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    Notas de Aviso

    Anteriormente em MNVJ: Durante o jantar, após algumas palavras, Aki abraça Victor, criando um clima diferente.

    02 de dezembro de 2023, sábado 

    A maciez do colchão pouco fazia para aliviar a inquietação que dominava o peito de Aki. As luzes do quarto estavam apagadas e apenas iluminado pela luz externa que passava pelas frestas da cortina. Ela fechou os olhos por alguns momentos, tentando afastar seus pensamentos, mas a confusão em sua mente era como uma tempestade incessante. 

    Depois de alguns minutos rolando de um lado para o outro, ela desistiu de tentar dormir. Levantou-se devagar e caminhou até o banheiro, após pegar alguns itens no guarda-roupa. O som da água quente caindo do chuveiro preenchia o silêncio, enquanto o líquido escorria pelo seu corpo, trazendo um certo conforto e relaxamento, e isso estava ajudando a organizar todos os fragmentos que surgiam em sua memória desorganizadamente. 

    De volta ao quarto, com os cabelos ainda úmidos, Aki sentou na cama, abraçando as próprias pernas. Teve a sensação do quarto parecer mais vazio que o de costume. Então, ela voltou a se deitar, após secar seu cabelo. 

    Aki olhou para o teto, tentando encontrar respostas para perguntas que nem ela sabia formular. Tudo começou a voltar, como um filme passando em sua mente. 

    Desde o encontro acidental com Victor na rua, onde ele sempre parecia tão sério e centrado no trabalho, naquele momento, agiu com gentileza e demonstrou certa preocupação. Após isso, começaram a conversar com mais frequência. 

    O dia que ele levou bolinhos de camarão para eles comerem juntos e ele lhe agradeceu, sem ela entender o motivo.  

    As conversas durante o expediente do trabalho, embora esporádicas, aconteciam, cada vez com mais frequência.  

    Até mesmo quando estavam trabalhando como supervisores, aconteciam conversas pessoais e um certo entrosamento que lhes ajudavam a concluir o serviço com mais excelência. 

    Os almoços que tiveram juntos, às vezes que ele a acompanhou até sua casa… o dia que ele se molhou e se resfriou devido à sua preocupação com ela.   

    Aki morde o lábio, pensando em como tudo aconteceu e que ela parecia uma idiota às vezes. Ela continua rolando na cama, enquanto seus pensamentos continuavam quase visíveis. 

    Os contratos que fecharam juntos, o primeiro dia no bar “Flor da Noite” e que ele chegou a dormir em sua casa. Aki cobre os olhos com o braço, tentando achar uma posição confortável.

    As promessas que ele fizera a ela também vinham como um martelo batendo em seus pensamentos e então se lembrou da viagem para Nagano. Ir com Victor até lá havia sido algo muito especial para ela. Lembrou-se do almoço com a família e às vezes que Natsu e Fuyu brincavam com ele e ele se mantinha sério, deixando-os sem graça. 

    Aki não pôde conter um sorriso bobo ao lembrar de Haru chamando-o de “irmãozão”. E teve a conversa de Victor com seu pai, enquanto bebiam, que ela nem soube o assunto e isso despertou sua curiosidade que ela havia esquecido há um tempo. 

    Ela olha para uma das prateleiras na parede de seu quarto e vê o bichinho de pelúcia que Victor havia dado para ela de presente quando ganhou como prêmio no parque de diversões. Após se levantar e pegá-lo, ela volta para a cama, observando firmemente aquele gatinho com olhos brilhantes, quase hipnotizantes.  

    Lembrou do sorriso dele durante os brinquedos naquele dia e como ele pareceu até outra pessoa, a provocando e se divertindo, até o momento da roda gigante… Victor até mesmo dormiu na casa de seus pais. Parando para analisar de outro ponto de vista, isso dava uma ideia muito errada e ela sentiu seu estômago borbulhar, com um misto de emoções se formando novamente em seu peito, tão intensos como há algumas horas. 

    Foi então que ela se lembrou do dia do Halloween e a encenação que ele fez quando a acompanhou até a porta de casa. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo, ao lembrar-se da boca de Victor tão próxima de seu pescoço, fingindo que iria mordê-lo. Ela deita novamente, abraçada ao gatinho que ela chamou de “Yume”. 

    No bar, alguns dias atrás, o jeito que suas amigas estavam a provocando e fazendo com que ela pensasse em vários detalhes, que acabavam insistindo em perturbá-la: “Victor não vai querer alguém inexperiente como eu…” 

    Toda agitação na sua mente voltou à tona quando se lembrou do jantar de poucas horas atrás. Tudo que aconteceu… Aquelas palavras de Victor: “Mas não se esqueça de uma coisa: seu sorriso me salvou da escuridão. “. Ela ainda se perguntava se tinha ouvido certo e, se sim, se Victor disse aquilo somente porque estava alcoolizado. 

    “Por que eu o abracei daquela forma?”, se perguntava. “Foi pelo efeito da bebida?” Outros pensamentos conflitantes brigavam na sua cabeça. “Não consegui me conter. O que era aquele sentimento? Aquela sensação?”.  

    — Eu gosto de você, Victor. Não tenho dúvidas. — Aki sussurrou, com as palavras ecoando pelo ambiente silencioso. — Mas, o que é esse gostar? Isso é amor?  

    A falta de experiência amorosa deixava Aki muito insegura. Ela sabia que sentia algo por Victor, mas o medo e a insegurança nublavam sua mente. Seria como amigo? Como um tipo de irmão? Ou gostava dele como um homem? Se fosse esse o caso, ela estaria preparada para assumir um relacionamento? Casar? Ter filhos? 

    Pensando nisso tudo, Aki não pôde conter outro sorriso, dessa vez sentindo suas bochechas arderem. “Eu preciso me controlar”. Mas lembrou-se logo de outra coisa: ela nunca teve nenhuma experiência amorosa. Victor já foi casado e pai. O que ele iria querer com ela, mais nova e inexperiente? 

    O que mais lhe incomodava, ao pensar nessa possibilidade, era imaginar que Victor não se sentisse atraído por ela, não a vendo como uma mulher. Ele era um viúvo, já teve filho, uma pessoa muito mais experiente e ainda era mais velho que ela. Ele teria interesse amoroso numa pessoa completamente sem experiência? A aflição açoitava o coração de Aki.  

    Embora as palavras e atitudes de Victor lhe dessem uma esperança, ainda não tinha segurança para expor tudo para ele, para tentar algo novo. Então, ao se lembrar dele se desculpando após o abraço, foi como um balde de água fria. 

    “Por que ele se desculpou? Será que isso não é recíproco? Eu exagerei?”. 

    Aki percebeu que seria uma longa noite, então suspirou pesadamente. 

    — Por que você me deixa assim, Victor? — Falou baixinho. — Yume, o que você acha? — Ela perguntou para seu gatinho de pelúcia, olhando-o atentamente. 

    — Vai ser uma longa noite… — Murmurou.

    … 

    Victor sentou-se no sofá da sala assim que entrou em casa. Ainda sentia uma inquietação em seu peito.  

    “O que eu fiz? Eu sou um idiota?”. Por mais que tentasse afastar seus pensamentos, imaginava tudo que acontecera, não muito diferente do que aconteceu com Aki.  

    Victor, porém, não conseguia esquecer aquele abraço de Aki. O fato dela ter tomado a iniciativa e lhe dado um abraço fazia seu coração bater num ritmo diferente. 

    “No fim, a culpa foi minha, né?”, pensou, lembrando-se das palavras que disse para ela. Ele sabia que, principalmente para Aki, aquelas palavras não foram apenas palavras. 

    Embora ele soubesse que realmente não eram apenas uma frase dita da boca para fora, e que era tão verdadeira quanto o ar que ele respirava, sabia que não poderia ter dito aquilo sem estar preparado para uma possível consequência. 

    “E se nossa amizade mudar por causa disso?”. Victor queria poder gritar o que sentia, aquele sentimento estava quase lhe sufocando. “Por que isso teve que acontecer?”, ambas as suas mãos cobriam seu rosto. 

    Então, uma série de imagens de seu passado se misturavam com seus pensamentos atuais sobre Aki. Uma mulher de pele morena num vestido branco, numa cerimônia cercada por amigos e familiares. O sorriso dela e seus olhos castanhos escuros enchiam seu coração de saudade e uma dor aguda. Uma dor perfurante, quase física. 

    Também via em seus braços, enquanto balançava ritmicamente, uma pequena garotinha, um bebê, com um body rosa-claro e tiara de pano na cabeça. Os olhos castanhos iguais da mãe, porém, carregados de uma pureza e inocência que lhe dava esperança, ao mesmo tempo, em que, a dor no seu peito aumentava, fazendo-o colocar a mão sobre o lado esquerdo do tórax.  

    Seu rosto foi inundado por lágrimas que desciam de seus olhos marejados. Por mais que ele tentasse superar tudo aquilo, mantendo aquelas memórias o mais escondido possível, ainda doía pensar nas suas perdas. Embora lembrar do sorriso de Aki lhe trouxesse um alívio, e sentir aquele abraço dela era algo que o tranquilizava, essa confusão emocional dentro de si estava lhe ferindo.  

    Imagens alternadas de seu passado de alguns anos e de alguns meses para cá se misturavam em sua mente, misturados a um turbilhão de emoções, sentimentos e pensamentos. 

    Victor vai até o banheiro e toma um demorado banho, enquanto tentava se recompor. Ao deitar-se, percebeu que não conseguiria dormir, vendo que já era de madrugada e não tinha a menor vontade de fechar os olhos, enquanto sua cabeça ainda era martelada por lembranças, dolorosas e outras calorosas. Em alguns momentos, ainda desciam lágrimas, embora a frequência fosse muito menor a cada vez que pensava no assunto. 

    “O que eu estou fazendo?”, finalmente se perguntou, sentando-se na cama e batendo as mãos em seu rosto, tentando se manter “na realidade”.  

    Durante muito tempo, anos, Victor construiu um muro em volta de si, uma barreira que lhe impedia de sentir qualquer coisa. Para ele, restava apenas viver. Viver um dia de cada vez. Não sentia tudo que experimentava com Aki há muito tempo, inclusive sensações novas.  

    Aquela mulher com a qual ele formou um vínculo recentemente, uma amizade muito próxima, estava perfurando essa proteção completamente. Victor lembrou que, desde o dia do encontro, tudo mudou. Antes, não respondia a nenhuma pergunta fora do contexto de trabalho, e não conseguia rir nem sorrir. 

    Para ele, nada tinha graça. Eram apenas conversas banais, sentimentos vazios e nada além disso. Porém, durante o almoço no “Bamboo Garden”, a forma fofa como Aki se comportou confundindo pão de queijo com mochi fez, mesmo que muito rápido, uma felicidade explodir em seu coração, fazendo-o sorrir. 

    Parando para pensar agora, Aki atravessou toda aquela pilha de solidão e indiferença com poucas palavras e um sorriso. E desde então, a cada dia que se aproximavam mais, isso foi se tornando mais recorrente, mais comum. 

    Agora, Victor já conseguia se expressar melhor e até brincar, sorrir e rir para ter um diálogo mais natural e melhor. E tudo isso ele devia a Aki. A gratidão que ele tinha para com ela não podia ser recompensada, pelo menos era assim que ele se sentia. 

    Ele queria retribuir tudo que ela fez por ele, embora Aki não percebesse o tanto que ela, verdadeiramente, havia ajudado Victor. O que deixava tudo numa espécie de escuridão, era o medo, o receio de acontecer algo. Victor não queria se magoar, nem magoar Aki. Ele tinha medo de expor aqueles sentimentos que ele entendia e compreendia, sabia o peso e a profundidade que eles tinham.  

    A insegurança, a incerteza, o trauma, tudo isso fazia com que ele continuasse reprimindo o que sentia. Victor sabia que não podia simplesmente se entregar totalmente para Aki, ainda mais quando lembrava que, ainda sentia tanto quando lembrava de seu passado. Isso poderia machucar Aki e ele não queria isso. 

    Enquanto rolava de um lado para o outro, continuou pensando nisso tudo, tentando imaginar como fariam para fingir que nada havia acontecido naquele jantar para que a amizade deles não mudasse, pelo menos por enquanto. 

    — Pelo jeito, vai ser uma longa noite… — Ele ainda não sentia a menor vontade de dormir.

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