Capítulo 43: Quatro estações

20 de dezembro de 2023, quarta-feira. 

— Eu sei que está em cima da hora, mas foi um convite inesperado. Não iríamos participar desse evento, porque estamos com muito serviço. Porém, eles nos convidaram hoje. Por ser um evento regional muito popular, não podemos simplesmente dispensar.

A sala do chefe continuava, como sempre, com um ar diferenciado. Todos os móveis estavam no mesmo lugar.  

— Eu não tenho nada planejado para esse dia, então eu consigo ir sim. — Victor responde, tomando a frente da conversa. 

— Eu também consigo ir. — Aki responde em seguida. 

Akashi sorri, satisfeito.  

— Eu sempre posso contar com vocês. Eu prometo que vou recompensá-los por esse extra. 

Victor e Aki saem da sala, após acertar alguns detalhes e volta ao serviço. 

— E aí, Victor! E aí, Aki. — Akari os cumprimenta. 

— Oi, Akari. — Aki e Victor respondem. — Como estão as coisas no setor de comunicação? 

— Como sempre. Estamos recebendo muitas ligações e nossa agenda já está quase fechada até abril. Há poucas vagas disponíveis. 

— É bom saber que estamos com muito serviço. — Victor comenta.  

Akari passa a mãos nos seus cabelos lisos e pretos, jogando-os para trás. 

— Nossa empresa está realmente crescendo nas últimas semanas. Estou feliz de fazer parte dessa equipe. 

Eles se despedem após um breve diálogo.  

… 

— A nossa equipe está bem empenhada. — Victor comenta, depois de já estarem na sua sala no escritório. 

— O carisma do chefe Akashi faz todos se sentirem bem e à vontade. Acho que isso é muito importante. 

— Talvez seja isso mesmo.  

… 

24 de dezembro de 2023, domingo.  

Os dias seguiram e finalmente o inverno havia chegado oficialmente. Já era véspera de natal. Embora fosse domingo, a empresa seguiu trabalhando firme por causa dos eventos naquele dia. 

Após um dia de correria na empresa, Victor e Aki se arrumam em suas respectivas casas e se encontram num local combinado para irem até o “Festival das Estações”.  

… 

O Festival “Quatro Estações” acontecia num campo, como se fosse um mini estádio de futebol. O espaço estava dividido em quatro áreas distintas, cada uma representando uma estação do ano.  

A parte destinada ao “Verão” estava simulando um “Festival de verão”, com lanternas japonesas e barracas, além de uma enorme piscina montada simulando um parque aquático, embora ninguém se aventurasse entrar naquela água. O tempo estava frio demais para tentarem algo assim. 

A “Primavera” estava com um enorme jardim montado, cobertos por um telhado para evitar que estragassem caso nevasse. Tinham incontáveis vasos de plantas e flores, e claro, bonsais. Tinham tantas espécies diferentes que era difícil contar. Estava bem iluminado e muito chamativo, bem colorido. 

No “Inverno” tinha uma pista de patinação no gelo, além de bonecos de neves enormes, de pelúcia. Não precisaram fazer nada além de deixar apenas o visual “invernal”, pois o clima complementava aquela decoração. Árvores-de-natal e enfeites natalinos diversos deixava aquele lugar quase perfeito. 

Enfim, o “Outono”. Uma área do espaço era destinada a uma enorme mesa de frutas, legumes e verduras, representando a colheita. Enquanto em volta, folhas amareladas e alaranjadas davam uma tonalidade única, com até mesmo árvores sem folhas fazendo parte da decoração.  

Assim que entraram pela porta principal que dava acesso ao local, Victor não pôde deixar de se impressionar. A decoração da “Tóquio Decorações” estava num nível absurdo.  

“Eles seriam meu top um se não fosse aquele dia da Neospace, não é?”, Victor indagava consigo mesmo. Ver um trabalho tão bem executado quase o fez se arrepender de quase romper o contrato com eles após o incidente daquele dia. 

“Que incrível!”, Aki estava com olhos brilhando, admirando aquele evento, imóvel.  

— Que decoração perfeita! — Aki exclamou, com um sorriso. — Estou muito feliz de poder estar participando!

Victor percebeu o sorriso genuíno dela e se alegrou. “Ainda bem que o chefe Akashi nos designou para esse evento”. 

Ao caminharem um pouco pela lateral dos espaços, Victor percebeu que havia uma passarela que conectava as quatro repartições do evento, além de um caminho que circulava todas as áreas.  

O local estava cheio de pessoas, que aparentavam se divertir bastante. Tiravam fotos, gravavam vídeos e conversavam entre si.  

— Vamos nos sentar ali? — Aki sugere, apontando para uma mesa num dos espaços “vazios” do evento. Nesse momento, Victor percebe que suas unhas estavam ligeiramente grandes, pintadas de vermelho, com desenho de flocos de neve em algumas unhas.  

“As unhas dela estão bonitas”, pensou, enquanto a observou melhor. “Se bem que… ela está linda”.  

— Vamos. — “Por um momento, quase deixo escapar.” 

Eles sentam. Victor não pôde deixar de reparar no vestido que Aki usava, justo ao seu corpo, realçando suas curvas e com um decote não muito ousado, mas deixava destacando seu busto.  

— Olá, sejam bem-vindos! — Um homem de meia-idade, cabelos levemente grisalhos e baixo cumprimentou. — Vocês vieram pela Elegance Affairs, certo? 

— Olá! Obrigado! Sim. Eu me chamo Victor, é um prazer conhecê-lo, senhor Ryota.  

— Eu me chamo Aki Yamada, é um prazer estarmos aqui. 

— Eu não tenho palavras para elogiar o trabalho da Elegance Affairs. Todas nossas expectativas foram superadas. — O homem fala gentilmente. Usava um quimono tradicional japonês. 

— Não fazemos tudo sozinhos. — Victor comenta casualmente. — É graças ao empenho de todas as empresas envolvidas, embora a Elegance Affairs quem organize. 

— Não sejam tão modestos. — Ele insiste. — O trabalho ficou magnífico. E falando nisso, a melhor parte do nosso evento, todos os anos, é o “Desfile de Casais”. Faço questão de que vocês participem.  

— Bem… não somos bem um casal ainda. — Victor comenta, sem perceber a última palavra que saiu. Aki, porém, sentiu seu rosto queimar e ela ajeita nervosamente uma mecha de cabelo atrás da orelha, expondo um brinco de argola pequeno e dourado. 

— Tudo bem, é apenas um desfile para entretenimento. — O senhor Ryota explica como funcionava o evento, onde cada um escolhia uma parte do evento para ficar, não podendo revelar mutualmente qual estação escolheriam.  

Após conversarem brevemente, eles se despedem e o senhor Ryota segue cumprimentando e conversando com outros convidados. 

— Ele é muito gentil, não? — Victor fala. — Acabei confirmando em participar do desfile sem você dar sua opinião. Me desculpa. — Ele coça a nunca ligeiramente, desviando o olhar. 

— Tudo bem. — Ela gagueja. — Vamos participar. Eu estou empolgada. 

Mesmo animada para participar, as palavras de Victor não saíam de sua cabeça. “Ainda”. Aquela única palavra foi o suficiente para deixá-la pensativa e se lembrar do mesmo “erro” que havia cometido anteriormente. “Não vou pensar nisso agora”.

Victor, porém, continuou conversando, sem ter percebido o que falara. Aki se forçou a manter-se conversando sem demonstrar nervosismo. Eles decidiram passear pelo evento e a garota veste seu casaco de tom bege que havia tirado quando sentou.  

Os dois passam pela “Estação Inverno”, que estava mais próximo deles. Os enfeites natalinos piscavam sincronizados, enquanto havia crianças na pista de patinação no gelo.  

As poucas barracas organizadas naquele lado vendiam chás, chocolate quente e outras bebidas para se aquecer. 

Eles não ficam muito tempo por ali e caminham até a “Estação Verão”. Victor decide tocar a água da piscina para conferir a temperatura dela.  

— Caramba, que gelado. — Ele recolhe a mão rapidamente ao tocar levemente a água. 

— Com esse frio, me surpreende que não esteja congelada. — Aki brinca. 

— Não me olhe assim. Eu não esperava que estivesse quente. — Ele responde, percebendo a cara de ironia de Aki. — Foi só curiosidade. 

Aki riu e eles continuam caminhando, observando todas aquelas barracas de um “festival de verão”. Lembranças do dia do parque de diversões, vinham tanto para Aki quanto para Victor. 

— Ei, você quer uma? — Victor aponta para uma barraca que vendia maçãs do amor. Ele sabia que ela gostava bastante e queria agradá-la. 

Aki cora, desviando o olhar. Um breve silêncio enquanto ela pensava fez Victor hesitar. 

— Considere um presentinho de natal. — Victor tenta animá-la a aceitar a oferta. 

“Mas que droga de desculpa foi essa?!” Ele pensou, se repreendendo. Falou a primeira coisa que veio na cabeça. 

— Eu aceito, então. — Aki concorda, sorrindo. Embora estivesse mantendo uma postura tranquila, por dentro, Aki estava muito nervosa, um sentimento inquietante. 

Um vento forte soprou e ela abraçou a si mesma, instintivamente. Ao chegarem na barraca, Victor compra duas maçãs. Ele entrega uma para ela e fica com a outra. 

Enquanto caminhavam, Victor se perguntava se deveria comprar alguma bebida quente na “Estação Inverno” para eles, preocupado com Aki se ela estivesse com frio. 

Foi quando, como um estalo, ele percebeu algo. 

“No dia do meu aniversário ela disse que foi de calça porque estava frio. Mas hoje está muito mais frio e ela está de vestido. Eu não entendi.” Ele olhou de soslaio para ela, por mais tempo do que planejou, até ela perceber. 

— Aconteceu algo? — Ela perguntou, com sua voz levemente trêmula, após engolir o pedaço da maçã que comia. 

“Por que ele está me encarando tanto? Que vergonha.” 

Por mais que estivessem acostumados a conversar e se verem muito, ela percebeu que o olhar dele estava diferente recentemente, inclusive agora.  

Victor desvia apressadamente o olhar, mordendo um pedaço de sua maçã: — Não é nada. 

Depois de mais alguns passos, chegaram na “Estação Outono”.  

O vento que soprou, com toda aquela decoração, lembrou a descida do “Senjojiki Cirque”. Aki via em sua mente flashes de imagens daquele dia.  

Victor também foi bombardeado com imagens em sua mente. Pensando agora, ele conseguia perceber como Aki estava atraente naquele dia. Ele sacode a cabeça, tentando afastar seus pensamentos. “Para de pensar assim”, enquanto mais ideias vinham: “Por que nunca reparei ela assim antes? Aliás, desde quando eu estou notando isso?”.  

Tentando se organizar, ele a chama para verem de perto uma sessão de colheita de frutas.  

Era uma longa mesa com as mais variadas frutas, embora fossem frutas artificiais, ficou uma decoração muito bonita. 

— Essa parte do evento foi complicada. — Victor comenta, enquanto pegava uma manga na mão. — Era para terem usado frutas frescas.  

— Realmente foi uma discussão acalorada sobre isso. — Ela se lembra da reunião que teve com a empresa de decoração e bufê para decidirem sobre essas mesas de frutas. 

A Elegance Affairs queria que fosse usada frutas de verdade, mas seria inviável por vários fatores. No fim, acabaram decidindo usar as frutas artificiais.  

— Mas o resultado está incrível. É gratificante ver nossos esforços nos eventos. — Victor sorri, parando, por um momento, para analisar de forma geral todo o evento. 

— Eu concordo.  

Depois que caminharam um pouco mais, enquanto conversavam, eles chegam na última parte, a “Estação Primavera”. Aki foi logo para o jardim de flores. Embora estivessem usando todos os meios ao alcance para proteger as flores, algumas, claramente, estavam sendo afetadas pelo clima.  

Eles logo lembram das reuniões à cerca das flores serem naturais ou artificiais, mas, por conseguirem protegê-las de certa forma, foi usado modelos de verdade. 

Apesar desse esforço, algumas aparentavam estar sendo castigadas. Aki percebeu e comenta sobre isso com Victor. 

A conversa deles se prolongaram por mais tempo do que perceberam, quando foram chamados para o início do desfile.