Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Victor e Aki têm dificuldade em dormir com inúmeros pensamentos invadindo suas mentes após o ocorrido.
Capítulo 40: Um sentimento nebuloso
11 de dezembro de 2023, segunda-feira.
Os dias seguiram com Victor e Aki conseguindo fingir que nada havia acontecido, embora lembrassem vividamente aquele momento, não deixava isso atrapalhar a convivência deles.
Eles mantinham as conversas e afastavam os pensamentos sobre o que aconteceu.
…
— Estou te falando, hoje é um dia de sorte! — Insistia Aki, inclinando o corpo para frente da cadeira, como se intimidasse Victor.
— Eu não acredito nessas superstições. Só porque hoje é dia onze, do mês doze, do ano vinte e três, é um dia de sorte? — Victor falou em tom de brincadeira, como se a desafiasse.
— Sim! Lembra daquele dia do cinema? — Ela responde, quase sem pensar.
— Ah, claro que eu lembro… Por acaso está falando do meu “amuleto”? — Provocou Victor, referindo-se ao “abraço” que ele recebera dela.
Porém, o tiro saiu pela culatra, quando ele se lembrou do abraço do dia do jantar e desviou o olhar para a porta.
— Não me lembra disso. — Ela abana as mãos, negando. — Fico com vergonha… — Sua voz saiu baixinho, lembrando-se também da noite do dia dois.
— Bem… Então todas as datas com alguma “lógica” são dias de sorte? — Ele tentou voltar ao assunto principal.
Aki sentiu-se agradecida, e continuou:
— Sim. É isso mesmo.
— Isso é bobeira. — Victor reafirmou. — Se usarmos matemática, praticamente qualquer dia do ano vai ter uma sequência lógica, então todo dia do ano é um dia de sorte.
— E se for? — Aki falou em tom de deboche.
— Eu concordo. Já que te vejo quase todo dia. Então estou sempre com sorte. — Victor provocou novamente, sorrindo da cara que ela fez em seguida.
— Você está fazendo de propósito. — Ela manifestou. — Então toma. YAIM! — Ela se aproxima dele e lhe cutuca a testa, empurrando-a levemente para trás.
— A sua travessura? — Ele fala, com falsa incredulidade.
— Não é sempre uma travessura. Agora é uma punição. — Ela sorri e volta a atenção de novo para o seu computador.
O assunto de datas se encerrou e eles focaram no trabalho.
…
— Alô? — Victor atende o seu celular.
Aki não entendia o que ele falava, embora algumas palavras pareciam familiares, que ela o ouvia falando sempre ao telefone. “Matheus”, “Brilho… (e mais alguma coisa que ela não conseguia entender)”. E dessa vez também entendeu a palavra “Natal”, embora não soubesse o seu significado.
Quando Victor desligou, Aki não conseguiu segurar a sua curiosidade, que vinha lhe incomodando há alguns meses já.
— É uma ligação do Brasil?
— Sim, estava falando com o Matheus. Embora eu esteja aqui, ele me liga quase todo dia. Às vezes é até um chato. — Ele responde, como se quisesse insultá-lo. — Mas é uma ótima pessoa.
Aki queria perguntar sobre quem era esse Matheus, mas se segurou. Achou que seria muito invasivo.
— Entendi. Eu consigo ouvir algumas palavras, mas não entendo seus significados. — Ela tenta repetir algumas dessas palavras, e Victor tenta ensinar para ela e explica seus significados.
— “Natal” é o natal. Estávamos falando sobre isso. Ele queria que eu fosse para lá nessa época.
Aki de repente, sente algo diferente. “E se o Victor voltar para o Brasil?”. Isso fez seu coração acelerar e ela mudou o semblante.
Victor percebe a brusca mudança e pergunta se havia algo de errado.
— Você vai ir para o Brasil? — Sua voz baixa e hesitante fez Victor entender tudo rapidamente.
— Não se preocupe, não vou voltar a morar no Brasil. Pretendo continuar aqui no Japão. — Victor responde de forma explicativa.
— O que te faz querer ficar no Japão? — Aki perguntou sem pensar, logo após perceber a pergunta, corou e desviou o olhar, mas não tentou corrigir a pergunta.
— Uma pergunta inusitada… mas bem, talvez eu goste de ficar aqui.
— Tem algum motivo específico? — Ela insistiu.
— Que tal darmos uma volta mais tarde naquele parque aqui perto? Eu realmente preciso terminar esse trabalho, e eu prefiro conversar sobre isso com você sem correria.
Aki sentiu seu coração batendo ainda mais rápido e sentiu que engoliu em seco.
— Tudo bem.
…
Os dois caminhavam naquele lugar bonito, uma praça cheia de árvores com um pequeno lago no meio do parque. As árvores com folhas alaranjadas e secas, caídas no chão, com os galhos quase vazios, devido ao outono, já quase no inverno.
O vento soprava frio, já estava anoitecendo e as luzes brancas dos postes iluminavam o local. Aki usava uma blusa de frio de tecido grosso e de cor rosa-claro, por cima de seu uniforme de trabalho, com um cachecol cinza no pescoço. Victor estava com uma blusa de frio de moletom de cor preta.
— Sobre o que falávamos no trabalho… — Aki tocou finalmente no assunto, curiosa com a resposta.
— Eu sempre quis conhecer o Japão. É um sonho desde muito cedo. Depois de tudo que aconteceu, achei que aqui seria o lugar ideal para eu recomeçar minha vida. E olha esse ar outoniço. — Victor respira fundo, soltando o ar pela boca em seguida. — O outono é minha estação favorita, e conhecer o outono japonês me faz ter certeza de que eu quero continuar aqui.
— Então é somente por causa disso? — Aki indaga com um tom de curiosidade.
Victor para de caminhar, olhando nos olhos dela, quando ela se vira para ele.
— Talvez eu goste de ficar aqui pelas pessoas com quem convivo.
Aki fica surpresa, desejando no fundo, que ele falasse mais, então, decide tentar extrair mais informações:
— Os nossos colegas de trabalho são mesmo legais. Inclusive o chefe Akashi é uma pessoa fenomenal.
— Eu não posso discordar disso. Mas tem uma pessoa em especial que me faz querer ficar aqui.
Aki sente um frio na espinha e não sabia se era devido ao vento gélido ou outro motivo. O olhar deles se encontram e ela rapidamente desvia, olhando para o lago.
— Essa pessoa especial me ajuda mais do que mereço. É o tipo de pessoa pela qual eu não me importaria de cozinhar todo dia se fosse preciso, de viajar para a casa de seus pais ou de irmos ao cinema, jantar na casa um do outro ou ainda de abraçar.
Victor falou aquilo sem pensar muito sobre, apenas falou o que pensava. Era verdade que, mesmo se fosse algo hipotético ele não gostar de Aki de forma romântica, ele ainda sentia essa gratidão por ela. Ele não queria expor sentimentos de uma relação íntima entre um homem e uma mulher, mas acabou deixando escapar mais palavras do que havia pensado que falaria.
Aki sentiu o peso daquelas palavras, ela só desejou que ele falasse o nome dela para ter cem porcento de certeza. Havia ainda uma fagulha de dúvida no seu coração.
— É esse tipo de pessoa que você gosta? — “Já que estamos nesse ponto, não tem porque não aproveitar”, pensou Aki, antes de perguntar para Victor.
— Eu diria que sim. É esse tipo de pessoa que eu gosto. — Victor responde, imaginando que não adiantaria muito ficar tentando despistar.
— E o que é esse gostar exatamente? Gostar como um amigo? Ou de outra forma? — Aki não pôde conter a curiosidade. Finalmente havia uma brecha para ouvir da boca de Victor o que realmente sentia. Reuniu coragem e falou.
— Não posso te responder isso agora. — Ele se vira para ela, aproximando o rosto dela. — Mas tudo que eu disse é verdade. Inclusive aquele dia do jantar. Ah, e mais uma coisa que quero deixar claro: eu realmente gosto do “Outono”.
Victor apruma o corpo e chama ela para continuarem a caminhada e irem embora. Aki, apesar de sentir uma vergonha quase explodindo em seu peito, seguiu-o, e não tocou no assunto mais, satisfeita por ouvir aquilo tudo da boca dele, embora não fosse as palavras que ela esperava ouvir, com mais clareza.
“O que você quer dizer com isso tudo, Victor? Defina esse “Outono”! Você não está me ajudando!”, esbravejava ela, em pensamentos.
“Droga, quase me deixo levar de novo”, pensava Victor, enquanto faziam o caminho para casa. “Eu gosto de você, Aki. Mas não posso definir esse gostar ainda…”
Eles continuaram conversando sobre outros assuntos o restante do caminho, até Victor deixá-la em casa e seguir para a sua própria moradia.
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