Capítulo 58: Passeio no shopping
06 de janeiro de 2024, sábado.
Victor foi o primeiro a acordar. Abriu os olhos quando o alarme soou, percebendo a luz natural que passava por entre as frestas da cortina.
Sentou-se na cama, espreguiçando. Ainda sentia o corpo dolorido, por tudo que aconteceu no dia anterior.
“Essa é a minha namorada!”, a frase ecoava em sua mente, se lembrando do ocorrido no bar.
Na tentativa de espairecer, foi até o banheiro, onde tomou um banho matinal. Ao voltar, seu olhar pairou sobre Aki, que dormia profundamente na cama.
Seus cabelos negros contrastando com sua pele clara, sua expressão serena, levemente encolhida. Parecia tão desprotegida, tão inocente.
O coração de Victor acelerou e ele afastou seus pensamentos, focando-se na sua rotina diária.
…
Havia passado algum tempo e Aki ainda dormia. “Eu deveria acordá-la?”
Perdido em pensamentos, Victor acabou por desistir disso: “Deixe ela descansar.”
Então, foi até o sofá e largou o corpo despreocupadamente, pegando o seu celular. Percebeu algumas mensagens importantes e foi respondê-las.
Enquanto fazia isso, sua mente continuava a ser bombardeada por imagens de Aki e, principalmente, da noite anterior. Em determinado ponto, ele parou, ergueu o punho e encarou-o, cerrado.
“Acho que treinei minha vida toda por um momento assim… Ter como proteger alguém importante…” Victor abriu um sorriso, pensando em como pareceu idiota. “Acho que no fim, era só ter chamado os seguranças. Se bem que… ele veio pra cima, com Aki ainda perto de mim. Foi um covarde.” Continuou analisando.
Lembranças mais distantes vieram, em época de escola. Ele, Matheus, João Batista e Breno, os quatro apanhando juntos de outros colegiais mais velhos, por causa de um mal-entendido. Haviam sido falsamente acusados por terceiros e os alunos mais velhos foram tirar satisfação.
Desse dia em diante, decidiram que não iam apanhar de graça e começaram a treinar artes marciais. Com um sorriso nostálgico, ele logo voltou à realidade, percebendo como se sentia.
“Estou sentindo tantas emoções que há muito não sentia… Essa sensação… É por estar aqui no Brasil ou…” Victor olha para a cama atrás dele, onde Aki dormia. “Será que é por sua causa?”.
Victor havia aceitado que gostava de Aki, mas a insegurança ainda o assolava. “Será que devia falar para ela por agora?” Analisava, ponderando várias situações.
Foi quando seus pensamentos foram interrompidos, quando ouviu a voz rouca e preguiçosa de Aki, que acabara de acordar.
— Bom dia, Victor… — Ele olhou para ela.
— Bom dia, Aki! Você está bem?
Aki pegou o seu celular, conferindo as horas e se assustou.
— Acho que dormi mais que a cama. — Resmungou, mas logo sorriu. — Eu estou bem, obrigada. E você? Sente alguma dor?
Aki se refere à briga que teve durante a noite passada.
— Eu estou bem.
Ele se levanta e vai até à porta.
— Eu vou te esperar aqui para podermos comer algo.
Aki agradece, entendendo que ele estava lhe dando privacidade, já que se sentia incomodada, por exemplo, com o fato de seu cabelo estar desarrumado.
…
Victor permaneceu no corredor por alguns minutos, enquanto terminava de responder algumas mensagens.
“Tem tanta coisa que a Aki não sabe sobre mim… Como ela vai reagir sobre tudo?” Ponderava, de certa forma, preocupado, enquanto, automaticamente, botou a mão sobre o peito. “Tipo isso…”
Ainda havia muitas coisas que Aki não sabia, embora tivesse descoberto bastante coisas recentemente.
“Se bem que… Também não sei muito sobre ela, no final…” Pensou, mostrando um breve sorriso, sem graça.
Divagando nessas questões, não percebeu o tempo passando. Ao se dar conta, Aki estava abrindo a porta. Ela estava usando um vestido e salto médio.
— Aonde vamos hoje? — Perguntou, curiosa, já que Victor não havia comentado onde iriam.
— Bom… — Victor coça a nuca, como se estivesse despistando. — Íamos caminhar na verdade.
Ele não conseguiu conter um sorriso, fazendo Aki corar.
— Eu não trouxe roupas boa para caminhada… — Comentou com certo pesar.
— Então vamos expandir o nosso tour. — Victor respondeu, após um breve silêncio.
Aki não entendeu de imediato, mas ele apenas disse para ela ir com ele. Ela o seguiu.
…
— Esse é um dos shoppings mais legais de Belo Horizonte. — Victor explicou, ao estarem dentro daquele enorme espaço.
O chão claro e polido, refletia os halos de luz, se perdendo na imensidão do lugar. O átrio central era iluminado pelo alto teto de vidro, que permitia a entrada de luz natural, bem como das lâmpadas espalhadas.
A temperatura estava agradável, diferente do calor incômodo do lado de fora. O ar trazia consigo algumas fragrâncias que se misturavam.
— Vamos dar uma volta para você conhecer aqui primeiro. — Victor explicou, começando a caminhada.
Pelos corredores, cercados das mais diversas lojas, desde lojas de bijuterias até lojas de jóias, lojas de roupas simples até lojas de grife. Entre estabelecimentos de perfumaria, farmácia, brinquedos, serviços…
Victor entra numa loja de roupas, seguido por Aki. Era uma loja grande, com uma vasta variedade de roupas que pareciam se perder ao longo do caminho.
Araras, prateleiras, manequins, todos cheios de peças diversas. Haviam placas suspendidas com informações dos tipos de roupas presentes em cada sessão.
Aki logo se deixou levar pelo impulso de comprar roupas, algo que ela adorava, e se perdeu no meio dos corredores da sessão de “Casual”, era o que ela estava procurando.
Victor a seguiu, mas não interferiu, apenas satisfeito em ver Aki, momentos antes, nervosa e ansiosa, agora tão empolgada.
Mas ele também percebeu que havia algo, talvez, diferente. Ele lembrou de todas as vezes que viu Aki em todo esse tempo, e nunca havia visto ela usando algo como um “casual do Brasil”, como um shortinho e uma blusinha.
E que era algo mais confortável para fazerem a caminhada e os passeios que planejou.
Ele decidiu intervir:
— Aki… — Ele chamou, casualmente. — Dê uma olhada nesses.
Aki se aproximou, analisando as peças. Uma camisa branca, de tecido leve e aparentemente confortável, chamou sua atenção.
— Será que fica bom em mim? Não estou acostumada com esse tipo… — Ela colocou a peça em frente ao corpo, analisando.
— Acho que ficará boa… Tente isso também. — Victor mostrou alguns shortinhos jeans. — Sabe, é muito comum usar essa combinação de short e blusinha por aqui. Acho que ficará bom em você.
Aki sentiu seu corpo arrepiar-se brevemente, mas assentiu, escolhendo o seu número.
— Victor, o que faremos exatamente essa semana? — Finalmente ela perguntou, algo que a incomodava desde mais cedo.
Victor comentou que eles iriam a vários lugares, mas não explicou com clareza. Então, aproveitou o momento.
— Quero dizer, se precisar de roupas diferentes. Eu trouxe vestido e saias, não trouxe outro tipo de roupa. — Ela explicou.
Victor então começou a contar seus planos. Ele iria apresentar alguns pontos turísticos da região para ela. Ele montou um cronograma, onde iriam numa gruta, numa cachoeira, numa trilha, além de um “passeio gastronômico” e conhecer alguns pratos da região.
Aki ficou empolgada. Victor explicou alguns tipos de roupas que acharia bom para ela usar, que seriam confortáveis e que ficariam bem para o momento.
— Hoje eu pretendo apenas caminhar com você na orla da Lagoa. Mas você precisa estar confortável. Então achei melhor você comprar algo assim. Lá fora está muito quente e esse look é bem “BH”. — Ele também explica a expressão para ela.
Ela vai até o provador, e troca de roupa. Ao olhar seu reflexo no espelho, ela, instintivamente, tenta puxar o tecido do short mais para baixo, tentando expor menos pele.
“Será que está bom? Eu até achei bonitinho… Mas não é muito curto?” Pensava ela, analisando sua roupa.
Apesar disso, sentia que eram muito confortáveis, e reuniu coragem para abrir a cortina. Victor, ao ouvir o barulho, olhou automaticamente para ela.
Aki apertou a mão contra o peito, sentindo seu corpo com uma sensação que ela diria ser estranha.
— Fi – ficou bom? — Ela balbuciou, reunindo coragem, tentando encara-lo.
Victor, por um momento, divagou. Aki, naquelas roupas tão brasileiras, havia ficado muito bonita. Seu coração acelerou e ele tentou se recompor, em vão. Seu peito parecia estar sendo martelado.
— Ficou ótimo. Você está… — Victor hesitou, pensando se deveria dizer tão abertamente.
“Não posso fugir disso para sempre…” Ponderou, sendo pensamentos muito rápidos.
— Está muito bonita. — Victor finalmente elogiou, após alguns instantes.
Aki sentiu seu corpo estremecer com as palavras dele. Um sentimento alegre florescendo no peito.
— O – obrigada. — Ela balbuciou.
Após isso, olharam mais algumas roupas, conforme Victor ia indicando o “melhor tipo” que eles iriam precisar e ela escolhia a cor e o tipo.
Após saírem da loja, Aki vai até o banheiro do shopping e se trocou, colocando as roupas novas, que escolheu primeiro.
Ainda dentro do shopping, Aki caminhava, achando que já estava indo embora, mas admirando algumas lojas.
Victor lhe chama, entrando numa loja de acessórios.
— O que você vai comprar? — Aki perguntou, logo após ele conversar com um vendedor que veio atender.
— Hum… — Ele demorou algum tempo para responder, para dar tempo de fazer o que pensou. — Comprar isso.
Aki é surpreendida, quando Victor pega um boné e coloca em sua cabeça.
— Acho que um bom acessório para uma caminhada, ainda mais nesse sol escaldante. — Explicou.
O coração dela bateu mais forte. Ao saírem, admiram mais algumas coisas, sem entrar nas lojas em si. Mas não puderam resistir, quando avistaram um espaço de games.
— Vamos nos divertir um pouco? — Victor propôs, e Aki aceitou, empolgada.
Victor desafiou Aki a jogar no Air Hockey. Ela aceitou e ambos ficaram em suas posições.
— Uma melhor de nove? — Perguntou, desafiador.
— Aceito.
Elas começaram. Uma coisa que surpreendeu Victor foi o fato de que Aki era muito boa nesse jogo.
A partida seguiu acirrada. Até que estava empatado em quatro a quatro. Victor atacou, jogando o disco na lateral, fazendo um lance de tabela. Aki conseguiu se defender e atacou direto.
Victor rebateu, mas a japonesa foi ainda mais rápida e amorteceu o disco, depois jogando ele com força contra a lateral e marcando o ponto decisivo contra ele.
— Parabéns! — Victor exclamou. — Você é muito boa nesse jogo.
— Eu e o Natsu já brincamos algumas vezes. — Comentou, tentando ser modesta.
Eles continuaram jogando em outros brinquedos, até que decidiram ir embora. Pegaram suas coisas e foram para o carro.
Não antes de pararem em um quiosque que vendia sorvetes e comparem uma casquinha cada um.
— Agora vamos lá… Para a Pampulha! — Victor disse, com certa empolgação, após ligar o carro.
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