Índice de Capítulo

    05 de janeiro de 2024, sexta-feira.

    Victor estava deitado no sofá do quarto, enquanto Aki encontrava-se na sua cama. Ambos mexiam em seus celulares e o diálogo não existia naquele momento.

    “É impressão minha ou o clima está muito pesado?”, pensava Aki. Mesmo navegando por suas redes sociais, não conseguia deixar de pensar nisso.

    Sua mente divagava, tentando imaginar como Victor realmente era. Descobrir aquilo tudo fez parecer que ela não sabia nada sobre ele.

    “Eu quero conversar com ele…”, ela tentava pensar em algum assunto para iniciar uma conversa. O nervosismo, por tudo que acabou descobrindo recentemente, ainda dificultava seu raciocínio.

    Aki pensou em mandar uma mensagem para Victor, assim como fez no trem, quando viajaram para Nagano, mas logo abandonou a ideia.

    Ela se levanta, observando o quarto e processando todas as informações novamente. Sentada na cama, com as pernas cruzadas, ela estava com a mente muito distante.

    Pensar em como tudo aconteceu dos últimos meses para cá era, de certa forma, incrível. Ela não se imaginava onde estava. Tanto dentro da Elegance Affairs, ganhando a confiança do chefe Akashi a ponto de representar a empresa em acordos muito importantes, bem como acompanhar Victor até o outro lado do mundo — e descobrindo tudo que descobriu daquela forma inesperada.

    Aki se sentia dentro de um sonho e não queria acordar. Seus sentimentos, agora mais claros, lhe davam a certeza que estava explorando coisas novas em sua vida. Experiências inéditas, que ela, talvez, apenas fantasiasse desde algum tempo. 

    Nessa introspecção, ela acaba pensando: “Victor, por sua causa, eu também estou tendo uma nova vida no Japão”. Um sorriso se formou em seus lábios.

    “Eu estou com medo de nosso relacionamento mudar… Espera, que relacionamento? Pensando assim parece que temos algo… Mas e aquele dia? Aquele abraço? Aquelas palavras? Ah, estou perdida!”

    Aki não conseguia organizar seus pensamentos, que pareciam zombar dela. Ela sentia como se sua mente estivesse lhe pregando uma peça, bagunçando seu entendimento com dúvidas e incertezas.

    Ela olha para o sofá, que estava de costas para ela, sabendo que Victor estava ali. “Você me deixa confusa!”. Ela pensa.

    A garota não estava brava, nem chateada. Era mais como uma indignação por não conseguir expor seus sentimentos. Victor não facilitava as coisas, de seu ponto de vista, sempre a provocando e recuando.

    “Será que Victor sente algo por mim ou será só impressão minha? Ele sente o mesmo que eu?”

    Inquietante, ela se levanta e caminha até o banheiro. Após lavar o rosto, ela voltou para a cama, mas Victor estava sentado na cama que ele dormiu, como se a esperasse.

    — Achei que ainda estivesse no sofá. — Comentou Aki, deixando transparecer em sua voz um tom de susto.

    — Me desculpa. Eu queria conversar com você e quando levantei, você não estava na cama.

    Sentindo uma mistura de felicidade e empolgação, pensando que demorou mais tempo no banheiro do que pareceu. Ela sorri, e se senta de frente para ele, no outro colchão.

    Antes que Aki pudesse dizer algo, Victor se pronunciou:

    — Eu sei que foi muita informação para você e eu não deveria ter escondido esses fatos… Mas eu realmente não faço questão de falar sobre isso. Eu apenas quero viver uma vida sossegada.

    Victor tinha medo do que a mídia pudesse fazer com a sua vida e com o seu relacionamento com Aki. Ele já havia experimentado, em tempos distantes, como as informações divulgadas podem prejudicar alguém.

    Victor ainda via Aki como uma garota gentil e desejava lhe proteger. Na verdade, ele pensava que não a havia mais apenas como uma garota… mas como uma mulher. E esse mesmo sentimento de proteção lhe impedia de se abrir, de abraçar o que realmente sentia.

    Por tudo que viveu, Victor temia machucar a si mesmo ou machucar a Aki, bem como temia ser  ferido emocionalmente de novo. “Somente quem já passou por isso consegue entender essa dor”, era um dos pensamentos dele.

    A dor agoniante e sufocante de impotência, solidão, saudade e vazio. Uma combinação de sentimentos perigosa, que Victor havia vivenciado em totalidade.

    Embora ele soubesse que seus verdadeiros sentimentos por Aki não eram algo como uma mera amizade, escondia isso de si próprio, pensando ser o melhor caminho para se proteger e protegê-la.

    Ou pelo menos, ele tentava esconder. Em determinados momentos, era difícil conter alguns desejos, como abraçá-la… tocá-la… E seus pensamentos novamente voltavam ao fato de acabar sendo notado.

    Se portais de comunicação descobrissem que ele estava no Brasil com uma mulher japonesa, e que estava morando naquele outro país, daria uma boa fofoca. Ele não queria que Aki passasse por essa experiência, mas somente pensou nisso após estarem aqui.

    “Eu devia ter avisado ela antes das possíveis consequências de me acompanhar aqui.” Seus pensamentos já imaginando os títulos das manchetes. 

    Ter informações pessoais vazadas em sites informativos, com uma visão distorcida da realidade, não era algo agradável.

    “Pelo menos temos a desculpa de estarmos representando a Elegance Affairs”. Esse pensamento trazia alívio para ele e Victor tentava se agarrar nisso.

    — Tudo que você descobriu aqui hoje, por favor, não fale sobre isso com ninguém lá do Japão. — O pedido foi inesperado, repentino, causando surpresa nela. 

    Victor achava que assim seria melhor. Se todos da empresa descobrissem sua origem, provavelmente, poderiam acabar pensando que tudo que conquistou foi pelo seu título, e não pelo seu próprio esforço no Japão. 

    Ela dá uma risada, tentando aliviar o clima.

    — Está tudo bem. Não vou falar. Eu já entendi que você gosta de ser mais discreto. — Ela comentou, mas Victor a respondeu, como se soubesse o que ela estava pensando.

    — No que depender de mim, nossa relação não mudará por causa disso. 

    “O que estou falando, assim, do nada? Aff.” 

    Aki ergue a sobrancelha.

    — Está lendo meus pensamentos? — Comentou timidamente, colocando uma mecha de cabelo na frente de um dos olhos.

    Victor sorriu com a brincadeira.

    — É o poder do seu presente. — Ele ergue o punho, mostrando a sua pulseira de miçangas. — Ela nos conecta.

    Ele pisca para ela em seguida, com um tom de brincadeira. Aki sente seu rosto queimar, e ela se vira.

    — Você faz isso de propósito. — Protestou, ainda envergonhada, deitando na cama e tapando a cabeça com o travesseiro, sua voz saindo abafada. 

    — Quem sabe… — Victor comenta, com falso desdém, mas satisfeito com a reação dela. Toda vez que ela agia daquela forma, sentia seu coração mais quente, inquieto e, de alguma forma, agradável. 

    Victor se levantou, enquanto explicava estar quase na hora da reunião. Ele diz para ela se preparar que eles iriam sair em pouco tempo.

    Aki esperou Victor entrar no banheiro e se levantou, sentindo seu rosto ainda quente. “Victor, seu bobo!”. As duas mãos cobriam sua face, enquanto pensamentos diversos invadiam sua mente.

    “Por que você fica fazendo isso comigo?” Ela protestava, internamente. 

    Todo o repertório de perguntas que Aki vinha se fazendo nos últimos tempos voltaram à tona. Ela achava injusto, de certa forma, Victor agir daquela forma. A deixava ainda mais confusa. 

    “Eu sei que gosto de você Victor… Para de fazer isso comigo… Eu estou muito perdida… O que eu devo fazer?” 

    Aki estava tendo desejos que não se imaginava. Como quando recebeu o abraço de Victor, sentiu uma vontade imensa de beijá-lo. Mas se conteve. Sentia isso toda vez que ele brincava com ela, a provocando. 

    Ou pelo menos, desejos semelhantes. A vontade de tocar ele, de abraçar e até de beijar… Ela não sabia o que eram essas sensações. Não as compreendia. Com tantos sentimentos embaralhados, ela só conseguia concluir uma coisa: Isso é amor. 

    Victor, debaixo do chuveiro, divagava, enquanto a água do chuveiro batia em sua cabeça. Havia deixado o chuveiro “desligado”, para tomar um banho frio, mas pelo calor naquele dia, a água estava morna. 

    “Será que estou exagerando nessas provocações? Quero dizer…” Ele ponderava. Sua mente viajando em vários flashes que surgiram, quase como imagens nítidas. 

    “Eu gosto de você Aki… eu realmente gosto de você. Não tenho como fugir dessa realidade. Mas eu deveria? Eu posso?” Victor sente seus olhos arderem e começam a lacrimejar. 

    “Por que eu passei e passo por tudo isso?” Contestava, numa tentativa de culpar algo ou alguém… mas no fim, acabou se conformando com uma ideia: ninguém tem culpa do que aconteceu.

    “Isso era meu destino?” Se perguntava. A água, que a princípio, pensou em usar para se refrescar e acalmar sua mente, não parecia mais fazer efeito. Seu coração estava saltitante, batendo mais rápido do que o normal. 

    Vagas memórias surgiam em meio àquelas dolorosas. Das noites de treino, de estudo e de dedicação. Tudo parecia ínfimo quando parava para pensar em como foi sua trajetória até aquele momento. 

    Embora sentisse essa onda conflituosa, ao lembrar-se do sorriso de Aki e de sua presença, sentia uma esperança crescer dentro de si. Aqueles olhos âmbar lhe traziam uma calma, uma sensação de conforto.

    “Eu só estou fazendo papel de idiota?” Pensamentos conflituosos continuavam surgindo. “Eu devo realmente ignorar isso? Ignorar todo esforço que ela faz por mim? Acho que ela não tem ideia de como ela me ajudou. Eu deveria dizer tudo?” 

    O tempo pareceu parar. Não viu e não percebeu quanto tempo havia se passado. Percebeu sua pele enrugada, que denunciava o tempo exagerado que havia ficado ali. 

    “Eu não consigo imaginar outra coisa: Isso é amor”… Concluiu. “Não tenho dúvidas…”

    Mesmo tendo aceitado seus sentimentos, Victor ainda se perguntava se, e como deveria falar isso. Era como se tudo estivesse preso em sua garganta, como se não saísse de seus pensamentos. 

    “Aki…” Ele não achava essa solução. Então, apenas lembrando-se de várias cenas vividas com ela, um sorriso se formou no seu rosto. 

    “Eu sou um idiota…” Finalizou seus pensamentos, desligando o chuveiro. “Bom, depois penso nisso… Temos uma reunião muito importante agora”. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota