Capítulo 32: Halloween

19 de outubro de 2023, quinta-feira. 

Ao chegar à empresa, Aki cumprimentou cada funcionário que encontrou pelo caminho, desde a recepção até o senhor Akashi. Não havia visto Victor ainda, mas seguiu para sua sala. Entrou, organizou suas coisas e iniciou sua rotina de trabalho. Ao abrir o e-mail, deparou-se com uma mensagem do chefe informando que haveria um evento comemorativo de Halloween na empresa. Todos deveriam vir fantasiados, e a empresa seria decorada especialmente para a ocasião. 

Aki não conseguiu conter a animação. Ela adorava Halloween e já começou a planejar o que usaria no evento. Enquanto estava imersa em seus pensamentos, a porta de sua sala se abriu, e Victor entrou. Ela sorriu, como sempre fazia, e desejou um bom dia. 

— Bom dia, Aki! — Respondeu Victor, se acomodando em sua cadeira. 

Por um momento, Aki lembrou-se das palavras que Victor havia dito recentemente e sentiu uma mistura de emoções que a fez desviar o olhar.  

“Os olhos dela são tão encantadores” Os pensamentos voltaram à tona. “Será que eu ouvi certo? Ele realmente me elogiou dessa forma?”  

O que Victor não sabia era que Aki ouviu ele dizer aquela frase na última segunda-feira. E vários pensamentos desde então a bombardeavam. 

Aki respira fundo, tentando afastar todos os pensamentos sobre isso. 

Após se recompor, perguntou se ele já sabia sobre o evento de Halloween. Victor negou e foi verificar o e-mail. 

— Parece interessante — comentou ele após ler as informações. — Já sabe do que vai se fantasiar? 

— Já tenho algo em mente, mas não vou contar. Vai ser surpresa — respondeu Aki com um tom brincalhão. — Você só vai descobrir no dia trinta e um. 

— Que maldade — retrucou Victor, com um tom, inesperadamente, descontraído. Ele a observou por alguns instantes, como se tentasse adivinhar o que ela usaria. 

O olhar dele era intenso e Aki, nervosa, jogou uma mecha de cabelo para trás da orelha, desviando os olhos. 

Apesar da proximidade que os dois haviam desenvolvido recentemente, certas atitudes de Victor ainda a deixavam desconfortável, embora não de forma ruim. Seu coração disparava, e ela sentia um frio na barriga. Tentando disfarçar o nervosismo, Aki encarou Victor novamente. 

— Vou te surpreender — disse ela, esforçando-se para esconder a timidez. 

— Você vem com alguma fantasia aterrorizante? 

Aki colocou o indicador no queixo, ponderando por alguns segundos, antes de responder:  

— É um evento de fantasias, não necessariamente de terror. Mas quem sabe? 

Victor sorriu e Aki se sentiu atingida por uma explosão de emoções ao ver o sorriso de Victor, que era raro de se ver. Mesmo sendo rápido, foi algo que a preencheu de alegria. Vê-lo fazendo aquilo era reconfortante. 

“Eu deveria elogiar o sorriso dele?”, ela pensava, mas não tomou nenhuma atitude em relação a isso. 

Depois disso, ambos retornaram ao trabalho e seguiram com suas atividades habituais. 

31 de outubro de 2023, terça-feira 

Finalmente, o tão esperado dia chegou. Logo ao entrar na empresa, Aki foi recebida por uma recepcionista fantasiada de bruxa, com um chapéu cônico e uma vassoura em mãos.  

—  Bom dia, Aki! Seja bem-vinda! —  Arian fez uma pequena saudação usando a vassoura. 

Aki respondeu gentilmente e com um aceno de cabeça se despediu, indo em direção à sua sala, depois de compartilhar e de ganhar um doce da mulher. 

Mais adiante, encontrou Helsing vestido como Frankenstein, sua fantasia repleta de detalhes impressionantes, desde as roupas esfarrapadas até os parafusos e cicatrizes. 

— Doces ou travessuras? — brincou Helsing, com uma voz rouca. 

— Doces, é claro! Não gosto de travessuras — respondeu Aki, tapando um dos olhos com a mão e rindo. Helsing também riu, e com uma movimentação estranha, lembrando um zumbi, ele tirou um bombom da sacola que segurava. Eles trocaram os doces e se despediram. 

Aki seguiu pelos corredores, onde encontrou outros colegas com fantasias igualmente criativas. Sayuri estava vestida como uma cosplay de rainha-demônio de um anime famoso, enquanto Nara havia optado por uma versão assustadora da Chapeuzinho Vermelho. Ken, Yui e Akari também impressionaram com suas escolhas: um personagem de jogo de luta clássico, shinigami e freira sombria, respectivamente. Aki elogiou todos e distribuiu doces, sentindo-se honrada ao receber elogios por sua própria fantasia. 

Antes de entrar na sua sala, avistou o senhor Akashi, que lhe cumprimentou. O homem usava uma fantasia de doutor macabro. 

Ao entrar na sala, encontrou Victor vestido como um vampiro. A roupa preta com detalhes em vermelho-escuro, combinada com olhos vermelhos e longos caninos, criava uma aparência marcante. 

— Victor! Você está incrível! — exclamou Aki, sem perceber que havia falado alto demais. 

— Bom dia, Aki. — Victor lhe cumprimentou e ficou observando cada detalhe da fantasia dela, surpreso.  

Aki sentiu um leve desconforto, virando o rosto. 

— Estou estranha? — Sua voz saiu trêmula e quase manhosa.  

“Estranha? Você está incrível! Não sei como te elogiar sem dar alguma ideia errada.” Victor pensava rapidamente, tentando responder-lhe para explicar porque a encarava.  

Também sentiu envergonhado ao perceber que encarou ela mais do que deveria. Ele focou seu olhar na janela, enquanto balbuciava: 

— Desculpe se pareci indelicado. — Ele faz uma reverência, tentando parecer calmo e entrando no personagem. — Sou o Lorde Victor Pacca III, senhorita. O que devo a honra de sua visita? 

Aki não pôde evitar uma gargalhada, fitando Victor com olhos marejados por rir intensamente. Ver Victor atuando daquela forma realmente a pegou desprevenida, quebrando totalmente toda a tensão que estava entre os dois.  

“Por que ele está usando o nome Pacca? Bom, deve ser só para entrar no personagem de “lorde” mesmo”, pensou, mas ignorou isso. 

Se recompondo do riso, ela se curvou. 

— Eu sou a Lady Aki Yamada, do reino Yamada. É um prazer conhecê-lo.  

— Princesa Aki, eu diria… — Victor tenta intimidá-la, se aproximando dela lentamente. 

Por um momento, ela sente seu coração disparar, tentando entender o que Victor planejava. Ela estava adorando a encenação e queria continuar o quanto pudesse. Mas pensamentos inundavam sua mente, quase lhe confundindo. 

Victor esperava uma resposta de Aki para continuar. Seu corpo se moveu quase automaticamente e ele não queria recuar. “Como eu acabei fazendo isso?”, pensava, tentando entender como tudo isso começou. Mas o brilho no olhar de Aki o encorajava a continuar atuando. 

— Não se aproxime mais, criatura demoníaca. Eu posso te destruir. — Aki estende a mão o máximo que pôde para não encostar em Victor, ficando a poucos centímetros dele. — Sou uma usuária de magia sagrada. 

Victor não pôde conter a risada, ficando aliviado de Aki ter quebrado a cena estranha que ele criou.  

— Não me mate, princesa Aki. Eu prometo que serei bonzinho daqui em diante. — Victor pensou por alguns momentos em algo que fosse totalmente inusitado e soasse até bobo, apenas para aproveitar a reação da garota, que novamente não se conteve e gargalhou, com as mãos erguidas em rendição. 

“O que aconteceu com o Victor?”, indagava Aki nos pensamentos. Aquela brincadeira dele a pegou completamente despreparada, mas sentiu que conseguiu se sair bem. O que mais lhe deixava intrigada era a forma que Victor estava agindo. “Essa é a mágica do Halloween?”. 

“O que eu estou fazendo?”, Victor pensava. Não conseguia se ver fazendo aquilo e nem ele sabia como ele acabou naquela situação, deixando ser levado pelo momento. Apesar disso, havia gostado do ocorrido. Ter provocado aquelas reações em Aki o deixou muito satisfeito. 

— Perdoado! Afinal, esse é o mundo de Zandara. — Ela finalizou, antes de serem convocados pelo chefe Akashi para uma reunião. 

O chefe Akashi anunciou que a Elegance Affairs precisava de dois representantes para um evento de Halloween naquela noite, e poucos estavam disponíveis. Após uma breve conversa, ficou decidido que Victor e Aki seriam os representantes. 

Embora surpresos, pois havia muitas outras fantasias melhores, como a de Helsing como Frankenstein ou Shin como um Templário, aceitaram o trabalho. O chefe Akashi levou outros fatores em consideração, além da fantasia em si.