Notas de Aviso
Anteriormente em MNVJ: Victor fala para Aki que precisa ir para o Brasil. Inesperadamente, ele a convida e ela aceita.
Capítulo 49: No avião...
04 de janeiro de 2024, quinta-feira.
O avião já estava em pleno voo há alguns minutos, mas Aki ainda tentava processar tudo ao seu redor. O espaço era maior do que imaginava, mas, ao mesmo tempo, apertado. Pessoas se movimentavam pelos corredores, alguns ajeitando bagagens nos compartimentos superiores, outros já acomodados em seus assentos. As luzes da cabine estavam em um tom suave, dando um ar confortável ao ambiente.
Ela olhou pela janela e viu as nuvens se estendendo como um mar branco abaixo deles. A ideia de estar tão alto era algo que a encantava, e a incomodava, de certa forma. Ela nunca havia viajado de avião, e aquela primeira vez era, no mínimo, surpreendente.
“Ainda bem que fiz um passaporte quando entrei na Elegance Affairs. Obrigada, papai e mamãe, pelo conselho.”, pensou, lembrando-se que seus pais haviam aconselhado a fazer um passaporte, que um dia poderia precisar numa possível futura oportunidade.
Embora não fosse a trabalho, ter o passaporte acabou proporcionando para ela aquela viagem.
— Você está bem? — Victor perguntou ao lado, ajustando o cinto de segurança.
Aki virou-se para ele e assentiu.
— Sim… só me acostumando. É minha primeira vez voando.
Victor não respondeu de imediato, apenas observou enquanto ela passava os dedos sobre o descanso de braço, como se ainda estivesse tentando se distrair ou pensando em algo mais profundamente.
“A primeira vez sempre é tensa”, Victor pensou, lembrando-se que na primeira vez que viajou de avião, ficou com medo e chorou durante a viagem, ainda era uma criança, mas a imagem era vívida em sua mente.
…
Minutos depois, quando a tripulação anunciou o serviço de bordo, Aki sentiu uma leve empolgação ao receber sua primeira refeição no avião.
— É simples, mas é bem organizado, né? — ela comentou, olhando para a bandeja com um sanduíche embalado, um suco e alguns biscoitinhos.
Victor abriu a embalagem sem muita cerimônia.
— É, só não crie muitas expectativas para o jantar.
Ela riu baixinho, mas mesmo assim, ficou animada para ver como seria a experiência.
Embora conversassem, a maioria do tempo foi em silêncio. Somente comentários esporádicos sobre algo que viam ou acontecia. Tanto Victor quanto Aki ficaram a maior parte imersos em pensamentos sobre tudo que estava acontecendo. Ambos sentiam que era muita informação para digerir de uma vez.
Com o passar das horas, a empolgação inicial deu lugar a um incômodo inevitável: tentar dormir na poltrona estreita. Aki ajeitou-se de um lado, depois do outro, mas não encontrava uma posição confortável. Victor, ao lado, parecia estar no mesmo dilema.
Havia se passado aproximadamente dez horas desde que saíram de Tóquio, sendo por volta de meia-noite seguindo esse fuso horário.
— Isso vai ser mais difícil do que eu esperava… — ela murmurou, passando a mão pelo rosto.
— O fuso horário sempre é um problema. Vamos chegar no Brasil, no horário local, por volta de uma hora da manhã, mas nossos corpos vão sentir a diferença, já que em Tóquio seria uma hora da tarde. — Ele fala, com algum desânimo claro na sua voz.
— Está tentando me animar? Não funcionou. — Aki riu suavemente, tentando descontrair.
Victor respondeu com um sorriso discreto.
— Apenas quero que você esteja preparada para o que pode acontecer. Viagens internacionais assim sempre têm esses problemas.
— Certo, entendi. Vai continuar sendo o senhor encorajador? — Aki manteve o sorriso e o tom brincalhão, tentando não pensar no assunto. Sentia que se pensasse demais nisso, não conseguiria dormir de maneira alguma.
— Você venceu. — Victor respondeu, fingindo desdém.
Continuaram conversando um pouco mais, sobre a viagem em si. Aki disse que tentaria dormir, pois estava com sono. Ela pegou seu celular e colocou seus fones de ouvido, iniciando uma playlist. Victor fez o mesmo.
O avião continuava cortando a imensidão escura do céu. O som constante dos motores se misturava ao ruído abafado de conversas distantes e ao farfalhar discreto de cobertores sendo ajustados.
Victor e Aki estavam sentados lado a lado, cada um com seus fones de ouvido. Havia se passado algum tempo e Victor resolveu olhar para Aki.
Ela estava levemente inclinada para o lado, a cabeça quase encostando no ombro dele. Sua respiração estava tranquila, ritmada, e uma mecha de seus longos cabelos escuros caía sobre o rosto.
Victor olhou para ela por alguns instantes. O queixo levemente levantado, os cílios longos repousando contra a pele clara. Havia algo fascinante na forma como ela dormia. Tão serena, tão despreocupada.
Um sorriso formou em seus lábios.
— Você está fofa assim… — Murmurou.
Mas, logo em seguida, franziu a testa e desviou o olhar.
— Tenho permissão para pensar isso? — Resmungou.
Essa pergunta o incomodou mais do que deveria. Sem perceber, ele estava com a mão tampando parte do seu rosto. “Aff! Ainda estou confuso”, pensou, inquieto.
Ele suspirou e ajeitou-se no assento, tentando encontrar uma posição confortável, mas o sono simplesmente não vinha. A música ambiente que ainda tocava em seu fone era suave, mas sua mente estava muito inquieta para desligar.
Desistindo de tentar dormir por enquanto, soltou o cinto e se levantou. Precisava caminhar um pouco.
Victor se moveu pelo corredor estreito, tentando não esbarrar em ninguém. Algumas poucas pessoas ainda estavam acordadas, luzes fracas de telas iluminavam rostos cansados, e os comissários se moviam discretamente pela cabine.
Ele foi até o banheiro, mais para lavar o rosto do que por necessidade real. Se encarou no pequeno espelho por um momento.
— O que eu deveria fazer agora? — perguntou ao próprio reflexo.
Essa viagem para o Brasil… tudo tinha acontecido tão rápido. Ele não estava pronto para lidar com nada disso. Ele ainda não sabia o que deveria realmente fazer em relação aos seus sentimentos.
Aki confiava nele. Ela não parecia preocupada, nem hesitante, nem sequer considerava que havia algo estranho entre eles. Para ela, talvez isso fosse apenas uma aventura ao lado de um amigo. Mas o simples fato de pensar que ela poderia estar vendo aquilo de outra forma, fazia seu coração saltar.
“Você sente algo, como amor, por mim, Aki?”, pensou, ainda encarando seu reflexo. Ficou assim por mais tempo do que imaginava. Talvez o cansaço estivesse retardando sua percepção, ou seria por estar imerso demais pensando em Aki? Ele não sabia responder isso.
A verdade era que, em algum momento, Victor começou a ver Aki como uma mulher, e não mais apenas uma colega de trabalho. Começou a reparar nela, coisa que não fazia com ninguém, há muito tempo.
Começou a reparar em seus penteados, maquiagem, roupas, curvas, falas… mas desde quando? Ele não sabia definir desde quando via Aki dessa forma. Foi tão sutil que quando percebeu, simplesmente reparava em tudo nela.
“E agora? O que significa essa viagem para ela? O que significava para mim?”, pensamentos variados e até complicados, invadiam sua mente. “Bem, essa viagem é apenas para resolver as coisas com o Matheus… eu acho”.
Mesmo que se forçasse a pensar nisso, no fundo, ele sabia que a companhia de Aki, naquela viagem, tornava isso diferente. Mas diferente como?
Ele não sabia como responder a essas perguntas. Só sabia que quanto mais pensava, mais complicado parecia. Talvez fosse melhor apenas seguir em frente e ver onde isso o levaria. Respirando fundo, ele jogou um pouco de água no rosto e antes de sair do banheiro, encarou seu reflexo mais uma vez:
— Não faça nada estúpido! — Disse, firme, para o seu “eu”.
…
Quando voltou ao seu lugar, Aki não estava mais dormindo. Ela pareceu um pouco confusa e ainda sonolenta.
— Hm…? Victor…?
Ele se sentou e puxou o cinto de segurança de volta.
— Eu só fui esticar as pernas um pouco — explicou.
Ela franziu levemente as sobrancelhas.
— Eu acordei e você não estava aqui… — confessou. Aquela frase o pegou de surpresa.
— Se assustou? — Aki hesitou por um segundo e depois assentiu, desviando o olhar.
— Um pouco… — Ela balbuciou.
— Desculpe. Não achei que acordaria. — Victor sentiu uma onda de culpa inesperada.
“Já comecei fazendo algo estúpido!”, ele se repreendia, internamente.
Ela balançou a cabeça e forçou um sorriso.
— Tudo bem. Eu… estava esperando você voltar.
Victor a encarou por um momento, surpreso pela sinceridade dela. Aki bocejou e então pegou o fone de ouvido de novo.
— Se não conseguiu dormir antes, eu vou te ajudar agora.
— Como? — Perguntou, demonstrando surpresa.
— Escute comigo. Minha playlist sempre me faz dormir quando preciso. — Ela estendeu um dos lados do fone para ele.
Victor hesitou por um instante, mas aceitou. Colocou o fone no ouvido, sentindo a música suave preencher o espaço ao redor deles.
Victor fecha os olhos e seus pensamentos, antes inquietantes, foi dando espaço para uma melodia serena e tranquilizante, esvaindo aquela inquietação.
Aki o observou por alguns instantes, um pequeno sorriso nos lábios.
— Funcionou, ele dormiu. — Aki comentou, baixinho.
Então, seus próprios pensamentos começaram a vagar. Ela nunca tinha parado para pensar como essa viagem poderia parecer para os outros.
“E o irmão de Victor? O que ele pensará ao ver nós dois chegando juntos ao Brasil?”
Uma coisa era viajar alguns quilômetros, ainda dentro do Japão, com Victor, para a casa de seus pais. Outra coisa era atravessar o mundo, literalmente do outro lado do planeta.
Essa ideia soou muito mais intensa do que parecia antes. Ela corou levemente, sentindo uma inquietação.
“O Brasil… como seria? Como seria a vida de Victor lá?”, outros pensamentos tomaram conta da sua mente. Começou a imaginar como seria morar lá, e como foi a vida de Victor.
Ao lembrar de tudo que ele passou, lacrimejou, tentando imaginar toda a dor que ele sentiu.
Ela olhou para o lado, vendo-o dormindo despreocupadamente, com um rosto tranquilo.
Os pensamentos rodaram em sua mente por algum tempo, até que, eventualmente, ela também caiu no sono.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.