações bater mais rápido e um frio na barriga. Mas apenas ficaram em silêncio sobre o ocorrido.
…
Quase no fim do filme, durante uma cena cheia de silêncio opressor, Victor percebeu que Aki havia fechado os olhos. Houve poucas palavras após o “incidente” anterior e Victor não quis perder a oportunidade de provocá-la novamente. Apesar do receio de exagerar na brincadeira, não queria deixar o clima tão tenso.
— Você está fugindo da melhor parte? — ele provocou, sussurrando para não atrapalhar os outros.
Ela balançou a cabeça, ainda com os olhos fechados.
— Não quero ver. Me avisa quando acabar. Eu sei que vai ser muito assustador.
Victor pensou por um instante e então inclinou-se para perto dela, narrando a cena baixinho.
— O cara entrou no quarto. Está olhando para um espelho, e… oh, claro, porque ninguém liga quando o reflexo não acompanha os movimentos. Agora ele está tocando o espelho, ótimo plano.
Aki abriu um olho, olhando de canto para ele, com um sorriso hesitante.
— Isso está ajudando, sabia?
— Estou à disposição. — Ele deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas internamente satisfeito por fazê-la sorrir em meio ao medo.
Enquanto a cena chegava ao seu ponto-chave, Aki acabou rindo baixinho de um comentário irônico que Victor murmurou, e por um momento, o terror pareceu menos intimidante.
Mas não durou muito. No clímax do filme, rapidamente ele mostrou a que veio, com uma sequência de cenas de terror e suspense que arrepiavam até os mais corajosos. Victor assustou algumas vezes, embora mantivesse uma postura calma, enquanto sempre observava as reações da garota ao seu lado.
A cada susto mais intenso, sentia o aperto tímido de Aki em seu braço. Em uma cena particularmente aterrorizante, que todos juraram ser a cena mais horripilante de um filme já criado, ela instintivamente o abraçou pelo pescoço.
Victor sentiu o perfume adocicado e floral dela, percebendo o rosto corado de Aki por um momento antes dela se afastar, murmurando desculpas apressadas. Ele apenas sorriu, achando graça na timidez dela e, ao mesmo tempo, lutando com seus próprios sentimentos.
Um desejo intenso de abraçá-la de volta quase o dominou, mas ele se conteve. O odor de Aki era tão intenso para ele, que despertava desejos de tê-la em seus braços. E nem ele sabia o motivo disso. Ele se perguntava qual perfume ela usava, que o deixava com essa sensação e decidiu que perguntaria sobre isso numa oportunidade.
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