Notas de Aviso

    Anteriormente em MNVJ: A Elegance Affairs anuncia que terá um evento de Halloween. Todos os funcionários vão fantasiados no dia.

    31 de outubro de 2023, terça-feira.

    O local estava impecavelmente decorado, com abóboras iluminadas, teias de aranha e morcegos que se moviam com a brisa. No centro do salão, uma grande mesa exibia doces temáticos e castiçais com velas verdadeiras, o que chamou a atenção de Aki e Victor. 

    Victor anotou o detalhe dos riscos de incêndio para colocar em seu relatório. Aki estava encantada com tudo, mas também percebeu o mesmo.  

    Logo, foram recebidos por Mina, e em seguida se acomodaram. Mina organizava alguns eventos para a Elegance Affairs e já haviam tido contato antes, sendo já conhecidos.  

    Aki havia se retirado por alguns minutos e Victor notou quando ela estava voltando. Percebeu que o tecido azul da saia se movia graciosamente a cada passo que ela dava, com faixas douradas adornando a parte superior do vestido, envolvendo a cintura e subindo em um design intricado. As mangas largas de tecido branco, que contrastavam bem com os detalhes dourados, caíam suavemente pelo pulso. Além disso, seu cabelo estava com uma tiara dourada em forma de coroa, prendendo a parte superior dele, com o restante ficando à mercê de seus movimentos.  

    Juntos na mesa, conversaram um pouco sobre a decoração e ambos destacaram a questão das velas reais, além de elogios para a maioria do trabalho. Também observaram que havia muitas fantasias legais, e isso se provou verdade, na hora do concurso de fantasias, que ocorreu mais tarde. 

    A cada novo desfile, se encantavam ainda mais com a criatividade e dedicação das pessoas para esse evento de fantasias. Desde fantasias bobas até fantasias aterrorizantes, todas eram muito detalhadas e bem feitas.  

    Na hora da votação, ambos votaram no monstro de três cabeças, que acabou ganhando o prêmio. 

    *** 

    Após o evento, enquanto caminhavam de volta para casa, Aki parou repentinamente na frente de Victor. 

    — Doces ou travessuras? — Ela perguntou com uma expressão brincalhona. 

    Ele cruzou os braços e olhou para o céu, como se estivesse ponderando. 

    — Travessuras. —  Respondeu, com um sorriso sem graça, enquanto coçava a nuca. — Eu não trouxe nada. 

    Aki franziu os lábios, pensativa, sentindo o vento frio brincar com seus cabelos esvoaçantes.  

    “Nada?” Seus pensamentos a deixaram em conflito. Somente agora ela havia lembrado de falar disso com ele, já que, graças a encenação no escritório, acabou esquecendo de perguntá-lo sobre e a resposta negativa foi um banho de água fria. “Como eu queria ganhar algo dele.”, vários pensamentos parecidos invadiam sua mente.  

    Victor tentava imaginar o que ela faria de “travessura”. 

    Aki não sabia o que fazer, já que não tinha planejado nada de antemão, esperando verdadeiramente ganhar algo dele. Relutante no que havia pensado, ela ergueu o indicador e deu um toque na testa dele, empurrando-a levemente para trás. 

    — Yaim! — Ela exclamou, embora tímida. 

    — Yaim? Isso é uma travessura? — Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha, a voz carregada de falsa incredulidade, colocando a mão sobre a testa. 

    — Não pensei em nada ainda. — Ela admitiu com um suspiro exagerado. — Achei que você fosse me dar um doce. E Yaim não é exatamente uma travessura… 

    “Por que usei a expressão? Que vergonha de explicar isso.” Aki implorava para que ele não perguntasse o significado da palavra. 

    “Yaim” era uma expressão que ela viu em uma novel shoujo que leu recentemente, e a personagem usava isso como uma forma de brincar com seu amado, que não se tocava do amor da garota.

    Aki agiu impulsivamente e apenas falou e não queria que ele soubesse o significado. Mas não conseguiu pensar em nada, deixando um silêncio quase constrangedor. 

    Victor riu de leve, sem graça com o ocorrido. 

    — Achei que você fosse mais criativa. — Provocou. 

    Victor queria ver até onde ela iria com as travessuras e aquilo pareceu “pouco”. Pensou que ela armaria algo, lembrando-se do quão brincalhona era ela. Talvez fosse pela decepção, perceptível em sua voz, ou fosse porque ela estava cansada? Ele tentava entender, enquanto continuavam caminhando, já chegando na porta da casa dela. 

    Aki fez uma careta, virando de costas enquanto buscava as chaves da casa na bolsa.  

    — Na próxima, eu vou pensar em algo melhor. — Ela disse com determinação. — E vou te surpreender! 

    Victor não respondeu de imediato. Aki deu um passo à frente, pronta para abrir a porta e se despedir, quando sentiu a distância entre eles diminuir. Percebeu a presença dele bem próxima, quase ao ponto de sentir o calor de sua respiração atrás de si. O coração dela deu um salto. Antes que pudesse se virar, algo surgiu na sua visão periférica. 

    Os braços de Victor contornavam seu pescoço, sem a tocar, e na mão dele estava uma pequena caixa de bombons envolvida por um laço, parada na frente de seus olhos. Uma caixa transparente com bombons aparentemente artesanais.  

    — Eu estava brincando. — Ele disse, a voz baixa. — Feliz Halloween, Aki. 

    Por um momento, o tempo pareceu parar. Ela não conseguia processar aquilo. Seus olhos se fixaram na caixa, e a mente dela ficou vazia de qualquer resposta espirituosa. 

    “O quê? Você estava apenas me provocando?”, pensava, incrédula, mas sem conseguir demonstrar qualquer reação além de surpresa. Finalmente, ela pegou o presente, com as mãos levemente trêmulas. 

    — Obrigada. — Murmurou, balbuciando, quase inaudível. 

    Ela continuou imóvel por um momento, quando Victor, percebendo essa reação, pensou em provocá-la ainda mais, rapidamente. 

    O rapaz então encostou a mão nos ombros da garota, fazendo com que ela tivesse uma sensação gélida atravessando seu tórax. Aquilo a pegou completamente desprevenida. As mãos de Victor, embora estivesse um tempo frio, estavam quentes e contrastou perfeitamente com a sensação que carregava naquele momento. 

    Victor aproximou a boca do pescoço dela, mas ainda mantendo uma certa distância, antes de sussurrar: 

    — Você não deveria confiar em um vampiro que você tentou matar mais cedo a ponto de virar de costas para ele dessa forma, lady Yamada. — A voz rouca e pausada de Victor fez Aki sentir um arrepio percorrer todo seu corpo.  

    “Ele ainda fez isso comigo. Seu maldoso!” Pensou. Não estava com raiva, nem sentia nada negativo, apenas uma explosão de sentimentos agradáveis. Queria poder virar e continuar encenando, mas logo uma imagem veio à sua mente, deles prolongando aquela atuação até se beijarem e sentiu suas bochechas queimarem.  

    Ainda assim, não conseguia se mover ou falar algo. Foi realmente um choque para ela o que aconteceu. 

    Victor, percebendo a reação dela, deu um passo para trás, com um sorriso satisfeito no rosto ao perceber o impacto do gesto e da brincadeira. 

    — Boa noite, Aki.

    Ele virou-se, caminhando na rua iluminada pela luz dos postes, enquanto ela permanecia ali, imóvel, segurando os bombons como se fossem um tesouro e com um turbilhão de emoções e pensamentos. 

    Aki entrou em casa, finalmente, fechando a porta com cuidado e encostando-se contra ela. Seu coração ainda batia forte. 

    — Eu nem consegui olhar para ele… — Murmurou, pressionando as mãos contra as bochechas quentes. 

    Depois de alguns minutos, ela abriu a caixa e olhou os bombons com carinho. Sentiu-se culpada por sua reação dispersa. “Eu deveria ter agradecido direito…” 

    Sentindo-se culpada, ela pegou o celular, hesitante. Respirou fundo, antes de tirar uma selfie segurando a caixa, tentando um sorriso tímido, ainda sem coragem de encarar a câmera completamente. Depois de mais alguns segundos de indecisão, enviou a foto para Victor com uma mensagem breve: 

    “Essa é minha forma de pedir desculpas por não agradecer direito. Obrigada pelo presente. Feliz Halloween!” 

    Victor recebeu a mensagem enquanto caminhava de volta. Um sorriso formou em seu rosto ao ver a imagem. Ele não respondeu imediatamente, ainda sem saber como responder. 

    Aquela foto, para ele, era um presente muito especial.  

    “Surpreender a Aki… parece que foi uma boa decisão”, pensou, guardando o celular no bolso com satisfação. “Acho que vou fazer isso mais vezes.”. 

    Mas logo outros pensamentos tomaram o lugar desses, deixando-o conflitante. Ele sabia que não podia simplesmente começar um relacionamento e as marcas que tinha em seu peito ainda era palpável, embora lutasse para seguir em frente. 

    Ao chegar em casa, se jogou na cama após se trocar, de barriga para baixo, murmurando:  

    — Aki, por que você me parece tão… — Ele fica alguns segundos em silêncio, ponderando em como exatamente ele via Aki. — Especial? Que droga! Não sei o que fazer.  — Se lamentava. 

    Victor ansiava simplesmente poder esquecer tudo que já passou e seguir sua vida. Desejou poder abraçar Aki e dizer o que sentia — embora nem ele conseguisse definir exatamente isso.  

    Imagens involuntárias surgiam em sua mente. Uma garotinha num berço, de pele parda e cabelos pretos, enquanto balançava os bracinhos e perninhas, alegremente. Uma garota de pele morena e cabelos levemente cacheados puxando sua mão enquanto caminhavam, e ela, empolgada, apertava o passo adiante. Um casal de meia-idade, sendo uma mulher de cabelos ondulados longos e castanhos e um homem de barba bem feita e cabelo liso, penteados para trás, conversavam com ele, todos numa mesa de escritório. 

    Mas não eram somente imagens do passado traumático, também via imagens recentes e novas imagens que nunca haviam acontecido. Uma garota bonita, de cabelos longos e pretos, com olhos cor âmbar, tentando escalar um galho enquanto caía, logo após descerem a trilha do Senjojike Cirque. 

    O sorriso dessa mesma garota enquanto interagia com a família, e a forma como sorria para ele quando conseguia arrancar essa reação. Lembrou-se do dia do cinema, onde ela se agarrou a ele instintivamente durante o susto. Lembrava-se do seu perfume floral e como se sentia perto de Aki.  

    Ainda via ambos caminhando juntos na praia e fazendo viagens juntos para alguns lugares. Por um momento, Victor se deixou levar e começou imaginar o toque dos lábios dela e logo despertou, dando um soco em si mesmo, pensando: “Recomponha-se”. Não podia deixar se levar. 

    Ele estava começando a entender o que ele sentia, mas não queria aceitar. Não podia aceitar.  

    Enquanto todas essas imagens e pensamentos passavam por sua mente, pouco a pouco, foram se apagando, até que ele adormeceu. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota